A União Europeia vem passando por mudanças estratégicas por diversos motivos internos e externos no contexto internacional. Desde a pandemia de COVID-19, saída da Angela Merkel na Alemanha e crescimento econômico chinês, há uma necessidade de maior independência econômica, energética, e política pela UE.
É a partir disso que há um planejamento de ação para alcançar este objetivo, que é a Autonomia Estratégica da união. Essa estratégia já começou a ser executada a passos curtos mas será mais implementada concretamente em 2022, com projetos em diversas áreas para um maior crescimento da União.
O que é a “Autonomia Estratégica” almejada pela União Europeia
Desde 2019, com o crescimento econômico chinês, e potencializada com a pandemia em 2020, a União Europeia entrou em contato com a problemática de uma dependência grande com as importações chinesas para manter sua economia interna.
O maior problema de ser dependente de produções externas, não só industrialmente mas militarmente também, é a instabilidade com relação ao Mercado com o possível rompimento de cadeias produtivas globais. Quando se tem um Mercado interno mais fortalecido, com as crises e quedas internacionais, consegue-se amenizar os efeitos negativos em seu próprio desenvolvimento.
A Autonomia Estratégica que a União Europeia almeja é para se fortalecer internamente e reduzir a sua dependência de atores externos. Atualmente sua situação é dependente da OTAN e dos Estados Unidos no campo de defesa militar; no campo energético depende do gás natural que a Rússia produz e o petróleo do Oriente Médio; e industrialmente apesar de ter uma indústria de ponta, a UE ainda depende dos produtos chineses em alguns setores.
Existem diversos projetos desenvolvimentistas em curso atualmente pela UE, como o Global Gateway e a Iniciativa dos Três Mares.
Autonomia Estratégica Europeia em Defesa
As políticas de defesa da União Europeia não são unânimes entre os países. Mas, com a saída de Angela Merkel na Alemanha e com a presidência rotativa com a França, em janeiro de 2021, o que se desenha é uma maior discussão e aprofundamento da cooperação militar entre os estados-membros da UE, já que isso é um interesse francês (por sinal, um grande exportador de armas).
Os objetivos militares da França para a UE são grandes porque ela possui uma visão de que os EUA e a OTAN não devem ser contados como aliados fiéis. A saída caótica do Afeganistão e a falta de comprometimento do ex-presidente Trump com a OTAN mostraram que a UE deve ter seus próprios interesses no campo militar.
Portanto o que é possível observar é uma estratégia de fortalecimento militar conciso, com a possível formação de um exército conjunto da própria União Europeia em um futuro próximo. Para concretizar isso, há os conflitos da Polônia com a Rússia, onde está necessitando maior base de defesa, e a UE busca ser essa base.
Assim há um fortalecimento da França enquanto líder Europeu e da própria União enquanto um ator militar coeso.
Autonomia Estratégica Econômica
Em 2020, a União Europeia se viu em uma situação de carência de materiais básicos de EPI (equipamento de proteção individual) para saúde sanitária (como máscaras cirúrgicas descartáveis), precisando aumentar suas relações econômicas com a China para importar o que lhe faltava.
As relações entre a China e a UE vêm se tencionando, já que vários países da União na Europa do Leste se encontram em situação de débito com a potência asiática. O plano da União Europeia é fortalecer sua base para que os investimentos venham da relação entre os 27 Estados-membros, sem envolver outras potências.
Além disso, o apoio da Lituânia a Taiwan (com o suporte da UE e dos EUA), vai contra os interesses da China e estremece ainda mais a política entre Beijing-Taiwan.
Mas, ao aumentar a autonomia, a tensão também pode aumentar. Isso se dá pois, com a menor dependência com a China, a União Europeia pode aprofundar as políticas anti-China sem receio das repercussões e das maiores consequências econômicas.
Autonomia Estratégica Energética
As fontes energéticas de uso da União Europeia são, principalmente o gás natural vindo da Rússia e o petróleo do Oriente Médio.
A insegurança de depender dessas potências para se manter energeticamente não é só por um interesse industrial de se desenvolver, mas também porque a UE construiu relações sensíveis nas últimas décadas com a Rússia e com países do Oriente Médio.
A Rússia vêm crescendo economicamente e ganhando um poder geopolítico que ameaça o protagonismo Europeu. O conflito Russo com a Ucrânia, desde 2014, contou com o apoio da União Europeia e dos Estados Unidos no lado Ucraniano, algo que pressionou os relacionamentos já que está indo contra os interesses russos.
Já com o Oriente Médio, existem diversos conflitos. Além de uma tensão com a Síria na luta anti-regime de Bashar al-Assad há:
Não foi por falta de capacidade de ação que, na última década, a UE se recusou a apoiar plenamente as revoltas da Primavera Árabe, equivocou-se em relação à autodeterminação palestina, transformou o controle das fronteiras na sua principal doutrina de segurança, recuou face a um novo alargamento da UE, reduziu o âmbito das suas políticas de segurança climática e juntou as suas fortunas a elites desacreditadas em todo o mundo em desenvolvimento.
Richard Youngs, Carnegie Europe
Então, buscar a autonomia neste campo é também a busca por um alívio de pressão, já que não estará dependendo de ninguém para ter energia e há menos riscos de consequências econômicas.
Como a Autonomia Estratégica da UE pode afetar a relação do bloco com os EUA, a China, e a Rússia
A implementação desta mudança política é a tentativa de amenização de possíveis consequências políticas e econômicas nas tomadas de decisão externas da União.
A União Europeia está na busca de se fortalecer geopoliticamente enquanto um grande ator no jogo global, e para isso são necessárias decisões duras para demonstrar força e poder de influência. Ao se concretizar enquanto um bloco unificado de 27 países tomando decisões juntos, busca ditar as tendências mundiais das diplomacias do mundo.
Portanto, ao investir nas suas bases produtivas internas, diminui a dependência em todas as frentes com outros países, podendo até se tornar um maior exportador, além de crescer economicamente.
Assim, terá mais liberdade para a tomada de decisões, não dependo de nenhum outro atores para além do seu conglomerado. É a construção do caminho para se tornar uma potência ainda maior.
[…] e isso inclui avanços nas suas tecnologias e fornecedores para que consiga alcançar uma maior independência estratégica e assim participação política ainda mais ativa no cenário […]
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