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O que são os BRICS, o Grupo de Países que Mesmo Enfraquecido, Busca Destronar o Ocidente

  • Os BRICS surgem para tentar contrabalancear a hegemonia econômica do Ocidente;
  • O poder do grupo pode afetar a economia global, mas os objetivos iniciais ainda não foram atingidos;
  • Com várias oscilações no cenário geopolítico global, a economia dos BRICS decaíram desde a sua fundação e países buscam se recompor.

Um grupo surgiu com o objetivo principal de cooperação econômica entre os países emergentes, como consequência desejando desbancar a hegemonia ocidental, principalmente dos Estados Unidos e União Europeia. Ao longo dos anos ganhou uma força simbólica inegável, considerando os diversos aspectos que fazem com que as decisões deles se tornem muito importantes globalmente. Esses são os BRICS.

Apesar do próprio criador da sigla ter afirmado que a organização – não oficializada como um bloco econômico – não tenha atingido seus objetivos definidos na década passada, apenas ganhado força superficial, os BRICS continuam se reunindo anualmente em busca de seus objetivos.

Mas, afinal… 

Fonte: Pixabay

O que são os BRICS e como o grupo surgiu

O BRICS é uma aliança internacional de cooperação entre os países membros, que realiza reuniões anuais, conhecidas como cúpulas, para alinhar os interesses de cada nação em todos os aspectos, sejam eles econômicos ou sociais.

O termo Bric passou a ser utilizado após o renomado economista britânico Jim O’Neill publicar um artigo, no início dos anos 2000, sobre a importância de países emergentes, como Brasil, Rússia, Índia e China para a economia mundial.

Dessa forma, durante uma Assembleia Geral das Nações Unidas em 2006, esses países se reuniram através de chanceleres para criar acordos de cooperação entre eles. Apenas em 2009, os chefes de Estado de cada um dos países começaram a se reunir, mas nunca oficializando a organização como um bloco econômico.

Em 2011, a África do Sul passou a integrar o grupo, fazendo com que a sigla se tornasse o que conhecemos hoje, BRICS, com o S sendo derivado do nome em inglês do país: South Africa.

Como objetivo principal, os BRICS procuram cooperar para que suas nações se desenvolvam socioeconomicamente, além do combate à desigualdade, ao desemprego e à pobreza. Além disso, a organização busca se livrar da hegemonia econômica e de poder dos Estados Unidos, tentando moldar o mundo em seu próprio benefício, diminuindo a dependência do país norte americano.

Quais países fazem parte dos BRICS e qual o papel de cada um no grupo

A sigla BRICS representa a inicial do nome de cada um dos países do grupo, sendo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa). Eles são considerados países emergentes em situação de desenvolvimento, com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) acima de países subdesenvolvidos, mas ainda em processo de desenvolvimento.

Além disso, a economia desses países são importantes no cenário global, considerando que eles são grandes exportadores de matéria-prima, combustíveis, peças de automóveis, automóveis, produtos industrializados e equipamentos eletrônicos no geral.

O Brasil, por exemplo, é considerado um grande exportador de soja, ferro e petróleo. Já a Rússia, tem sua economia baseada na exportação de petróleo, gás natural e carvão. A Índia exporta produtos derivados da agricultura e tem aumentado a produção e exportação de eletrônicos. A China, por sua vez é considerada a “fábrica do mundo” por pela grande exportação de produtos e equipamentos eletrônicos, máquinas e aparelhos, além de ter forte agricultura de arroz. Já a África do Sul se baseia majoritariamente nos minérios e metais preciosos.

Desde que foi criado, o BRICS só se expandiu uma vez ao integrar a África do Sul. Então, expandir o grupo é um desejo dos BRICS e, até metade de 2023, em média 20 países fizeram uma solicitação formal de adesão, pedindo para integrar a organização. Argentina, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã são alguns dos que foram aceitos na cúpula do bloco em agosto de 2023.

A adesão histórica dos novos países ao BRICS valerá a partir de 1 de Janeiro de 2024. Além dos citados acima, o Egito e a Etiópia também foram aceitos.

