Press "Enter" to skip to content

Como a China Está Substituindo o Poder da Rússia na Ásia Central

  • Os países da Ásia Central estão se afastando da Rússia devido à guerra da Ucrânia.
  • A China já investiu bilhões de dólares na Eurásia para a criação de seu projeto da Nova Rota da Seda.
  • Os países centro-asiáticos veem na China uma garantia econômica e de segurança que a Rússia não mais provém

É inegável que a China se tornou um dos países mais poderosos da atualidade e consequentemente um dos países mais influentes na Ásia, equivalendo-se à Rússia. 

O crescimento econômico e militar chinês tem dado a possibilidade ao país de investir em seus próprios interesses na região e, como consequência da guerra russa na Ucrânia, Putin tem enfraquecido a influência da Rússia na Ásia Central, abrindo ainda mais os caminhos para Xi Jinping. 

Com um novo equilíbrio de poder se formando, analisamos como a China tem tomado o lugar da Rússia nas relações com os países centro-asiáticos e quais as mudanças geopolíticas mais relevantes que essa nova configuração resultará. 

Como a Guerra na Ucrânia Está Reduzindo a Influência Russa nas ex-Repúblicas Soviéticas da Ásia Central

Para entender o contexto desse fenômeno é preciso saber que durante a existência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o atual território ucraniano respondia ao governo de Moscou e era conhecido como a Republica Socialista Soviética da Ucrânia. 

No entanto, somente no ano de 1991 com o colapso da então URSS, a Ucrânia se tornou um país independente, porém mantendo fortes relações com a atual Rússia. Essa relação próxima deu a entender para a Rússia que o país ainda fazia parte da sua esfera de influência, assim como a maioria dos países da Ásia Central. 

Porém, ao longo dos anos a jovem Ucrânia iniciou sua aproximação com o bloco Europeu, o que claramente incomodou a Rússia que pressionou o país para que um acordo de Associação entre a Ucrânia e a União Europeia não fosse assinado, fazendo com que o então Presidente ucraniano recuasse. 

Não satisfeito, o governo russo enviou grupos armados para as principais instituições da Península da Crimeia, convocando um referendo de independência que, após o resultado contestado internacionalmente, anexou o território à Rússia novamente. 

Da mesma maneira, a Rússia invadiu o território ucraniano em 2022, menosprezando sua soberania e incitando grupos separatistas que são supostamente o motivo da ocupação. 

Entretanto, é evidente que Putin considera a Ucrânia como parte da Rússia, remetendo ao período da União Soviética, em busca de usufruir dos benefícios naturais e geopolíticos como detentor dessa região.  

Como consequência, os países da Ásia Central, também ex-integrantes da falecida União Soviética, receiam que Putin possa usar da mesma justificativa para invadir seus territórios se assim quiser. 

Portanto, esse receio está fazendo com que esses países da Ásia Central se afastem politicamente da Rússia – com o exemplo do Cazaquistão – e busquem segurança, acordos comerciais, acordos de infraestrutura em outro grande poder da atualidade: a China. 

A CSTO vai sobreviver a uma derrota da Rússia na Ucrânia

A Organização do Tratado de Segurança Coletiva é uma aliança militar intergovernamental, com o objetivo de “fortalecer a paz, segurança e estabilidade internacional e regional , proteção coletiva da independência, integridade territorial e soberania dos Estados membros, para o qual os Estados membros dão prioridade aos meios políticos”. 

A CSTO faz parte de um sistema de alianças chamado Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que é responsável por manter em grande parte a influência da Rússia na Ásia Central até os dias de hoje. A CEI foi fundada com o objetivo estabelecer um sistema econômico e de defesa entre as antigas repúblicas da União Soviética.

Devido a essa aliança, a Armênia solicitou a ajuda russa em seu território por conta de invasões do Azerbaijão em busca pelo controle da região de Nagorno-Karabakh. No entanto, Moscou se negou a ajudar por grande parte de suas forças militares estarem concentradas e engajadas em combate na Ucrânia. 

