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Como o Nacionalismo Econômica Está Tomando o Lugar do Neoliberalismo nas Grandes Potências Mundiais Devido à China, Pandemia e a Ucrânia

  • O surgimento da China como uma potência econômica global tem sido um dos principais impulsionadores do Nacionalismo Econômico;
  • Tendo a China como concorrente, grandes potências mundiais sentem a necessidade de proteger seus interesses e preservar sua competitividade copiando em parte o modelo Chinês;
  • O Nacionalismo Econômico está emergindo como uma abordagem predominante nas grandes potências mundiais como arma geopolítica.

Nos últimos anos, temos observado uma mudança significativa na abordagem econômica adotada por grandes potências mundiais, à medida que o nacionalismo econômico ganha terreno em detrimento do neoliberalismo. 

Essa mudança é impulsionada por uma combinação de fatores, incluindo o crescimento econômico impressionante da China, os impactos da pandemia de COVID-19 e as tensões geopolíticas, como a crise na Ucrânia. 

Esses eventos têm levado os países a repensarem suas políticas econômicas e a adotarem uma postura mais protecionista em relação aos seus interesses nacionais.

A diferença entre Nacionalismo Econômico (Política Industrial) e Neoliberalismo (Consenso de Washington)

O nacionalismo econômico, também conhecido como Política Industrial, e o Neoliberalismo, representado pelo “Consenso de Washington“, são duas abordagens diferentes para a política econômica. Essas abordagens têm diferentes perspectivas sobre o papel do Estado na economia e diferentes objetivos em relação ao desenvolvimento econômico.

O nacionalismo econômico é uma abordagem que enfatiza a intervenção mais ativa do Estado na economia. Os defensores dessa abordagem acreditam que o Estado deve desempenhar um papel importante na promoção do crescimento econômico e na proteção dos interesses nacionais. 

Eles defendem a implementação de políticas que visem fortalecer setores específicos da economia, através de subsídios, tarifas de importação, incentivos fiscais, investimentos públicos e outras medidas. O objetivo é criar condições favoráveis para o desenvolvimento de indústrias nacionais, promover a competitividade e reduzir a dependência externa.

Por outro lado, o Neoliberalismo, representado pelo “Consenso de Washington”, é uma abordagem que enfatiza a liberalização econômica, a desregulamentação e a redução do papel do Estado na economia. Essa abordagem foi amplamente promovida nas décadas de 1980 e 1990 como um modelo de reforma econômica para países em desenvolvimento. 

Os defensores do neoliberalismo acreditam que a intervenção do Estado na economia pode levar a ineficiências e distorções, e defendem a abertura dos mercados, a livre concorrência, a proteção dos direitos de propriedade e a minimização dos controles governamentais. O objetivo é estimular o crescimento econômico por meio da alocação eficiente de recursos e do aumento da competitividade internacional, mas com pouca ênfase na segurança nacional e questões geopolíticas.

Como a China, a Pandemia e a Guerra na Ucrânia estão levando os países a adotarem mais Nacionalismo Econômico

Como se tem visto, o mundo está passando por uma transformação significativa na arena econômica e geopolítica. A ascensão da China como potência econômica, unida aos impactos da pandemia de COVID-19 e os conflitos na Ucrânia, estão impulsionando muitos países a adotarem abordagens mais nacionalistas em suas políticas econômicas. 

Esse movimento em direção ao protecionismo econômico reflete uma resposta a uma série de fatores e desafios enfrentados pelas nações ao redor do mundo.

Um dos principais impulsionadores do nacionalismo econômico é o conceito de “decoupling” ou desvinculação econômica. As tensões comerciais e geopolíticas entre os Estados Unidos e a China têm incentivado diversos países a reduzir sua dependência econômica de outras nações. Essa manobra visa proteger seus próprios interesses nacionais e minimizar os riscos associados a laços comerciais estreitos e a interdependência econômica de países considerados rivais estratégicos como a China.

É importante destacar que países como Estados Unidos e membros da União Europeia têm adotado certos elementos da política industrial chinesa em suas próprias reformas econômicas, para combater a própria ascensão da China.

Esses atores globais reconheceram que a estratégia econômica da Pequim é amplamente utilizada para fins geopolíticos, colocando o interesse nacional acima de tudo, em detrimento do mercado, favorecendo não apenas seus objetivos econômicos, mas também seus interesses políticos.

Nesse contexto, o reshoring (trazer de volta a produção para o país de origem) e o nearshoring (transferir a produção para países próximos geograficamente) têm se tornado estratégias cada vez mais adotadas tanto pelos EUA como por países da União Europeia.

Muitos Estados perceberam os riscos e vulnerabilidades associados à concentração excessiva da produção em outros países e estão buscando fortalecer suas economias domésticas. Essa mudança visa criar empregos locais, garantir o abastecimento de bens essenciais e reduzir a dependência de cadeias de suprimentos globais extensas e complexas.

