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7 Exemplos de Como o Cazaquistão está se Afastando da Rússia Devido a Guerra na Ucrânia

Já é conhecido que a crise na Ucrânia, país que já foi parte do antigo território soviético, causa uma grande instabilidade geopolítica e geoestratégica a nível global. 

No entanto, a afronta de Moscou à soberania de Kiev causa preocupação principalmente nos países vizinhos da Ásia Central, considerando que todos se encaixam nos “requisitos” que Putin usa como justificativa para a invasão da Ucrânia. 

Atualmente, a região abrange os seguintes países: Tadjiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Quirguistão e Cazaquistão. Esta região também é conhecida como Turquistão (exceto o Tadjiquistão) que significa “terra dos turcos” ou turcomanos.

Portanto, em meio à crise da região e os discursos imperialistas de Putin, o Cazaquistão tem se destacado ao demonstrar certa insegurança em relação à Rússia e ao se voltar cada vez mais para o ocidente na medida em que sente sua soberania ameaçada por Moscou. 

Como as outras ex-Repúblicas Soviéticas se vêem ameaçadas pelo novo imperialismo Russo?

Todos os países da Ásia Central são Estados jovens, que inicialmente faziam parte do império russo, e depois conquistaram suas fronteiras atuais da União Soviética.

Entretanto, a antiga soberania soviética sobre esses territórios vêm sendo usada como justificativa, por Putin, para ocupar territórios em que existam minorias russas a serem protegidas, mas essas minorias que se auto-determinam russas podem ser encontradas em toda a região, o que deixa uma janela aberta à diversas possibilidades.

O uso do russo como idioma oficial ou co-oficial ainda hoje por algumas dessas nações da região – consequência de suas heranças históricas –  também colabora para que grupos minoritários surjam, já que grande parte do sentimento de pertencimento provém da língua materna de um povo, influenciando fortemente sua autodeterminação.

Então, da mesma forma que o presidente russo objetiva anexar as cidades separatistas no leste da Ucrânia, na região de Donbass, ele deu a entender que faria o mesmo em regiões separatistas ao norte do Cazaquistão, logo após o presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, “desrespeitar” Putin no Fórum de São Petersburgo. 

Durante sua fala no Fórum, Tokayev afirmou não reconhecer as “formações quase estatais” em Donbass, com o argumento de que se o direito das nações à autodeterminação for realizado em todo o mundo, então, em vez de 193 Estados, que são membros da ONU, mais de 500 ou 600 Estados surgirão no planeta.

Segundo ele, um caos se instalaria e, por essa razão, o Cazaquistão não reconhece Taiwan, Kosovo, Ossétia do Sul ou Abecásia – ressaltando que os últimos dois estão ocupados por tropas russas em território da Georgia –, o que deixou Putin claramente irritado na reunião, levando-o a atitudes políticas ofensivas contra o país no dia seguinte. 

Em paralelo, a mídia russa atacou excessivamente o Cazaquistão, inclusive com ameaças. O legislador Konstantin Zatulin disse à Radio Moskva que Tokayev “desafiou” Putin e disse que essa divergência poderia resultar em uma invasão para proteger a minoria russa e anexar o território. 

Zatulin disse ainda que “há muitas cidades com uma população predominantemente russa no país e que essas pessoas têm pouco a ver com o que foi chamado de Cazaquistão”.

Por fim, segundo o jornal AlJazeera, Zatulin diz que “gostaria que Astana – o antigo nome da capital cazaque, Nur-Sultan – não esquecesse que, com amigos e parceiros, não levantamos questões territoriais e não discutimos. Quanto ao resto — como com a Ucrânia, por exemplo – tudo é possível”.

7 Exemplos de como as relações entre Cazaquistão e Rússia estão abaladas 

Historicamente, as relações entre a Russia com o Cazaquistão são extremamente importantes já que são aliados políticos e militares. Pode-se notar a intensa relação entre ambos países observando o Cosmódromo de Baikonur.