Consequentemente, a já enfraquecida organização parece ver seu fim iminente. A Armênia não confia mais na Rússia como garantidor da sua segurança, solicitou sua saída do acordo e apelou pela ajuda norte-americana no conflito. 

O Tajiquistão e o Quirguistão também estão em um conflito em suas fronteiras e não estão recebendo qualquer suporte ou mediação militar de Moscou. Portanto, se a Rússia não vencer a guerra na Ucrânia e recuperar sua posição de influência na região, é muito provável que a CSTO não sobreviva já que os países membros não estão obtendo benefícios efetivos da organização. 

A China tomando o espaço da Rússia na Ásia Central

A influência da Rússia na Ásia Central claramente tem diminuído a cada semana que a guerra de Putin na Ucrânia passa. Essa perda se dá tanto pelo medo dos países da Ásia Central de serem os próximos na fila de invasão Russa, como pela demonstração de que as forças militares Russas são muito mais fracas e incompetentes do que se imaginava.

A cúpula da Organização de Cooperação de Xangai realizada no Uzbequistão em setembro de 2022 foi uma demonstração da diminuição da posição da Rússia na Ásia Central, devido à invasão.

Nos últimos anos, a China e a Rússia dividiram suas influências na região. Enquanto Pequim executou a liderança econômica na região, Moscou ficou com as questões de segurança regional. Apesar de a Rússia continuar sendo um importante ator na  segurança da Ásia Central, sua influência está decrescendo.

Com seu foco na guerra, a Rússia tem deixado um vácuo de segurança na Ásia Central e a China está lenta e cautelosamente ocupando essa posição. Apesar de suas forças armadas serem capazes de dominar a segurança dos países centro-asiáticos, Pequim usufrui de sua competição contra-ocidente junto com Moscou, portanto segue cautelosa por razões políticas e econômicas já que a Rússia é um grande fornecedor de energia (gás natural) e recursos minerais para a China. 

Apesar disso, o país tem se inserido cada vez mais na região centro-asiática tanto economicamente quanto em assuntos de segurança. Em 2021, os chineses realizaram mais de 48 bilhões de dólares em comércio bilateral com os cinco países da Ásia Central: Tadjiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Quirguistão e Cazaquistão.

Além disso, os chineses estão se tornando gradualmente audaciosos em alguns projetos que não são compatíveis com os interesses dos russos. Um exemplo disso é o grande acordo ferroviário que a China assinou com o Quirguistão e o Uzbequistão, em uma rota que contorna a Rússia, isolada internacionalmente e sofrendo sanções econômicas. 

A rota ferroviária poderá se estender para o sul através do Turcomenistão, passar pelo Irã e finalmente pela Turquia, a porta de entrada para a Europa. Essa rota encurtará o caminho da China para a Europa em 900 quilômetros e reduziria de 7 a 8 dias o tempo de viagem.

Outro posicionamento chinês audacioso foi o anunciado comprometimento do Presidente Xi Jinping em “apoiar resolutamente o Cazaquistão na defesa de sua independência, soberania e integridade territorial”. Um evidente alerta ao Presidente Putin para não interferir na Ásia Central, onde os dois países atuam geopoliticamente. 

A China tem sustentado suas relações exteriores por uma linha tênue. Apesar de Xi Jinping considerar Putin como um aliado contra os EUA e a OTAN, ele aparentemente  não está disposto a se afastar demasiadamente de Washington ou da União Europeia a ponto de sofrer represálias econômicas por “ajudar a guerra russa”. 

Mas, em contraposição Xi não se mostra disposto a se afastar de forma demasiado abrupta da Rússia. Pois além de aliado, Putin declarou apoiar a China na questão Taiwanesa. Satisfeito com o apoio, Xi elogiou a Rússia por aderir ao Princípio da Única China e enfatizar que Taiwan faz parte da China

Por fim, observa-se que os russos e chineses ainda possuem interesses mútuos na Ásia Central, porém seus líderes podem desencadear um choque por influência regional, em razão de interesses econômicos e de segurança conflitantes. 

