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Guerra Híbrida e o Futuro dos Conflitos Militares

Com um grande progresso desde 2010, as estratégias militares dos países vem evoluindo. O que é possível observar são raros decretos de guerras assumidamente abertos, mas isto não significa que os conflitos geopolíticos se amenizaram.

É neste contexto que analisamos a chamada “Guerra Híbrida”, uma forma de campanha militar que usa uma mistura de táticas políticas, militares, convencionais ou irregulares, de propaganda e cibernéticas para “atacar” o inimigo.

Ela pode se dar tanto em ataques militares tradicionais quanto pelo uso de inteligência artificial e pela própria internet. É um grande jogo de influências e desestabilização. Um jogo de relações de poder que colocam a credibilidade e recursos militares em constante cheque por ameaças indiretas.

Porém, Guerras Híbridas não são um novo fenômeno. Já em guerras históricas como a Revolução Americana, por George Washington, e a Guerra Napoleônica se utilizavam de técnicas mistas para seus ataques. Também não é um fenômeno reservado ao Hemisfério Norte, na Guatemala no século XIX se utilizou destes métodos para o combate contra os liberais e o Governo Federal nas guerrilhas da América Central. Mas hoje em dia, o seu uso está aprimorado e em crescimento.

Inclusive, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) define Guerra Híbrida como um grupo de táticas militares que adversários utilizam para não declarar guerra abertamente ao um outro país. O objetivo é mascar o ataque perante a comunidade internacional para que o país agressor não sofra as consequências materiais deste ataque (desde contra-ataques até bloqueios econômicos de aliados).

Seu maior problema se dá na passivo-agressividade do conflito, mas que ainda assim ameaça as instituições do país atacado. O ataque híbrido é como uma forma de brecha nas Leis Internacionais, que visa burlar as tradições das relações internacionais, diminuindo o poder dos órgãos reguladores e mediadores multilaterais.

“Os métodos híbridos criam turbulência e desunião entre nós, eles silenciosamente minam os estados democráticos e instituições, esmaecendo as linhas entre a guerra e a paz, e tentam semear a dúvida nas mentes das populações-alvo, evitando os conflitos tradicionais.”

Organização do Tratado do Atlântico Norte

Seus exemplos mais recentes se dão com o conflito da China e o Mar do Sul da China ou Rússia-Ucrânia, com ataques de soldados sem farda atacando a região ucraniana, por exemplo. Assim, a responsabilidade não pode recair na Rússia enquanto Estado-Nação, já que foram ataques de soldados russos disfarçados de milícias civis (“homenzinhos verdes”).

Esse tipo de tática recai numa zona cinzenta, entre a paz e a guerra, já que tudo é subentendido, é interpretado e não direto.

Por que conflitos via campanhas militares híbridas estão em expansão?

Um país declarar guerra abertamente à outro possui diversas implicações, como competições políticas, econômicas e militares. Porém isto não se aplica nas Guerras Híbridas, já que não há declarações de guerra oficiais.

Para as relações internacionais contemporâneas, o peso que se arca com uma guerra não é lucrativo e nem produtivo, pelo menos não quando há possibilidade de travar hostilidades pelas entrelinhas sem grandes responsabilizações.

É claro que qualquer oposição no ambiente político traz consequências, mas neste caso o campo fica fechado ao atacante e ao atacado. Isso porque os embates não ocorrem à luz, mas sim em um segundo plano, nessa linha tênue da zona cinzenta.

Assim, ao invés de mudar todo o contexto mundial das relações socioeconômicas com uma guerra, concretiza-se um tête-à-tête de interpretações e não grandes certezas. 

As Guerras Híbridas crescem ainda mais com o avanço das tecnologias no século XXI, já que a internet, por exemplo, é pouco regulada globalmente. Então, ciberataques com hackers, fake news ou com o uso de inteligência artificial entram no novo livro de táticas de guerra.

Quanto mais livre o espaço para que as ações sejam tomadas sem grandes consequências militares, mais cresce o uso da Guerra Híbrida.

