- Diversos países europeus estão aumentando o investimento em equipamentos militares devido à guerra na Ucrânia.
- A Força-Tarefa Conjunta de Aquisições foi proposta pela Comissão Europeia, tendo em vista uma maior integração da indústria bélica da região.
- A integração da indústria de armamentos regional pode levar o bloco europeu a uma menor dependência da importação de armamento de alta tecnologia dos EUA e maior autonomia geopolítica.
Desde a invasão da Rússia na Ucrânia, muitos países da União Europeia (UE) aumentaram seus orçamentos militares, visando a segurança e defesa de seus territórios.
Porém, a falta de integração militar e da indústria bélica entre os países europeus dificultou até mesmo a ajuda – em forma de equipamentos militares – enviada para a defesa da Ucrânia pelos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Desse modo, a Comissão Europeia propõe que os Estados-membros da UE atuem de maneira mais conjunta na área de produção de armamentos, de defesa e segurança do bloco, para melhorar a eficácia dos gastos e gerenciar as necessidades de forma unificada.
O que é a “Defence Joint Procurement Task Force” ou Força-Tarefa Conjunta de Aquisições de Defesa/Armamento?
A Força-Tarefa Conjunta de Aquisições foi proposta pela Comissão Europeia em 18 de maio de 2022 e foi estabelecida imediatamente. O objetivo é auxiliar os países da União Europeia a coordenar suas necessidades de aquisição de armamento de curto e longo prazo, com a finalidade de evitar uma competição entre diferentes fornecedores de armamentos dentro do bloco, evitando assim maiores custos de aquisição e a escassez de suprimentos no contexto da guerra na Ucrânia.
As formas de suporte podem variar entre a centralização de informações, o fornecimento de suporte metodológico ou o gerenciamento de compras de grandes sistemas de armas. A Agência Europeia de Defesa (EDA), que também está convidada a participar das reuniões do Grupo de Trabalho, estará envolvida e poderá facilitar as aquisições conjuntas de sistemas bélicos de curto prazo.
A Força-Tarefa será composta por funcionários nacionais de cada país e presidido pela Presidência rotativa do Conselho da UE, que atualmente está sob comando da República Tcheca.
A Força deve atuar de forma provisória, apesar de Thierry Breton – atual Comissário para o Mercado Interno da União Europeia e formulador da proposta, junto a Josep Borrell, Alto Representante da União para Relações Exteriores e Política de Segurança – pressionar por ações permanentes.
Como a Guerra na Ucrânia acelerou a integração da Indústria Bélica da União Europeia?
A guerra em território ucraniano foi um momento decisivo para a segurança europeia, confirmando que a Rússia de Putin tem ambições expansionistas que se estendem por grande parte da Europa Oriental.
Além disso, o conflito evidenciou outras ameaças à segurança euro-atlântica, e lacunas no setor de defesa da União Europeia no médio e longo prazo. Algumas dessas lacunas são as áreas de domínio aéreo, domínio terrestre, domínio marítimo e defesa cibernética.
Ademais, a insegurança regional, energética e a ameaça econômica e militar chinesa, também representa problemas significativos para a UE e a OTAN que criou o seu Novo Conceito Estratégico.
No contexto da aquisição e fornecimento de grandes sistemas de armas, a Europa acabou por ficar com uma indústria bélica pulverizada entre diferentes fornecedores nacionais dos muitos diferentes membros do bloco. Devido a essa pulverização e ineficiência em produzir tanques, caças ou outros sistemas de armas de qualidade equiparável aos Americanos, muitos dos membros da União Europeia acabaram dependendo de armamentos exportados por Washington, e não Bruxelas.
Portanto, os bilhões de euros gastos com ajuda militar para a Ucrânia no ano de 2022, evidenciaram a necessidade de investimento e modernização das forças militares europeias, especialmente nos setores de conectividade, vigilância e proteção e de mobilização militar.
A necessidade de ajudar Kiev com equipamentos militares está sendo um forte incentivo para uma melhor coordenação do investimento em defesa a nível europeu, considerando que quando Putin atacou Zelensky em fevereiro de 2022, os gastos com equipamentos militares aumentaram à nível nacional nos países membros da UE.
Como consequência, essas compras mostraram o quão uma maior integração da indústria bélica Europeia é importante. E para além dos gastos militares já mencionados, já se pode prever os futuros gastos que estão prometidos a Kiev para 2023.
Quais os benefícios, eficiências, e agilização de processos que uma maior integração da indústria de armamentos Europeia pode trazer?
A proposta da Comissão Europeia para que os Estados-membros da UE aumentem seus investimentos em defesa de forma conjunta, poderá reforçar os laços entre esses países.
Da mesma forma que o bloco se uniu para comprar vacinas durante a pandemia do COVID-19 e assim como a UE pretende agir na compra de gás natural, a Comissão se propôs a melhorar a eficácia das despesas em defesa e a gerenciar as necessidades de aquisição de cada país no curto prazo.
Além disso, os orçamentos de defesa da Rússia e China dispararam na última década, deixando a UE vulnerável e com suas capacidades militares atrasadas. Então, esta será a oportunidade ideal se o bloco quiser ser respeitado tanto como um forte rival militar com um grande fornecedor internacional de armamentos.
