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Como o Novo Mapa Oficial da China Expõe as Ambições Imperialistas de Pequim e Põe em Risco os BRICS

  • ‌A China publicou seu novo mapa oficial, incluindo reivindicações territoriais sobre regiões de vários países, gerando um grande desconforto internacional;
  • Um período histórico, marcado por derrotas e invasões estrangeiras, influenciou a determinação da China em restaurar sua soberania e integridade territorial, moldando sua estratégia geopolítica atual;
  • Essas tensões territoriais têm o potencial de minar a confiança mútua entre os membros do BRICS e provocar um eventual confronto com os Estados Unidos.

As reivindicações territoriais da China sobre várias áreas disputadas têm levantado questionamentos sobre as ambições imperialistas de Pequim e o impacto dessas reivindicações no grupo dos BRICS.

As implicações geopolíticas dessas disputas territoriais são vastas e afetam não apenas a estabilidade regional, mas também o equilíbrio de poder global e a imagem internacional da China.

Novo Mapa da China
Fonte: China Ministry of Natural Resources

Sobre quais territórios de quais países o novo mapa oficial da China faz reivindicações

Em Setembro de 2023, a China fez reivindicações sobre vários territórios disputados com diferentes países, incluindo:

  • Índia: reivindicações sobre terras disputadas na fronteira sul da China com a Índia, especialmente na região de Arunachal Pradesh, no norte da Índia. Também inclui a região de Aksai Chin, que é controlada pela China, mas reivindicada pela Índia.
  • Taiwan: O mapa abrange toda a ilha de Taiwan, que é governada democraticamente e reivindica independência, mas a China considera Taiwan como parte de seu território.
  • Mar da China Meridional: O mapa mostra reivindicações ampliadas na região do Mar da China Meridional, onde várias ilhas, recifes e zonas marítimas são contestadas por meia dúzia de países, incluindo Filipinas, Malásia, Vietnã e Indonésia.
  • Rússia: O mapa também inclui um pequeno pedaço da Rússia, a Ilha Bolshoy Ussuriysky (ou Heixiazi), que fica na confluência de dois rios fronteiriços e é legalmente compartilhada entre a Rússia e a China.
  • Japão: Essa disputa gira em torno do grupo de ilhas conhecido como Ilhas Senkaku no Japão, Diaoyu na China e Diaoyutai em Taiwan. Essas ilhotas desabitadas estão localizadas no Mar da China Oriental, ao nordeste de Taiwan, e estão atualmente sob administração japonesa. A presença dos Estados Unidos também é notável aqui, uma vez que as ilhas são protegidas por um tratado de defesa com os EUA. Essa disputa territorial teve início há cerca de uma década, quando o governo japonês decidiu nacionalizar as ilhas, o que levou a uma escalada de tensões. Desde então, a China tem intensificado sua presença na área, enviando grandes navios de aplicação da lei, alguns deles equipados com autocanhões, para patrulhar a região e reivindicar a soberania sobre as ilhas. 

Todas essas reivindicações territoriais estão causando tensões e protestos de vários governos na Ásia, bem como preocupações geopolíticas na região.

A Índia expressou um forte protesto contra a China. O Ministério das Relações Exteriores da Índia rejeitou veementemente o novo mapa chinês, afirmando que elas carecem de base sólida e apenas complicam a resolução das questões de fronteira. 

O ministro das Relações Exteriores da Índia, Jaishankar, descreveu a afirmação da China como “absurda” e observou que a China já havia feito reivindicações infundadas de territórios pertencentes a outros países.

Esta disputa territorial entre a Índia e China é uma fonte contínua de tensão entre os dois países, com uma fronteira de mais de 3.400 KM mal demarcada e frequentes confrontos entre suas tropas. 

Nas Filipinas, o movimento é de enfrentar a China. Enquanto Pequim diz que mais de 90% do Mar do Sul da China pertence ao país, outros países, incluindo as Filipinas, discordam disso. 

As Filipinas, com o apoio dos Estados Unidos e de outros países aliados, decidiram não mais aceitar passivamente as ações da China e estão se defendendo ativamente. Isso inclui permitir que os EUA usem bases militares em seus territórios e façam exercícios militares conjuntos. 

O ponto central da disputa é uma área chamada Ayungin Shoal, disputada por suas reservas de petróleo e gás. Embora a China diga que possui soberania nessa área, um Tribunal Internacional Especial das Nações Unidas decidiu em favor das Filipinas em 2016. 

