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O Novo Conceito Estratégico da OTAN: Como a Invasão Russa da Ucrânia deu uma Nova Vida e Fortalecimento à OTAN.

O “Conceito Estratégico da OTAN” é um documento formulado a cada dez anos, com o objetivo de delinear e formalizar as metas e os deveres securitários essenciais da aliança militar.

No documento formulado em 2010, a aliança militar citava a Rússia como “parceira estratégica”. Entretanto, no documento atual, elaborado em Madri em Junho de 2022, a OTAN aponta a Rússia como a maior ameaça para a sua existência. 

No Conceito Estratégico de 2010, a China não foi mencionada. Já em junho de 2022, o país foi descrito como um desafio aos “interesses, segurança e valores” dos aliados, segundo o Politico.  Ademais, o Secretário-Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, afirma que pela primeira vez o encontro em Madri debaterá “os desafios que Pequim representa para a nossa segurança, interesses e valores”, de acordo com a BBC.

Nato Summit 2022
Fonte: NATO

 

Quais são os principais novos elementos do novo Conceito Estratégico da OTAN de 2022 e outras ações para o seu fortalecimento? 

Reunidos em Madri, no dia 29 de junho de 2022, os Chefes de Estado e de Governo na OTAN especificaram quais são as três principais funções da aliança: dissuasão e defesa;  prevenção e gestão de crises; e segurança cooperativa.  

Para isso, a OTAN compartilhou seus planos de aumentar vertiginosamente o número de soldados em alta prontidão, de 40 mil homens, para o gigante número de 300 mil homens e Stoltenberg diz que esse aumento surgiu de uma ameaça direta da Rússia à segurança europeia.

Na cúpula, foi determinado que um quartel-general estadunidense será transferido para a Polônia permanentemente. Enquanto isso, navios de guerra dos EUA adicionais serão alocados na Espanha, mais de seus jatos de combate serão enviados ao Reino Unido e soldados adicionais partiram para a Romênia. 

Joe Biden, Presidente dos EUA, assevera que a OTAN será “fortalecida em todas as direções e em todos os domínios – terra, ar e mar”. Biden reafirmou o pacto de “defender cada centímetro” do território da aliança, e diz: “com isso queremos dizer que um ataque contra alguém, é um ataque contra todos”.

Segundo a BBC, as novas medidas da OTAN incluem:

  • Impulsionar a frota de contratorpedeiros navais dos EUA alocados na Espanha de quatro para seis;
  • Uma “brigada rotacional” adicional na Romênia, composta por 3.000 combatentes e outra equipe de combate de 2.000 pessoas;
  • Mais dois esquadrões de jatos furtivos F-35 para o Reino Unido;
  • Defesa aérea adicional e outras capacidades na Alemanha e na Itália.

O 5º Corpo do Exército dos EUA que atualmente está sediado em Fort Knox, Kentucky – EUA, será transferido para a Polônia em breve.

Nesse meio-tempo, o Reino Unido quase duplicou as dimensões de sua presença militar na Estônia, com aproximadamente 1.600 soldados no país. Além disso, estão sendo disponibilizados mais navios de guerra, caças e forças terrestres para a defesa da aliança. Porém, o Ministro de Defesa do Reino Unido não detalhou os números, pois declarou que eles seriam “militarmente sensíveis”.

Na reunião de Madri, as lideranças dos Estados Unidos e Reino Unido abordaram, também, a questão chinesa com rigidez. Declararam que uma nova linguagem “forte” será instaurada, visto que eles acreditam que a China é uma ameaça crescente de ataque contra a ilha democrática de Taiwan

Entretanto, a França e a Alemanha propõem adotar medidas mais contidas em relação à China, segundo o que os diplomatas da OTAN disseram à agência de notícias Reuters. Essa atitude mais conciliadora das duas principais economias da União Europeia ocorre principalmente pelo desejo de não prejudicar as relações comerciais com Pequim. 

 

Como a invasão Russa da Ucrânia “saiu pela culatra” para Putin e fortaleceu a OTAN ao invés de enfraquecê-la?

Dentre os principais motivos, defendidos por Vladimir Putin, para a invasão da Rússia à Ucrânia estão a expansão da OTAN nos países do Leste Europeu, a possibilidade de adesão da Ucrânia ao grupo e a busca de Putin por um restabelecimento da zona de influência da antiga União Soviética. 

Portanto, Putin gostaria de impedir que se formasse um “cerco” na fronteira russa, que se aproximaria ainda mais com a adesão da Ucrânia à aliança. Todavia, a atitude é vista como desrespeitosa à soberania Ucraniana, que deveria ter o direito de decidir suas alianças. 

