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O Que é a Esfera de Influência Que a Rússia quer Manter na Europa Oriental e Cáucaso

Desde a absorção da Criméia em 2014 pela Rússia, o Kremilin continua com suas investidas sobre o território da Ucrânia. Em dezembro de 2021 e janeiro de 2022, esse avanço se tornou mais explícito com o posicionamento de mais de 100.000 soldados na fronteira com o país.

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia não mobiliza somente esses dois países, mas também a OTAN e a União Europeia principalmente. Há tensões sobre a manutenção dos interesses Russos no Leste Europeu, no Cáucaso e Ásia Central, já que estão sobre a chamada “esfera de influência russa”.

A maior problemática dessa situação se dá nos interesses europeus e americanos, já que uma investida russa para tentar manter sua influência pode enfraquecer pode ir de encontro a eles.

Fonte: Pixabay

O que é “Esfera de Influência” em Relações Internacionais

As relações políticas entre os países se dão a partir de acordos e alianças, sejam elas formais ou por imposição via poder.

A Esfera de Influência é uma região espacial/territorial ou conceito de uma área, na qual um Estado ou uma Organização possui exclusividade econômica, militar, política ou cultural. É uma forma de “poder suave”, um mediador das relações internacionais.

Um acordo formal de alianças, como por exemplo o Tratado de Quirinal, não dizem respeito necessariamente a relações das Esferas de Influência e poder. As relações de influência podem ser mais subjetivas e serem concretizadas pelo compartilhamento do uso de uma língua, de tradições culturais, de um passado em comum e diversos outros aspectos que não são alcançados com acordos formais.

Esferas com grande poder de influência sobre outros podem resultar em países satélites ou até colônias, como foi o caso da União Soviética no pós-guerra. Esse relacionamento histórico entre países socialistas é o que motiva e dá liberdade de ação para a Rússia e a sua formação de uma esfera de influência contemporânea.

É um conceito estratégico que compunha a relação na Guerra Fria entre os Estados Unidos e a URSS. Os EUA com sua esfera de influência da Europa Ocidental e América Latina e a União Soviética com sua influência na Europa do Leste. Porém, tecnicamente, o conceito de Esfera de Influência teria caído em desuso com o fim da Guerra Fria.

Qual o histórico da Esfera de Influência da Rússia

No passado a União Soviética com o Pacto de Varsóvia estabeleceu uma relação entre os países da Europa Oriental que impacta o cenário internacional até os dias de hoje.

Por mais que já se passaram mais de 30 anos desde a dissolução da URSS, o crescimento militar da Rússia dá espaço para uma tentativa de recuperação do poder sobre as outras ex-repúblicas socialistas soviéticas. 

A Rússia é uma das grande potências militares do cenário mundial e ela pode usar esse poder para impor influência em países fronteiriços. Mas no caso russo se dá também em um campo cultural de busca por união entre países com o passado em comum.

Putin está na busca de reviver e fortalecer a antiga esfera de influência, mas grande quantidade dos países que pertenciam à essa esfera já possuem aliança com a União Europeia ou OTAN. Como o caso da Polônia, Letônia, Lituânia, Estônia, República Tcheca, Bulgária, Hungria, Eslováquia, Albânia e Romênia.

A Organização do Tratado de Segurança Coletiva (Collective Security Treaty Organization, CSTO) de aliança militar da Eurásia e liderado pela Rússia, é uma forma concreta de aquisição de alianças entre países que formavam a ex-União Soviética. Com esse acordo, há uma busca pela Rússia por fortalecer a arquitetura de segurança na região Oriental da Europa, no Caucasus e na Ásia Central, permitindo assim um crescimento do poder geopolítico Russo.

Os conflitos entre o Kremilin e a Ucrânia se dão principalmente pelo interesse da Rússia de não perder a sua esfera de influência na segunda república mais importante da União Soviética depois da própria Rússia. As ameaças russas se dão por conta da possibilidade de uma participação mais ativa da Ucrânia na OTAN e o acordo de associação com a União Europeia, prejudicando assim os interesses russos na região.

