- A nova corrida espacial competida entre os Estados Unidos, China, Rússia e Índia provocou uma maior necessidade de investimento em ciência espacial;
- A Europa, que ainda não realiza lançamentos de satélites de seu próprio continente se viu atrasada frente aos concorrentes;
- Com a presidência rotativa do Conselho Europeu, a Suécia anuncia a inauguração de seu novo centro espacial para lançamentos de satélites.
Após a Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, ambos países perceberam o quão importante seria a pesquisa de foguetes para os militares.
Com isso em mente, a Corrida Espacial se iniciou em 1955, quando os rivais anunciaram que em breve lançariam satélites em órbita e então iniciaram uma competição para medir quem tinha a melhor tecnologia espacial.
Essa competição teve como foco fatores como: quem poderia colocar a primeira nave espacial tripulada em órbita e quem seria o primeiro a andar na Lua. Também se mostrou importante por evidenciar ao mundo a ciência, tecnologia e o sistema econômico dos Estados Unidos e URSS.
Da mesma maneira, a recém inserção da Europa na nova corrida espacial e com lançamentos partindo de seu próprio território Europeu – mesmo que de forma tardia – é de grande importância para a ciência espacial, para o setor militar europeu e também para o orgulho regional.
A inauguração do “Esrange Space Center” em Kiruna no norte da Suécia, enquanto novo centro espacial, aconteceu em Janeiro de 2023 com a presença de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e do chefe de estado sueco, o rei Carl XVI Gustaf.
O Novo Centro Espacial em Kiruna na Lapônia Sueca
Esrange Space Center é um centro de pesquisa e lançamento de foguetes localizado no norte da Escandinávia, a cerca de 40 quilômetros a leste da cidade de Kiruna, na Suécia.
É base para pesquisas científicas com balões de alta altitude, investigação da aurora boreal, lançamento de foguetes de sondagem, rastreamento por satélite, entre outros tipos de pesquisa.
No início de 2023, à medida que a Suécia assumiu a Presidência do Conselho da União Europeia, de acordo com o sistema previsto de rodízio, o país evidenciou os planos da Corporação Espacial Sueca (SCC) que afirma que um lançamento de satélite inaugural de Kiruna é “esperado até a virada do ano de 2023 para 2024”.
O centro espacial de Kiruna é visto como estrategicamente importante para a União Europeia, pois os satélites que poderão ser lançados do local poderão desempenhar funções importantes, como monitorar os oceanos e fornecer banda larga.
Porém, além destas funções, os satélites são de extrema importância também para a segurança nacional dos países europeus, logo, da segurança regional.
Por isso, segundo Von der Leyen, este porto espacial oferece uma porta de entrada europeia independente para o espaço e tem um enorme potencial para melhorar a vida diária dos europeus, como medir os efeitos das mudanças climáticas, monitorar o tráfego rodoviário em tempo real ou até mesmo rastrear desastres naturais; além do óbvio lançamento de satélites espiões para fortalecer a capacidade militar do bloco.
Como a União Europeia está atrasada na Corrida Espacial Mundial
Em um relatório de observação do futuro, a Comissão Europeia alertou que o controle sobre a tecnologia é um campo de batalha geopolítico cada vez mais crucial, e que a UE está perdendo a corrida de investimentos em computação quântica, 5G, inteligência artificial e biotecnologia.
No setor espacial não é muito diferente. Os governos europeus estão bem cientes de que, quando se trata da corrida espacial, eles estão ficando para trás.
Como exemplo, pode-se notar a maior capacidade espacial de outros países como:
- Os Estados Unidos:
- Cabo Canaveral – esta é uma região localizada na Flórida e é responsável pelo lançamento da maior parte das naves rumo ao espaço. Faz parte de uma região conhecida como Space Coast (Costa Espacial), pois, lá, se situam o Centro Espacial Kennedy (Kennedy Space Center) e uma Base da Força Aérea (Cape Canaveral Air Force Station).
- NASA – é, talvez uma das mais conhecidas agências espaciais, uma agência do governo federal dos EUA e responsável pelo programa espacial civil, pesquisa aeronáutica e pesquisa espacial. A organização tem um orçamento anual de 24 bilhões de dólares.
- Space X – a mais avançada empresa privada espacial, é um fabricante americano de naves espaciais, lançador e de uma corporação de comunicações por satélite com sede em Hawthorne, Califórnia. Foi fundada em 2002 por Elon Musk com o objetivo declarado de reduzir os custos de transporte espacial para permitir a colonização de Marte. A receita da empresa em 2022 foi de mais de 2 bilhões de dólares.
