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Como NIMBY Dificulta a Expansão de Projetos de Energia Renováveis/Sem Emissões Dificultando a Busca por Sustentabilidade

  • As mudanças climáticas exigem uma transição de fonte energética rápida e efetiva à nível global;
  • O movimento dos NIMBYs tem crescido e prejudicado os projetos de desenvolvimento sustentável;
  • Nesse contexto, as autocracias têm vantagens em relação às democracias no que tange a implementação de projetos de transição energética.

A transição energética sustentável é, sem dúvidas, uma das maiores preocupações mundiais em busca do bem do planeta, logo, do benefício comum.

No entanto, parte dos moradores de cidades que apresentam projetos de transição energética estão preocupados com turbinas eólicas imponentes e placas solares que, segundo eles, arruinarão a natureza bucólica de suas cidades e diminuirão os preços de suas casas.

Nota-se que ao contrário da oposição aos combustíveis fósseis devido a preocupações com a poluição e contaminação, a resistência em relação à energia limpa é em grande parte impulsionada pela estética, pelos valores do setor imobiliário e pelos possíveis riscos das usinas nucleares próximas às suas casas.

Este se tornou um dilema: os cidadãos querem projetos construídos para o bem público — como moradias acessíveis, malha ferroviária, estradas e fontes de energia renovável — mas não querem estar perto deles.

Fonte: Shutterstock

O que NIMBY “Not In My Backyard” (Não no Meu Quintal)

O NIMBY é caracterizado por um grupo de moradores que não apoiam os projetos de desenvolvimento propostos pelo governo de suas cidades, quando estão próximos às suas residências.

A questão central é que esses moradores são conhecidos por não apoiarem estes projetos apenas se estiverem próximos de suas casas, pois muitas vezes esses projetos alteram a estética local, o fluxo de novas pessoas na região e até mesmo levam alguns riscos no caso de usinas nucleares.

Dessa forma, há uma resistência ainda maior dessas pessoas quando se trata da construção de usinas nucleares próximas às suas vizinhanças, mesmo que isso beneficie o desenvolvimento sustentável.

Isso acontece, pois apesar da implementação obrigatória de procedimentos de segurança nas usinas nucleares, que são fontes de energia limpa, um acidente nuclear poderia liberar níveis perigosos de radiação sobre a área.

Por outro lado, os “nimbys” apoiariam tais projetos de desenvolvimento caso eles fossem construídos em outros lugares, mais longe de suas residências, e esta forma de pensar é também conhecida como “nimbyismo“.  

Exemplos de projetos de produção de energia sustentável ou mais limpa que foram cancelados por pressão de moradores locais

A aceitação pública local é extremamente importante para a localização e o desenvolvimento da infraestrutura de energia. A forte oposição de movimentos “nimbyistas” pode atrasar a aprovação do projeto, ou até mesmo destruí-lo por completo. 

No caso dos Estados Unidos, a transição para a energia renovável é de grande importância para a economia e para a luta contra o aquecimento global, no entanto os nimbys ameaçam tornar essa transição muito mais difícil.

As razões mais comuns apresentadas por estes grupos contra os projetos de transição energética são: 

1. As preocupações ambientais.

  • Conservação de terra;
  • Preservação da vida selvagem local;

2. Setor imobiliário.

  • Possíveis novos ruídos na região; 
  • Diminuição do valor das casas;

3. Setor turístico.

  • Mudança estética devido às instalações dos projetos; 
  • Possível diminuição do turismo local;

4. Usinas Nucleares.

  • Risco de acidente nuclear;
  • Risco de contaminação por radiação;

Nos Estados Unidos, muitos projetos foram impedidos por esses grupos. Um deles foi uma usina de energia solar perto de Las Vegas que teria sido a maior do país: o Battle Born Solar Project, situado em uma formação rochosa chamada Mormon Mesa. 

Outro exemplo, foi a votação realizada para bloquear novas instalações renováveis perto de muitas comunidades desérticas rurais na Califórnia, um estado que se comprometeu a ficar livre de carbono até 2045.

Já em Nova York, legisladores aprovaram um plano de mudanças climáticas com o objetivo de realizar uma transição energética no estado até 2040. Porém, os parques eólicos propostos sofreram uma resistência de um grupo de cidadãos de Atwater. 

No Kansas, um parque eólico proposto pela NextEra Energy Inc. ficou dependente de aprovação após moradores levantarem preocupações sobre os valores de suas propriedades. 

Em Nebraska, uma lei foi aprovada para tornar mais fácil a contestação no tribunal – por parte dos proprietários de terras – a criação de novas linhas de transmissão para parques eólicos.

O último exemplo dentre diversos casos é o projeto Summit Lake Wind, em enfrentou resistência por parte dos moradores, por medo de que as turbinas eólicas estragassem o deserto e desencorajassem o turismo. A Reserva Indígena local também levantou preocupações de que as turbinas prejudicariam sua capacidade de pescar e caçar na área. 