Dessa forma, os novos membros agregam ao grupo, mas ao mesmo tempo em que se beneficiam do que os BRICS representam em um contexto global. A Arábia Saudita tem poder crucial na geopolítica por ser a maior nação produtora e exportadora de petróleo, mas busca diversificar sua economia. Já a Argentina, tem o Brasil como um de seus maiores parceiros de comércio, mas tem problemas constantes de crises econômicas nas últimas décadas.

Outro dos novos membros no BRICS é a Etiópia, segunda maior população da África mas com uma economia relativamente menor do que a África do Sul, atual única representante dos BRICS na África. Porém, a Etiópia tem fortes laços econômicos com a Rússia e a China.

Os Emirados Árabes Unidos que sempre foram parceiros inegáveis dos EUA, buscam ampliar suas alianças e políticas externas. Por fim, o Irã que conta com a maior reserva de gás natural do mundo, entra aos BRICS para tentar contrabalancear a presença da Arábia Saudita, um histórico rival.

Acordos e cooperação entre os países membros dos BRICS

Os países membros dos BRICS, ao longo dos anos, desenvolveram projetos e acordos com o intuito de unir e beneficiar os integrantes da organização. Para se ter uma ideia prática da atuação do grupo, é necessário entender algumas dessas propostas traçadas, como:

  • o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), comumente conhecido como Banco de Desenvolvimento dos BRICS ou apenas Banco dos BRICS, é operado por todos os países membros e faz empréstimos com o intuito de melhorar a infraestrutura do país beneficiado. 

Ele representa a maior parte da atuação prática do conjunto de países, realizando projetos de infraestrutura e melhorando a qualidade dos países emergentes.

Alguns países que não fazem parte dos BRICS compõem o NBD, como Bangladesh e o Uruguai. Além deles, a Venezuela reforçou sua vontade de compor a bancada de membros.

A ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff é atual representante do NBD, e reforçou na metade de 2023 que o Banco busca ampliar seus membros e os empréstimos em moeda local com o objetivo de fortalecer o mercado dos membros. 

  • o Acordo Contingente de Reservas (CRA) foi estabelecido em 2015 após a assinatura e ratificação do Tratado para o Estabelecimento do Acordo Contingente de Reservas dos BRICS.

A estrutura foi criada para garantir a estabilidade econômica dos países membros devido a possíveis crises financeiras, além de se proteger dos problemas desencadeados pela liquidez da moeda de um país emergente.

  • o Sistema de Pagamento dos BRICS não é algo atualmente implementado, mas vem sendo discutido desde a cúpula de 2015. Nele, os países que compõem o BRICS poderiam usar um sistema único de pagamentos em sua moeda local para facilitar as transações e diminuir o uso do dólar Americano.
  • uma Possível Moeda em Comum, anunciada no início de 2023, a moeda em comum dos BRICS e discutida na cúpula de 2023 da África do Sul. 

Apesar do diretor financeiro do NBD, Leslie Maasdorp, ter afirmado que a possível moeda comum teria uma ambição de longo prazo de desafiar o dólar, o embaixador da África do Sul no bloco, Anil Sooklal, disse que não há planos de substituir o dólar.

Na cúpula do G7 em Hiroshima, o presidente do Brasil, Lula, também reforçou a necessidade de uma moeda única para os BRICS com o intuito de facilitar as transações comerciais e reduzir a dependência ao dólar.

O chefe de Estado voltou a tocar no assunto após a cúpula do bloco em 2023, afirmando que os BRICS não tem pressa para implementar a moeda, por ser algo complexo e que necessita de estudos, mas que é um desejo comum entre todos os países membros.

  • Investimentos na Educação feitos em 2015 com o objetivo de fazer com que a economia e a educação acadêmica dos países membros se desenvolvessem, além de aumentar a cooperaração acadêmica entre os membros.

Por que as decisões dos BRICS afetam a geopolítica mundial

Os BRICS representam um papel importante no contexto mundial por conta de um conjunto de fatores. 

Em questão populacional, os países dos BRICS abrigam quase metade da população mundial, com dois dos países possuindo mais de 1 bilhão de habitantes, a China e a Índia. 

