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Como os Reatores Modulares de Pequena Escala (SMRs) Podem Disseminar o Uso de Energia Nuclear pelo Mundo e Suas Consequências Geopolíticas

  • A descarbonização das matrizes energéticas estão se mostrando cada vez mais importantes conforme o avanço das mudanças climáticas;
  • Os Reatores Modulares de Pequena Escala já estão sendo implementados em alguns países como forma de diminuir sua vulnerabilidade energética;
  • O maior uso de energia nuclear mudará as relações interestatais e o comércio energético internacional.

É evidente que a população mundial está cada vez mais dependente da eletricidade, e que a demanda de energia aumenta constantemente à medida que o transporte, as casas e a indústria estão cada vez mais eletrificados. 

Embora a eletricidade esteja limpa no ponto de uso, sua geração atualmente produz mais de 40% de todas as emissões de carbono relacionadas à energia, quando suas fontes são provenientes de combustíveis fósseis como o petróleo, o gás e o carvão. 

Portanto, a descarbonização da produção de eletricidade é necessária e fundamental para que qualquer estratégia de amenização das mudança climáticas apresente resultados impactantes. Nesse ambiente complexo, a tradicional energia nuclear se mostrou um meio de ser o catalisador para as transições energéticas sustentáveis. Porém, os novos Reatores Modulares de Pequena Escala podem tornar a energia nuclear ainda mais atraente como fonte de energia “limpa.”

Fonte: Rolls-Royce

O que são Reatores Modulares de Pequena Escala ou Small Scale Modular Reactors (SMRs)?

Os Reatores Modulares de Pequena Escala são reatores de fissão nuclear avançados que têm aproximadamente um terço da capacidade de geração dos reatores nucleares tradicionais. Eles tendem a ser mais atrativos porque são mais rápidos e baratos de construir do que as usinas tradicionais.

Um reator nuclear tradicional é um dispositivo usado em usinas para controlar a reação de fissão nuclear. Essa reação ocorre de forma descontrolada no caso de explosão de bombas atômicas, por exemplo, mas os reatores possuem mecanismos que impedem essa ação, fazendo com que a reação seja controlada e reaproveitada para gerar energia elétrica.

Dessa forma, é gerada a energia nuclear que fornece 10% da eletricidade no mundo, diminuindo a emissão de carbono – presente em grande escala no uso de combustíveis fósseis – e colaborando no combate às mudanças climáticas e o aquecimento global.

Com os SMRs, espera-se que mais países comecem a usar energia nuclear para “limpar” suas matrizes energéticas, e países que já usam energia nuclear, aumentem ainda mais seu uso.

Quais são os países e projetos mais avançados no desenvolvimento e implementação de Reatores Modulares de Pequena Escala (SMRs)?

Com a invasão russa na Ucrânia e as constantes ameaças de Vladimir Putin à Europa, nós pudemos observar uma corrida por fontes alternativas de energia para reduzir a dependência em relação ao gás importado de Moscou.

Outra razão é simplesmente variar as matrizes energéticas do país para alcançar a soberania energética, diminuindo a dependência de uma só fonte ou de outras nações. 

Como uma das opções são as usinas nucleares menores e mais fáceis de construir, já podemos encontrar países que fazem uso desse tipo de energia e muitos projetos a serem implementados.  Alguns deles são:

Pequenos reatores modulados: 

  • China – China Huaneng, projeto HTR-PM, em operação;
  • Rússia – OKBM Afrikantov, projeto KLT-40S Akademik Lomonosov, em operação; 
  • China – Corporação Nuclear da China, projeto ACP100 Linglong Um, em construção; 
  • China – Corporação Nuclear da China, projeto TMSR-LF1, em construção; 
  • Rússia – Atomenergoprom, projeto BREST-OD-300, em construção; 
  • Argentina – CNEA, projeto CAREM, em construção. 

Existem outros projetos em andamento, no entanto, estes são os mais relevantes até o momento.

Quais são os pontos positivos e negativos dos Reatores Nucleares de Pequeno Tamanho?

Como toda fonte energética, os SMRs também possuem vantagens e desvantagens que derivam de seu uso. 

