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Como a Saída da Armênia da CSTO é um Duro Golpe na “OTAN dos Ex-Países Soviéticos” Liderada pela Rússia

  • A CSTO, liderada pela Rússia, foi criada para garantir a segurança entre as ex-repúblicas soviéticas, imitando a estrutura e objetivos da OTAN;
  • A saída da Armênia da CSTO ressalta os problemas estruturais e as tensões internas dentro da aliança;
  • O Cazaquistão demonstrou preocupação com futuras ações da Rússia, assim como outros membros, podendo resultar no enfraquecimento e até o fim da CSTO.

A Organização do Tratado de Segurança Coletiva, muitas vezes chamada de “OTAN dos Ex-Países Soviéticos”, foi criada para garantir a segurança coletiva entre as ex-repúblicas soviéticas. Liderada pela Rússia, a CSTO visava replicar a estrutura da OTAN, mas voltada para a proteção mútua e a cooperação militar contra ameaças externas e internas. 

No entanto, a aliança tem enfrentado desafios crescentes que culminaram recentemente na saída da Armênia. Esta decisão da Armênia não só reduz o número de membros, mas também expõe problemas estruturais e tensões internas que ameaçam a eficácia e a unidade da organização.

O Que é a CSTO e Por Que a Armênia Saiu da Aliança?

A CSTO começou a atuar formalmente em 2002, com o objetivo de proteção e cooperação militar contra ameaças internas e externas. No início, a aliança contava com nove países: Rússia, Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão, Uzbequistão, Azerbaijão e Geórgia, todas ex-Republicas Soviéticas. No entanto, Azerbaijão, Geórgia e Uzbequistão saíram ao longo dos anos, reduzindo o número de membros ativos.

No caso da recente saída da Armênia, ela pode ser explicada em grande parte pela frustração de Yerevan com a falta de apoio durante o conflito de Nagorno-Karabakh.

Em 2021, a Armênia solicitou ajuda da CSTO contra o Azerbaijão, mas a organização recusou, argumentando que o conflito não ocorreu dentro das fronteiras armênias, mas sim em Nagorno-Karabakh, uma região que era disputada entre os dois países mas internacionalmente reconhecida como pertencente a Baku. A Armênia viu essa resposta como uma traição, pois esperava mais apoio de seus aliados, principalmente a Rússia.

Após se sentir vulnerável e isolada dentro da CSTO, a Armênia começou a buscar novos parceiros. Como dito anteriormente, a falta de apoio da Rússia durante a guerra de Nagorno-Karabakh abalou a confiança da Armênia na aliança. A Rússia, tradicionalmente vista como a líder da CSTO, escolheu não intervir diretamente, o que foi interpretado como um sinal de que os interesses da Armênia não eram prioridade para Moscou.

Decepcionada, a Armênia se aproximou dos Estados Unidos e da França, que ofereceram um apoio significativo ao país. A França, por exemplo, aproveitou a oportunidade para fortalecer seus laços com a Armênia, em parte como retaliação à Rússia por sua atuação na região da África conhecida como FrançAfrique. 

Essa mudança geopolítica demonstra um reposicionamento inicial da Armênia da esfera de influência russa para a zona de influência mais ocidental.

Por Que a CSTO Tem se Enfraquecido nos Últimos Anos?

A CSTO tem visto sua aliança diminuírem com a saída de alguns membros devido a falta de resposta eficaz à crises e a invasão Russa da Ucrânia. A guerra na Ucrânia, por exemplo, aumentou o medo entre os países próximos da Rússia, que temem ser os próximos alvos da Rússia. 

Por exemplo, o Cazaquistão se preocupa com possíveis ações futuras da Rússia, especialmente após a intervenção limitada da CSTO nos protestos de janeiro de 2022.

Em janeiro de 2022, o Cazaquistão enfrentou grandes protestos motivados por aumentos nos preços de combustíveis, que rapidamente se transformaram em um movimento mais amplo contra o governo. O presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, solicitou a ajuda da CSTO para restaurar a ordem. A CSTO respondeu rapidamente, enviando tropas para ajudar a estabilizar a situação.

