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Como Taiwan vai Copiar da Ucrânia a Estratégia de “Porco-Espinho” para se Defender da China

  • A Ucrânia fez uso de equipamentos e sistemas de armas menores como mísseis portáteis e drones como forma de defesa contra a Rússia.
  • As tensões entre China e Taiwan sugerem que uma invasão chinesa possa acontecer na ilha.
  • Taiwan está estudando a Ucrânia como exemplo de como poderia se defender frente às grandes Forças Armadas chinesas.

Quando um animal selvagem – como um tigre ou um leão – tenta atacar um porco-espinho, ele é surpreendido pela resistência e resiliência da potencial presa. 

Apesar do maior tamanho e força do tigre, a pequena presa é capaz de utilizar seus espinhos para se proteger e eventualmente ferir o agressor em caso de um ataque mais acentuado. 

Grande parte dos ataques de porco-espinho não são fatais aos seus grandes predadores, porém a dor de pisar nos espinhos do animal se torna o principal impedimento para esmagá-lo. Mas, se o predador ainda assim decide atacar o porco-espinho, sofrerá uma punição dolorosa e acabará desistindo.

Essa estratégia é usada nos casos de conflito entre países com forças militares assimétricas, sendo um país muito poderoso contra outro país com poucos recursos bélicos. 

O que é a uma Guerra Assimétrica?

O Conceito de Guerra Assimétrica descreve um tipo de conflito bélico em que um dos beligerantes, pelo menos em algum momento, possui superioridade militar e/ou tecnológica no Campo de Batalha.

Portanto, a maior característica deste tipo de guerra é a desigualdade de recursos dos dois beligerantes, remetendo ao uso de estratégias de “guerra não convencional“, como guerrilhas e insurgências. 

Um dos exemplos é a guerra na Ucrânia provocada pela Rússia. A diferença de força militar entre os dois lados do conflito é grandiosa. Segundo a CNN, em 2021 a Rússia investiu quase US$ 45,8 bilhões no setor de defesa do país, enquanto a Ucrânia investiu praticamente 10% deste valor, cerca de US$ 4,7 bilhões. 

Como a estratégia de “Porco-espinho” pode beneficiar o lado mais fraco em uma Guerra Assimétrica?

A estratégia porco-espinho se baseia no uso de armamentos menores em comparação com o seu rival mais poderoso militarmente. O país mais fraco deverá investir no maior número possível de armas “anti navios”, “minas marinhas lançadas no ar” , “míssil terra-ar portáteis”, e “lançadores de mísseis anti-blindados de ombro”. Bons exemplos são o míssil terra-ar portátil Stinger e o lançador de mísseis anti-blindados portátil FGM-148 Javelin.

Ao mesmo tempo, o investimento em armas menores não significa abandonar as armas convencionais altamente tecnológicas, mas em vez disso o foco deve ser no uso de armas menores e mais versáteis.  

Essas pequenas e numerosas armas são fundamentais para a defesa do país, com a criação de estratégias baseadas em sua geografia, promovendo uma vantagem defensiva em relação ao seu rival beligerante. 

Como a Ucrânia está usando a estratégia de “Porco-espinho” para se defender da Rússia?

Apesar do apoio da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a Ucrânia tem se beneficiado da estratégia através do investimento em armas e equipamentos menores, mais leves e menos caros, que assim como o porco-espinho podem causar grandes danos ao agressor mais forte, sem necessariamente derrota-lo completamente.

A Ucrânia investiu em mísseis de cruzeiro, drones, minas, mísseis portáteis anti-blindados e anti-aéreos, e morteiros que dificultam, e muito, a ação da Rússia em seu território e transformando a invasão em um trabalho muito árduo e danoso para Moscou.

Portanto, apesar de Kiev sofrer com as consequências da invasão russa, o país se recusa a facilitar os objetivos de Putin. A estratégia, resistência e resiliência de Zelensky são fundamentais para a defesa do país, o que pode causar uma eventual desistência de invasão por parte da Rússia, devido ao alto custo bélico e humano na guerra. 

Como Taiwan está aprendendo com a Ucrânia a se defender de uma potencial agressão Chinesa?

A tensão entre China e Taiwan vem crescendo há décadas, e a possibilidade de uma invasão do grande Exército de Libertação Popular chinês está se tornando cada vez mais provável, dependendo do resultado da invasão russa à Ucrânia. 

Se a China invadir Taiwan, uma guerra assimétrica seria iniciada, mas a guerra entre Moscou e Kiev comprova que o desequilíbrio das forças nem sempre se reflete nos resultados do conflito. 

Sob análise, a China possui um orçamento de defesa 13 vezes maior que Taiwan, além de maiores tropas, armas, equipamentos e uma população de 1.4 bilhões de habitantes, contra 24.5 milhões de Taipei. 

Após observada a guerra em território ucraniano, a Revisão Quadrienal de Defesa de Taiwan afirma que “Resistir ao inimigo na margem oposta, atacá-lo no mar, destruí-lo na zona costeira e aniquilá-lo na cabeça de ponte“.

Segundo o relatório, Taiwan está observando de perto como a Ucrânia infligiu perdas às forças de Putin para aprender lições sobre como se defender com sucesso contra um invasor com um exército e armas maiores, reforçando a implementação da estratégia porco-espinho. 

Se Taiwan continuasse em seu objetivo anterior de investir em equipamentos pesados e caros, como caças, helicópteros e tanques (carros de combate), para se preparar contra uma possível invasão chinesa, especialistas em defesa afirmam que estes seriam facilmente destruídos pelo grande rival. 

Qual a importância da estratégia de “Porco-espinho” em futuros conflitos entre nações e suas consequências geopolíticas?

A estratégia porco-espinho se tornou relevante por dar a possibilidade de países com menor capacidade militar de se defenderem contra grandes potências militares. 

Em um futuro próximo, a tendência é que as grandes potências pensem duas vezes antes de invadir pequenos países com base na sua menor capacidade bélica, visto o que se passou na Ucrânia. 

Obviamente, se o país agredido for extremamente pobre e sem recursos para adquirir o mínimo de pequenos sistemas bélicos de alta tecnologia e pequeno porte para se defender, a estratégica do porco-espinho será menos eficiente e irá incentivar uma possível agressão pelo ator mais forte.

Ao mesmo tempo, o Taliban contra as forças armadas dos Estados Unidos provou que até mesmo um lado bem mais fraco pode cansar o lado mais forte se conseguir resistir por muito longo prazo.

As consequências geopolíticas se acentuam quando se observa que no momento atual as definições de poder estão sendo sutilmente modificadas. 

Anteriormente a projeção de força, ou de poder militar, de um país poderia ser medido a partir do montante de investimento em equipamentos militares de alto padrão tecnológico.

Atualmente esses parâmetros podem ser influenciados também pela capacidade de resistência e resiliência da nação, mesmo com equipamentos militares inferiores, assim como a Ucrânia, graças à estratégia porco-espinho e a capacidade humana de imitar a natureza. 

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