As vantagens mais relevantes são: 

  • a utilização de urânio como fonte energética, presente em abundância na natureza;
  • as SMRs são mais rápidas e baratas de construir do que as usinas tradicionais;
  • a não emissão de gases poluentes na atmosfera;
  • A demanda de áreas de instalação de usinas é pequena e pode ser afastada dos grandes centros; 
  • a pequena quantidade de lixo nuclear produzida;
  • a alta produtividade e capacidade de produzir sem interrupções.

No entanto, apesar da energia nuclear ser pouco poluente, existem algumas desvantagens, como: 

  • apesar da abundância de urânio na natureza, a quantidade é finita, o que limita a energia nuclear em uma fonte não renovável de geração de eletricidade;
  • o aquecimento das águas dos reservatórios naturais, como o mar e rios, devido ao despejo da água utilizada no processo de geração de energia;
  • os possíveis riscos ambientais e para a saúde humana se o descarte do lixo atômico for descartado de maneira irregular; 
  • apesar de pequenos, os riscos de acidentes nucleares.

Dito isso, é possível observar que apesar dos benefícios do uso dos SMRs, atualmente o principal obstáculo e desvantagem ao seu uso comercial é o licenciamento de novos projetos. 

No entanto, outra vantagem dos reatores é que apesar da dificuldade inicial para licenciar a primeira unidade de um determinado projeto, o licenciamento das unidades subsequentes é geralmente muito mais simples, visto que todas as unidades operam da mesma maneira.

Quais as consequências climáticas e geopolíticas da implementação em larga escala de Reatores Nucleares Modulares de Pequena Escala pelo mundo?

Para mitigar os impactos das mudanças climáticas do planeta, a sociedade tem a necessidade de reduzir rapidamente sua dependência de combustíveis fósseis, que são os principais emissores de gases de efeito estufa. 

A energia nuclear é de baixo carbono e pode ser implantada em grande escala em um prazo acelerado, podendo fornecer ao planeta uma eletricidade mais acessível, limpa e segura.

Como a energia nuclear é confiável e pode ser implantada em grande escala, ela pode substituir diretamente a usina de combustíveis fósseis, evitando a emissão de combustíveis fósseis para geração de eletricidade. O uso da energia nuclear hoje evita emissões aproximadamente equivalentes a remover um terço de todos os carros das estradas do mundo.

SMRs reduzem também a necessidade de combustível. Usinas compostas por SMRs podem exigir reabastecimento de urânio menos frequente, a cada 3 a 7 anos, em comparação com entre 1 e 2 anos para usinas convencionais. Alguns SMRs podem até mesmo ser projetados para operarem por 30 anos sem reabastecimento.

No campo da geopolítica, o aumento da variedade de matrizes energéticas pode causar uma mudança nas relações entre países importadores e exportadores de energia. 

Com a transição energética sendo conduzida com o maior uso da energia nuclear, os países mais afetados negativamente são os grandes produtores e exportadores de combustíveis fósseis do mundo como por exemplo a Arábia Saudita, Rússia, Kuwait, Iraque, entre outros respectivamente. 

Não por acaso, nas Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (as COPs), podemos encontrar um grande número de lobistas do petróleo desses mesmos países tentando garantir que as novas políticas climáticas não afetem a atratividade e lucratividade da indústria petrolífera. 

No entanto, países como os EUA já possuem tecnologia nuclear, portanto uma transição não seria tão impactante economicamente para eles como seria para a Arábia Saudita, que ainda não possui usinas nucleares em funcionamento até este momento, por exemplo.

Em contrapartida, os países que investirem na tecnologia capaz de produzir usinas baseadas em SMRs, se beneficiarão da diminuição da dependência energética de outros países, gerando mais autonomia e podendo eventualmente alcançar sua soberania energética, além do barateamento da energia elétrica para sua população. 

Por fim, além do benefício para os países em vulnerabilidade energética que possam adotar SMRs, e dos benefícios para o meio ambiente dessa adoção, também há de se observar uma grande movimentação no tabuleiro geopolítico devido às consequências que isso levará ao mercado internacional de importação e exportação de energia, seja limpa ou de combustíveis fósseis. 

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