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O Crescimento da Influência Indiana no Indo-Pacífico e Suas Consequências Geopolíticas para a Região

  • As perspectiva da Índia, enquanto país emergente, elevando-se ao patamar de uma das grandes potências mundiais;
  • As vantagens econômicas e sociais de Nova Délhi no atual cenário do mercado internacional;
  • Com um crescimento econômico comparado ao chinês, a Índia tem buscado contrabalancear o poder da China na região.

A região do Indo-Pacífico é de extrema relevância para os países asiáticos exercerem sua influência, devido à importância estratégica e comercial desse mar, que concentra rotas marítimas cruciais e a esmagadora maioria do transporte das manufaturas comercializadas em todo o mundo. 

Nas últimas décadas, a China tem sido o país com maior ascensão econômica da região e do mundo, porém com os recentes problemas enfrentados pelo país – como a crise no setor imobiliário, a antiga política de “Zero COVID” e o fator Taiwan –, afetando o crescimento de seu país vizinho, a Índia, pode ficar em evidência.

Portanto, com o potencial de se tornar uma grande potência econômica e militar nas próximas décadas, a Índia pode vislumbrar uma maior atuação estratégica na região do Indo-Pacífico, disputando espaço com a China, além de seu relacionamento com outros grupos que atuam na região, como o Quad (da qual faz parte) e o AUKUS.

A fim de compreender as perspectivas para a Índia nas próximas décadas, é necessário listar as vantages econômicas e sociais do país, no contexto geopolítico.

A Índia como uma força emergente em busca de maior hegemonia até 2050

A Índia está emergindo como um ator cada vez mais importante no cenário mundial. No fim de 2022, ultrapassou a Grã-Bretanha e tornou-se a quinta maior economia do mundo em PIB e a terceira maior em poder de compra, segundo a Deutsche Welle – rede pública de notícias alemã – a qual, conforme previsões macroeconômicas do FMI, antecipa que até 2030 terá superado as economias da Alemanha e do Japão.

Além da notável taxa de crescimento econômico que remete à ascensão chinesa, é importante destacar alguns aspectos da sociedade indiana que colaboram com suas vantagens: dentre os 1,4 bilhão de habitantes, nota-se uma vasta mão-de-obra qualificada, jovem, dedicada aos projetos nacionais mais conhecidos, como o desenvolvimento das indústrias farmacêuticas, de tecnologia e de energia. 

O mercado interno indiano também tem representado uma força ainda maior no setor econômico. Devido à tendência positiva na taxa de natalidade, uma população economicamente ativa crescente está fornecendo volumes significativos de uma demanda doméstica superior à chinesa. Isso está gerando um grande movimento de recursos.

Ainda, a perspectiva de progressivos investimentos do governo na infraestrutura e na indústria energética, sobretudo renovável, representa um panorama favorável a economia indiana, em especial quando comparado com sua maior concorrente na região, a China, que está lidando com o envelhecimento de sua população (demonstrando as consequências negativas das políticas de controle da taxa de natalidade que foram recentemente abandonadas). 

Ademais, com a elevação dos salários médios chineses, registrou-se um aumento do custo de produção geral das manufaturas chinesas, que ainda dominam o mercado global, mesmo observando a expansão industrial indiana.

A iniciativa de Nova Délhi “Make in India” tem impulsionado a produção local de smartphones na Índia, atraindo a fabricação de novos produtos da Apple, como iPhones de última geração e outras empresas de tecnologia como Samsung e Xiaomi.

Essa expansão é impulsionada pela demanda doméstica crescente e pela necessidade de reduzir a dependência das importações, contribuindo para o desenvolvimento econômico e tecnológico do país com investimentos estrangeiros e criação de empregos locais.

Esse aumento na produção local de produtos estrangeiros também faz parte de uma políticas de grandes multinacionais de diversificarem suas cadeias produtivas para além da China para diminuir o “risco Pequim,” uma estratégia industrial também chamada de “China + 1.”

Tendo este panorama, pode-se entender o surgimento de oportunidades para que a Índia possa conquistar mais espaço nas cadeias globais de valor ao atrair indústrias manufatureiras para dentro de seu território e, conforme ampliar sua infraestrutura, o país pode continuar investindo nos setores farmacêutico e energético – sobretudo ao notar a desaceleração do crescimento chinês.

No entanto, o crescimento indiano não pode ser analisado apenas por atuação econômica, é preciso também considerar os aspectos geopolíticos que podem acarretar em desdobramentos sociais em Nova Délhi.

A Atuação indiana no indo-pacífico frente à presença chinesa

Quando se trata das relações internacionais da Índia, é importante destacar que sua representação formal no cenário global tem sido criticada devido à falta de investimento no serviço diplomático indiano e à presença limitada de representantes, o que tem dificultado a solução de problemas crônicos.

Contudo, a Política Externa Indiana segue alguns pilares tradicionais que devem ser pontuados, pois eles continuam sendo parâmetros para a definição da projeção de Nova Délhi na região do Indo-Pacífico. São eles: 

  • manter o não alinhamento com grandes potências, observado desde sua independência; 
  • expandir ao máximo as relações comerciais do país, prezando pelo pragmatismo e não pela ideologia; 
  • favorecer o diálogo com atores de menor relevância, não apenas potências regionais ou globais;
  • mesmo tentando se manter não alinhado, o país tem desempenhado um papel ativo nas discussões do Quad e vê a iniciativa como uma forma de aumentar sua influência regional e global.