Outro aspecto importante do nacionalismo econômico é o “derisking”, que envolve a minimização de riscos econômicos e financeiros. Os países estão buscando diversificar suas fontes de suprimento em setores estratégicos para garantir a segurança nacional. 

Ao reduzir a dependência de um único fornecedor ou mercado, buscam mitigar os riscos associados a interrupções comerciais, escassez de recursos e vulnerabilidades geopolíticas.

Outras razões importantes para esse movimento em direção ao nacionalismo econômico foram a pandemia de COVID-19 e a guerra na Ucrânia, já que esses eventos expuseram as vulnerabilidades das cadeias de suprimentos globais, interrupções no comércio internacional e dependências excessivas de um único fornecedor ou mercado.

A pandemia revelou a importância de ter capacidades produtivas internas para garantir o abastecimento de bens essenciais, como suprimentos médicos e equipamentos de proteção.

Além disso, a guerra na Ucrânia e as tensões geopolíticas em todo o mundo têm levado os países a reavaliar suas políticas de segurança e soberania. Isso inclui a proteção de setores estratégicos, como energia, tecnologia e alimentos, por meio do fortalecimento da produção interna e da diversificação das fontes de suprimento.

Essa preocupação se estende a áreas como tecnologia, energia, alimentos e recursos naturais, nas quais a dependência excessiva de outros países pode comprometer a capacidade de defesa e soberania.

Dessa maneira, o nacionalismo econômico está levando muitos países a reavaliar suas políticas industriais e adotar medidas para fortalecer setores considerados estratégicos para seu desenvolvimento econômico e segurança nacional. 

Como consequência, esse movimento poderá, eventualmente, envolver investimentos em pesquisa e desenvolvimento, subsídios e políticas de apoio específicas para promover a competitividade desses setores.

Globalização vs Slowglobalization Desglobalization

A globalização tem sido um tema importante nas últimas décadas, caracterizada pelo aumento da interconexão e interdependência entre países, impulsionada pelo livre comércio, fluxo de capital e integração econômica. 

No entanto, recentemente, tem havido um movimento em direção à “slowglobalization” (globalização lenta) ou até mesmo “desglobalization” (desglobalização), que muito se assemelha ao movimento de aumento do nacionalismo econômico.

Essas tendências também refletem uma crescente ênfase na proteção dos interesses nacionais, redução da dependência externa e a busca por maior controle sobre a economia doméstica.

Para uma visão mais abrangente da conjuntura atual, é importante analisar as políticas industriais das grandes potências e dos países emergentes. Portanto, aqui estão alguns exemplos: 

  • China: Pequim implementou a estratégia “Made in China 2025”, que busca avançar em setores de alta tecnologia e fortalecer a indústria doméstica. É importante ressaltar que a China nunca adotou uma abordagem neoliberal, mas sim uma economia de estado, com forte intervenção do governo na economia.
  • Estados Unidos: Washington têm adotado políticas industriais para promover a inovação e a competitividade, como o IRA (Incentives for Research and Development in America) e o Chips Act (Creating Helpful Incentives to Produce Semiconductors). Além disso, estão focados em impulsionar a energia sustentável e a mobilidade elétrica (EV), como parte de seus esforços para alcançar metas ambientais e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
  • União Europeia: o bloco adotou medidas para fortalecer o controle sobre a economia doméstica, incluindo a implementação de políticas de intervenção em investimentos estrangeiros, controles de exportação e revisão de investimentos externos. Além disso, estão sendo propostas restrições à terceirização de tecnologias avançadas para autocracias, a fim de proteger a propriedade intelectual e a segurança nacional, refletindo uma tendência de maior protecionismo econômico e controle estatal na região. Países como a França já têm uma história de dirigismo, ou seja, intervenção estatal na economia para promover setores estratégicos. 
  • Japão: Tóquio tem uma tradição de mercantilismo, com políticas voltadas para o fortalecimento da indústria nacional e a promoção de exportações. 
  • Coreia do Sul: o país adotou uma abordagem semelhante de mercantilismo também para impulsionar seu crescimento econômico.
  • Austrália: Sydney tem adotado políticas industriais para promover setores-chave, como recursos naturais, energia e agricultura. O país busca maximizar o valor agregado de seus recursos naturais, incentivando a inovação e o desenvolvimento de tecnologias avançadas na indústria de mineração e energia. Além disso, a Austrália implementou medidas para proteger seus interesses nacionais, como restrições sobre aquisições estrangeiras de empresas em setores estratégicos e a promoção do conteúdo local em projetos de investimento.
  • Índia: Nova Delhi tem buscado fortalecer seus setores-chave, como tecnologia da informação, manufatura, energia renovável e agricultura. O governo indiano lançou programas como o “Make in India” e o “Digital India”, que visam atrair investimentos estrangeiros diretos e promover o desenvolvimento de indústrias de alto valor agregado. Além disso, a Índia implementou políticas de proteção, como tarifas de importação e barreiras não tarifárias, para proteger setores domésticos da concorrência estrangeira.
  • Chile: Santiago, especificamente no setor do lítio, está buscando maior controle estatal sobre a produção e exportação do mineral, estabelecendo restrições à entrada de investidores estrangeiros e visando aumentar sua participação na cadeia de valor. Essa abordagem reflete uma maior preocupação com a soberania econômica e a maximização dos benefícios locais.
  • Turquia: Ankara tem implementado políticas industriais para promover setores-chave, como manufatura, automotivo, têxtil e energia. O país tem buscado atrair investimentos estrangeiros, promover a inovação e a modernização tecnológica em suas indústrias. Além disso, a Turquia tem adotado medidas para proteger seus interesses nacionais, como restrições à importação de certos produtos, apoio à exportação e promoção do conteúdo local em projetos de investimento.