Essa área é localizada no sul do Cazaquistão e está alugada para a Rússia por 115 milhões de dólares anuais esse é o primeiro porto espacial do mundo para lançamentos orbitais e humanos e a maior instalação de lançamento espacial operacional (na área). Todos os voos espaciais russos tripulados são lançados do local.

No início de 2022 pode-se presenciar o envio de tropas russas para apaziguar revoltas no Cazaquistão, as tropas foram enviadas à pedido de Tokayev, sob a autoridade da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) – um grupo de países que compreende a Rússia, Cazaquistão, Bielorrússia, Tajiquistão, Quirguistão e Armênia, que foi criado após o colapso da União Soviética.

O objetivo era apaziguar manifestantes que protestavam em razão do aumento significativo do preço do gás liquefeito de petróleo (GLP). A OTSC afirma que as tropas são uma força de manutenção da paz que protegerá instalações estatais e militares, como gasodutos, bases militares russas e a estação espacial russa em Baikonur.

Entretanto, devido ao andamento da guerra na Ucrânia, as relações entre Putin e Tokayev vem se deteriorando, especialmente após os últimos acontecimentos no Fórum de São Petersburgo mencionados anteriormente.

Portanto, através da análise de algumas das decisões cazaques mais recentes na área de política externa, os 7 acontecimentos mais relevantes que demonstram esse afastamento são: 

  1. O discurso de Putin sobre a antiga União Soviética, como a “Rússia Histórica”, despertou a preocupação nos ex-estados soviéticos, portanto, há uma recusa no reconhecimento de territórios separatistas na Ucrânia, apoiados por Moscou, bem como outros territórios separatistas. 
  2. O presidente do Cazaquistão, Tokayev, ofereceu à União Europeia a possibilidade de comprar petróleo diretamente do país, em lugar de comprar da Rússia
  3. O Cazaquistão tem um projeto atual de usar a rota transcaspiana para construir um gasoduto contornando a Rússia e, assim, garantir mais autonomia da Rússia – já que atualmente o gasoduto cazaque passa por território russo e Putin têm frequentemente interrompido essa rota, usando o petróleo e o gás como “arma de interrupção em massa”. 
  4.  O Presidente Tokayev assegurou aos líderes da União Europeia que o bloco poderia depender dele para ajudá-los a superar a crise energética causada pela Rússia. 
  5. O Cazaquistão tem buscado pelo fortalecimento de sua soberania nacional, mantendo-se aberto política e economicamente para com países “não-amigos” da Rússia. 
  6. A Embaixada do Cazaquistão em Londres foi iluminada com as cores da bandeira ucraniana, em meio à guerra em curso. Esse é um fato extremamente significativo, que deixa bem clara a mensagem de Tokayev à Putin, de que o apoio cazaque está com a Ucrânia.  
  7. O Cazaquistão se retirou do Acordo da Comunidade e Estados Independentes (CIS) de 1995, sobre o Comitê Monetário Interestadual, um sistema criado para aumentar o crédito e o câmbio de moeda. 

Esses são apenas alguns, dentre outras atitudes da política externa cazaque, que demonstra sua nova postura no Sistema Internacional. 

O papel da China de “proteção” da Ásia Central contra a Rússia

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, no início de 2011, os líderes da Ásia Central têm tentado diminuir sua  dependência da Rússia e lidar com as consequências econômicas das sanções que a guerra de Putin ocasionou na região.

Essa nova postura da Ásia Central criou possibilidades de novas oportunidades, à medida em que os presidentes desses países reavaliam seus pontos de equilíbrio entre várias potências mundiais.

De fato, por muitos anos, a China tem sido um grande investidor nos países da região, fornecendo-lhes conexões com os projetos implementados na Eurásia e a pandemia tornou a cooperação China-Ásia Central ainda mais forte, fortalecendo a confiança entre os países.

No entanto, a China continuou a seguir o curso que estabeleceu há décadas, perseguindo seus interesses de segurança na região e garantindo o acesso a exportações de energia e minerais valiosos. 