Utilizando-se de táticas híbridas, a Rússia busca reafirmar suas esferas e seu poder de influência, já que ao fazer ameaças consegue desestabilizar os países que não seguem a sua linha política.

Portanto, o interesse russo não se dá em refazer um império necessariamente, mas em estabelecer novas relações de dependências sob esses países para que consiga implementar seus interesses de forma facilitada e ganhar ainda mais voz no jogo geopolítico internacional e diminuir assim a hegemonia dos Estados Unidos e do Ocidente em geral.

Como a aproximação da Ucrânia e da Geórgia com o Ocidente (União Europeia e OTAN) afeta o desejo da Rússia de manter uma Esfera de Influência em sua vizinhança

O conflito com a Geórgia em 2008 e com a Ucrânia desde 2014, são situações que deixam clara o interesse da Rússia de manter uma esfera de influência nas ex-republicas soviéticas.

Desde as independências das repúblicas soviéticas e países socialistas , há um interesse por parte da União Europeia em integrar essas nações economicamente e politicamente e da OTAN de integra-los militarmente.

Putin já fez diversas falas sobre o como acredita que o avanço da OTAN e da União Europeia nas suas regiões vizinhas é visto como uma ameaça à própria Rússia. A busca por fortalecer-se através de antigos aliados é a perspectiva da Rússia para refazer sua alianças do período da Guerra Fria.

Expansão da OTAN e UE para o Leste

A participação da OTAN e da União Europeia no Centro e Leste Europeu não existia durante a Guerra Fria. Essa investida das duas organizações na região começa a partir dos anos 90 e se dá por diversas formas, como por associação direta (esses países se tornando membros da OTAN ou UE) ou via planos desenvolvimentistas financiados ou apoiados por essas mesmas instituições.

Porém, com a OTAN e a UE participando mais ativamente nessas regiões, a Rússia perde seu protagonismo de poder sobre esses países alvos do Ocidente. A rivalidade econômica e política entre os países orientais com o Ocidente é a grande questão desse conflito.

Desde a queda do muro de Berlim, em 1989, o fim do Pacto de Varsóvia e do socialismo soviético, diversos desses países se tornaram membros da OTAN e da UE, o que permitiu maior presença dessas instituições no Leste Europeu.

Os países socialistas eram a União Soviética, Alemanha Oriental, Bulgária, Hungria, Polônia, Tchecoslováquia e Romênia (que faziam parte do Pacto de Varsóvia), além da Albânia e Iugoslávia que eram socialistas mas não faziam parte da aliança.

A Alemanha Ocidental entrou na OTAN em 1955 (e a Alemanha Oriental quando se reunificou com a Ocidental em 1990); a República Tcheca, Hungria e Polônia entraram em 1999, seguidas da Bulgária, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Letônia e Lituânia em 2004; a Albânia se juntou à OTAN em 2009 e Montenegro e Macedônia do Norte são os membros mais recentes, entrando em 2017 e 2020 respectivamente. A Bósnia Herzegovina está em análise para entrada.

Se a Ucrânia e a Geórgia entrarem definitivamente no acordo de proteção da OTAN como membros, os Estados Unidos e a UE aumentariam as suas presenças na esfera de influência russa, estando ainda mais próximos para ameaçar o poder da Rússia. 

Tecnicamente não existe nenhum compromisso de segurança entre a OTAN e a Ucrânia ou a Geórgia, já que são apenas parceiros e “estados aspirantes” e não podem invocar o artigo 5º de defesa mútua. A decisão sobre a entrada definitiva na OTAN deve ser feita pelos 30 Estados-membros participantes, e a maioria vê como um risco maior do que uma vantagem já que estariam indo contra a Rússia e seus planos.

Além disso, para se tornar um membro efetivo da OTAN, o país candidato deve ter controle total sobre o seu território. E esse não é o caso da Ucrânia e da Geórgia. O governo da Ucrânia não tem controle sobre parte da região de Donbas no leste e a Geórgia não tem controle sobre as províncias da Ossétia do Sul e Abkhazia.

