No começo do mês de Julho de 2022, um funcionário do European Investment Bank (Banco de Investimento Europeu) relatou que há interesse da Comissão Europeia em se tornar o principal investidor do projeto energético de Rogun no Tajiquistão.
A hidroelétrica de Rogun está em construção por uma empresa italiana e conta com investimento misto público-privado de US$8 bilhões para dobrar a produção de energia tadjique, um total de 13.1 bilhões de KWh.
Este projeto não somente poderá suprir as necessidades internas do país, mas será capaz de exportar energia para países vizinhos da Ásia Central, maioria dependente de petróleo e gás natural da Rússia.
A projeto hidroelétrico de Rogun no Tajiquistão, a represa para produção de energia mais alta do mundo
O projeto da hidroelétrica de Rogun está em construção desde 2016 pela construtora italiana WeBuild no rio Vakhsh, um afluente de um dos principais rios da Ásia Central.
Com orçamento de US$8 bilhões, sendo $3bn já investidos para a construção, o governo do Tajiquistão está construindo a represa mais alta do mundo, com 335 metros de altura de barragem, capaz de gerar 3600 MW (13.1 bilhões de KWh), equivalente a 3 usinas nucleares.
O complexo da represa contará com 13.3 km2 e é uma retomada de um projeto do antigo regime soviético. Com 6 turbinas, a hidrelétrica tem o potencial de dobrar a produção energética nacional.
Quase 70% da população do Tajiquistão sofre com com falta de energia elétrica e o projeto de Rogun planeja levar energia para 8 milhões de pessoas, além de diminuir 150.000 da emissão anual de carbono.
A produção que haverá no complexo tem o objetivo de exportar parte da energia para outros países da Ásia Central, como Uzbequistão, Cazaquistão, Afeganistão e Paquistão, pelo Projeto de Transmissão e Comércio de Eletricidade do Sul da Ásia Central (CASA-1000).
Existiam desavenças entre o Uzbequistão e Cazaquistão com a construção desta represa, já que diminuirá o fluxo do rio e afetará as produções agrícolas de algodão e trigo. Porém, em 2018 houve uma primeira simulação do funcionamento de Rogun e os governos dos outros países cessaram suas reservas contra o projeto.
Como o Banco de Investimento Europeu pretende investir na produção de energia limpa na Ásia Central
No dia 6 de Julho de 2022, um representante do Banco de Investimento Europeu (EIB, sigla em inglês) declarou à agência de notícias britânica Reuters que há um interesse de participação em conjunto com a Comissão Europeia em se tornarem os maiores investidores no projeto da hidroelétrica de Rogun.
O EIB já investiu 182 milhões de euros no período de 2014 a 2020 na Ásia Central para projetos de desenvolvimento energético e industriais.
A União Europeia tem o Global Gateway, uma estratégia desenvolvimentista de integração mundial, e sua participação enquanto investidora na hidrelétrica de Rogun seria um dos muitos projetos que englobam essa estratégia.
Essa cooperação entre a UE e o EIB teria como objetivo alcançar a “independência energética da Ásia Central em relação à Rússia.” Mas ainda não há declarações sobre a quantia que será investida no Rogun pelos dois atores.
Como o investimento da União Europeia na Ásia Central pode tornar o Tajiquistão, Uzbequistão e o Cazaquistão independentes da energia Russa
Desde a invasão russa em fevereiro de 2022 na Ucrânia, a União Europeia tem como objetivo isolar comercialmente a Rússia e diminuir as dependências econômicas que outros países possuem com Moscou.
Como nações da antiga União Soviética, esses países ainda mantêm relações profundas com a Rússia, o Tajiquistão é dependente do petróleo russo e o Uzbequistão e Cazaquistão importam gás natural para o consumo energético nacional.
Com uma produção tão grande quanto a esperada pela represa de Rogun, será possível produzir energia suficiente para a demanda nacional do Tajiquistão mas também para exportar energia para estes países vizinhos. Assim, eles não seriam mais dependentes dos recursos naturais ou econômicos da Rússia.
O projeto do Global Gateway da UE é uma forma de investirem na maior autonomia energética e econômica desses países da Ásia Central, não só com relação à ameaça geopolítica russa, mas também ao crescimento da China enquanto uma potência.
A Rússia e o Irã (recipientes de investimentos da iniciativa chinesa desenvolvimentista Belt & Road) já construíram duas hidrelétricas na vila tadjique de Sangtuda no passado.
O investimento europeu no Rogun faz parte da busca por uma maior participação e poder geopolítico da UE, já que teria por objetivo diminuir as influências russas e chinesas da região.
A futura tendência do uso de investimentos em infraestrutura como arma geopolítica
Com o Belt & Road Initiative da China, os projetos desenvolvimentistas globais ganharam força no cenário geopolítico como uma forma de ganho de influência e força internacional.
O investimento da União Europeia em outros países a partir do Global Gateway é uma resposta à iniciativa chinesa, com alvo em países que são dependentes economicamente da China e da Rússia para fortalecê-los e diminuir a potência geopolítica destes dois grandes países na região.
Os investimentos em infraestrutura vem ganhando um novo papel nas relações internacionais, sendo uma forma para países se fortalecerem nas disputas do cenário multinacional e de ganhar aliados geopolíticos.
A participação da UE e do Banco de Investimento Europeu no Tajiquistão possui esta outra esfera de enfraquecer os seus adversários políticos a partir do rompimento de dependência e relações comerciais.
Ou seja, não é somente uma busca por novas relações e novos aliados, mas enfraquecer adversários geopolíticos ao retirar um de seus aliados e parceiros econômicos.
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