A diferença entre democracias e autocracias no que tange a expansão da produção de energia elétrica sem emissões

Existe uma crença generalizada de que as autocracias desfrutam de certa estabilidade política a longo prazo, por isso podem implementar projetos para garantir uma proteção climática consistente. 

Esta vantagem existe, porque os governos autocráticos podem prescrever medidas de proteção climática, independente das atitudes dos eleitores. Enquanto nas democracias a política climática às vezes é forçada a ficar em segundo plano devido a reivindicações de alguns grupos da sociedade como os nimbys mencionados acima. 

Tomando a China como exemplo de autocracia, nota-se que o transporte ferroviário desempenha um papel muito importante no desenvolvimento econômico do país. Em razão disso, o sistema de trens da China experimentou a evolução de locomotivas.  

Tendo a proteção ambiental em vista, houve uma significativa redução de emissões no transporte ferroviário chinês e a eletrificação dos trilhos se tornou uma tendência geral de desenvolvimento social, substituindo os combustíveis fósseis por energia renovável.

Ao contrário dos governos autoritários, que podem impor projetos de cima para baixo, as democracias evitam políticas drásticas de proteção climática. Em razão de seus processos de tomada de decisão baseados em consenso, as democracias lutam para garantir uma proteção climática rápida e efetiva.

No caso dos Estados Unidos, exemplificado enquanto uma democracia, os governos têm dificuldades de implementar projetos que afetem de alguma forma a vida – ou a vista – dos cidadãos. Tais ameaças, reais e imaginadas, muitas vezes alimentam a oposição a projetos ferroviários.

Como exemplo, podemos observar o esforço do governo para expandir o serviço Amtrak Hiawatha entre Chicago e Milwaukee de sete para 10 viagens de ida e volta por dia. Mas, quase imediatamente, a oposição local a um novo desvio nas proximidades bloqueou os planos de expandir o serviço.

Emily Badger publicou no New York Times a sua teoria em que afirma a expansão do “não no meu quintal” para “não na minha vizinhança” e delineia o crescimento da convicção de que “ter uma parcela de terra dá aos proprietários o direito de moldar o mundo além de suas fronteiras”, claramente afetando a transição energética.  

Por que o problema da resistência NIMBY em muitas democracias é relevante para a luta contra as mudanças climáticas e até a geopolítica

O problema com o conceito de NIMBY, além de sua constante oposição aos projetos de desenvolvimento, é que algumas pessoas parecem querer ter suas vozes ouvidas, enquanto outras ficam completamente fora da conversa.

É importante ressaltar que tópicos como a preservação da vida selvagem e conservação de áreas abertas defendidos por nimbys são essenciais, e as empresas implantadoras de tecnologia devem minimizar esses danos. 

Todavia, estes fatores não devem impedir a transição para a energia verde, pois essas atitudes exacerbam os problemas com os quais eles estão preocupados.

As mudanças climáticas têm o potencial de devastar os habitats naturais de animais e plantas em todo o mundo, além de causar vastas queimadas e enchentes que certamente poderiam massacrar o setor imobiliário e turístico. 

Nesse sentido, os governos autocráticos como a China se beneficiam pela inexistência de nimbys, visto que os projetos são realizados de forma autoritária, independente da aprovacão popular. Por esse ângulo, o sistema autocrático é melhor e mais efetivo que as democracias, pois podem implementar politicas climáticas com mais facilidade e sem a interferência de nimbys.

Sendo assim, o modelo governamental autocrático acaba por ter uma maior visibilidade positiva ao redor do mundo, e esse ponto de vista facilita a compreensão dos motivos pelos quais as autocracias tem crescido mais que as democracias ultimamente. Porém, nas autocracias as liberdades individuais – mais exigidas nas democracias – são postas em segundo plano pelo bem do todo.

No caso dos países fortemente afetados pelo nimbyismo, em lugar de se projetarem internacionalmente, os países mais afetados pelas mudanças climáticas serão forçados a focar seus esforços em minimizar as catástrofes derivadas do aquecimento global em seu território, como aconteceu com o Paquistão em 2022. 

O país sofreu a inundação mais mortal do mundo e a pior da história do país, que se seguiram de uma forte onda de calor, ambas ligadas às mudanças climáticas que matou mais de 1.700 pessoas e causou mais de 15 bilhões de dólares em perdas econômicas e mais de 14 bilhões em danos. 

Além disso, a expansão da energia limpa demora mais do que deveria em razão da resistência nimbyista – que deveria pensar mais no bem coletivo em lugar do individualismo – oferecendo vantagens energéticas, econômicas e geopolíticas aos países autocráticos, nesse quesito. 

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