Guerra Híbrida e a “Zona Cinzenta” entre paz e guerra

Ao ocorrer neste segundo plano, sem tomada de partido por nenhum dos lados, forma-se esta zona cinzenta. Há a existência do conflito, porém não há assumidamente a guerra. O que se encontra é uma paz frágil constantemente sendo ameaçada.

Esta é uma área de extrema ambiguidade: entre o debate político de Estados e o debate geopolítico-militar.

O conflito não declarado entre a China e Taiwan desde 2010, mostra um bom exemplo do funcionamento de uma área cinzenta. Com sua milícia de pescadores, navios de pesca e guardas costeiras, o avanço chinês sobre o território costeiro do Sul da Ásia se dá de forma agressiva e extra-oficial. 

Portanto, o que se encontra é uma reconstrução da defesa de Taiwan na sua costa, ao mesmo tempo que existe uma negação de tentativa de investida por parte da China.

Sendo assim, em geral, os Estados Unidos e a própria OTAN possuem grande dificuldade de ação nestas zonas, já que qualquer movimento que tomarem pode afetar essa paz fragilizada. 

Enquanto que em uma guerra assumidamente decretada as armas mais fortes são os recursos militares, informação e capital, na zona cinzenta as narrativas e o poder são o que dominam.

Estão se construindo novas relações entre Estados Nacionais e as inovações tecnológicas para que obtenham maior controle de propaganda e influência. O ator mais poderoso é aquele que tem um grande domínio e expertise na área de guerra híbrida para poder atuar com sucesso nessa área de conflito cinzenta.

É uma situação que requer um esforço multilateral para regularizar o que é considerado um ataque militar ou não dos atores envolvidos, pois se tomada enquanto um espaço completamente sem regras esse comportamento nocivo pode resultar em uma escalada militar que leve a um conflito armado real. 

Exemplos recentes de Guerra Híbrida

Como já falamos, atualmente as potências da Ásia (como China e Rússia) têm usado Guerra Híbrida para suas rixas geopolíticas. Além delas, o conflito entre o Estado Islâmico do Iraque e o Governo Federal da região também se encontravam nesta situação, por exemplo.

O Estado Islâmico iniciou os ataques terroristas misturando as técnicas militares regulares e irregulares contra o Estado Federal, em 2014, o que causou a resposta governamental de também se basear nesses métodos. 

Os EUA, na verdade, possuem um histórico de envolvimento em conflitos híbridos na atualidade. Em 2016, houve uma denúncia na OTAN, de que a Rússia estaria utilizando-se de refugiados para enfraquecer a força política da Europa. Ela estaria facilitando a passagem de imigrantes pelo seu território para entrarem ilegalmente na União Europeia. Porém, a Rússia nega qualquer tipo de interferência, afinal, negar ataques híbridos é uma parte fundamental de toda a estratégia . Então, o debate se dá de forma especulativa mas tensa.

Os órgãos de inteligência Americana também acusaram a Rússia de usar fake news, propaganda, e ataques de hackers para influenciar as eleições presidenciais de 2015 vencidas pelo Trump.

Além do conflito Rússia-EUA há o conflito Rússia-Ucrânia, tensionado após acordos ucranianos com a União Europeia o que levou a Rússia a usar táticas de Guerra Híbrida como os famosos “homenzinhos verdes” e fake news para invadir e desestabilizar a Ucrânia.

Em 2021, ataque da Bielorússia contra a União Europeia também foi presumido como um ataque híbrido, a partir da ameaça e organização da cruzada de imigrantes para desestabilizar o bloco das nações europeias.

O que podemos perceber da Guerra Híbrida é uma ameaça de insegurança política aos países por ataques indiretos. Assim, quem é atacado se encontra em uma posição fragilizada e de ação dúbia, não podendo responder de outra forma a não ser com táticas híbridas também. Enquanto que o atacante pode sair sem nenhuma punição, tencionando o cenário das relações internacionais sem consequências.

É um ataque de ameaças e poder. Um jogo onde a paz é questionada repetidamente, mas sem quebrá-la por completo.

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