Apesar da rapidez da intervenção, muitos observadores e membros do governo cazaque perceberam a ação como um meio de proteger os interesses russos na região, em vez de fornecer um apoio genuíno ao governo local. A intervenção foi vista como limitada, tanto em termos de número de tropas quanto de duração, levantando dúvidas sobre a disposição da CSTO de fornecer assistência plena em tempos de crise. 

Além disso, a presença militar russa foi percebida como um lembrete da influência de Moscou, aumentando as preocupações de que a Rússia poderia usar a CSTO como uma ferramenta para intervir em assuntos internos dos países membros sob o pretexto de manter a estabilidade.

É importante destacar que a região de Baikonur no Cazaquistão é controlada pela Rússia. Em 2005, o Cazaquistão fez um acordo com a Rússia, extendendo o aluguel da região para que a Moscou a use e administre até 2050. 

Baikonur é importante pois é a única base de lançamento de foguetes russos para a Estação Espacial Internacional. O “Baikonur Cosmodrome” seria para a Rússia o que o Centro Espacial do Cabo Canaveral na Florida é para os EUA. Por exemplo, a visita ao local precisa ser autorizada pela Estatal russa Roscosmos.

A presença militar russa constante nessa região de Baikonur causa grande desconforto ao Cazaquistão, especialmente em face da postura imperialista de Moscou na guerra da Ucrânia. Baku tem medo que Baikonur possa virar um dia uma espécie de Cavalo de Tróia Russo.

Essa situação fez com que os membros da CSTO começassem a ver a aliança como um mecanismo de defesa pouco confiável, devido à liderança de Putin e ao medo crescente de serem os próximos países a serem invadidos.

Outro problema são os acordos de armas da Rússia e da Bielorrússia com o Azerbaijão.

Em 2022, Putin fez um acordo de armas com o Azerbaijão, considerado uma traição pela Armênia, que até então era um aliado fiel da Rússia. Esse acordo incluía a venda de tecnologias militares avançadas ao Azerbaijão, que já estava em guerra com a Armênia sobre Nagorno-Karabakh. 

A Bielorrússia, também membro da CSTO, participou do acordo e desempenhou um papel crucial ao fornecer armas e equipamentos militares ao Azerbaijão entre 2018 e 2022. Este movimento foi visto como uma grande quebra de confiança por parte de Yerevan, pois a Bielorrússia modernizou artilharia e forneceu sistemas de drones usados contra a Armênia.

Esse movimento de Moscou e Minsk levantou mais dúvidas sobre as prioridades da CSTO e sua lealdade aos seus aliados membros, como a Armênia. Fortalecer militarmente um adversário direto da Armênia fez com que outros membros da aliança também começassem a duvidar da confiabilidade da CSTO como aliança de segurança.

Quais São as Perspectivas Futuras da CSTO?

O futuro da CSTO parece incerto e cada vez mais fraco. A saída da Armênia não só diminui o número de membros, mas também mostra a crescente desconfiança entre os países da aliança e a influência dominante da Rússia. Se os membros da CSTO não tivessem medo de uma Rússia imperialista, a organização poderia ter uma chance de se reformar e se fortalecer.

Para a CSTO sobreviver e prosperar, a aliança precisaria lidar com as preocupações de seus membros e se adaptar às novas realidades políticas e de segurança. A dominância da Rússia e a falta de confiança entre os países enfraquece a coesão e a eficácia da aliança. A incapacidade de oferecer apoio em momentos críticos, torna a organização ainda mais fraca.

Se a CSTO continuar a enfraquecer, seus membros podem buscar novas alianças e parcerias que ofereçam maior segurança e apoio, seja com o Ocidente, com a Turquia, ou com a China, levando ao enfraquecimento da influência Russa entre muitas das ex-Repúblicas Soviéticas. Dessa forma, a saída da Armênia pode ser um sinal para outros países membros reconsiderarem suas alianças e explorarem alternativas fora da esfera de influência russa.

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