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Como o Brasil com o Lula Está Tentando Criar uma Coalizão Mundial Contra o “Ocidente” em Detrimento da Ucrânia e Possivelmente de Democracias

  • Em seu terceiro mandato como presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, busca reaproximar Brasília de países não-ocidentais.
  • A possível expansão dos BRICS e a reaproximação do Brasil com a China, pode enfraquecer os países ocidentais e o dólar.
  • As declarações de Lula acerca de tópicos críticos da atualidade como a guerra na Ucrânia, causam alvoroço entre os líderes de Estado e possíveis mudanças no Sistema Internacional.


Durante os primeiros mandatos de Lula como presidente do Brasil (2003-2010), ele buscou fortalecer as relações internacionais do país e expandir sua influência global. Sua política externa foi caracterizada pelo multilateralismo, pela busca de uma maior autonomia e por uma ênfase nas relações Sul-Sul, ou seja, parcerias com países em desenvolvimento.

Em seu terceiro mandato (2023-2026), o foco da política externa de Lula parece estar na reconquista da credibilidade, previsibilidade e estabilidade do país diante de todo o mundo depois dos anos de Bolsonaro onde o Brasil era visto como um pária internacional ficando assim isolado.

Dito isto, observa-se que um dos caminhos que estão sendo trilhados pelo presidente é o da busca pela multipolarização global para que haja uma maior independência, não só do Brasil, mas de todos os países do Sul-Global em relação ao Ocidente. 

No entanto, a política internacional é uma corda bamba em meio a instabilidades, controvérsias e ânimos exaltados. Tendo isso em vista, nota-se um crescente desconforto, sobretudo no Ocidente, mediante as declarações do presidente referentes à guerra na Ucrânia, seu posicionamento acerca do fator Taiwan e sua crítica ao uso do dólar em transações comerciais. 

O Brasil tem um histórico de neutralidade nas Relações Internacionais

O Brasil possui um histórico de buscar a neutralidade nas relações internacionais em determinados períodos de sua história. Essa postura de neutralidade baseia-se principalmente na ideia de não intervenção nos assuntos internos de outros países e na busca pela paz e cooperação internacional.

Um dos marcos mais significativos dessa política de neutralidade ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O Brasil, sob o governo de Getúlio Vargas, adotou uma postura de neutralidade e não se envolveu diretamente no conflito. 

Apesar disso, manteve relações comerciais com países aliados, como os Estados Unidos e o Reino Unido, o Brasil se absteve de se unir às potências do Eixo, como a Alemanha nazista e o Japão.

Essa posição neutra do Brasil durante a guerra foi enfatizada pela criação do slogan “Só Deus é maior” e pelo estabelecimento de medidas como a censura à imprensa e a proibição de manifestações públicas de apoio a qualquer uma das partes em conflito. Essa neutralidade foi mantida até 1942, quando o Brasil sofreu ataques de submarinos alemães em suas águas territoriais, o que levou o país a declarar guerra às potências do Eixo.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, o Brasil retomou sua postura de neutralidade nas relações internacionais, buscando não se alinhar de forma rígida a nenhum bloco ou aliança militar. 

Essa abordagem foi expressa na política externa brasileira por meio de princípios como a não intervenção, a autodeterminação dos povos, o multilateralismo e a busca de soluções pacíficas para os conflitos.

Durante a Guerra Fria, o Brasil manteve uma política externa de não alinhamento, buscando estabelecer relações com países de diferentes ideologias e blocos, como os Estados Unidos, a União Soviética e países do Terceiro Mundo. 

Essa política de neutralidade e não alinhamento permitiu que o Brasil atuasse como mediador em conflitos regionais, como nas negociações de paz entre Chile e Argentina na disputa pelo Canal de Beagle, em 1978.

No entanto, é importante ressaltar que o Brasil não adotou uma neutralidade absoluta em todos os momentos de sua história. 

Em certos momentos, o país tomou posições mais incisivas e se envolveu em questões internacionais de forma mais direta, como nos casos da participação brasileira nas Missões de Paz das Nações Unidas e em processos de integração regional, como o Mercosul.

