- Em seu mandato como presidente, Jair Bolsonaro incentivou a exploração da Amazônia, aumentando o desmatamento e gerando indignação internacional.
- As eleições brasileiras de 2022 elegeram o ex-Presidente Lula de volta à presidência do Brasil e o político se comprometeu a impedir a destruição da floresta amazônica.
- Com a vitória de Lula, países como a Noruega e a Alemanha voltarão a investir financeiramente na proteção da Amazônia.
Nos últimos 4 anos, desde 2019 até 2022, o Brasil esteve sob o governo de Jair Bolsonaro como Presidente da República. Desde o início de seu mandato a imagem brasileira foi gradativamente alterada no cenário internacional, devido à mudanças ideológicas e de governo no âmbito nacional e internacional.
Além da ruptura da tradicional política sul-sul – voltada para países emergentes – e do realinhamento ideológico centrado na aproximação com os Estados Unidos quando esse era governado pelo ex-Presidente Trump, a mudança do posicionamento de Bolsonaro em relação ao combate às mudanças climáticas e a falta de cuidado com a Amazônia se destacou de maneira negativa internacionalmente.
No entanto, com a vitória do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022, o Brasil tem a esperança de voltar a pleitear o prévio prestígio internacional já que Lula se comprometeu a impedir a destruição da Amazônia e agir agressivamente contra as mudanças climáticas.
Como o Brasil perdeu influência mundial durante a presidência de Bolsonaro
Desde o início de seu governo, Bolsonaro incentivou mais mineração e agricultura comercial na Amazônia, afirmando que desenvolveria a região economicamente e ajudaria a combater a pobreza no Brasil.
Ele enfraqueceu as agências de proteção ambiental, cortando seus orçamentos e diminuindo o quadro de funcionários, ao mesmo tempo em que dificultou a punição de criminosos ambientais.
Segundo cientistas e ambientalistas, suas críticas públicas aos esforços de conservação também encorajaram madeireiros ilegais, fazendeiros e garimpeiros a desmatar a floresta se preocupando menos com as possíveis punições.
Segundo Marco Vieira, diretor de pesquisa do Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de Birmingham no Reino Unido, ao longo das décadas anteriores ao governo Bolsonaro, o Brasil conseguiu difundir uma boa imagem na comunidade internacional.
O Brasil se propagou como um país preocupado com o meio ambiente, pacifista, não intervencionista, capaz de dialogar com atores diversos e defensor de órgãos multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo.
Segundo Vieira, essas características permitiram que o Brasil desenvolvesse o seu soft power, ocupasse posições de destaque em órgãos internacionais e adquirisse vantagens econômicas em negociações comerciais com grandes potências, como Estados Unidos e Europa.
Entretanto, ao longo do governo Bolsonaro, suas novas atitudes na política externa, nas questões sociais e ambientais causaram estranhamento em foros internacionais, dúvidas entre diplomatas estrangeiros e desconforto em diplomatas brasileiros no exterior.
De acordo com diplomatas brasileiros entrevistados de forma anônima pela a BBC News Brasil, as três posturas do então presidente Jair Bolsonaro que resultaram em prejuízo à reputação consolidada pelo Brasil no ambiente diplomático internacional foram:
- a postura em relação a minorias da comunidade LGBT+ e indígenas, especialmente;
- a minimização dos impactos do aquecimento global em seus discursos;
- o alinhamento com os Estados Unidos de Trump e a repentina aproximação com Israel, ignorando a tradição diplomática brasileira histórica de neutralidade.
Essa surpreendente ruptura com a tradição diplomática brasileira gerou comentários em tom de preocupação por parte de representantes de outros países e resultou na redução de convites para que Brasília participasse de debates sobre temas sociais e de meio ambiente.
Esse posicionamento causou um certo isolamento para o país internacionalmente, ocasionando consequências econômicas. Como exemplo, a União Europeia ter condicionado o acordo UE-Mercosul ao compromisso brasileiro com a proteção ambiental.
Outra significativa atitude de Bolsonaro que descredibilizou o Brasil internacionalmente foi o seu negacionismo durante a pandemia de COVID-19, ignorando o consenso científico internacional de que a falta de políticas de contenção contra o vírus poderia causar mortes em grande escala.
Sua sabotagem à quarentena durante o auge da pandemia e sua demora na negociação e compra de vacinas, em lugar de medicações sem recomendação científica e comprovação de eficácia, levou o país ao número de quase 700 mil mortos pela COVID-19.
Por fim, essa sequência de atitudes de Jair Bolsonaro resultou no brusco declínio de prestígio internacional brasileiro e na corrosão de seu soft power, que até então fora construído em uma base sólida de boa diplomacia concebida por Barão de Rio Branco, o patrono da diplomacia brasileira.
A preocupação da comunidade internacional com a Amazônia durante os anos de Bolsonaro
A política de Jair Bolsonaro em relação à Amazônia relatada pela educadora socioambiental brasileira Daniela silva, que junto com sua família sentiu na pele as consequências do descaso às questões ambientais e com os povos amazônicos, gerou grandes preocupações nos líderes políticos do mundo inteiro.
Segundo o Jungle Lab (Laboratório da Selva), desde que Bolsonaro assumiu o cargo em 2019, pelo menos 825 milhões de toneladas de CO2 foram liberadas no desmatamento da Amazônia brasileira. Isso é mais do que é emitido por todos os carros de passageiros dos EUA em um ano.