- Blue Origin – é uma fabricante aeroespacial americana com financiamento privado é uma empresa de serviços de voos espaciais suborbitais com sede em Kent, Washington.Fundada em 2000 por Jeff Bezos, fundador e presidente executivo da Amazon, a empresa é liderada pelo CEO Bob Smith e visa tornar o acesso ao espaço mais barato e confiável por meio de veículos de lançamento reutilizáveis. A receita anual da empresa é de aproximadamente 42 bilhões de dólares por ano.
- Wenchang Space Launch Site – O local de lançamento espacial de Wenchang, localizado em Wenchang, Hainan, China, é um dos locais de lançamento de foguetes mais utilizados da China.
- Programa espacial da República Popular da China – é dirigido pela Administração Espacial Nacional da China (CNSA). O programa espacial da China supervisionou o desenvolvimento e o lançamento de mísseis balísticos, milhares de satélites artificiais, voos espaciais tripulados, uma estação espacial própria e declarou planos para explorar a Lua, Marte e o Sistema Solar de forma mais ampla.
- Rússia:
- Cosmódromo de Baikonur – é o primeiro porto espacial do mundo para lançamentos orbitais e humanos e a maior instalação de lançamento espacial operacional na região. Baikonur é território do Cazaquistão, porém todos os voos espaciais russos tripulados são lançados do local.
- State Space Corporation Roscosmos – Originário do programa espacial soviético fundado na década de 1950, Roscosmos é uma corporação estatal da Federação Russa responsável por voos espaciais, programas cosmonáuticos e pesquisa aeroespacial. O programa tem um orçamento anual de quase 2 bilhões de dólares.
- Índia:
- Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO) – é a principal agência da Índia para realizar tarefas relacionadas a aplicações espaciais, exploração espacial e desenvolvimento de tecnologias relacionadas. É uma das poucas agências espaciais governamentais no mundo que possuem capacidades completas de lançamento, implantação de motores criogênicos, lançamento de missões extraterrestres e operação de grandes frotas de satélites artificiais. A agência tem um orçamento anual de quase 2 bilhões de dólares.
- Europa:
- A Agência Espacial Europeia (ESA) – Apesar do atraso, frente aos concorrentes citados, a Europa possui uma organização espacial, que já efetuou lançamentos, mas não de seu próprio continente. Com sede em Paris, a ESA possui um centro espacial em Kourou, na Guiana Francesa. A agência espacial francesa CNES (Centro Nacional de Estudos Espaciais) e as empresas comerciais Arianespace e Azercosmos realizam lançamentos de Kourou.
Também é importante citar a primeira tentativa de lançamento do Reino Unido, realizada em janeiro de 2023, que acaba por demonstrar a inferioridade tecnológica europeia frente a outros países.
O Reino Unido não é mais parte da União Europeia, porém ainda se trata da tentativa proveniente de um projeto europeu, que reflete os vários anos anteriores de pouco investimento e tecnologia no setor espacial da região.
Por que a Soberania no Lançamento de Foguetes e Satélites é Importante para a Geopolítica
Para além dos benefícios para a vida diária dos europeus, relacionados ao clima e monitoramento de tráfego, uma das razões mais importantes para o lançamento de satélites tem como causa as tensões geopolíticas com a Rússia.
Em seu discurso, Von Der Leyen enfatizou a importância dos pequenos satélites para a segurança europeia e usou a Ucrânia como exemplo do uso da rede de satélites provedores de internet Starlink para rastrear os movimentos das tropas russas.
Além disso, a União Europeia também precisa ter autonomia para fazer a manutenção do seu sistema de navegação via satélite Galileo global navigation satellite system (GNSS) que compete com o GPS dos Estados Unidos, o GLONASS Russo e o Chinês BeiDou.
Leyen reforçou também que seu objetivo é melhorar a resiliência da infraestrutura espacial europeia e fortalecer suas capacidades de forma compartilhada, além de criar uma nova proposta relativa a uma política de defesa cibernética da UE.
Outro benefício importante de Kiruna é a sua localização. A proximidade entre a estação de lançamento e os centros de desenvolvimento europeus facilita todo o processo, quando comparado com a estação em uso da Guiana Francesa. Com a proximidade geográfica de Kiruna, o deslocamento de cientistas e equipamento é menor e facilitado, bem como o transporte de satélites e foguetes que será feito dentro do próprio continente europeu.
A esperança é que esse avanço coloque a UE em uma nova posição quando se trata de política e pesquisa espacial. Por fim, os benefícios serão enxergados no setor militar, tecnológico e espacial.
Be First to Comment