Com os BRICS, o Brasil começou a sair da sua posição de não alinhamento

Os BRICS representam um grupo de países que inclui o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O termo foi cunhado em 2001 pelo economista Jim O’Neill, do banco Goldman Sachs, para se referir a essas cinco economias emergentes que, em conjunto, possuíam um potencial significativo de crescimento econômico e influência global.

O grupo é caracterizado por sua importância econômica, demográfica e territorial. Juntos, esses países abrangem cerca de 41% da população mundial e aproximadamente 23% do PIB global, além de possuírem vastos recursos naturais e um enorme mercado consumidor.

O principal objetivo dos BRICS é promover a cooperação e o diálogo entre seus membros em questões econômicas, políticas e sociais, além de fortalecer sua posição no cenário internacional. Os líderes destes países se encontram anualmente em uma cúpula para discutir temas de interesse comum e buscar formas de aprofundar a cooperação entre eles.

As áreas de cooperação dos BRICS incluem o comércio, investimentos, finanças, ciência e tecnologia, energia, segurança e desenvolvimento sustentável. O grupo também tem como objetivo promover a reforma das instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, para torná-las mais inclusivas e representativas dos interesses dos países em desenvolvimento.

Desde a sua criação, os BRICS têm fortalecido sua presença global e se consolidado como um importante fórum de cooperação e coordenação entre países emergentes. Além das cúpulas anuais, os BRICS realizam reuniões ministeriais, encontros empresariais e promovem cooperação em áreas específicas, como educação, saúde e cultura.

Desde a volta de Lula à presidência, em 2023, outros países manifestaram interesse em se unir ao grupo, incluindo Argentina, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Egito, Bahrein e Indonésia, juntamente com duas nações da África Oriental e uma da África Ocidental – que não foram reveladas. Arábia Saudita e Irã estão entre os países que formalizaram o pedido. 

A viagem de Lula à China reativou a esperança da esquerda Brasileira de formar um contrapeso ao “Ocidente” (EUA e UE) no mundo

A viagem do presidente Lula à China, em abril de 2023, foi marcada por mensagens que indicam a direção de sua política externa em seu terceiro mandato. 

Tanto em seus discursos quanto em suas agendas, Lula demonstrou a intenção de continuar apostando em parcerias com o Sul-Global, ao mesmo tempo em que expressou críticas aos fóruns e organismos tradicionalmente influenciados ou controlados por potências como os Estados Unidos.

Nessa visita, o presidente declarou que busca mudar as regras da governança global, que historicamente têm favorecido países como os Estados Unidos e a Europa. 

Durante um encontro com o presidente do Comitê Permanente da Assembleia Nacional Popular da China, Zhao Leji, Lula expressou que os interesses do Brasil na relação com a China não se limitam apenas ao aspecto comercial, mas também ao político. Ele enfatizou o desejo de construir uma nova geopolítica que proporcione uma governança mundial mais representativa, dando maior voz às Nações Unidas.

Para reforçar seu ponto de vista, Lula defendeu a cooperação com países em desenvolvimento, criticou organismos multilaterais tradicionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e questionou a eficácia da Organização das Nações Unidas (ONU). 

Suas declarações também foram interpretadas por alguns líderes de Estado como uma alfinetada direcionada aos Estados Unidos, mostrando sua insatisfação com o status quo da ordem global.

No que se refere à expansão dos BRICS, além do seu papel de ser um contrapeso aos países do Ocidente, uma das possíveis razões para a atual candidatura de diversos países é que o bloco se empenha em manter os integrantes em pé de igualdade, com direitos iguais para falar, votar e tomar decisões. E isso não se parece com a maioria das alianças ocidentais, onde há quase sempre um papel dominante que tem a maior voz. 

No entanto, o possível alargamento dos BRICS expõe a mentalidade da Guerra Fria do Ocidente, que é difícil de ser disfarçada. Desde a realização da cúpula do BRICS em 2022, os meios de comunicação ocidentais têm enfatizado “o confronto entre o Leste e o Oeste”. Diante dessa polarização que só parece aumentar, Lula declarou que “fortalecer relações com a China não é romper com os Estados Unidos”. 