Além disso, a China é a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e os países membros do grupo estão entre as maiores economias emergentes. Em questão de participação global, o PIB dos BRICS ultrapassou o do G7, se tornando mais de 31%, enquanto o do G7, grupo composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, caiu para 30%.

Os BRICS também reforçam um cenário global multipolar, ou seja, com vários polos de poder em nível mundial espalhados pelo globo, contrapondo o sistema unipolar liderado pelos Estados Unidos, que se iniciou após a queda da União Soviética e consequente término da Guerra Fria e perdurou por muitas décadas.

Como os BRICS dos anos 2020 estão mais fragilizados do que os BRICS dos anos 2010

Entretanto, apesar de suas decisões terem impactos globais, o economista Jim O’Neill, que criou a sigla disse em uma entrevista para o jornal Valor Econômico que os objetivos dos BRICS nunca tinham sido de fatos alcançados e que, apesar de possuírem sua força em termos simbólicos, na prática, o grupo decepciona. 

O Brasil, por exemplo, na última década, de 2011 a 2020, apresentou o pior desempenho dos últimos 120 anos em relação ao PIB per capita, após uma década de um considerável crescimento entre 2001 e 2010, quanto o BRICS começou a ser formado.

No ranking de maiores economias mundiais, entre 2010 e 2014, no governo de Lula, o país chegou a ocupar a sexta posição, mas desde 2020 saiu do top 10 com o cenário político local oscilando após o impeachment da presidente Dilma, a pandemia de Covid-19 aliada a um governo fraco e isolacionista de Jair Bolsonaro contribuíram com a desvalorização da moeda brasileira, inflação e a consequente queda da economia brasileira.

A economia chinesa, por sua vez, crescia de forma forte entre 1991 e 2010, com grande aumento do seu PIB, que chegava até 10% ao ano. Entretanto, esse crescimento começou a diminuir a partir de 2019 com a pandemia de Covid-19, problemas no setor imobiliário, e intervenção governamental nas grandes empresas privadas do país.

Atualmente, a China está com um crescimento consideravelmente menor do que a média das últimas décadas e com um grande desemprego entre os jovens.

A Rússia, que assim como seus parceiros dos BRICS vinha crescendo no início da década de 2010. Porém, ela começou a passar por problemas econômicos que foram agravados pelas sanções interncionais depois da anexação ilegal da região de Crimeia em 2014 que pertencia à Ucrânia.

Com a invasão da Ucrânia em 2020 e novas sanções internacionais contra Moscou, a economia do país vem sofrendo ainda mais. Além disso, a Rússia perdeu o seu maior importador de gás, a Europa, o que contribui para a fraqueza econômica do país.

Ao contrário dos outros países dos BRICS, a situação econômica da Índia melhorou em relação à década passada. Em 2023, o país ocupa a sétima posição entre as maiores economias no mundo, à frente de Itália, Brasil e Canadá. O Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo, projeta um crescimento de 5,9% para a economia indiana, ressaltando que, se somada à China, os dois países podem representar mais da metade do crescimento econômico mundial de 2023.

Por fim, a África do Sul, enfrenta uma crise energética que afeta diretamente a economia, a infraestrutura e a sociedade do país, causando desemprego, impactando os pequenos comércios e a população que passam horas sem energia elétrica, além de espantar potenciais investimentos no país.

Em suma, com exceção da Índia, todos os membros originais dos BRICS estão com economias mais fragilizadas do que em 2010. Ao mesmo tempo, os EUA e a União Europeia estão como economias mais resistentes do que em 2013 por exemplo, quando ambos passavam por crises.

Porém, com a entrada de novos membros, os BRICS podem eventualmente desafiar a hegemonia do ocidente se esses países emergentes conseguirem cooperar de uma forma efetiva e ultrapassarem rivalidades históricas como as disputas entre a China e a Índia e o Irã e a Arábia Saudita. Só o tempo dirá se eventualmente os BRICS conseguiram desafiar o poder ocidental de uma forma efetiva e criar um mundo mais multipolar.

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