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7 Exemplos de Como a Arábia Saudita Está se Abrindo para o Mundo para Virar uma Nova Dubai

  • A conservadora Arábia Saudita busca abrir suas fronteiras para o mundo, visando diversificar sua economia que hoje é baseada no petróleo;
  • O príncipe saudita busca transformar o país em uma zona econômica futurista e destino de turistas do mundo inteiro;
  • Com o desenvolvimento social e econômico, além do investimento em infraestrutura e cultura, o país terá cidades que competirão com Dubai.

A Arábia Saudita tem sido tradicionalmente uma sociedade conservadora e fechada para o mundo. No entanto, é um dos países mais importantes e influentes do Oriente Médio, especialmente por suas grandes reservas de petróleo. 

Todavia, apesar de a economia saudita ser fortemente dependente do petróleo, o governo está empenhado em diversificá-la e aprimorá-la para o futuro, fazendo com que a abertura para o mundo seja uma parte importante desse objetivo. 

Portanto, essa abertura é uma grande oportunidade para que o país se torne um centro de liderança no Oriente Médio e uma fonte de soluções inovadoras e avanços tecnológicos, podendo até competir com Dubai, localizada nos Emirados Árabes Unidos. 

Por quê a Arábia Saudita é fechada e por quê quer se abrir?

A Arábia Saudita é considerada um país relutante à globalização e alguns dos motivos podem ser: 

  • Sua Monarquia Absoluta;
  • O Wahabismo saudita;
  • A regulamentação da internet e da mídia.

O país é governado por uma monarquia absoluta, detentora do poder político e de todas as instituições essenciais do país, incluindo o judiciário, o exército, a mídia e os serviços de segurança. Como resultado, a sociedade saudita é fortemente controlada e há restrições rigorosas à liberdade de expressão.

Além disso, a Arábia Saudita é conhecida por sua interpretação conservadora do Islã, o wahabismo. A doutrina é uma ramificação do islã, criada por Muhammad ibn Abd al-Wahhab, que viveu na Arábia Saudita no século XVIII. Al-Wahhab formou uma aliança política com a família Saud, o que permitiu a disseminação do wahabismo em toda a península arábica.

O wahabismo enfatiza a purificação da fé islâmica e aplica leis sociais rigorosas e abrangentes, incluindo as que regulam o vestuário, as interações entre gêneros e a prática religiosa. 

E embora tenha uma forte base de seguidores na Arábia Saudita, o wahabismo também é visto como uma influência negativa por muitos outros muçulmanos, que acreditam que sua interpretação restrita e rigorosa do Islã não reflete a diversidade e a tolerância do Islã enquanto religião.

Outro ponto que enfatiza a rigidez da Arábia Saudita é sua estrita regulamentação da internet e da mídia, o que limita a liberdade de informação e expressão. As pessoas que expressam opiniões críticas do governo ou da sociedade saudita podem ser presas ou punidas de outras formas. 

Em contrapartida, alguns dos fatores que contribuem fortemente para a abertura do país são: 

  • A Primavera Árabe;  
  • A internet e as mídias sociais;
  • A dependência do petróleo;
  • O governo de Mohammed Bin Salman.

A Primavera Árabe, que começou em 2010 na Tunísia, teve um impacto significativo em Riad e, embora tenha sido minimizado pela forte repressão do governo, o movimento, que foi motivado por demandas por democracia, direitos humanos e mudanças sociais, inspirou alguns sauditas a questionar a forma como o país é governado e a exigir mudanças políticas e sociais.

Concomitantemente, a internet e as mídias sociais também têm dado a muitos sauditas a oportunidade de observar o mundo exterior e se conectar com pessoas de outros países. Isso pode contribuir para a ampliação da visão de mundo da sociedade e estimular o questionamento perante às normas e restrições da sociedade.

Além disso, a internet tem sido uma plataforma importante para a organização e mobilização de ativistas e grupos sociais, embora tenha sido fortemente limitada pelo governo.

Em suma, a internet acaba realizando um um papel duplo na abertura da Arábia Saudita. Por um lado, as redes são regulamentadas rigorosamente pelo governo a fim de evitar críticas, mas por outro lado a internet fornece acesso à informação e conexão com o mundo exterior, fomentando questionamentos e mudanças sociais.