A curto prazo, a comissão deseja reabastecer os estoques de armas, ao mesmo tempo em que substitui equipamentos da era soviética e reforça os sistemas de defesa aérea e de mísseis.
Depois, reforçar as reservas de drones e veículos blindados, ao mesmo tempo em que aumentam as capacidades de espaço e defesa cibernética. Por fim, as forças marítimas dos Estados membros também serão fortalecidas.
O quão melhor se essa reposição de estoque e novas aquisições forem feitas por grandes “campeões” da indústria bélica Europeia e não empresas estrangeiras.
Quais são os obstáculos para a maior integração bélica da UE?
Um dos maiores obstáculos a serem ultrapassados é a fragmentação tanto militar quanto da indústria bélica europeia. A guerra na Ucrânia destaca como a falta de equipamentos totalmente padronizados pode ser um problema para as forças ocidentais em um conflito, mesmo que países Europeus da OTAN já tenham um grande grau de padronização no que tange calibre de munições e interoperabilidade de sistemas de comunicações.
A UE tem a necessidade de alavancar seu financiamento para subsidiar e assim incentivar seus integrantes a adotar a padronização e a interoperabilidade na produção, fornecimento e aquisição de grandes sistemas de armas para suas Forças Armadas.
Essa maior integração das indústrias bélicas nacionais dos estados membros da união trará eficiência na pesquisa, desenvolvimento e produção de armamentos o que leva à capacidade de produzir armamentos de ponta com maior tecnologia e que sejam mais atraentes para os estados membros da UE e para potenciais importadores de armas pelo mundo.
Essa maior eficiência e maior atratividade internacional levará a ganhos de escala na produção, o que leva a vantagens econômicas em si. Isso não ocorre no momento devido à grande fragmentação na produção e fornecimento de um mesmo tipo de sistema de armas, como tanques, jatos de combate e sistemas de artilharia, por exemplo.
A lista a seguir demonstra alguns dos diferentes tipos de armamentos dentro de um mesmo bloco, a União Europeia que competem entre si por compradores e operadores:
- Carro de combate (Main Battle Tank) – existem 8 diferentes modelos, 6 deles produzidos na Europa;
- Veículo de combate de Infantaria (Infantry Fighting Vehicles) – existem 11 diferentes modelos, todos eles produzidos na Europa;
- Obuses autopropulsados (Self-Propelled Howitzers) – existem 7 diferentes modelos, 5 deles produzidos na Europa;
- Aeronaves de caça (Fighter Aircraft) – existem 10 diferentes modelos, 8 deles produzidos na Europa;
- Destruidores e Fragatas (Destroyers and Frigates) – existem 26 diferentes modelos, todos eles produzidos na Europa;
Desse modo, fica evidente a necessidade do bloco europeu de padronizar mais a produção e aquisição de seus equipamentos militares para que haja uma maior eficiência e ganhos de escala na indústria bélica Europeia.
Por que uma indústria bélica Europeia mais integrada é importante e fortalece o poder geopolítico da Europa no mundo?
A integração da indústria bélica europeia poderá resultar em pontos positivos para a União. Com o investimento conjunto em defesa, a futura tendência é que o bloco se fortifique em vários aspectos.
O primeiro e mais óbvio ponto é que a Europa deixará de ter uma indústria de defesa fragmentada e ineficiente para ter uma indústria bélica mais integrada e com maiores ganhos de escala. Isso aumentará a qualidade e valor dos armamentos produzidos, deixando a UE menos dependente de exportadores de armas de fora do bloco.
Esse maior desenvolvimento e integração da indústria de armamentos da UE poderá tornar a União uma campeã da indústria bélica mundial. Como já escrevemos sobre o enfraquecimento da indústria bélica da Russia devido a guerra na Ucrânia, ter uma forte indústria de defesa garante parcerias e alianças pelo mundo já que a exportação de armamento cria dependências do operador em relação ao fornecedor. No caso da UE, isso aumentaria o seu soft power pelo mundo.
Outro ponto é a possibilidade de melhor visão geral da defesa a nível da UE, assim como suas despesas, a identificação de lacunas, colaboração e integração regional, diminuindo desconfianças entre os aliados e aumentando a transparência.
A integração da indústria bélica Europeia faz parte de uma maior integração das forças armadas da UE em si. Uma das consequências mais evidentes destes dois processos é a maior segurança da região, já que o bloco poderá responder aos conflitos e crises externas com maior rapidez e eficácia, desenvolver a capacidade militar dos aliados e, consequentemente, proteger a UE e seus cidadãos.
Por fim, esses dois processos resultarão em uma menor dependência da Europa em relação à OTAN e aos Estados Unidos tanto para defesa como para o fornecimento de sistemas de defesa de alta tecnologia. Isso reflete de maneira positiva para a região, pois resultará em uma maior autonomia militar e estratégica, o que leva a um fortalecimento do poder geopolítico da União Europeia pois será uma maior potência militar e fornecedora de armas.
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