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O Que é a Nova Revolução Cultural Chinesa com Foco em “Deep Tech”

Os investimentos chineses no desenvolvimento industrial e econômico de alta tecnologia vem ganhando mais força nos últimos anos. Como parte deste processo, o governo chinês tem aumentado a regulamentação dos grandes monopólios tecnológicos nacionais para redirecionar recursos e mão de obra avançada para a produção de tecnologias, que o PCC (Partido Comunista Chinês) considera essenciais para o desenvolvimento nacional.

Desta forma, a China visa a uma diversificação de produção tecnológica interna para que suas empresas de tecnologia e startups invistam na produções de tecnologias “essenciais”, a deep tech ou tecnologia profunda; como produção de microchips semicondutores, sistemas de computação de data e nuvem, inteligência artificial, computação quântica, e outras tecnologias avançadas que estão sendo desenvolvidas pelas principais potências mundiais, ou que já existem, mas não são totalmente produzidas na China.

É um fortalecimento do mercado interno e da produção para se tornar mais avançada, independente e um polo de referência em tecnologia no cenário geopolítico internacional.

Fonte: Pixabay

O que é Deep Tech ou Tecnologia Profunda e por que ela é importante geopoliticamente 

As inovações tecnológicas na indústria estão sendo cada vez mais impulsionadas pelas nações, em uma busca por energias mais sustentáveis e limpas, um avanço de conhecimento computacional, até inteligências artificiais mais eficientes.

A deep tech é uma tecnologia de ponta, desenvolvida por startups ou por empresas de tecnologia avançada com um objetivo de solucionar problemas da sociedade por pesquisas tecnológicas que envolvem muito capital, pela complexidade do problema tecnológico que estão tentando resolver, mas baixo risco de mercado, uma vez que a tecnologia desenvolvida já tem demanda certa.

O holofote para a tecnologia profunda veio das necessidades que a pandemia nos trouxe e as soluções que ela proporcionou. Um exemplo de deep tech é a vacina da BioNTech e Moderna com o mecanismo de RNA mensageiro para imunização contra o COVID-19, uma tecnologia nova, com muita pesquisa e capital envolvido, mas que traz inovação para a ciência na crise sanitária e humanitária mais séria dos últimos tempos.

Para as relações comerciais, quem é capaz de investir em seu desenvolvimento e inovação é capaz de participar do mercado com um protagonismo próprio, já que são tecnologias novas e com alta demanda. Investir em deep tech traz uma diversificação para o mercado interno também pois movimenta toda a cadeia produtiva, desde pesquisadores e intelectuais até indústrias de grande porte para produção de chips.

[A Deep Tech é] “uma tecnologia difícil de ser desenvolvida no presente, mas com um potencial de se tornar uma necessidade básica, difusa e fácil de ser implementada no futuro.”.

Joshua Siegel e Sriram Krishnan, Departamento de Ciência da Computação e Engenharia do MIT

A recente repressão Chinesa contra monopólios tecnológicos e tecnologia superficial voltada somente para entretenimento

O cenário que estava se instaurando na China era de grandes empresas de tecnologia crescendo imensamente e comprando empresas menores e inovadoras para formar um conglomerado de monopólios.

A Alibaba, Tencent e Meituan foram grandes empresas que sofreram taxação do governo, de mais de US$3 bilhões no total, para que recolhessem essa renda e utilizassem principalmente na criação de novas startups de deep tech.

Essas três principais empresas são voltadas ao entretenimento e serviços online, desde plataforma de compra, videogames a delivery. O principal problema para os objetivos do governo chinês é que, ao formar esses conglomerados comerciais não há uma diversificação do mercado produtivo interno e a dependência com importações de tecnologias avançadas aumenta, uma vez que o mercado nacional está focado em tecnologias mais superficiais tirando recursos e mão de obra de tecnologias mais fundamentais para o desenvolvimento nacional.

A China atualmente possui um custo de US$410 bilhões em importações, principalmente de semicondutores. A partir da iniciativa atual, o orçamento de investimento na indústria chinesa de sistemas de celulares, computadores, manufatura de equipamentos tecnológicos no geral é de US$135 bilhões, com perspectiva de ter uma base com valor de mais de US$5 trilhões. O investimento em startups em 2016 era de US$15bn, subindo em 2020 a US$60bn.