A política ambientalista – ou a falta dela – de Bolsonaro foi tão desastrosa que a Amazônia alcançou taxas recordes de desmatamento no primeiro semestre de 2022. Em um vídeo de campanha, o então presidente criticou ambientalistas afirmando que eles não querem deixar as comunidades indígenas do Brasil “evoluírem” ou “plantar em suas terras, explorar e minerar”.
Um relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) observa que a combinação do aquecimento global contínuo e o acelerado desmatamento – incentivado no governo Bolsonaro – pode colocar a Amazônia em risco de atingir seu ponto de inflexão antes do final deste século.
Segundo Timothy Lenton, cientista da Universidade de Exeter e coautor do estudo, publicado na Nature Climate Change, se a Amazônia chegar a esse ponto de inflexão, o planeta receberá um feedback significativo sobre as mudanças climáticas globais.
A preocupação internacional também é compartilhada por muitos brasileiros como Raoni Rajão, professor de gestão ambiental e estudos sociais de ciência na Universidade Federal de Minas Gerais do Brasil, que afirma que se Bolsonaro tivesse vencido a eleição de 2022, perder a Amazônia teria sido “garantido”.
Segundo o The Washington Post, o desmatamento violento e sem lei da Amazônia é talvez o maior crime ambiental do mundo e o maior da história. Outra preocupação dos líderes internacionais é que no Brasil, que detém cerca de 60% da Amazônia, quase um quinto das florestas já foram destruídas e praticamente ninguém foi responsabilizado.
Como a eleição de Lula já reativou os investimentos para a proteção da Amazônia
No dia 30 de Outubro de 2022, a maior parte dos brasileiros elegeu Luiz Inácio Lula da Silva para ser seu próximo presidente, rejeitando o atual titular da extrema-direita, Jair Bolsonaro.
O resultado da votação aumentou as esperanças dos ambientalistas de que a floresta amazônica seja protegida de fazendeiros, madeireiros ilegais e mineiros de ouro.
Enquanto Bolsonaro devastou agências de proteção ambiental e assistiu um aumento vertiginoso no desmatamento, os mandatos anteriores de Lula como presidente testemunharam um declínio constante no desmatamento florestal.
Em seu discurso de vitória, Lula se comprometeu a reduzir o nível de destruição florestal na Amazônia brasileira apesar da possível dificuldade que enfrentará, visto que a maior parte dos legisladores ainda são bolsonaristas de extrema-direita.
Apesar desse cenário, a comunidade internacional se mostra otimista. O Ministro norueguês do Meio Ambiente anunciou, um dia após a vitória de Lula, que retomará a ajuda financeira contra o desmatamento da Amazônia no Brasil. O financiamento estava congelado desde 2019, quando Bolsonaro assumiu a presidência.
Um porta-voz do Ministério do Desenvolvimento da Alemanha, que também faz parte do projeto Amazon Found junto com a Noruega e o governo Brasileiro, afirmou que Berlim está aberta ao descongelamento de pagamentos ao projeto.
Apesar de não ser um político isento de acusações de corrupção no passado, a especialista brasileira em políticas de mudanças climáticas na think tank Talanoa, Natalie Unterstell diz que espera que a administração de Lula estabeleça novas metas climáticas depois que elas foram revertidas por Bolsonaro.
A partir dessa iniciativa, é possível que o Brasil recupere seu prestígio internacional com um posicionamento que objetiva proteger a floresta amazônica e que dá a devida importância às questões sociais e climáticas, revertendo os danos econômicos que a política oposta causou.
Qual é a importância da preservação da Amazônia pelo Brasil tanto em termos ambientais como geopolíticos
Proteger a Amazônia é vital para impedir mudanças climáticas catastróficas devido a grande quantidade de gases de efeito estufa do aquecimento global que ela absorve, portanto, o aumento do desmatamento causa um aumento na temperatura global, em razão da maior quantidade de dióxido de carbono (CO2) liberado na atmosfera da Terra.
Mesmo que muitas pessoas ao redor do mundo não saibam, a qualidade de vida no planeta terra depende da Amazônia, não só para estabilizar o clima regional e global, mas para obter alimentos, água doce, madeira, medicamentos e chuvas nutritivas em todo o planeta.
Ademais, a importância geopolítica da Amazônia é projetada na cooperação internacional brasileira, que ajuda a consolidar a compreensão sobre as causas e as consequências das mudanças climáticas.
Ao mesmo tempo, os acordos relacionados ao desenvolvimento sustentável são estabelecidos por líderes mundiais em eventos como a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudança Climáticas (COPs) e o Acordo de Paris, por exemplo.
A região Amazônica, detentora do maior estoque de recursos estratégicos do planeta, passa a constituir o espaço vital do século XXI. Determina-se, assim, uma nova realidade geopolítica para a região Amazônica, exigindo maior presença do Estado visando não só seu crescimento econômico e desenvolvimento sustentável como também reafirmar a soberania da região.
A partir da maior inserção de forma positiva do Brasil nas questões ambientais e sociais relacionadas à gigante Amazônia no governo Lula, o país terá a chance de aumentar o seu soft power à nível global e de se tornar um ator geopolítico indispensável na comunidade internacional.
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