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COP 28: Sucesso ou Fracasso em Evitar as Mudanças Climáticas?

  • A COP28 reflete uma mudança de paradigma ao abandonar a meta de eliminação total dos combustíveis fósseis;
  • A presença massiva de lobistas de combustíveis fósseis na COP28 destaca a preocupante influência dessas indústrias nas decisões climáticas;
  • Com a COP29 no Azerbaijão no horizonte, a busca por equilíbrio entre a produção de energia e os objetivos climáticos globais torna-se essencial.

A Conferência das Partes (COP) desempenha um papel vital na formulação de estratégias globais para enfrentar as mudanças climáticas, sendo um fórum internacional onde líderes discutem ações cruciais para mitigar o aquecimento global. 

Ao longo das edições, as metas evoluíram, refletindo uma busca por abordagens realistas diante dos desafios econômicos e políticos. A COP28 em Dubai exemplificou essa transição, buscando a implementação de planos mais alinhados com a realidade.

O que é e qual é a relevância da COP?

A COP, ou Conferência das Partes, é uma série de encontros internacionais onde líderes e negociadores de diversos países se reúnem para discutir ações e acordos relacionados às mudanças climáticas. O principal objetivo é buscar soluções globais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e lidar com os impactos das mudanças climáticas.

A relevância da COP reside no fato de ser um espaço crucial para a tomada de decisões sobre questões ambientais em escala mundial. Durante essas conferências, os países negociam acordos, metas e estratégias para lidar com o aquecimento global e promover práticas mais sustentáveis. Cada COP é numerada sequencialmente, indicando a edição da conferência.

Resultados da COP28: mudanças de meta ou desvio de compromissos?

A COP28 em Dubai marcou uma mudança importante nas metas sobre mudanças climáticas em comparação com as conferências anteriores. Antes, falava-se em eliminar totalmente os combustíveis fósseis, mas agora, os resultados indicam uma abordagem diferente: reduzir e usar essas fontes de energia de maneira mais responsável.

O acordo alcançado em Dubai mostra uma adaptação na forma como lidamos com as emissões de gases que causam o efeito estufa. Em vez de buscar eliminar totalmente os combustíveis fósseis, o compromisso agora é reduzir seu uso e fazê-lo de maneira responsável. Isso reflete uma compreensão mais realista da situação, reconhecendo que muitos países ainda dependem amplamente dessas fontes de energia como petróleo, gás e carvão.

Essa mudança nas metas também sugere uma possível alteração na maneira como o mundo encara a luta contra as mudanças climáticas. O acordo reflete a ideia de que, embora eliminar completamente os combustíveis fósseis seja um objetivo positivo, a realidade econômica e as necessidades de energia atuais exigem abordagens mais flexíveis. 

Essa realidade econômica vem do custo para governos de implementação dessa nova infraestrutura mais sustentável. Esse efeito econômico negativo vem também do maior custo ao consumidor da implementação de projetos climáticos, o que acaba criando uma certa oposição popular à políticas climáticas o que acaba se refletindo nas urnas.

Sendo assim, os líderes globais parecem estar escolhendo uma transição gradual e sustentável em vez de pagar um preço econômico e político imediato para evitar as mudanças climáticas. Portanto, a evolução nas palavras e metas da COP28 pode ser vista como uma resposta mais prática e realista aos desafios econômicos e políticos enfrentados por muitos países.

Problemas da COP28: Lobby e liderança controversa

Na reunião climática da COP28 em Dubai, o número recorde de “lobistas de combustíveis fósseis” chamou a atenção. Os lobistas são pessoas que representam grandes empresas (no caso de petróleo e gás), ganhando acesso e influência nas negociações importantes sobre mudanças climáticas. 

Esses lobistas, que somam 2456, superam em número quase todas as delegações de países, sugerindo uma influência significativa dessas grandes indústrias nas discussões, podendo impactar fortemente as decisões a favor da transição energética para fontes mais limpas.

A análise da coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO) mostra que a presença desses lobistas, que buscam defender os interesses das empresas de combustíveis fósseis, é quase quatro vezes maior do que na COP anterior. Isso ocorre em um momento em que a COP foca em discutir a eliminação dessas fontes de energia prejudiciais ao meio ambiente.

O estudo também destaca que muitos desses lobistas fazem parte de grupos comerciais, sendo o maior grupo a Associação Internacional de Comércio de Emissões (IETA), que trouxe representantes de grandes poluidores como Shell, TotalEnergies e Equinor.

Essa situação levanta questões sobre a justiça e a transparência nas negociações, já que a presença maciça de lobistas de combustíveis fósseis pode influenciar as decisões climáticas, muitas vezes em detrimento das comunidades mais afetadas pela crise climática. 

Dessa forma, medidas mais transparentes são necessárias por parte da organização da Conferência para garantir que essas influências não prejudiquem o processo de tomada de decisões em benefício do meio ambiente.

Quais são as expectativas para a COP29 e para a Transição energética Global?

Com a confirmação de que o Azerbaijão sediará a COP29, as expectativas são altas, mas surgem questões cruciais em relação à transição energética. 

Como grande produtor de gás e combustíveis fósseis, o Azerbaijão enfrenta o desafio de equilibrar sua posição na indústria de energia com os objetivos globais de combate às mudanças climáticas, levantando questionamentos sobre a contradição dessa decisão, dada sua relevância na produção de combustíveis fósseis.