É importante destacar que as políticas industriais podem variar em termos de abordagem e intensidade, dependendo das características e objetivos de cada país.

Por que Nacionalismo Econômico pode ser perigoso e não é para todos

O nacionalismo econômico frequentemente envolve um alto custo financeiro, exigindo grandes investimentos públicos para proteger e promover setores-chave da economia. Essas políticas visam fortalecer a economia interna, mas podem resultar em aumento da dívida pública se mal administradas, o que coloca em risco a saúde financeira do país.

Além disso, o nacionalismo econômico pode levar à inflação. Ao proteger setores-chave da economia e restringir a competição externa, os preços internos podem ser artificialmente elevados. Isso pode resultar em pressões inflacionárias, especialmente se as políticas monetárias e fiscais não forem adequadamente gerenciadas. 

A inflação prejudica o poder de compra dos consumidores, diminui a competitividade das empresas e cria incertezas nos mercados financeiros. Um ambiente de alta inflação pode afetar negativamente os investimentos, a criação de empregos e o crescimento econômico sustentável.

Por essas razões, é importante destacar que a política industrial pode não ser adequada para todos os países. As características econômicas, estruturas industriais e níveis de desenvolvimento variam de uma nação para outra. 

A importância do crescimento do Nacionalismo Econômico na geopolítica mundial

O crescimento do nacionalismo econômico tem tido um impacto significativo na geopolítica mundial, especialmente no contexto atual de mudanças nas relações econômicas globais. 

Tendo isso em vista, alguns dos principais pontos a serem considerados são:

  • Impacto nas economias emergentes: Os países emergentes foram alguns dos maiores beneficiários da globalização, pois puderam aproveitar as oportunidades de comércio e investimento global via Investimento Estrangeiro Direto (IED). No entanto, o surgimento da política industrial, com medidas protecionistas adotadas pelas grandes potências, pode afetar negativamente essas economias. Restrições comerciais, tarifas e barreiras não tarifárias podem limitar o acesso desses países aos mercados internacionais e dificultar seu crescimento econômico.
  • Reação e busca pela resiliência: Diante do protecionismo econômico, os países emergentes têm a necessidade de reagir e proteger seus interesses econômicos. Aqueles com capacidade de investir de forma eficiente na indústria nacional têm a oportunidade de se tornarem vencedores nesse novo cenário. Isso pode envolver o estímulo a setores estratégicos, o desenvolvimento de políticas industriais, a promoção de inovação e tecnologia, entre outras estratégias para impulsionar a competitividade e promover uma economia nacional mais resiliente.
  • Mudança na balança de poder: O crescimento do protecionismo econômico pode ter o potencial de alterar a balança de poder na geopolítica mundial. As grandes potências que adotam uma abordagem mais protecionista podem buscar reduzir sua dependência econômica de outros países – incluindo países emergentes – e fortalecer sua posição no cenário global. Se bem sucedidos, as grandes potências podem se fortalecer ainda mais em detrimentos dos países que não conseguirem se adaptar à desglobalização. Ao mesmo tempo, isso pode criar oportunidades para outros países emergentes ganharem maior influência e poder econômico com o nearshoring como o México (em relação aos EUA) e a Turquia (em relação a Europa). Isso pode resultar em realinhamentos geopolíticos e mudanças nas alianças internacionais.

No entanto, é importante reconhecer que o crescimento do nacionalismo econômico não é uniforme em todas as grandes potências e as respostas dos países emergentes também variam. 

Além disso, as relações econômicas e políticas entre os países são influenciadas por uma série de fatores, como interesses estratégicos, alianças, segurança nacional, valores políticos e econômicos.

No entanto, esse crescimento tem o potencial de alterar a geopolítica mundial, afetando as economias emergentes e grandes potências e potencialmente mudando a balança de poder.

2 Comments

  1. […] Com um passado marcado por transformações políticas e alianças internacionais, a Türkiye desempenhou um papel significativo no equilíbrio de poder global, especialmente em relação à sua participação na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e, mais recentemente, às suas relações com a Ucrânia. […]

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