Uma fala que causou alvoroço internacional e que demonstra o posicionamento de Lula, no que diz respeito à Taiwan, foi sua declaração de apoio à China Comunista. Após o encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jinping, uma declaração conjunta foi divulgada em abril de 2023 em que o Brasil afirma considerar Taiwan como parte inseparável do território chinês.

O documento destaca que o Brasil adere firmemente ao princípio de uma só China e reconhece o governo da República Popular da China como o único governo legal representante de toda a China. Essa declaração vai contra a ideia de Ambiguidade Estratégica dos Estados Unidos (e de outros países) em relação a Taiwan, onde Washington diz que há somente uma China, mas não clarifica qual dos dois países é o representante legal. Assim, os EUA tentam não favorecer nenhum dos lados abertamente.

Mesmo com a fala controversa, Lula reitera o compromisso com a integridade territorial dos Estados e apoia o desenvolvimento pacífico das relações entre as duas partes do Estreito de Taiwan. 

Sem dúvidas, a China expressou grande apreço em relação a esse posicionamento. Entretanto, o presidente Joe Biden disse que os EUA defenderiam a ilha militarmente se a China atacasse e acredita-se que outros países ocidentais se uniriam nessa defesa, assim como tem acontecido na Ucrânia. A União Europeia e vários de seus países membros também criticaram as falas de Lula.

Outro posicionamento de Lula que causou repercussão internacional foi seu discurso durante cerimônia de posse formal da ex-presidente Dilma Rousseff no comando do Banco dos BRICS. Em sua fala, o presidente brasileiro criticou o uso do dólar em transações comerciais internacionais e defendeu o uso de uma moeda única entre os membros dos BRICS. 

‌Esta ideologia, pode ser um fator atrativo para países em desenvolvimento e talvez uma das razões para que tantos líderes tenham se candidatado ao grupo em 2023.

Além do poder de fala igualitário citado acima, prezado pelo bloco, o fator econômico pode ser, certamente, um fator decisivo para que os países do Sul-Global se unam contra a hegemonia do dólar americano neste setor, consequentemente, contra os Estados Unidos e seus aliados, vistos como beneficiários de longa data. 

Porém, é importante frisar que existe uma diferença entre buscar maior cooperação e assimilação econômica do que uma maior cooperação política. Faz parte da economia mundial democracias e autocracias engajarem em trocas comerciais, mas alianças ideológicas e políticas entre democracias e autocracias não é comum.

Sendo assim, é preocupante quando um país democrático e socialmente liberal como o Brasil visa a uma aproximação política maior com autocracias estabelecidas como a China, Rússia, Arábia Saudita entre outras onde há claras políticas de repressão a direitos individuais, de mulheres, de minorias como grupos LGBTQIA+, de liberdade de expressão, mídia, e à sociedade civil como um todo.

Uma maior aproximação política de Brasília de Lula e da esquerda Brasileira com autocracias pelo mundo somente para antagonizar o “Ocidente,” grupo esse formado por algumas das democracias mais liberais do mundo e da história da humanidade, pode levar o Brasil a um caminho perigoso e sem volta.

Como a declaração sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia por Lula leva o Brasil a se alinhar com autocracias na busca ideológica por enfraquecer os Estados Unidos

‌O presidente Joe Biden e Lula têm diferenças políticas significativas – que se acentuaram devido à busca de Lula pela multipolarização global  – especialmente em relação à Ucrânia. No entanto, eles temporariamente colocaram de lado essas discordâncias para formar uma frente unida contra as forças políticas locais nos EUA e no Brasil que tentam promover políticas mais autocráticas e até insurreição.

Entretanto, uma declaração de Lula acerca da guerra na Ucrânia irritou Washington, Bruxelas e muitas outras capitais pelo mundo. Após sua reunião com Xi Jinping, na China, Lula apelou para que os Estados Unidos e a Europa parassem de fornecer armas à Ucrânia e negociassem a paz.

Lula também defendeu que com a construção de um grupo de países comprometidos com a paz mundial e desvinculados do envolvimento na guerra, haverá uma busca para estabelecer um diálogo com a Rússia e a Ucrânia. Disse ainda: “No entanto, também é importante conversarmos com os Estados Unidos e a União Europeia. Precisamos convencer as pessoas de que a paz é o caminho a seguir.”