Com o poder e a influência de Putin se diminuindo gradativamente devido à sua invasão da Ucrânia, a China se torna o ator regional mais poderoso e se mostra cada vez mais disposta e capaz de colocar os seus interesses regionais acima de sua relação com a gigante, porém decadente Rússia. 

Como a China está usando a Organização para Cooperação de Xangai como instrumento para aumentar a sua influência na Ásia 

A Organização para cooperação de Xangai é uma organização política, econômica e militar da Eurásia e tem como objetivo a cooperação para a segurança ‒ em especial, quanto a terrorismo, separatismo e extremismo ‒, mas também trata de temas para a cooperação econômica e cultural.

A China faz uso da OCX como um meio de garantir a segurança em sua vizinhança e proteger seus interesses econômicos em toda a Eurásia, onde investiu bilhões de dólares em infraestrutura como parte de sua Iniciativa Belt and Road

A Iniciativa Belt and Road é considerada  uma peça central da política externa do líder supremo chinês Xi Jinping. A iniciativa forma um componente central da estratégia de “Diplomacia do País Principal” de Xi, que exige que a China assuma um papel de liderança maior para os assuntos globais, de acordo com seu crescente poder e status.

Essa é uma estratégia global de desenvolvimento de infraestrutura adotada pelo governo chinês para investir em quase 150 países e organizações internacionais. Em agosto de 2022, 149 países foram listados como tendo se inscrito para participar do projeto. Portanto, o planejamento chinês de aumentar sua influência na região asiática tem dado resultados.

A Futura Tendência da aliança Chino-Russa e influência na Ásia Central

Devido a interminável guerra da Rússia na Ucrânia, a configuração internacional está mudando de um forma extremamente acelerada, que não se via desde a queda do muro de Berlin e o fim da União Soviética no final dos anos 80 e início dos 90s

A principal tendência é que o medo de uma possível invasão russa em seus territórios façam os países centro-asiáticos se afastarem politicamente da Rússia e busquem refúgio em acordos com a China, que está cada vez mais poderosa na região.  

Já a CSTO, parece estar com os dias contados já que o objetivo da organização seria uma colaboração militar, como se fosse a OTAN oriental. Porém se a aliança não está cumprindo seus objetivos basais, não tem o porquê da aliança existir, e os membros cientes disso, estão solicitando a saída do bloco para assim poderem ter apoio de outros Estados, tanto China como até os Estados Unidos — como no caso da Armênia.

A corrosão do poder da Rússia está abrindo cada vez mais espaço para a China atuar na zona Russa de influência. No entanto, a China não abandonará Moscou e continuará denunciando as alianças e sanções de defesa americanas contra a Rússia, porque teme que as mesmas armas sejam usadas para conter sua influência na Ásia ou para punir um possível ataque a Taiwan.

Pequim ao mesmo tempo quer evitar as sanções ocidentais, está se aproveitando do isolamento da Rússia para comprar petróleo e gás a preços inferiores e ao mesmo tempo aumentando sua influência na Ásia Central. 

Por fim, a China se mostra sempre cautelosa com os seus interesses e a tendência é que com a vitória ou com a derrota da Rússia na Ucrânia, o país há de tirar algum proveito, já que mantém suas relações externas milimetricamente equilibradas.

7 Comments

  1. […] Para Washington, essa aproximação oferece uma oportunidade de fortalecer sua presença na região do Cáucaso, que possui uma localização estratégica crucial entre a Europa e a Ásia, além de recursos energéticos substanciais. Os Estados Unidos podem, assim, equilibrar o poder na região e desafiar a influência tradicionalmente exercida pela Rússia e recentemente pela China. […]

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.