Deve-se notar que além de ser o país que mais investe na região – US$ 40 bilhões, em 2021 e só o Cazaquistão foi beneficiado com US$ 21,4 bilhões – o país é o principal importador de produtos da Ásia Central. 

Portanto, a presença da China na rede de apoio da Ásia Central de forma tão incisiva, acaba por “proteger” os países da região do autoritarismo russo com ameaças e sanções de Putin aos vizinhos.  

O exemplo mais significativo que pode demonstrar essa cooperação é a Iniciativa Belt and Road (BRI) que, segundo o European Bank, “é uma estratégia iniciada pela República Popular da China que busca conectar a Ásia com a África e a Europa por meio de redes terrestres e marítimas com o objetivo de melhorar a integração regional, aumentar o comércio e estimular o crescimento econômico”.

Dessa forma, será possível desviar (geograficamente e politicamente) da Rússia, como para fins de fornecimento de energia, por exemplo, já que as principais prioridades da rota são: a coordenação de políticas; conectividade de infraestrutura; comércio desimpedido; integração financeira e conectar pessoas.

Por fim, segundo Erica Marat, da Universidade de Defesa Nacional de Washington, tanto a China, quanto a Turquia veem uma oportunidade de expandir suas presenças na região. 

A futura tendência do enfraquecimento da relação entre o Cazaquistão e a Rússia

Apesar de a invasão russa na Ucrânia ser um fenômeno principalmente geopolítico, suas consequências afetarão profundamente geoeconomia global.

Ao criar um “vácuo” nas relações entre a Rússia e os países da Ásia Central – devido à sua fala e ações imperialistas que remetem à falecida União Soviética – Putin acaba por deixar o caminho livre para a maior potência asiática atuar, a China. 

Se beneficiando disso, a China estreitará ainda mais suas relações com os países centro-asiáticos, especialmente com o Cazaquistão, dando ao país uma alternativa à Rússia. 

Para a China, a vasta massa de terra russa era a rota terrestre mais confiável para o farto mercado da UE, porém, a guerra de Putin destruiu o sonho chinês de construir uma maior conectividade terrestre, até o momento.

Então, a conectividade China-UE aparentemente dependerá das antigas  rotas marítimas, que se mostraram mais resilientes do que as redes rodoviárias ou ferroviárias, ressaltando que 80% do comércio global ainda é marítimo. 

Com a oferta cazaque à UE de suprir suas necessidades energéticas – e com a ajuda da China –, é provável que o corredor “Ásia Central – Ásia Ocidental” se torne muito necessário, já que transita pelos países da Ásia Central, pela região do Mar Cáspio, Irã e Turquia, contornando a Rússia para chegar até a Europa.

Portanto, pode-se dizer que atualmente, enquanto o mundo está se recuperando do choque pandêmico e, ao mesmo tempo, lidando com a guerra na Ucrânia, a China e os países da Ásia Central estão avançando em um novo nível de relações.

Quanto a Rússia, essa está cada vez mais perdendo força na sua “esfera de influência” por conta das suas políticas agressivas e expansionistas em relação aos seus vizinhos. Isso demostra mais um grande erro estratégico Russo que se encontra está cada vez mais isolado desde que invadiu a Ucrânia. O tiro está saindo pela culatra.

6 Comments

  1. […] Regionalismo da Sibéria: Parte desta região costumava pertencer à China sob a Dinastia Qing, mas foi anexada à força pelo Império Russo sob a Anexação de Amur. Rica em recursos naturais, a China pode fomentar alguns movimentos de independência na região, dependendo de desenvolvimentos futuros. Eles provavelmente não fariam isso para anexar a área, o que desencadearia uma resposta nuclear de Moscou, mas para apoiar sua total independência. Este novo país independente poderia então se tornar um destino para dinheiro e investimentos chineses por meio da Iniciativa da Nova Rota da Seda, criando estados pseudo-vassalos, da mesma forma que a China vem fazendo com outros países da Ásia Central há anos. […]

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