Press "Enter" to skip to content

Conheça o USTRANSCOM – O Comando de Logística dos Estados Unidos, a Maior Força Militar do Planeta

  • O USTRANSCOM cuida da logística militar das forças armadas Americanas e, em tempos de paz, tem funções de transporte no geral;
  • Em um conflito armado, a logística é essencial para a movimentação de tropas, armamento, munição e outros recursos vitais como alimentos e combustível;
  • A logística aparenta ser um dos maiores pontos fracos da Rússia em sua invasão na Ucrânia, pois esperavam um conflito rápido.

Não é novidade que a capacidade armamentista dos Estados Unidos é exorbitante. O país investiu e investe constantemente na evolução de seus equipamentos e estratégias militares. Aeronaves modernizadas, armas nucleares, mísseis, tropas treinadas. O país norte americano conta com mais de meio milhão de soldados ativos em serviço.

Entretanto, as forças do país não se limitam aos seus equipamentos, suas tecnologias, táticas e a quantidade de armas em números, mas também a sua capacidade logística de transportar todo esse poderio para qualquer lugar do mundo, a qualquer momento, de qualquer localização inicial.

Esse papel logístico é destinado ao USTRANSCOM. 

Fonte: Wikipedia

O que é o USTRANSCOM?

Criado ainda no período da Guerra Fria, em 1987, o United States Transportation Command (Comando de Transporte dos Estados Unidos), ou USTRANSCOM, é sediado na Scott Air Force Base, em Illinois.

Com o histórico estadunidense de estar envolvido em conflitos pelo mundo, como a Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietnã, percebeu-se uma necessidade de transportar todos os seus equipamentos militares para que, aliado às suas táticas e estratégias, pudessem sair vitoriosos.

Dessa forma, em 1987, o então presidente Ronald Reagan declarou que a Secretaria de Defesa criasse um Comando de Transporte Unificado, que deu origem ao que se conhece hoje como USTRANSCOM. 

Apesar do projeto parecer uma solução para os problemas logísticos do país, por tratar-se de equipamentos militares valiosos, o documento ainda era muito restritivo e limitado. Ou seja, as operações militares continuaram acontecendo como antes de sua criação.

Apenas quando os Estados Unidos e seus aliados invadiram o Iraque, na Guerra do Golfo, foi possível testar, na prática, a funcionalidade do Comando de Transporte dos Estados Unidos. Desta maneira, foi possível analisar como o USTRANSCOM trabalharia tanto em tempos de paz, quanto em tempos de guerra.

Assim, em fevereiro de 1992 o atual Secretário de Defesa, Dick Cheney, declarou que o papel principal do USTRANSCOM era fornecer transportes pelo meio marítimo, terrestre e aéreo ao Departamento de Defesa, distribuindo suas forças em três meios como na Tríade Nuclear – através do ar, terra e mar – em qualquer época, seja ela de paz ou guerra. Então, o USTRANSCOM começou a agir:

  • No transporte e reabastecimento aéreo: transportando pessoas em estado crítico para pontos de ajuda ou levando forças e recursos de reabastecimento de um ponto para o outro, em qualquer distância e a qualquer momento;
  • Na superfície: fornecendo uma infraestrutura de transporte que permite a movimentação de tropas e forças militares;
  • No transporte marítimo: transportando cerca de 90% dos equipamentos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O transporte marítimo é uma prioridade para o USTRANSCOM.

Quais são os meios de transporte do USTRANSCOM

Com mudanças nos investimentos, orçamentos, troca de estratégias militares e modernização de equipamentos, a capacidade da USTRANSCOM pode variar muito de ano a ano, bem como os meios utilizados.

Entretanto, cada um dos três comandos, ou seja, aéreo, terrestre e marítimo possui seus equipamentos de transporte.

  • Na força aérea, por exemplo, o Comando de Mobilidade Aérea conta com aviões como C-17 Globemaster III, C-5 Galaxy, C-130 Hercules, KC-135 Stratotanker e o KC-10 Extender, responsáveis por transportar pessoas, recursos, armas e combustível;
  • Na marinha, o USTRANSCOM utiliza navios estatais e comerciais para transportar seus equipamentos, como Fast Sealift e a lista de navios militares de comando dos EUA, que contém cerca de 130 navios, divididos em oito categorias/programas;
  • Já o exército faz a distribuição via superfície. Eles estão em 24 portos ao redor do mundo e em um ano conseguem transportar cerca de 3,7 milhões de toneladas de medicação. Ativos, eles contam com 10 mil contêineres e 1.350 vagões ferroviários. 

Além disso, o USTRANSCOM estuda formas de utilizar a empresa de foguetes do Elon Musk, a Space X, como uma das aliadas na logística militar. Entretanto, William Hartung, pesquisador do Instituto Quincy disse ao The Intercept que acha a ideia inviável, considerando que atualmente não há necessidade de um transporte espacial e que, apesar de ser uma ideia interessante na imaginação, não é prática.

Por que a capacidade logística das forças armadas é fundamental no campo de batalha

Na Segunda Guerra Mundial, o General dos Estados Unidos Omar Bradley era conhecido por ser rígido no planejamento. Enquanto explicava a diferença entre apenas falar e criar planos baseados em fatos, Omar disse que “amadores falam de táticas, profissionais falam de logística”.