A Alibaba, por exemplo, é uma empresa que se diversificou saindo somente do ramo de e-commerce e data para produção atual de três tipos de microchips. Tencent também passa pelo mesmo processo, diversificando do mercado de entretenimento e jogos para produção de chips para o mercado interno.

Isso fortalece a produção mas também limita o ganho de poder de influência que esses monopólios teriam sobre o governo e a sociedade.

O governo do Partido Comunista da China possui uma preocupação com o tempo que sua população passa em “tecnologias superficiais” como em redes sociais e videogames, criando até uma limitação aos menores de 18 anos de somente permitir uma hora de jogos por semana e em finais de semana/feriados. 

Isso é uma tentativa de incentivar que a juventude e a população passe mais tempo ganhando conhecimento e estudando do que consumindo “conteúdos superficiais”, ou chamados “opium espiritual” pela mídia chinesa. Esses jovens são um potencial de criação para o país e eles podem se tornar grandes pesquisadores e autores de inovações no futuro.

Assim, essas limitações que o governo impôs a população e as empresas é uma aplicação de seus objetivos políticos de diversificação e independência do mercado interno, além de incentivar o desenvolvimento futuro e contínuo de tecnologias que podem trazer soluções para a sociedade, como inteligência artificial e computação quântica.

A 2a revolução cultural Chinesa para orientar recursos tecnológicos na direção da Deep Tech e prosperar geopoliticamente

A Era Mao trouxe grandes mudanças nas ordens sociais chinesas, incluindo revitalizar o comunismo nos anos 60 para fortalecer seu governo. O esforço do presidente Chinês Xi Jinping em trazer a deep tech para a produção interna está sendo analisada como a 2ª revolução cultural do país, já que tem o objetivo de tornar a China um centro principal de referência em tecnologia profunda e de ponta mundialmente.

Limitar os consumos dos “excessos do Ocidente”, como redes sociais e videogames, é uma maneira de tentar voltar com o potencial criativo e intelectual para investimento no próprio mercado interno e não aprofundar mais as relações com tecnologias que, a longo prazo, não trazem tanto retorno produtivo quanto a indústria de microchips, inteligência artificial, computação quântica, etc…

A faceta final da campanha da China é uma transferência de recursos de empresas de internet para empresas que podem criar avanços tangíveis em tecnologias que o partido considera menos frívolas. Isto representaria uma mudança marcante na governança econômica chinesa, que, desde a década de 1990, colocou o desenvolvimento rápido e atraiu o investimento direto estrangeiro acima de tudo. As empresas de Internet com baixa regulamentação têm sido o principal exemplo. As autoridades locais baixaram os impostos e deram terras para atrair os gigantes online para suas cidades e províncias.

The Economist

O principal foco chinês está em aprimorar sua cadeia produtiva e a fabricação interna de tecnologia, criando um fundo de investimento de orientação industrial para as áreas de tecnologia de alta prioridade. Dessa forma, buscam investir mais em comunicação quântica que impulsionará avanço nas pesquisas tecnológicas, já que é uma ideia nova, ainda em desenvolvimento e que poderá trazer evolução para o meio tecnológico mundial.

Só em deep tech, principalmente semicondutores, o investimento previsto é de US$2 trilhões até 2025. Foram criadas 22 mil empresas de chips, 35 mil de desenvolvimento de data e nuvem e 172 mil startups com investimento público.

Todo essa mudança estrutural no meio produtivo chinês é “O Grande Salto Adiante da China” para continuar seu caminho de prosperidade econômica e política internacional, indo atrás de desbancar a hegemonia americana.

“Eles têm o mercado porque sua população é enorme e têm as habilidades necessárias para educar seu povo em universidades ao redor do mundo […] Eles nunca permitirão que ninguém controle seu destino e por isso querem resiliência e não ser desafiados.”

The West Australian

O objetivo final Chinês dessa nova revolução cultural em direção ao desenvolvimento tecnológico avançado é criar uma nova ordem econômica mundial ao redor da própria China, fazendo com que ela ultrapasse os Estados Unidos e o resto do Ocidente em termos econômicos e militares, tornando-se, assim, a maior potência geopolítica na segunda metade do século 21.

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