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Os 3 Principais Problemas Afetando a China em Seu Objetivo de Se Equiparar aos Estados Unidos

  • O ritmo chinês de crescimento das últimas décadas deu lugar a uma brusca desaceleração econômica;
  • As razões desta desaceleração ameaça os objetivos chineses no Sistema Internacional;
  • A hegemonia americana, que vinha sendo ameaçada pelo poder chinês, pode se manter ao longo do século XXI

O Produto Interno Bruto (PIB) da China aumentou constantemente e em grande velocidade por mais de 40 anos e o país conseguiu manter um crescimento médio de 10% ao ano entre 1991 e 2010. 

Não por acaso, a expressão “ritmo chinês de crescimento” começou a ser utilizado internacionalmente. No entanto, desde os anos atípicos de pandemia do COVID-19 em 2020 e 2021, se iniciou uma nova fase de desaceleração no crescimento do PIB chinês. 

Para além da pandemia, outros fatores influenciam nesta desaceleração, como a política de “Zero COVID”, a intervenção econômica do governo chinês e até mesmo o setor imobiliário. 

Fatores como estes fazem com que ainda em 2023 Pequim sofra um crescimento econômico menor que o habitual e tenha seu objetivo de se equiparar economicamente aos Estados Unidos adiado. 

Fonte: Pixabay

A Pandemia do COVID-19 e a Política de “Zero COVID”

Um dos fatores mais relevantes que favoreceu a diminuição do crescimento chinês foi a pandemia do COVID-19 e a política da “zero covid”, vigente até Dezembro de 2022. 

Após a variante ômicron, a maioria dos países passou a defender o discurso de que, quando for possível, os governos planejam mudar a abordagem estratégica de saúde pública para que seja possível conviver com o vírus. 

Em contrapartida, a China ainda acredita e põe esforços na completa eliminação do vírus de seu território, apesar da imensa dificuldade devido a alta transmissibilidade da variante ômicron.

Para isso, o Governo chinês implementou medidas extremamente rigorosas e restritivas aos cidadãos, como grandiosos lockdowns, controle de fronteiras e testagem em massa. 

Essas medidas afetaram fortemente a economia chinesa devido ao impacto na linha de produção das empresas nacionais, na decrescente demanda de consumidores e até mesmo no turismo nacional e internacional da região. 

A Crise do Mercado Imobiliário Chinês

O setor imobiliário representa ¼ (um quarto) do Produto Interno Bruto da China e os créditos imobiliários representam cerca de 20% dos empréstimos do sistema bancário chinês, segundo um relatório do banco ANZ.

Esse fato ressalta a grande importância do setor para a economia chinesa e mundial, devido a interconexão do país com outras economias.  

As construtoras chinesas costumam trabalhar com um sistema de pré-venda em que o imóvel é vendido antes do início da construção e por um longo período. Além disso, a reforma imobiliária de 1998 na China fez crescer rapidamente a oferta de imóveis. Finalmente, uma outra razão do superaquecimento do mercado imobiliário da China é o fator cultural onde comprar uma casa muitas vezes é um pré-requisito para se casar.

No entanto, além dos numerosos créditos concedidos à população, os bancos chineses também disponibilizaram abundantes créditos para os promotores imobiliários, o que desencadeou o endividamento das construtoras e provocou um aumento nos preços dos imóveis.

Esse aumento nos valores dificulta o acesso dos cidadãos à propriedade, e o alto endividamento preocupam o governo. Por isso, para reduzir as dívidas do setor, em 2021 o governo chinês dificultou as condições de acesso ao crédito para os promotores, eliminando um canal de financiamento. 

Essa medida acabou por desencadear uma onda de suspensão de pagamentos por parte de algumas empresas e o caso mais relevante foi o da antiga número 1 do setor, a incorporadora imobiliária Evergrande, com cerca de 300 bilhões de dólares em dívidas.

A crise da Evergrande provocou manifestações de cidadãos compradores em 2021, mas em 2022 uma greve de pagamento dos empréstimos imobiliários se iniciou.

Tendo em vista os atrasos nas obras, os compradores de imóveis inacabados deixaram de pagar seus financiamentos e afirmaram não voltar a pagar até que as obras sejam retomadas. 

Em um mês, a greve se espalhou para mais de 300 projetos em 50 cidades na China, resultando em uma preocupação a nível mundial com a economia chinesa. 