Outro fator crucial é a dependência econômica de Riad em relação ao petróleo, por isso, o país está se abrindo para o mundo com o objetivo de diversificar sua economia, reduzir sua dependência do petróleo e aumentar sua competitividade global. 

Por fim, Mohammed bin Salman – também conhecido como MBS – que começou a exercer seu cargo como príncipe herdeiro da Arábia Saudita em 2017, tem liderado uma série de reformas e iniciativas ambiciosas no país, incluindo mudanças nas políticas econômicas, sociais e culturais.

Porém, ele é considerado um dos líderes mais controversos da Arábia Saudita. Desde sua ascensão ao poder, MBS tem liderado uma série de reformas especialmente para as mulheres como: o direito de dirigir; a maior participação no mercado de trabalho; a abertura de empresas sem autorização de um tutor masculino; bem como estudar, trabalhar e viajar também sem necessitar de autorização masculina.  

No entanto, a liderança de MBS também tem sido criticada por sua repressão aos direitos humanos, incluindo a prisão de ativistas e jornalistas – incluindo a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi em 2018 – e por sua política exterior controversa.

Como a Arábia Saudita está se abrindo à globalização?

A Arábia Saudita está se abrindo à globalização de diversas maneiras. As características principais dessa abertura incluem: 

  1. Diversificação da economia: O país está buscando diversificar sua economia e torná-la menos dependente do petróleo, o que inclui o desenvolvimento de novos setores, como tecnologia, turismo e energias renováveis.
  2. Reformas sociais: implementação de uma série de reformas sociais, incluindo o fim da proibição de conduzir para mulheres e a abertura de cinemas e shows públicos, com o objetivo de tornar a Arábia Saudita mais atraente para turistas e investidores estrangeiros.
  3. Facilitação de investimentos estrangeiros: medidas para tornar mais fácil para empresas estrangeiras investirem na Arábia Saudita, incluindo a simplificação de processos burocráticos e a criação de zonas econômicas especiais.
  4. Cooperação internacional: Riad está buscando aumentar sua cooperação com outros países em áreas como comércio, investimento e defesa, incluindo a participação em acordos de livre comércio regionais e globais.
  5. Turismo: desenvolvimento de projetos turísticos ambiciosos, como o complexo turístico de Red Sea, para atrair visitantes de todo o mundo, oferecendo visto de turistas e realizando cruzeiros na costa.
  6. Inovação tecnológica: Riad está investindo em tecnologia e inovação, como a criação da cidade futurista de Neom, para se tornar um centro global de inovação.
  7. Infraestrutura: investimento em infraestrutura para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e tornar o país mais atraente para investimentos estrangeiros.

Essas iniciativas têm como objetivo ajudar a monarquia a se tornar mais integrada na economia global e atraente para investimentos estrangeiros, buscando se tornar uma nova Dubai, como um centro global de comércio, turismo e inovação.

A Arábia Saudita como uma zona econômica futurista e o Projeto Saudi Vision 2030

Com o objetivo de se tornar uma zona econômica futurista, a Arábia Saudita criou a Future Investment Initiative (Iniciativa de Investimento do Futuro), um evento anual promovido pela Arábia Saudita que visa atrair investimentos internacionais. 

O evento reúne líderes empresariais, políticos e especialistas em tecnologia para discutir oportunidades de negócios e o desenvolvimento econômico na Arábia Saudita. As reuniões também são utilizadas para apresentar projetos e iniciativas que ajudam a alcançar os objetivos do Projeto Saudi Vision 2030.

O Saudi Vision 2030 é uma estratégia de longo prazo anunciada pelo Reino da Arábia Saudita em 2016, visando diversificar a economia do país e torná-la diversa economicamente e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos sauditas. 

O plano inclui as iniciativas destacadas anteriormente em áreas como inovação tecnológica, turismo, infraestrutura, energia limpa e desenvolvimento social. O objetivo é transformar a Arábia Saudita em uma economia moderna e atraente para investimentos a longo prazo. 

Neste plano, Mohammed Bin Salman incluiu a criação de cidades inteligentes no projeto conhecido como NEOM. Este é um ambicioso projeto saudita, iniciado em 2021, que vislumbra um “novo futuro”. 

Esta “cidade do futuro” será composta por quatro regiões, cada uma delas abrigando projetos arquitetônicos desenvolvidos por renomadas empresas, como Morphosis, Zaha Hadid, Mecanoo, Aedas e UNStudio, sendo uma visão futurista e inovadora para a região.

