- A aliança militar intergovernamental euroasiática liderada pela Rússia está perdendo força, à medida que seus membros estão sendo ignorados.
- A Guerra da Rússia na Ucrânia está sendo responsável pelo enfraquecimento do desempenho da aliança na região centro-asiática.
- A perda de poder regional de Moscou, poderá fortalecer os Estados Unidos e a China na região.
A Organização do Tratado de Segurança Coletiva, mais conhecida pela sigla em inglês CSTO, está em decadência e uma das principais razões deste colapso é a guerra orquestrada pelo presidente russo Vladimir Putin na Ucrânia, que se iniciou em fevereiro de 2022.
A aliança, que deveria ser uma rival à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), está sofrendo com a potencial evasão de seus membros e, em setembro do mesmo ano, se deparou com um pedido de ajuda da Armênia aos Estados Unidos no conflito Nagorno-Karabakh, após Yerevan ter sido ignorada pela Rússia.
Após o contato armênio com os então rivais americanos, a fragilidade da CSTO ficou ainda mais evidente e alarmou os outros membros, países da ex-União Soviética, que já estão com sua confiança em relação a Putin abalada. O que levanta questões como: a CSTO terá o mesmo desfecho que o finado Pacto de Varsóvia?
O que é a CSTO?
A Organização do Tratado de Segurança Coletiva (ou Collective Security Treaty Organization, CSTO) é uma aliança militar intergovernamental euroasiática liderada pela Rússia e que reúne países da antiga União Soviética como: Belarus, Armênia, Cazaquistão, Quirguistão e Tadjiquistão, além da própria Rússia.
A aliança foi oficializada nos moldes atuais em 2002 e, em oposição, mas de maneira similar ao Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a CSTO estabelece que uma agressão contra um signatário seria percebida como uma agressão contra todos, e seus membros estão proibidos de se unir a outras alianças militares.
Como a CSTO deveria rivalizar a OTAN
A CSTO, inevitavelmente remete ao seu antecessor Pacto de Varsóvia. O nome oficial do pacto era Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua, sendo assinado em Varsóvia, capital da Polônia, em maio de 1955.
Foi um acordo de cooperação militar assinado pelas nações do bloco socialista no Leste Europeu e foi resultado do contexto em que estava inserido. A aliança é considerada uma reação da União Soviética às ações tomadas pelos Estados Unidos na Europa Ocidental.
Com a criação do pacto, os soviéticos reforçaram sua presença militar nos países participantes, mais cláusulas importantes de cooperação foram criadas, como a de defesa mútua, assim como no atual Tratado de Segurança Coletiva.
Então, o Pacto de Varsóvia teve seu fim devido à crise na União Soviética, com o Muro de Berlim sendo derrubado e o fim da Guerra Fria. Já o CSTO vê sua existência ameaçada, novamente, devido ao caos em que a Rússia causou e está inserida na Ucrânia e a possível repetição da ameaça Russa à soberania dos países membros.
Como a CSTO abandonou a Armênia no conflito contra o Azerbaijão e beneficiou os Estados Unidos
Em setembro de 2022, o Azerbaijão lançou ataques a Armênios dentro de Nagorno-Karabakh e supostamente atacou diretamente o território da Armênia. O país então apelou aos seus aliados da CSTO para que colaborassem com sua defesa.
Porém a resposta obtida da Rússia e de outros membros da CSTO reforçou a falta de confiança dos armênios em relação aos seus vizinhos. A organização que teria por dever enviar ajuda imediata, decidiu enviar uma missão de averiguação, mas antes mesmo da chegada da missão, a organização revelou que não enviaria forças de paz.
O Azerbaijão, vizinho da Armênia, não faz parte da organização, mas mantém boas relações com todos os outros membros da aliança. Portanto, a Armênia já tinha dúvidas em relação à ajuda dos aliados.
Em razão da falta de apoio, manifestantes foram às ruas de Yerevan, exigindo que o país se retire da CSTO, liderada por Moscou. Os manifestantes argumentam que a aliança não se esforçou o suficiente para proteger a Armênia e pediram que o país se aproximasse das potências ocidentais.
Muitos dos manifestantes afirmam que os Estados Unidos da América e a Europa são a última esperança do país, em meio ao conflito de Nagorno-Karabakh.
Visto o pedido de ajuda armênio, os EUA ofereceram ajuda e a visita de Nancy Pelosi, presidente da câmara de deputados americana e terceira da linha de sucessão, deixou evidente a substituição da Rússia pelos EUA como aliado da Armênia, o que reafirma a influência americana na região.
Pelosi confirmou sobre a prontidão dos Estados Unidos para fornecer apoio político e diplomático à Armênia. Porém, para que os Estados Unidos forneçam à Armênia além de apoio diplomático e político, também armas, a Armênia precisa se retirar da OTSC.
Outras ex-Repúblicas Soviéticas que podem estar abandonando a CSTO
O Cazaquistão já está se afastando da Moscou desde o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Porém, desde a invasão russa em Donbass há 8 anos, Astana teme a possibilidade de cenários semelhantes aos da Ucrânia acontecerem em seus territórios do norte na fronteira com a Rússia, que é habitada por russos étnicos.
O Quirguistão, também parece ser um candidato a sair da organização. Em outubro de 2022, o país cancelou o exercício militar da CSTO programado para ser realizado em seu território no início de outubro, sem aviso prévio.
Os exercícios estavam agendados de 10 a 14 de outubro e deveriam incluir militares de todos os seis membros da CSTO, bem como de outros cinco estados, incluindo a Sérvia, a Síria e o Uzbequistão, mas nenhuma razão foi dada para o cancelamento anunciado em 9 de outubro de 2022.
Após o ataque do presidente do Tajiquistão Emomali Rahmon à Putin na cúpula de líderes regionais de Tashkent no de outubro de 2022, é perfeitamente possível que essa aliança militar seja deixada com apenas dois membros: Belarus e Rússia.
Por que o enfraquecimento da CSTO é importante para o jogo de poder mundial
O enfraquecimento da Organização do Tratado de Segurança Coletiva prejudica ainda mais a esfera de influência da Rússia, que são em maior parte os países da ex-União Soviética.
Essa perda de poder regional da Rússia, consequentemente poderá fortalecer os Estados Unidos na região e fomentar exatamente o oposto de um dos objetivos da CSTO, que é evitar a presença ocidental na região.
Por fim, uma das maiores consequências do enfraquecimento da CSTO e da Rússia é abrir as portas a outros tipos de alianças militares na Ásia Central.
Além das potências ocidentais – incluindo outros membros da OTAN, ao lado dos EUA – é possível que a China inicie uma aproximação militar desses países, além dos múltiplos acordos econômicos já vigentes entre Beijing e os países centro-asiáticos.
Desta forma, um enfraquecimento da CSTO é mais um exemplo da perda de influência internacional da Rússia como potência desde a sua agressão contra a Ucrânia e por consequência, uma possível vitória geopolítica para outras duas potências globais, os Estados Unidos e a China. É a Rússia cavando a própria cova.
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