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A Nova Versão do Mega Projeto de Infraestrutura do G7 para Rivalizar a “Rota da Seda” Chinesa: “Parceria para Infraestrutura e Investimento Global”

No dia 26 de Junho de 2022, o G7, grupo das nações mundiais mais ricas (Estados Unidos, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido) e a União Europeia, anunciou um novo projeto de investimento coletivo em infraestrutura mundial.

O Partnership for Global Infrastructure and Investment (Parceria para Infraestrutura e Investimento Global) contará com a liderança dos Estados Unidos e participação dos outros países do grupo para a disponibilização de um fundo de US$600 bilhões para investir em países emergentes e no desenvolvimento de tecnologia avançada.

O plano segue as mesmas diretrizes do antigo projeto do G7, o “Build Back Better World”, com mudanças mínimas no projeto de ação, mas diminuição do orçamento. A ação é vista como uma resposta velada à “Nova Rota da Seda” da China (Belt and Road Initiative), e seus investimentos em infraestrutura e o ganho de influência política e econômica que o governo chinês vem conquistando.

O que foi a primeira versão do mega projeto de infraestrutura mundial do G7: “B3W – Build Back Better World” ou “Construa novamente um mundo melhor”

Em junho de 2021, Joe Biden anunciou em reunião do G7 no Reino Unido que iniciariam o projeto de investimento global “B3W – Build Back Better World” (Construa novamente um mundo melhor, em português). 

O projeto tinha como objetivo arrecadar investimentos privados em colaboração ao investimento público dos países para desenvolver infraestrutura, tecnologia e sustentabilidade em países emergentes. O esperado era arrecadar US$40 trilhões até 2035 para iniciar as ações nas regiões emergentes do globo. 

B3W foi apontado como uma reação geopolítica do G7 com relação aos programas desenvolvimentistas da China, o Belt & Road Initiative, a Nova Rota da Seda chinesa, e o ganho de influência que a potência asiática vêm construindo.

Os líderes do G7 tinham o plano de investir em tecnologias mais avançadas, principalmente de produção de energia limpa, e redes de telecomunicação e internet em outros países; apresentado o PGII como um passo ao progresso da economia global e das relações entre países democráticos. 

Quais as novidades da Partnership for Global Infrastructure and Investment (PGII) do G7 em relação à última versão

O novo projeto apresentado em 2022 pelo G7, “Partnership for Global Infrastructure and Investment – PGII” (Parceria para Infraestrutura e Investimento Global, em português) segue as mesmas diretrizes do B3W anterior.

A PGII contará com US$600 bilhões para investimento em países em desenvolvimento, principalmente na infraestrutura. O objetivo é ajudar a diminuir “a lacuna de infraestrutura nos países em desenvolvimento, fortalecer a economia global e as cadeias produtiva e avançar a segurança nacional dos EUA.”

O Estados Unidos fornecerá US$200 bilhões ao fundo, a União Europeia irá fornecer US$316bn e o Japão US$65bn. O líder informal do grupo e presidente, Joe Biden, deixou claro em seu pronunciamento que este projeto é um investimento e não caridade ou auxílio aos países.

Críticos do conhecido Think Tank americano CSIS argumentaram que o PGII é somente uma reestruturação do B3W, com poucos pontos objetivamente alterados. A mudança no plano é uma diminuição das ambições do antigo projeto, já que a guerra na Ucrânia e o cenário econômico mundial afetaram a meta de arrecadação de US$40 trilhões até 2035.

As áreas e projetos de ação do PGII continuam os mesmos que o B3W, como:

  • $2 bilhões serão direcionados a projetos de energia solar na Angola
  • $600 milhões serão investidos para uma empresa americana construir cabos de telecomunicação submarina para conectar Singapura com a França, passando pelo Egito e pelo Chifre da África
  • $50 milhões irão para o World Bank’s Childcare Incentive Fund (Fundo do Banco Mundial de Incentivo ao Cuidado de Crianças)
  • $3.3 milhões para indústria e produção farmacêutica de pesquisa e vacinas contra a COVID-19, para distribuição global

O chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou que haverá uma parceria do investimento público com a iniciativa privada, já que o fornecimento público não seria capaz de alcançar todos os objetivos de desenvolvimento sozinho.

Por que o G7 está preocupado em competir com a China por projetos de infraestrutura pelo mundo

Desde 2013, a China está focada em lançar grandes projetos de infraestrutura e investimento em outros países através do seu programa de infraestrutura global Belt & Road Initiative (BRI). Com o propósito de aumentar relacionamentos econômicos com países do sul asiático, Oriente Médio e norte da África, o governo chinês pretende investir cerca de US$4 trilhões (cerca de US$1 trilhão já foi investido) em tecnologia, indústria, transporte e diversas outras áreas.

Diversos programas de investimento global vêm surgindo desde então, como a iniciativa própria da União Europeia o Global Gateway, como uma forma de resposta ao avanço político e econômico da China em outras nações.

O receio internacional com relação ao BRI é que a China estaria colocando em curso um esquema de debt traps (armadilhas de débito), investindo nos países em desenvolvimento mas colocando-os em uma posição de dívida, estabelecendo uma influência de dominação.

Dessa forma, o PGII é uma iniciativa liderada pelos Estados Unidos para se fortalecer no cenário internacional contra a China, uma forma de reafirmar a posição central econômica e política do país. Uma forma de retomar as rédeas no jogo de xadrez internacional.

A futura tendência dos mega projetos de infraestrutura globais pelas grandes potências mundiais

A iniciativa chinesa do desenvolvimento da estratégia do Belt & Road Initiative direcionou o holofote do cenário internacional aos países que não estavam recebendo investimento para desenvolvimento, que não estabeleciam relações com os EUA ou com a UE, por motivos políticos (como no Oriente Médio ou África) ou simplesmente por uma falta de laços econômicos.

A partir de então, as nações entenderam a importância de ajudar a trazer mais investimento aos países que não são centrais, observando que esses países podem ser o espaço para construção de energias e tecnologias sustentáveis e alavancar a economia mundial através de mais conectividade.

Cada vez mais os projetos desenvolvimentistas farão parte da agenda política das nações, trazendo maior integração e interação internacional. Mas, para além disso, programas como o Partnership for Global Infrastructure and Investment são formas de construir maiores relações com outros países, sendo uma nova ferramenta de poder geopolítico usada pelas nações e grupos de nações mais poderosas do mundo para aumentar suas influências internacionais.

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