Tendo isso em vista, a Índia não parece desejar o rompimento de sua postura de “não alinhamento”, mesmo diante das tensões entre o Ocidente e o Oriente, pois ainda é dependente da Rússia para recursos energéticos, materiais de defesa, além de fertilizantes. 

Apesar disso, nota-se uma aproximação de Nova Délhi com o Ocidente, dado o reconhecimento da importância estratégica do Mar do Sul da China, do Estreito de Malacca, que estão progressivamente sob maior tensão devido à disputas entre China e Estados Unidos pela maior influência na região.

A Índia chega em 2023 almejando projetar-se sobre o Indo-pacífico ainda sem solucionar problemas cruciais: como lidar com as disputas fronteiriças chinesas, visto que as relações sino-indianas deterioraram-se nos últimos anos e a corrupção, que prejudica o desenvolvimento econômico e social do país.

Também há o problema das relações conturbada com seu vizinho Paquistão, que é marcada por conflitos históricos, especialmente em relação ao conflito territorial sobre a região da Caxemira, tornando-se uma das disputas mais longas e intensas na Ásia.

Todavia, Nova Délhi aproximou-se dos EUA no alinhamento estratégico QUAD (aliança composta por Japão, Austrália, Índia e EUA) visando contrabalancear a influência de Pequim na região, mas ainda participa da Organização de Cooperação de Shangai e faz parte dos BRICS, mesmo que esteja em atrito com a China.

A posição dúbia da Índia entre os Estados Unidos e Rússia na guerra da Ucrânia

Desde o início da Guerra da Ucrânia, a Índia busca não se posicionar tendencialmente a nenhum dos lados, enquanto pratica um malabarismo diplomático para manter boas relações tanto a Rússia, quanto com os Estados Unidos. 

As relações indianas com a Rússia se mostram indispensáveis tendo em vista a carência de recursos naturais dentro do território indiano. Como parceira energética da Índia, a Rússia se destaca pela venda de seu petróleo utilizando rublos e rúpias, driblando as sanções internacionais. 

Além disso, Nova Délhi tem sido um tradicional importador de armamentos Soviéticos e, posteriormente, russos, desde a década de 1960. Essa relação foi fortalecida por laços políticos e ideológicos entre a Índia e a União Soviética, que se desenvolveram durante a Guerra Fria.

Após a dissolução da União Soviética em 1991, a Rússia assumiu o papel de principal fornecedor de armamentos para a Índia, abastecendo o país com uma ampla gama de equipamentos, desde armas leves até sistemas de defesa aérea e mísseis balísticos.

Simultaneamente, o país se esforça para manter relações amistosas com os Estados Unidos ao condenar as investidas russas no conflito em andamento no território ucraniano. E, ao mesmo tempo que dribla as sanções ocidentais contra a Rússia, paradoxalmente a Índia tenta participar das mesmas sanções internacionais contra Moscou, embora em menor grau.

Porque a maior presença indiana no indo-pacífico é importante para a geopolítica?

Desde a adoção da estratégia “Belt and Road Initiative” (conhecido como “Projeto da Nova Rota da Seda“) por Pequim, surgiram diversos focos de investimentos chineses em infraestrutura rodoviária, férrea e marítima, além de fomentar o desenvolvimento industrial de países parceiros da superpotência asiática, de modo que desperte um aumento na demanda pelas manufaturas chinesas nesses mercados aliados. 

Por exemplo, a China tem investido significativamente no Paquistão e Sri Lanka nas últimas décadas, como parte de sua iniciativa. Esses investimentos incluem grandes projetos de infraestrutura, como a construção do porto de Gwadar no Paquistão e do porto de Hambantota no Sri Lanka, bem como a construção de estradas, ferrovias e usinas elétricas.

Este avanço chinês na vizinhança Indiana foi acompanhado também de uma expansão de sua frota naval, que está cada vez mais presente no Oceano Índico e Pacífico, desde o Mar do Sul da China, passando pela Baía de Bengal, ao Mar da Arábia e à Costa Oriental Africana, o que limita o espaço de projeção desejado por Nova Délhi.

Nesse sentido, pode-se observar que os planos navais indianos estão inseridos na ampla geopolítica global, a qual está alinhada com a estratégia norte-americana de conter a área de influência chinesa, tendo como metas próprias garantir um espaço para projetar-se também nesse tabuleiro que concentra a maior parte do comércio marítimo mundial.

Dito isto, é importante monitorar as cúpulas do QUAD e seus exercícios navais para entender seus planos e se essa ação pode gerar mais tensões entre esses atores. Portanto, a tendência para a dúbia política externa indiana ainda é de “não alinhamento”, ou de “política independente” como as autoridades indianas denominaram recentemente.

Por fim, é possível que a Índia continue a negociar com ambos (Rússia e Estados Unidos), de acordo com seus interesses e benefícios, até que seja pressionada de forma mais incisiva a abrir mão de uma das parcerias. Além disso, a Índia tem buscado contrabalancear o crescente poder da China na região, tanto do ponto de vista militar quanto econômico.

Porém, com o grande crescimento da economia, população (já passou a Chinesa), e influência Indiana, esse jogo de equilíbrio de Nova Délhi entre alianças de conveniência e não alinhamento aberto com grandes potências pode ser alterado em um futuro não muito distante. Os próximos capítulos na região do Indo-Pacifico serão certamente interessante.

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