Press "Enter" to skip to content

O que é o “Estreito de Suwalki”, a Região Mais Vulnerável da OTAN na Europa

Com a invasão militar russa na Ucrânia, aumentou a preocupação da Organização do Tratado Atlântico do Norte (OTAN) com a fronteira entre a Polônia, Lituânia por sua proximidade entre Kaliningrado e Bielorrússia.

Sendo a fronteira principal que liga os Países Bálticos com os outros Estados-membros da União Europeia, o “Estreito de Suwalki” ou “Corredor de Suwalki” (Suwalki Gap, em inglês) possui grandes tensões, pois poderia ligar os dois territórios de influência russa em caso de conflito armado isolando os países Bálticos do resto da OTAN e da União Europeia.

Se houvesse um avanço da Rússia sobre a fronteira, o que se torna mais possível considerando que Kaliningrado e a Belarus são extremamente militarizados, os Bálticos seriam perderiam o acesso por terra para o resto da OTAN. Isso segue a agenda de Putin em diminuir a presença da OTAN no Leste Europeu.

Mapa do Corredor de Suwalki – Créditos: GlobalSecurity.org

Onde fica e como se formou o Estreito de Suwalki ou “Suwalki Gap”

Uma região histórica, o Corredor de Suwalki (ou Estreito de Suwalki) fazia parte do Império Russo no século XVIII. 

Sendo um cenário de diversas tensões, principalmente entre a Polônia e a Lituânia no passado, a fronteira como conhecemos hoje foi um resultado dos acordos pós-Segunda Guerra Mundial, com a presença da antiga União Soviética nos Bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia).

Após a independência da Lituânia em 1990, o país e a Polônia reafirmaram o pacto de cooperação na fronteira, já que o acesso aos Bálticos se dá principalmente pelo Estreito.

Com a adição dos Países Bálticos na União Europeia em 2004, o Corredor de Suwalki ganhou novas tensões, focadas principalmente no crescimento militar de forças russas nos territórios das pontas do Estreito (Bielorrússia e Kaliningrado).

Mapa com o Estreito de Suwalki. Em azul estão os Estados-membro da OTAN, em vermelho é a participação militar russa, e em amarelo a Ucrânia e o território anexado pela Rússia da Crimeia / Créditos: Foreign Policy

A posição estratégica do exclave Russo de Kaliningrado dentro da União Europeia

Kaliningrado é um Estado Russo no litoral do Mar Báltico, uma região que era controlada pela URSS pós-2ª Guerra e que é hoje considerada um “Estado-satélite”(ou até mesmo uma cidade) da Rússia.

Antes era parte do Império Alemão, no século XIX, mas a população remanescente alemã foi expulsa no domínio soviético, sendo repopulada pelos russos. A partir disso, a cultura nacional é basicamente a mesma que a russa, e é gerenciada por Putin.

Kaliningrado possui uma posição geopolítica importante, na qual os soviéticos reconheciam e por isso dominavam o território: é um dos únicos portos do Mar Báltico que não congela no inverno.

A Belarus e a Rússia possuem uma aliança forte nos tempos atuais, sendo um dos principais apoiadores da invasão à Ucrânia. 

Ambos possuem esforço de conduzir diversos exercícios militares conjuntos, sendo a Bielorrússia inclusive um dos portões de entrada das forças russas para a Ucrânia. Além disso, a Belarus possui uma base militar bem ao noroeste, próxima à ponta do Corredor de Suwalki.

Kaliningrado também é uma região extremamente militarizada, sendo nomeada como distrito militar russo de 1997 a 2010. Até hoje, a região é a principal base da Frota Russa do Báltico, com forças terrestres, aéreas e marinhas.

Portanto, há uma grande participação russa nas duas pontas do Corredor, sendo legalizado, inclusive, a passagem de russos pela conexão de trem Bielorrússia-Kaliningrado. É uma área de fácil acesso às forças militares russas e está na única conexão entre os Bálticos e o resto da União Europeia.

Por que o Estreito de Suwalki na fronteira entre a Polônia e a Lituânia é o ponto mais fraco da OTAN na Europa

A expansão da OTAN para o Leste Europeu foi um esforço para restabelecer uma participação unificada em todo o território europeu, principalmente nos Bálticos, impulsionada pelo crescimento militar russo e as investidas na região.

Porém, as tensões entre a OTAN e a Rússia (mais especificamente com Putin) estão ainda mais delicadas após a invasão da Ucrânia

Putin reconhece a OTAN como uma “ameaça” ao seu poder regional, e possuindo dois territórios de influência e presença (Belarus e Kaliningrado) bem na fronteira que liga os Bálticos a Polônia e ao resto da UE, permite uma facilidade em isolar os Bálticos do auxílio militar da OTAN.

Com as principais ferrovias e estradas de entrada aos Bálticos se dando pelo Estreito de Suwalki, se a Rússia tomar por completo o controle da fronteira, fará com que seja extremamente difícil da OTAN enviar auxílio.

Com a invasão da Ucrânia, foi possível observar as ambições de Putin na questão territorial buscando aumentar o controle, desde 2014 com a anexação da Crimeia. Portanto, não é possível excluir completamente a chance de um avanço militar no Corredor de Suwalki.

O que a OTAN está fazendo para defender o Estreito de Suwalki contra um possível ataque Russo

Desde fevereiro de 2022, existem diversas tropas militares russas na Belarus (mais de 30 mil), principalmente focadas na invasão na Ucrânia, mas sua presença na região deixa as relações com a OTAN em constante ameaça de avanço na fronteira. 

Houve o maior movimento militar desde a Guerra Fria da OTAN em 2016, o Anaconda Manoeuvres, com mais de 30 mil tropas na Polônia para um exercício em que se direcionaram à Lituânia pelo Corredor de Suwalki, já que reconhecem o perigo eminente das regiões militarizadas russas. 

Para fortalecer a sua presença nos países Bálticos, a OTAN criou a “NATO Enhanced Forward Presence” ou Presença Avançada Reforçada da OTAN com Batalhões de Combate multinacionais estacionados na Lituânia, Latvia, e Estônia. Esses batalhões são formados por militares de vários países da OTAN, entre eles os Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, entre outros.

O objetivo é de ter uma presença constante e forte nos Países Bálticos para desestimular qualquer ameaça Russa a esses países, ou mante-los mais reforçados caso a Rússia ataque e controle o estreito de Suwalki.

Além disso, a Suécia e a Finlândia estão considerando tornarem-se membros da OTAN até o meio de 2022 (junho/julho). Se esses dois países entrarem para a aliança ocidental de defesa, isso aumentaria em muito a segurança regional dos países Bálticos.

Pois se tal adição se concretizar, haverá outras formas de acesso militar da OTAN aos Bálticos, pelos portos da Finlândia e da Suécia no Mar Báltico, impossibilitando uma exclusão total se os russos controlarem o Estreito de Suwalki.

Dessa forma, estão buscando diminuir a ameaça russa de Kaliningrado e na Bielorrussia sob a fronteira da Polônia com a Lituânia, já que estariam estabelecendo uma maioria militar para a proteção das fronteiras dos territórios europeus.

Estreito de Suwalki (círculo vermelho), com os países que fazem fronteira e a Relação do litoral dos Bálticos com a Suécia e Finlândia. – Créditos: Google Maps

Be First to Comment

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.