Uma nação não se torna vitoriosa apenas com uma coleção de táticas para derrotar o inimigo. É necessário capacidade de manter o poder ofensivo com munição, comida, água e equipe especializada, que fazem parte da logística militar. 

Mesmo que um país possua equipamentos de qualidade e última geração, além de uma tática bem estruturada, se não houver logística para manter essa tática funcionando é como se tudo voltasse à estaca zero. O poder de combate não durará muito, a não ser que seja uma ofensiva rápida.

Muitos especialistas consideram que a logística é o que determina o curso de um conflito no médio e longo prazo. Segundo destacado pelo Freight Waves, ela é crucial principalmente porque:

  1. É necessário munição para o armamento dos soldados, que não podem esperar muito por abastecimento de algo que é usado constantemente e em larga escala. É preciso que os militares tenham sempre, em mãos, tudo que é fundamental;
  2. O transporte de combustível é essencial para abastecer tanques, aviões, navios e veículos de combate no geral;
  3. As tropas precisam se movimentar de forma segura, através de navios, aviões ou helicópteros;
  4. O monitoramento em tempo real é preciso para acompanhar o que está acontecendo no front e fora dele para tomar decisões rápidas e formular novos planejamentos;
  5. Algoritmos inteligentes podem auxiliar no gerenciamento de dados e comunicação via satélite, para entender o que as tropas precisam, criando-se uma vantagem tática.

Em suma, não há vitória sem uma logística consistente. 

O fracasso da logística Russo na invasão da Ucrânia

A invasão da Rússia na Ucrânia apresentou problemas desde o começo. O conflito, que o país russo apostava que seria rápido, com sua vitória sobre Kiev em poucos dias, se arrastou por muito mais tempo do que o esperado trazendo problemas logísticos para a Rússia.

Considerando que a Rússia esperava um conflito curto, segundo diversos analistas, problemas de abastecimento e escassez assolam Moscou. Além disso, o país também sofre com falta de mão de obra e pessoas treinadas, tanto para o campo de batalha, quanto para o meio logístico, pois o número de baixas se tornou muito maior do que o esperado.

Tropas e suprimentos são majoritariamente movidos por ferrovias e, eventualmente, rios. Entretanto, em alguns pontos, onde o solo úmido e lamacento atrapalha o processo, os russos precisam optar por estradas. Como esses percursos precisam ser constantes, se torna complexo o processo de transportar armas, alimentos, suprimentos no geral, médicos, engenheiros e cozinheiros.

Ao invés de estabelecer postos logísticos ao longo do território, Moscou optou por fazer um avanço rápido, gerando diversos danos para a estratégia militar do país, como tanques intactos abandonados por falta de combustível.

A guerra apenas reforçou como a logística, alinhada diretamente ao campo de batalha e a sociedade, é um dos pilares fundamentais de uma defesa bem consolidada em um conflito de longo prazo que demanda, além de estratégia, capacidade de se manter constante.

A importância geopolítica da exorbitante capacidade logística dos Estados Unidos

Apesar de problemas enfrentados e, naturalmente o USTRANSCOM não é perfeito, ele ainda é um dos grandes diferencial do exército norte americano. 

Por mais que países como a China e Rússia ou a União Europeia também tenham capacidades militares muito grandes, no quesito logística os Estados Unidos estão mais avançados do que qualquer outra nação no mundo. 

E a força militar de um país também pode ser medida pela sua capacidade logística, que torna suas habilidades militares sem fronteiras e, aumentando consequentemente seu poder de influência política, pois um país com maior capacidade de projeção militar tem poder de barganha e imposição de seus interesses no cenário global.

Além de usar o poderio militar em seu próprio benefício, uma nação com uma logística consolidada consegue apoiar seus aliados em quase qualquer lugar do mundo. Os Estados Unidos, por exemplo, oferece essa ajuda através da OTAN na Europa ou com suas alianças na Ásia e Pacífico via o QUAD ou o AUKUS.

Uma demonstração de como os EUA pode atuar em países menores com seu poder logístico é das Filipinas, que pode acabar solicitando apoio caso a China resolva colocar em ação o plano de expansão no Mar do Sul da China, que engloba um território atualmente filipino. Isso tudo considerando que a nação norte americana já tem bases militares por lá.

As operações logísticas dos Estados Unidos também tem um papel fundamental para abastecer e manter as bases militares do país ao redor do mundo, que conseguem desempenhar um papel de contenção. Por exemplo, a presença militar dos EUA em Okinawa ou nas Filipinas que ficam relativamente próximos a Taiwan pode ser apontado como um dos principais motivos pelos quais a China mantém cautela ao considerar uma invasão no território taiwanês.

Dessa forma, a capacidade expedicionária dos EUA, ou seja, sua força para intervir e influenciar militarmente em qualquer lugar do mundo, apenas se reforça. Fazendo com que a geopolítica global, de certa forma, seja constantemente influenciada em parte pelos EUA.

Be First to Comment

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.