Todavia, Kiev, Washington, Bruxelas e outros aliados argumentam que um cessar-fogo neste momento deixaria a Rússia com controle sobre o território ucraniano que foi tomado à força (além de tentar expandi-lo), e que a Ucrânia tem o direito de buscar apoio militar ocidental para expulsar os invasores. 

Além disso, a proposta de Lula foi criticada pela Ucrânia, pois segundo Kiev, o Brasil estaria tratando “a vítima e o agressor” de maneira similar e convidou Lula a visitar e testemunhar pessoalmente as consequências da invasão russa. Posteriormente, Lula afirmou que nunca igualou a Rússia e a Ucrânia, que “todos achamos que a Rússia errou ao ter invadido a Ucrânia” e que quer escolher uma terceira via, para a construção da paz. 

Entretanto, a aparente busca pela “paz a todo custo” por parte de Lula parece ser provocada por uma certa ingenuidade. Lula deseja negociar um acordo com o presidente Putin e um governo Russo completamente questionável que 2 dias antes da invasão negava qualquer intenção militar, chamando o Ocidente de “esquizofrênico.”

Também é possível dizer que Lula estaria mais preocupado com a própria imagem e legado, buscando eventualmente ser nomeado ao prêmio Nobel da Paz. Essa estratégia inocente na melhor nas hipóteses e arrogante na pior delas, pode desencadear algumas consequências, como: 

  • comprometer valores e princípios, devido ao alinhamento com autocracias imperialistas;
  • perpetuar e incentivar injustiças;
  • restringir liberdades e direitos humanos se outras democracias forem invadidas por autocracias;
  • manter um status quo injusto;
  • criar riscos de escalada futura como no caso da China com Taiwan e até a Moldávia e Georgia em relação à Rússia. 

Portanto, é importante encontrar um equilíbrio entre a busca pela paz e a preservação dos valores fundamentais, garantindo justiça, equidade e resolução adequada das questões subjacentes para alcançar uma paz sustentável e duradoura que não seja cega e em detrimento de países mais fracos e vulneráveis. 

Como a ex-primeira ministra da Finlândia Sanna Marin declarou há alguns meses, existe uma forma muito simples de acabar o conflito, é só a Rússia sair da Ucrânia. Se isso ocorresse, literalmente a guerra acabaria no dia seguinte.

Porém, não é esse o objetivo de Moscou. Seu objetivo é destruir a nação e identidade Ucraniana. Para tal, a Rússia já deportou quase 20 mil crianças Ucranianas que foram forçadas a serem adotadas por pais Russos. Essa estratégia de limpeza étnica levou o Tribunal Penal Internacional – TPI a emitir um mandato de prisão contra o presidente Vladmir Putin e mais um oficial Russo por crimes de guerra.

Porém, além de busca pela paz a qualquer custo na Ucrânia partir de uma visão obtusa de Lula, essa estratégia também incentivará Pequim a eventualmente invadir Taiwan em um futuro próximo, esperando que países “neutros” como o Brasil formem uma aliança em busca pela paz, em detrimento da soberania e liberdade de Taiwan.

Geopolítica é um jogo de causas e consequências baseadas em jogadas passadas. Estratégias baseadas fundamentalmente na teoria do Liberalismo de Relações Internacionais onde somente a diplomacia e multilateralismo levam à paz duradoura, acabam sendo vítimas de países que seguem o conceito de Realismo em RI onde somente força militar garante a paz. Isso porque quando atores dessas duas vertentes entram em conflito, normalmente o que se baseia na força acima da diplomacia acaba sendo vitorioso.

Como a atitude de confrontar os EUA de Biden na questão Ucraniana pode ajudar Trump e a extrema direita Americana a voltar ao poder

Os eleitores dos Estados Unidos, tanto à direita como à esquerda, demonstram certa hesitação em se envolver novamente em conflitos armados no exterior. Porém, na questão de ajuda à Ucrânia, os Democratas e seus eleitores estão majoritariamente a favor da política de ajuda militar americana a Kiev.