No que se refere a transição energética em escala global, para os países mais pobres, essa mudança representa um dilema financeiro significativo. A substituição por fontes de energia mais limpas é uma necessidade urgente, porém não é facilmente acessível para a maioria dos países. Por essa razão, a dependência contínua de combustíveis fósseis ainda é uma realidade inevitável para muitos deles, dada a falta de recursos para investir em alternativas mais limpas.

Uma possibilidade que pode ser discutida em Baku, é o uso da tecnologia de captura de carbono nos países dependentes de combustíveis fósseis. A Carbon Capture and Storage (CCS) é um conjunto de técnicas projetadas para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) provenientes de fontes industriais e de produção de energia, como usinas de energia a carvão e instalações industriais.

O objetivo principal da tecnologia de captura de carbono é ajudar a mitigar as mudanças climáticas, reduzindo a quantidade de CO2 já liberada ou no momento em que ela é liberada na atmosfera. Isso é crucial porque o dióxido de carbono é um dos principais gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global e as mudanças climáticas. Ao capturar e armazenar o CO2, as emissões totais podem ser significativamente reduzidas, ajudando os setores intensivos em carbono a transitar para práticas mais sustentáveis.

Entretanto, embora a tecnologia exista, sua implementação em larga escala é limitada, principalmente devido aos custos elevados associados a essas soluções. Isso destaca a necessidade premente de abordar barreiras financeiras e promover a transferência de tecnologia para garantir uma transição eficaz e acessível para os países em desenvolvimento.

Assim, a COP29 no Azerbaijão se apresenta como uma oportunidade crucial para abordar essas questões complexas, buscando soluções práticas e compromissos concretos para impulsionar uma transição energética global mais equitativa e sustentável.

Por que as decisões da COP são importantes para a humanidade? 

As decisões tomadas nas Conferências das Partes (COP) sobre mudanças climáticas são vitais para a humanidade por várias razões cruciais relacionadas ao impacto das escolhas energéticas dos países sobre as mudanças climáticas e a sobrevivência na Terra.

Ao atuarem como um exemplo de Governança Global, essas conferências buscam encontrar soluções coletivas para problemas ambientais, reconhecendo a interdependência das nações no enfrentamento dos desafios climáticos.

Entretanto, a eficácia dessa governança global pode enfrentar um “Problema de Ação Coletiva“, no qual líderes e atores podem ser tentados a tomar decisões individualistas e se aproveitarem das ações positivas de outros, prejudicando a resolução efetiva dos problemas ambientais como um todo.

Portanto, é crucial destacar que para que essas iniciativas funcionem, cada nação, Organização Internacional e líder global deve desempenhar seu papel na mitigação das mudanças climáticas, reconhecendo que a falta de colaboração de todos resulta em prejuízos para o conjunto.

Dito isso, nunca é demais lembrar alguns dos riscos associados às mudanças climáticas: 

  • Efeito Estufa e Aquecimento Global: As emissões de gases de efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas estão impulsionando o aquecimento global.
  • Impacto nas Condições Climáticas: Escolhas energéticas que perpetuam a dependência de combustíveis fósseis contribuem para eventos climáticos extremos, como ondas de calor, tempestades intensas, inundações e secas prolongadas. Esses eventos têm implicações diretas na segurança alimentar, recursos hídricos e habitabilidade de regiões inteiras.
  • Derretimento do Gelo e Elevação do Nível do Mar: As decisões sobre emissões de gases de efeito estufa influenciam diretamente o ritmo do derretimento do gelo e, consequentemente, o aumento do nível do mar, representando uma ameaça para comunidades costeiras e ilhas em todo o mundo. Um exemplo disso é Tuvalu, um pequeno conjunto de ilhas no Oceano Pacífico que enfrenta a ameaça iminente de desaparecer devido às mudanças climáticas. Situado a apenas cinco metros acima do nível do mar, o país corre o risco de ser um dos primeiros a sucumbir aos efeitos do aumento do nível do mar nas próximas décadas. A situação crítica de Tuvalu, ameaçada pelo aumento do nível do mar, destaca a urgência dessas decisões. Diante da iminente perda de seu território físico, o país busca sobreviver como uma “nação digital”,  evidenciando as ramificações reais das escolhas climáticas na existência de nações e culturas.
  • Perda de Biodiversidade: Mudanças climáticas resultantes das escolhas energéticas afetam os habitats naturais e contribuem para a perda de biodiversidade. A alteração de ecossistemas coloca em risco a variedade de vida na Terra, incluindo plantas, animais e microrganismos essenciais para o equilíbrio ecológico.
  • Sustentabilidade a Longo Prazo: Escolhas energéticas sustentáveis são fundamentais para garantir um suprimento contínuo de recursos naturais, como água, alimentos e energia.
  • Responsabilidade Global e Justiça Climática: A falta de ações significativas pode resultar em desigualdades, pois as nações mais vulneráveis e economicamente desfavorecidas são frequentemente as mais afetadas pelos impactos climáticos, apesar de contribuírem menos para as emissões.

Por fim, as decisões tomadas pelas COP’s são cruciais para o futuro da sobrevivência humana, pois moldam o futuro do planeta diante das mudanças climáticas. A ameaça iminente enfrentada por nações como Tuvalu, as ondas de calor cada vez mais frequentes em várias partes do mundo e os constantes derretimentos de geleiras nos pólos, destacam a urgência dessas escolhas.

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