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Como a Associação da Finlândia à OTAN Foi um Tiro no Pé da Rússia

  • Após quase um ano de negociações com a Turquia, a Finlândia teve seu ingresso na OTAN aprovado;
  • A adesão do país na aliança militar foi um revés para a Rússia e suas tentativas de enfraquecer a OTAN.
  • A decisão terá grandes impactos na geopolítica da região, podendo criar ainda mais tensões com Moscou.

No dia 4 de abril de 2023, a Finlândia se juntou oficialmente à OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte – como o 31º membro, o que representa uma mudança significativa no panorama de segurança da Europa, acrescentando cerca de 1.300 quilômetros à fronteira da aliança com a Rússia. 

Vale ressaltar que a tentativa da Suécia de também ingressar no bloco foi paralisada pelos membros da aliança, Turquia e Hungria. No entanto, as eleições presidenciais de Ancara, que acontecerão em maio de 2023, podem mudar este panorama em favor da Suécia, caso o atual presidente, Recep Tayyip Erdogan, seja derrotado ou mudanças políticas significativas aconteçam.

No entanto, as consequências geopolíticas já podem ser observadas com a recém adesão da Finlândia à aliança militar, que foi selada durante uma cerimônia formal na sede da OTAN em Bruxelas, na Bélgica.

Fonte: Pixabay

Como a mentalidade imperialista da Rússia incentiva outros países a se associarem a OTAN

A mentalidade imperialista da Rússia tem criado um ambiente em que países vizinhos e aliados próximos sentem a necessidade de fortalecer sua própria segurança e proteger sua soberania. 

A Rússia historicamente tem procurado estender seu poder e aumentar sua esfera de influência, e isso pode gerar preocupações sobre a possibilidade de interferência ou agressão russa em países vizinhos, especialmente após a invasão à Ucrânia, o que era uma preocupação do país desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.

A recém entrada da Finlândia na aliança liderada pelos Estados Unidos é um revés para o presidente russo, Vladimir Putin, que há muito tempo busca enfraquecer a OTAN e, antes da invasão da Ucrânia, exigiu que o bloco se abstivesse de uma maior expansão em direção à fronteira Russa. 

No entanto, a invasão resultou na candidatura da Finlândia e da Suécia à aliança, que anteriormente mantinham uma política de não alinhamento, abandonando sua neutralidade e buscando proteção na aliança.

Além disso, a Rússia tem sido acusada de interferir em questões políticas de outros países, o que pode aumentar a preocupação com a ameaça que a Rússia representa e incentivar a cooperação com a OTAN. A Geórgia, por exemplo, tem trabalhado para fortalecer seus laços com a OTAN desde a Guerra Russo-Georgiana de 2008.

Como a desculpa Russa de “expansão da OTAN” para invadir a Ucrânia não faz muito sentido

A alegação russa de que a expansão da OTAN é a causa da invasão da Ucrânia não é coerente, pois a expansão da aliança foi uma decisão voluntária dos países membros, a Ucrânia nunca foi um candidato oficial à adesão à OTAN e a invasão foi uma violação do direito internacional e da soberania ucraniana.

Outro elemento relevante que demonstra tal falta de coerência é o poder nuclear russo. A Rússia é um dos países com maior arsenal nuclear do mundo, o que se torna um fator decisivo para que outros Estados não tentem invadir seu território.

Contudo, o fato de a Rússia possuir um vasto arsenal nuclear não pode ser visto como uma licença para que o país avance além de suas fronteiras. Ao contrário, a posse de armamento nuclear deve ser motivo para uma postura mais responsável e cautelosa por parte do Estado, a fim de evitar ações que possam gerar consequências trágicas para toda a humanidade.

A invasão da Ucrânia, sob o pretexto de proteger seu próprio território, acabou por prejudicar o país, já que, no segundo semestre de 2022, foi necessário esvaziar algumas de suas bases militares ao longo da fronteira com países da OTAN como a Estônia, a fim de enviar soldados e equipamentos para o campo de batalha na Ucrânia.

Ou seja, se a Rússia realmente estivesse preocupada com uma agressão armada da OTAN, ela não esvaziaria suas bases que fazem fronteira com a aliança para reforçar suas tropas contra Kiev.

Ademais, a justificativa russa de que a expansão da OTAN é uma ameaça à segurança nacional russa não é sustentável. A OTAN foi criada como uma aliança defensiva objetivando garantir a segurança dos países membros, e em teoria, não para ameaçar outras nações. 

Além disso, a Rússia tem uma política externa agressiva e tem se envolvido em diversas ações que violam a soberania de outros países, como a anexação da Crimeia em 2014 e o apoio aos separatistas no leste da Ucrânia.

Portanto, a justificativa russa de que a invasão da Ucrânia se deve à expansão da OTAN é uma razão infundada que busca encobrir a verdadeira motivação da Rússia, que é o desejo de expandir sua influência e poder na região e não deixar a Ucrânia prosperar como democracia, o que provavelmente levaria a população Russa a demandar as mesmas liberdades e prosperidade da elite Russa. Esse movimento, seria uma ameaça ao poder de Putin e seus aliados.  

As consequências geopolíticas da entrada da Finlândia na OTAN

A entrada da Finlândia na OTAN terá importantes consequências geopolíticas na região e no cenário internacional. 

Em primeiro lugar, a adesão da Finlândia aumentou drasticamente a fronteira russa com a aliança militar, o que é visto como uma afronta pela Rússia, que historicamente considera a Finlândia como uma zona tampão entre a OTAN e a antiga União Soviética. Por esse motivo, Putin já prometeu retaliações

Além disso, a entrada da Finlândia está ampliando a presença da OTAN no Mar Báltico, aumentando sua capacidade de defesa na região e enfraquecendo a influência da Rússia na região e isolando ainda mais Kaliningrado – o exclave russo no meio da Europa – do resto do país.

Outra notória consequência foi a assinatura de uma carta de intenções entre os comandantes da força aérea da Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca para criar uma defesa aérea nórdica unificada, com o objetivo de combater a crescente ameaça da Rússia e a intenção é poder operar em conjunto seguindo as diretrizes já conhecidas de operar sob a OTAN. 

Para além, a entrada da Finlândia na OTAN pode aumentar a pressão sobre a Turquia para que aprove a adesão da Suécia na aliança. A Suécia já coopera estreitamente com a OTAN em questões de defesa e segurança, mas ainda não conseguiu concluir suas negociações com Ancara. 

As relações entre a União Europeia e a Rússia também podem ser afetadas. A Finlândia é um membro da UE e, embora a organização não tenha uma política de defesa e segurança comum, a entrada da Finlândia na OTAN pode ser vista como um sinal de que o bloco está se alinhando cada vez mais com os interesses da aliança militar e dos Estados Unidos na região, tornando ainda mais tensas as relações entre a UE e a Rússia.

Por fim, a entrada da Finlândia na OTAN pode ser vista como um sinal de que a aliança continua a se expandir e fortalecer em meio às crescentes tensões com a Rússia. Isso pode ser interpretado como uma escalada militar na região e pode levar a uma resposta por parte da Rússia. No entanto, os defensores da adesão da Finlândia à OTAN argumentam que a medida é necessária para garantir a segurança do país em face da crescente agressão russa na região.

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