Entretanto, “o tiro saiu pela culatra”, e no lugar de dividir ou enfraquecer a OTAN – como o esperado –, a reação provocada foi o completo oposto. Após reunião de Madri, a aliança declarou a Rússia como “sua ameaça mais direta” e os países-membros não estão medindo esforços para manter a segurança da Europa através da colaboração com a Ucrânia, tornando a OTAN, ironicamente, ainda mais forte e unida. 

O maior exemplo dessa inversão de objetivos é a aderência da Suécia e da Finlândia ao bloco. Após décadas de neutralidade, os países nórdicos estão prontos para se unir à aliança militar, depois que a Turquia removeu seu veto ao acordo. 

Em vista disso, ao tentar evitar um cerco na sua fronteira e enfraquecer a aliança militar do Atlântico Norte, a Rússia acabou por unir, fortalecer e expandir a OTAN. O Secretário-Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, diz que “a porta está aberta e que a união da Suécia e da Finlândia ocorrerá”.

 

De uma OTAN sem carros de combate americanos na Europa e “em morte cerebral”, segundo Macron, para uma aliança revigorada.

A invasão de Moscou na Ucrânia provocou uma reação imediata e coordenada da OTAN, reorganizando a aliança que, em 2019, o Presidente Francês, Emmanuel Macron, afirmou que sofria de “morte cerebral”. 

Da mesma forma depreciativa, o ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contestou continuadamente sobre o valor da OTAN e sugeriu até retirar o país da aliança, durante seu mandato. 

Ao contrário de Macron, a Chanceler Alemã, Angela Merkel, reconhece a importância da aliança dizendo que “a OTAN é tão importante para a Alemanha agora quanto era durante a Guerra Fria”, em 2019

Para se ter uma ideia de como a OTAN/EUA estavam se desengajando da Europa, em 2013, após 69 anos de história norte-americana de basear seus os principais carros de combate (famosos “tanques”) na Alemanha, os últimos 22 carros de combate embarcaram de volta para os EUA, finalizando assim sua missão em solo alemão. 

Os carros de combate Abrams fazem parte das principais características de defesa durante a Guerra Fria e coincidiu com a inativação de 2 agrupamentos de tropas – das mais fortes do Exército norte-americano – na Alemanha.

No auge da Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria, a Alemanha era a casa de 20 divisões blindadas da OTAN, ou aproximadamente 6.000 carros de combate. Portanto, a retirada dos EUA de um dos seus principais sistemas militares do teatro Europeu, foi um momento histórico na diminuição da presença da OTAN no continente.  

Todavia, após a invasão russa na Ucrânia, o “renascimento” da OTAN se mostra imprescindível para a segurança da Europa e demonstra que a aliança militar ainda se faz necessária e de extrema importância. 

 

A futura tendência da OTAN, a aliança militar mais poderosa da história da humanidade.

Após a retirada do veto imposto pela Turquia na adesão da Suécia e da Finlândia à OTAN, os líderes já têm um resultado histórico à vista. O sinal verde dado pelo presidente Turco Erdoğan, abriu as portas para que os países se unam estrategicamente à aliança, criando um cerco ainda mais poderoso contra a Rússia. 

O erro estratégico de Putin, o deixou ainda mais vulnerável no Sistema Internacional, comprometendo sua estabilidade militar e política. Com a adesão dos países nórdicos, e a maior cooperação entre a OTAN e a Ucrânia em termos bélicos e de inteligência –, a Rússia se vê cada vez mais “enforcada” e de mãos atadas frente à sua grande oposição. 

Se outrora Vladimir Putin tinha o objetivo de aumentar sua influência na “esfera de influência” da antiga União Soviética, hoje países como Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Hungria e República Tcheca, que tradicionalmente gravitavam sob a órbita de influência de Moscou, se alinharam quase que completamente com o Ocidente, talvez com a exceção da Hungria que ainda sofre muita influência de Moscou.

A “Cortina de Ferro” que na Guerra Fria designava a separação, primeiro ideológica e depois física, estabelecida na Europa após a Segunda Guerra Mundial – entre a zona de influência soviética no Leste e os países do Oeste – caiu fisicamente e em grande parte ideologicamente em 1989 com o Muro de Berlim. 

Entretanto, até recentemente a influência político-ideológica continuava enraizada em alguns países do Leste Europeu. Mas hoje, em 2022, alguns países ocidentais retomam as teorias de contenção arquivadas após o fim da União Soviética. 

Nota-se que a OTAN não medirá esforços para manter a segurança na Europa, conter a escalada russa na Ucrânia e até mesmo conter a China em Taiwan, ganhando um papel estratégico e histórico ainda maior que o originalmente previsto. 

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