NEOM será composto por quatro regiões distintas, conhecidas como Sindalah, Trojena, Oxagon e Line. A equipe responsável pelo projeto espera revolucionar a vida urbana, incorporando tecnologias de cidades inteligentes e dando vida a conceitos avançados de planejamento urbano. O objetivo é “reimaginar” a forma como as pessoas vivem em uma cidade, oferecendo uma visão futurista da vida urbana.

Jeddah como uma nova Dubai

A descoberta de petróleo em Abu Dhabi e Dubai no início dos anos 60 trouxe riqueza e investimentos significativos para a região, permitindo o desenvolvimento de infraestrutura e comércio.

Além disso, a liderança visionária dos governantes dos Emirados Árabes Unidos, juntamente com sua política de diversificação econômica, contribuíram para o rápido crescimento e sucesso do país. Dubai se tornou um importante centro financeiro e turístico global devido à sua localização estratégica, políticas de negócios favoráveis, construção de arranha-céus icônicos e eventos de renome mundial, como a Expo 2020.

Atualmente, Jeddah, uma das maiores cidades da Arábia Saudita, está empreendendo esforços significativos para se transformar em uma cidade moderna e cosmopolita, semelhante a Dubai nos Emirados Árabes Unidos. 

A cidade é conhecida como a “porta para os locais sagrados de Meca e Medina” e tem uma longa história como centro comercial e de negócios na região. No entanto, agora, Jeddah quer se tornar uma cidade líder em termos de desenvolvimento econômico, infraestrutura e qualidade de vida.

Como parte da visão de Bin Salman de se tornar uma zona econômica futurista, Jeddah está investindo em infraestrutura, desenvolvimento imobiliário e atração de empresas internacionais. 

A cidade está se transformando em um hub comercial e turístico no Golfo Pérsico, oferecendo uma vida urbana animada e uma ampla gama de opções de entretenimento e lazer para seus moradores e visitantes. Além de seu rico patrimônio cultural, suas belas praias e seus modernos centros de entretenimento.

Além disso, assim como os novos projetos do Saudi Vision, Jeddah está trabalhando para tornar-se uma cidade inteligente, com soluções avançadas de tecnologia da informação e comunicação. 

Quais as consequência geopolíticas da abertura da Arábia Saudita para o mundo? 

É possível que a abertura da Arábia Saudita para o mundo possa ter impactos positivos na estabilidade da região, ajudar o país a se tornar um centro de liderança e influência, além de causar mudanças significativas político-econômicas e também na sociedade.

Isso pode incluir a liberalização de leis religiosas restritivas baseadas no wahabismo, devido ao aumento do turismo no país, causando o possível enfraquecimento dessa vertente. 

É possível que o controle da monarquia sobre a internet e a mídia também seja diminuído, visto que os olhos do mundo inteiro estarão em Bin Salman, o que pode dar a oportunidade para a sociedade manifestar suas insatisfações com uma possível menor repressão. 

O aumento do comércio internacional com Riad e do investimento estrangeiro, especialmente nas áreas de infraestrutura e energias renováveis, podem influenciar na política externa saudita, inclusive sua postura frente ao conflito no Iêmen, promovendo a segurança regional.

Com a recente aproximação entre o Irã e a Arábia Saudita, o que pode ameaçar a hegemonia norte-americana, é possível que haja um fortalecimento de Riad como potência regional para além do fator petróleo.

Historicamente, a economia da Arábia Saudita tem sido fortemente dependente das receitas do petróleo, que podem oscilar drasticamente devido aos preços globais do petróleo. Ao diversificar sua economia, o país poderia se tornar mais resistente a essas flutuações, fornecendo maior estabilidade e previsibilidade para as suas finanças.

No geral, uma Arábia Saudita mais forte após diversificar sua economia além do petróleo poderia ter consequências geopolíticas significativas, tornando potencialmente o país um jogador mais influente na economia global e nos assuntos internacionais e formando alianças com países fora do considerado mundo “ocidental.”

2 Comments

  1. […] A 28ª Conferência das Partes (COP 28) em 2023 destacou a urgência de explorar alternativas e se adaptar a um cenário em evolução, portanto é possível que a Arábia Saudita busque copiar os esforços dos Emirados Árabes Unidos em criar novas fontes de receita além do petróleo, o que seria parte do seu plano de transformar o país em uma “nova Dubai”.   […]

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