No entanto, com o aumento das tensões novamente, a preocupação é que essa disputa possa levar os EUA a se envolverem diretamente no conflito, o que poderia causar ainda mais problemas na região, já que vários países estão envolvidos. 

As comunidades costeiras das Filipinas, que dependem da pesca para sobreviver, estão no meio dessa situação e enfrentam muita incerteza sobre o futuro.

Fonte: Wikipedia

O “Século de Humilhação” da China e o histórico das disputas territoriais

As atuais disputas territoriais não podem ser compreendidas plenamente sem levar em consideração o chamado “Século de Humilhação“, um período que se estendeu por grande parte dos séculos XIX e XX, durante o qual a China enfrentou uma série de derrotas, invasões estrangeiras e tratados desiguais que resultaram na perda de territórios e soberania.

O Século de Humilhação representa um capítulo sombrio na história chinesa, caracterizado por uma série de eventos humilhantes, incluindo as Guerras do Ópio com o Reino Unido, a Primeira Guerra Sino-Japonesa e a invasão japonesa durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa

Durante esse período, a China, enfraquecida por conflitos internos e externos, foi forçada a assinar tratados injustos que resultaram na perda de território e soberania para potências coloniais e vizinhos expansionistas.

Um dos marcos desse período foi o Tratado de Aigun, assinado em 1858, que redistribuiu terras na margem esquerda do rio Amur para a Rússia. Este acordo é frequentemente visto como injusto pelos historiadores chineses, argumentando que a Rússia, uma potência mais forte na época, impôs termos desvantajosos à China.

Recentemente, a China tomou medidas para preservar a memória desses eventos históricos, como a mudança do nome de um bairro e uma vila em Heihe para “Aigun”, com o objetivo de manter viva a lembrança da “história amarga” e das perdas territoriais enfrentadas pelo país.

As consequências geopolíticas dessas reivindicações territoriais são significativas. Elas representam os esforços da China para proteger seus interesses vitais, afirmar sua influência regional e evitar a repetição das humilhações do passado. No entanto, essas disputas também podem criar tensões regionais, afetar as relações diplomáticas e influenciar a política interna chinesa.

Essas questões territoriais, como as disputas no Mar do Sul da China, Taiwan e outras áreas mencionadas, ainda são parte integrante da política externa chinesa moderna e têm implicações cruciais para a estabilidade regional e a política internacional da China. 

Como a China está tentando tirar proveito territorial da fragilidade da Rússia devido a guerra na Ucrânia

A China está aproveitando a situação de fragilidade da Rússia devido à guerra na Ucrânia de várias maneiras, incluindo mudanças em seu mapa oficial que renomeiam cidades russas com nomes chineses. 

Em fevereiro de 2023, o governo chinês decidiu utilizar os antigos nomes chineses de oito cidades e áreas que foram ocupadas pelo Império Russo no final do século XIX e início do século XX. Essa ação visa relembrar o povo chinês das terras que foram perdidas para potências estrangeiras a partir do século XIX.

Essa mudança no mapa foi realizada durante um período sensível, uma vez que a Rússia estava envolvida na guerra na Ucrânia, e sua fronteira com a China estava enfraquecida devido ao envio de tropas e armamento militar para o conflito ucraniano. 

A Rússia não reagiu oficialmente a essa mudança no mapa, possivelmente devido à necessidade de manter o apoio da China na guerra contra a Ucrânia e também contra o ocidente.

No entanto, é importante observar que a Rússia reagiu de forma diferente quando um órgão do governo polonês aconselhou o uso de um nome diferente para a exclave russa de Kaliningrado, na costa do Mar Báltico. 

O comitê polonês recomendou que a cidade fosse chamada de Królewiec, que era o nome tradicional da área, argumentando que a decisão de não usar mais o nome Kaliningrado estava relacionada à ocupação Russa da região. A Rússia reagiu com indignação a essa recomendação, considerando-a um ato hostil.

Portanto, a China está usando sua influência e sua posição geopolítica para tirar proveito das circunstâncias decorrentes da guerra na Ucrânia, enquanto equilibra seus interesses econômicos com o Ocidente e sua relação com a Rússia. Isso ilustra a complexidade das dinâmicas políticas na região e os desafios que a China enfrenta ao gerenciar suas relações internacionais.

Como as disputas territoriais entre a China e Rússia e a China e Índia pode pôr a coesão do grupo dos BRICS em cheque 

As disputas territoriais entre a China e seus vizinhos, em especial contra a Rússia e a Índia, apresentam desafios significativos para a coesão do grupo BRICS – originalmente Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, uma aliança de nações emergentes que busca cooperar em questões globais e contrabalancear o “Ocidente.” 