Entretanto, com a aproximação das eleições de 2024 nos EUA e a candidatura do ex-presidente republicano (linha política conservadora de direita) Donald Trump, tem provocado a crescente antipatia de uma ala dos Republicanos mais tradicionais pelo apoio deles ao envio de armamento americano à Ucrânia.

Antes de tudo, é necessário evidenciar que as motivações pelas quais o presidente Lula e Donald Trump defenderam o fim do envio de armamentos para a Ucrânia possivelmente se diferem. 

Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, é conhecido por seu histórico de política nacionalista. Durante seu mandato, ele adotou uma abordagem focada em “America First” e uma política de imigração restritiva e xenofóbica, fundamentada na suposta necessidade de proteger as fronteiras do país e priorizar os cidadãos estadunidenses.

Além disso, o ex-presidente parece estar utilizando uma estratégia semelhante àquela que empregou em 2016, ao alertar sobre a exposição dos Estados Unidos a guerras estrangeiras. Ele está buscando despertar um sentimento de cansaço em relação ao envolvimento americano na Ucrânia, assim como fez durante os prolongados conflitos no Afeganistão e no Iraque.

No caso do presidente brasileiro Lula, ainda é difícil analisar suas ambições – com base em fatos – em seus pouco mais de 120 dias de governo. O tema da guerra e declarações recentes do presidente provocaram polêmica nos dias anteriores à visita de Lula a Portugal. 

Porém durante uma entrevista concedida à agência de rádio e televisão de Portugal (RTP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a importância de os países trabalharem em conjunto para desenvolver um plano de paz que leve os líderes russos e ucranianos à mesa de negociação, com o apoio dos Estados Unidos, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da União Europeia (UE).   

Dessa forma, Lula sugeriu a criação de um “grupo pela paz”, apoiado pelo presidente da França Emmanuel Macron. Além disso, em Portugal o presidente buscou esclarecer a posição do Brasil em relação ao conflito na Ucrânia, declarando que o país não adota uma postura ambígua, mas sim condena a invasão territorial russa de forma inequívoca. Ainda, Lula ressaltou que o Brasil não busca aliar-se à guerra, mas sim unir-se a um grupo de nações comprometidas com a construção da paz.

‌Ademais, Lula sugeriu a criação de um bloco de países mais abrangente, semelhante ao G20, para assumir a responsabilidade de discutir questões relevantes da atualidade, tais como a promoção da paz entre as nações, proteção ambiental, assuntos econômicos como inflação e taxas de juros, combate à violência, discurso de ódio nas plataformas digitais e o fortalecimento da democracia.

Em contraposição, Trump afirmou: “Antes mesmo de chegar ao Salão Oval, eu resolverei a guerra desastrosa entre a Rússia e a Ucrânia. E eu vou resolver isso de forma rápida e não vou demorar mais do que um dia”, disse Trump. “Eu sei exatamente o que dizer a cada um deles”, acrescentou ele, antes de insinuar uma estratégia potencial de ficar do lado do agressor na guerra: “Eu me dei muito bem com Putin”.

Desse modo, apesar dos rumores de que Lula estaria – mesmo que talvez sem a intenção – se alinhando aos discursos e à ideologia da extrema direita norte-americana no que se refere à guerra na Ucrânia, não dão indícios de se sustentar.  

Porém, mesmo que Lula não tenha tido a intenção de se alinhar ao discurso da extrema direita Americana, suas palavras e intenções em relação à Ucrânia são exatamente iguais às de Trump e outros políticos americanos mais à direita. Isso porque ambos acreditam que os EUA devem parar de mandar armas para Kiev se defender. Porém, como mencionado acima, essa estratégia levaria efetivamente a uma derrota militar de Kiev já que a Rússia não cessaria seus ataques militares até conquistar a capital do país.

Em outras palavras, tanto a “estratégia” de Trump e de Lula para acabar com a guerra na Ucrânia e “chegar à paz” levaria concretamente à destruição da nação e identidade Ucraniana e a vitória Russa, recompensando e incentivando a mentalidade imperialista de Moscou em detrimento de outros países vizinhos à Rússia que podem ser invadidos também no futuro.