Mesmo assim, na Ucrânia, há uma clara preferência por se alinhar ao Ocidente. Um estudo diz que 54% dos ucranianos são a favor da entrada na OTAN, 58% apoiam a entrada na União Europeia e 21% apoiam a participação no bloco econômico da Eurásia. 

Em 2009, a Rússia declarou que o avanço da União Europeia ao Leste era uma forma de estabelecer também uma esfera de influência, contudo a Suécia se pronunciou na época dizendo que a diferença entre a aliança da UE e uma relação de influência é que esses países quiseram entrar para a União e OTAN.

Expansão da OTAN até 2009 e a presença russa pós-soviética / Crédito: World Policy

A Parceria Oriental da União Europeia

A Parceria Oriental da União Europeia foi uma iniciativa do alargamento europeu iniciada em 2009 nos países pós-soviéticos do Sul do Cáucaso e Europa Oriental: Ucrânia, Geórgia, Bielorrússia, República da Moldávia, Azerbaijão e Armênia.

A Parceria Oriental é uma dimensão oriental específica da Política Europeia de Vizinhança (PEV). Através da Política Europeia de Vizinhança (PEV), a UE colabora com os seus vizinhos meridionais e orientais para alcançar a associação política mais estreita possível e o maior grau possível de integração econômica.

Conselho da União Europeia

Dentro das negociações da Parceria existem os “acordos de associação” que fazem parte da política da UE e prevêem:

  • o reforço da associação política;
  • o reforço do diálogo político;
  • uma cooperação mais estreita em matéria de justiça e segurança.

É um plano de reformas com o objetivo central de aproximação com os países parceiros da União, com aprimoramento das legislações e normas que permitam maior desenvolvimento e estreitamento de relações.

Houveram muitas discussões acerca dessa iniciativa, já que esses países estavam sob a dependência e influência russa, principalmente com a Bielorrússia, já que possuem um governo considerado autoritário e possuem aliança forte com Moscou por fazer parte do CSTO. Em Junho de 2021, a Bielorrússia saiu definitivamente da aliança.

Mas existe uma ação limitada da UE já que possuem também laços de dependência com a Rússia, não conseguindo avançar sem que afetem a zona de interesse de segurança russa. 

Josep Borrell diz que a implicância russa sobre os progressos na Europa Oriental é uma busca por voltar à época em que a Europa era comandada por poderes de influências, e em conjunto com os EUA ameaçaram impor sanções se a Rússia realmente invadir a Ucrânia.

Azul: Estados-membro da União Europeia / Verde: Países da Parceria Oriental, não participantes da UE

Qual a alternativa às “esferas de influência” geopolíticas

Fortalecer a soberania nacional dos Estados seria a saída para não estar sob a influência de outros países, porém isso não é tão fácil de se atingir.

Principalmente países como a Geórgia e a Ucrânia, não possuem a segurança de crescimento econômico ou independência de poder político que permitam um fortalecimento da sua soberania nacional. 

As relações internacionais são baseadas nas demandas e ofertas que os países possuem entre si, necessitando da formação de parcerias para sua defesa, segurança e prosperidade econômica.

Porém, a independência para se assegurar das influências externas é mais difícil de se atingir. Não é simplesmente alcançada por um fortalecimento socioeconômico, mas da participação ativa com outros países.

Por mais que países na insegurança da esfera da influência russa possam se aliar a OTAN e a União Europeia, não estariam eles entrando em outra relação de poder? Porém, há um grande diferença quando essa aliança é imposta por um país mais forte (Rússia) ou escolhida democraticamente pelo próprio país, demostrando assim a sua soberania na escolha de suas alianças.

O jogo geopolítico é feito de contexto, poder e interesse, e às vezes estabelecer alianças e colocar-se em uma associação de dependência é um dos principais exemplos de soberania nacional.

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