Embora as nações tenham um histórico de cooperação em várias frentes, incluindo questões de segurança e diplomacia, as disputas territoriais podem minar a confiança mútua e prejudicar a coesão do grupo BRICS. 

O fato de a China ter incluído partes do território russo em seus novos mapas oficiais demonstra o ressentimento e a sensibilidade dessas questões.

Além disso, as tensões entre a China e a Índia em relação a disputas de fronteira em Arunachal Pradesh e Aksai Chin, também são motivo de preocupação para os BRICS. 

A Índia e a China são duas das maiores economias do mundo e desempenham papéis importantes no bloco. No entanto, as disputas territoriais em curso entre esses dois membros podem afetar a atmosfera de cooperação dentro do grupo. 

A Índia, por sua vez, pode buscar apoio de outros membros do BRICS para pressionar a China a resolver essas disputas, o que poderia criar tensões adicionais dentro da aliança.

Já a China, como uma das nações mais influentes do grupo, muitas vezes desempenha um papel central nas dinâmicas do bloco. Portanto, as disputas territoriais podem aprofundar ainda mais essas divergências e tornar difícil para o grupo manter uma posição comum em questões globais.

Em adição, a decisão do presidente chinês, Xi Jinping, de não participar da próxima cúpula do G20 na Índia é um sinal adicional dos desafios nas relações entre a China e a Índia, refletindo as tensões existentes entre ambos, podendo ter ou não relação com o novo mapa.

É importante notar que o BRICS tem enfrentado desafios de coesão ao longo de sua existência por diferenças políticas e econômicas entre seus membros, portanto as questões territoriais estão sendo um desafio adicional.

A importância geopolítica das reivindicações territoriais da China em relação aos seus vizinhos

As reivindicações territoriais da China em relação a seus vizinhos desempenham um papel central em sua estratégia geopolítica, refletindo uma busca pela proeminência regional e global. 

Essas tensões territoriais não se limitam a questões isoladas; elas fazem parte de uma narrativa mais ampla que envolve a ascensão e a assertividade chinesa no cenário internacional.

Após entender o contexto das reivindicações territoriais da China, é possível compreender que esse histórico forjou uma determinação nacional chinesa de restaurar sua soberania e integridade territorial.

Nas últimas décadas, sua ascensão econômica forneceu os recursos necessários para fortalecer as capacidades militares chinesas e expandir sua influência regional. 

Então, agora o país busca usar esse poder adquirido para reafirmar suas reivindicações territoriais, mas pode-se inferir que essas reivindicações vão além do território, elas demonstram a determinação de Pequim em proteger seus interesses vitais e sua ambição de ser tratado como uma potência regional dominante.

Além disso, as disputas territoriais também podem servir como uma distração conveniente para o governo chinês, que enfrenta desafios econômicos internos, como o envelhecimento da população e pressões sobre o crescimento econômico. 

Em momentos de dificuldades domésticas, a liderança chinesa pode tentar direcionar a atenção pública para questões de soberania e segurança nacional, consolidando a imagem do Partido Comunista Chinês como o guardião da integridade nacional.

Como consequência, essas reivindicações territoriais criam instabilidade regional, uma vez que os países afetados buscam proteger seus próprios interesses e estabelecem alianças com potências externas – como os Estados Unidos – em busca de apoio, podendo minar a coesão do BRICS, onde a China desempenha um papel de liderança. 

Além disso, as reivindicações territoriais têm implicações para a imagem internacional da China. A crescente insistência chinesa nas disputas territoriais suscita preocupações na comunidade internacional sobre o respeito de Pequim às normas internacionais e ao Estado de Direito. 

Isso pode prejudicar a reputação da China como um ator global responsável e dificultar a construção de relações diplomáticas positivas com outros países.

Em suma, as reivindicações territoriais da China em relação aos seus vizinhos são um elemento essencial da estratégia geopolítica do país. Elas representam a busca por restaurar a soberania após um passado de humilhação, o uso do poder crescente para afirmar a influência regional e a necessidade de desviar a atenção de desafios econômicos internos. 

Por fim, essas tensões territoriais têm implicações significativas não apenas para a estabilidade regional, mas também para o equilíbrio de poder global e a imagem internacional da China. O tema é de grande importância e deverá ser observado, bem como suas consequências no cenário internacional.

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