Além disso, essa busca fundamentalista pelo fim do conflito manda uma mensagem à Pequim de que a China pode invadir e tomar Taiwan a força já que o “Ocidente” não iria intervir uma vez que o importante é sempre a “paz” ou ausência de conflito armado, independentemente das consequência para os povos invadidos e agredidos.

Na opinião desta publicação, essa é uma estratégia errada que só vai levar a mais conflitos futuros. Para entender essa relação, é só olhar na história e analisar a “política de apaziguamento” das potências Europeias em relação a Alemanha Nazista nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial.

Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra, e terão a guerra.” Winston Churchill

Por que a nova investida geopolítica do Brasil tentando criar um contraponto ao Ocidente é importante

Existem diferentes estruturas de poder global, com base no número e na distribuição de atores e pólos de influência. Em síntese, a estrutura global pode ser bipolar, unipolar ou multipolar: 

  • Mundo Unipolar: Há um único poder dominante com influência global, geralmente representado por uma superpotência. Exemplo: Estados Unidos após a Guerra Fria.
  • Mundo Bipolar: Existem dois pólos de poder competindo e exercendo influência global, com uma divisão clara entre os blocos. Exemplo: Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria.
  • Mundo Multipolar: Vários atores e polos de poder compartilham a influência global, sem uma supremacia absoluta. Há diversidade de interesses, perspectivas e abordagens. Exemplo: Crescimento de países emergentes como China, Índia e Brasil. Porém, como a China já é a segunda maior economia do mundo e pode passar os EUA no futuro, esse sistema seria mais semelhante à volta de um mundo bipolar entre os EUA e a China.

Cada configuração tem implicações distintas para a política mundial, a estabilidade internacional e as dinâmicas de cooperação e conflito. Sabendo disso, a nova investida geopolítica brasileira é relevante por diversos motivos. Alguns deles são: 

  1. Diversificação de parcerias;
  2. Ampliação de influência;
  3. Resposta à mudanças na Ordem Global;
  4. Busca de Equilíbrio.

Ao buscar uma postura mais independente em relação ao Ocidente, o Brasil cria possibilidades de diversificar suas parcerias internacionais e reduzir sua dependência de um único bloco geopolítico. Isso pode trazer benefícios econômicos e políticos, permitindo à Brasília explorar oportunidades em diferentes regiões do mundo.

Com essas novas possibilidades, o país pode estabelecer alianças estratégicas com países não ocidentais, aumentando sua influência no cenário internacional. Isso pode permitir que o país participe de decisões globais e tenha maior peso nas negociações internacionais, contribuindo para moldar as agendas políticas e econômicas de maneira mais favorável a seus interesses.

Acredita-se que a ordem global está passando por mudanças significativas, especialmente com a ascensão da China no cenário internacional, causando um declínio relativo do Ocidente e evidenciando o surgimento de novos atores globais. Nesse contexto, o Brasil busca adaptar sua política externa e aproveitar as oportunidades que surgem com a ascensão de outros pólos de poder, como os países do BRICS.

O contraponto ao Ocidente pode ser visto como uma estratégia para buscar um equilíbrio de poder mais justo e multipolar no sistema internacional. Ao se posicionar como um ator independente, o Brasil busca promover uma ordem mundial mais equitativa, onde diferentes perspectivas e interesses sejam considerados.

É importante observar que essa investida geopolítica do Brasil também tem suas críticas e desafios. Essa estratégia de uma maior busca por equilíbrio de poder mundial não pode ser feita a despeito de valores democráticos e liberais e com uma busca pelo fim de conflitos a qualquer custo, independente das consequências para os países invadidos e para o incentivo a futuros conflitos que essa política possa a levar.

A Ordem Liberal Mundial estabelecida depois com fim da Segunda Guerra Mundial está longe de ser perfeita. Mas trouxe décadas de desenvolvimento econômico e social sem precedentes na história da humanidade além de ter reduzido a pobreza mundial a níveis nunca antes alcançados.

Além disso, mesmo não tendo eliminado guerras totalmente, essa ordem trouxe os 70 anos mais pacíficos da história do planeta. Esperamos que investida de Lula traga melhorias para a Ordem atual, e não uma volta a um mundo pré-Segunda Guerra mundial onde guerras e imperialismo eram o normal e não a exceção.

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