Em análise, existe a possibilidade da necessidade de novos imóveis caírem consideravelmente na China, visto que já existem “cidades fantasmas” e muitos complexos inacabados. 

Além disso, mesmo com a ampla oferta, os preços têm sido altamente influenciados pela especulação imobiliária e continuam a aumentar, deixando os imóveis cada vez menos acessíveis para alguns chineses.

A Repressão e Regulamentação das Empresas de Tecnologia

Outro fator não alinhado com o objetivo chinês de se equiparar aos Estados Unidos é a repressão à indústria de tecnologia

Nos últimos anos, o governo chinês criou um cerco regulatório no setor tecnológico e afetou inclusive algumas gigantes da área como a Tencent, DIdi e a empresa Alibaba, conhecida pelo amplo comércio eletrônico internacional.

O governo afirma que esta foi uma tentativa de garantir que os desenvolvedores obtivessem balanços mais saudáveis, mas em consequência também forçou muitos deles a pararem de obter empréstimos e vender ativos, limitando sua capacidade de continuar crescendo. 

Mesmo o governo da China sendo comunista, após a morte de Mao Tsé-Tung, Pequim abriu espaço para empresas privadas – mas com restrições – por meio da política de “reforma e reabertura” implementada no final dos anos 1970. 

Então sob análise, uma das razões para as atuais restrições impostas às empresas de tecnologia pode ser o caráter comunista/socialista do governo que defende a “prosperidade comum” e busca pelo combate à desigualdade. 

O Fator Taiwan

A ilha taiwanesa se tornou uma das mais evidentes fraquezas da China em 2022, especialmente após a visita de Nancy Pelosi à Taipei.  

Pequim e Taipei têm problemas diplomáticos há anos, mas após a invasão da Rússia à Ucrânia, a tensão entre os dois governos se intensificou. Isso porque ao analisar a guerra na Ucrânia, Taiwan se preocupa de que o mesmo possa acontecer em seu território caso haja uma invasão chinesa. 

O desacordo existe pois o governo chinês considera o território taiwanês como parte inseparável da China. No entanto, Taiwan afirma que Pequim nunca governou a ilha e se considera uma nação independente. 

Por isso, desde a invasão russa à Kiev, paira a incerteza e a ameaça chinesa à ilha, e acredita-se que se a Rússia alcançar seus objetivos na Ucrânia, a China pode ser motivada a tentar o mesmo em Taiwan

Sob análise, a atitude imperialista e expansionista chinesa para com Taiwan pode ameaçar a economia do país, assim como na Rússia.

No caso de uma invasão chinesa a Taipei, diversos países podem implementar sanções econômicas a Pequim, assim como podem substituir as importações feitas da China para novos parceiros comerciais, isolando o país internacionalmente. 

Por que a Desaceleração da Economia Chinesa é importante para o Futuro da Competição por Hegemonia Global entre Pequim e Washington

O rápido crescimento da economia chinesa roubou os holofotes nas últimas décadas e levantou algumas hipóteses no cenário internacional. 

Durante o crescimento chinês, muitos pesquisadores acreditavam que o fim da hegemonia americana e ocidental era iminente e o futuro da nova ordem internacional estaria na Ásia. 

Entretanto, a atual abordagem chinesa, que de certa forma deixa o país mais fechado para o mundo, converge com alguns dos interesses conhecidos das lideranças, como o de se equiparar militarmente e economicamente aos Estados Unidos.

Por isso, a desaceleração da economia chinesa é importante, pois isso poderá definir se nos próximos 50 anos: 

  1. O mundo continuará dominado pela hegemonia americana; 
  2. Se a China está apenas passando por um momento de crise, irá se recuperar e se unir à hegemonia americana e ocidental criando um mundo bipolar;
  3. Ou se a China usará a lição atual para se recuperar e se tornar mais poderosa que os EUA enfraquecendo a influência de Washington pelo mundo. 

Por fim, uma das únicas certezas atuais acerca dos objetivos chineses é o não fechamento total da economia como era anteriormente e a preocupação de continuar atraindo investimento estrangeiro mantendo as portas abertas para o mercado internacional.

3 Comments

  1. […] Tendo este panorama, pode-se entender o surgimento de oportunidades para que a Índia possa conquistar mais espaço nas cadeias globais de valor ao atrair indústrias manufatureiras para dentro de seu território e, conforme ampliar sua infraestrutura, o país pode continuar investindo nos setores farmacêutico e energético – sobretudo ao notar a desaceleração do crescimento chinês. […]

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