- A União Econômica da Eurásia, criada para colaboração econômica e política, está sendo guiada predominantemente por interesses russos;
- Os desafios internos, como a dominância econômica da Rússia e a diversidade cultural, impactam a coesão da UEE;
- A guerra na Ucrânia e a influência da China e da Índia lançam incertezas sobre o futuro da aliança;
A União Econômica da Eurásia, liderada pela Rússia, tem como membros ex-Países Soviéticos para fins de colaboração econômica e eventualmente política. Assim como no caso da União Europeia, união da qual tomou inspiração.
Mas por trás dessa visão de cooperação, existem desafios que ameaçam minar sua coesão, especialmente diante da influência da China, da Índia e da complexa guerra na Ucrânia.
Assim, a UEE enfrenta um caminho incerto, onde a estabilidade política e a resolução de conflitos regionais desempenham papéis cruciais em seu destino cambaleante.
O que é a União Econômica da Eurásia e quais são seus objetivos?
A União Econômica da Eurásia (“Eurasian Economic Union” – EEU) é uma organização formada por países da Ásia Central, Rússia e Bielorrússia. A união foi fundada em 2014 e seus membros são: Rússia, Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Quirguistão. A ideia da união é criar uma espécie de “time econômico” para que eles possam trabalhar juntos e fortalecer suas economias.
O maior objetivo da União é criar um mercado único, onde as pessoas e as empresas possam fazer operações financeiras mais livremente, como se fossem em um único país, para que seja mais fácil comprar, vender e investir entre os países membros.
Como exemplo, imagine que a Rússia tem muitas refinarias que produzem petróleo e gás. Ela pode compartilhar isso com os outros países da EEU para que todos se beneficiem. Por exemplo, ela pode vender gás para a Armênia a um preço mais baixo do que a Armênia conseguiria comprar em outro lugar. Isso é bom para a Armênia, que economiza dinheiro, e bom para a Rússia, que ganha dinheiro com as vendas.
Outro objetivo é remover barreiras comerciais. Por exemplo, se a Bielorrússia fabrica algo que o Cazaquistão quer comprar sem que a União existisse, poderia ser difícil e caro fazer isso por causa de impostos e regulamentações diferentes em cada país. Então, a EEU simplifica esses processos para que o comércio entre os países seja mais fácil e econômico.
O propósito mais importante do Espaço Econômico Único é promover a integração de mercado, facilitando a concretização das “quatro liberdades”, que seriam: a livre movimentação de mercadorias, dinheiro, serviços e pessoas dentro desse mercado. Isso começou a valer em 1 de janeiro de 2015, quando a União Econômica da Eurásia foi oficialmente criada.
Quais são os desafios que estão corroendo a União Econômica Euroasiática?
O principal desafio enfrentado pela União Econômica é o forte domínio econômico da Rússia em relação aos outros países. Em 2020, a economia russa representava mais de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) da organização.
Esse desequilíbrio significa que a integração na União Econômica é principalmente guiada pelos interesses da Rússia. Isso muitas vezes causa disputas entre os outros países membros sobre questões econômicas, porque eles podem não concordar com as decisões que favorecem Moscou.
Além disso, existem outros fatores que influenciam nas disputas de interesse entre os países euro-asiáticos:
- Diversidade Cultural e Política: Cada país na Eurásia tem suas próprias tradições, língua e forma de governar. Isso torna difícil concordar em regras comuns para todos. Por exemplo, a Rússia tem uma abordagem centralizadora, enquanto a Armênia valoriza sua independência. Outros países são de maioria muçulmana enquanto a Rússia é de maioria cristã ortodoxa.
- Interesses Nacionais em Conflito: Alguns países temem que, ao se unirem politicamente, suas próprias vozes sejam subjugadas. Por exemplo, a Ucrânia não se uniu à União Econômica da Eurásia para preservar sua independência e se afastar da influência russa.
- Influência de Potências Externas: Países como a Rússia e a União Europeia disputam influência na região. Por exemplo, a Rússia busca manter sua influência sobre os países vizinhos, enquanto a União Europeia busca expandir sua esfera de influência, como na própria Ucrânia que chegou a flertar para entrar na UEE.
- Questões de Segurança e Guerras: Conflitos territoriais, insurgências e ameaças terroristas afetam a estabilidade política da região. Por exemplo, a guerra que se desenrolou entre a Armênia e o Azerbaijão pela região de Nagorno-Karabakh dificultou a cooperação política na região e afastou a Armênia do bloco mesmo ainda fazendo parte legalmente.
- Desafios Econômicos Diversos: Enquanto alguns países, como a Rússia, têm economias fortes, outros, como o Tajiquistão, enfrentam desafios significativos de desenvolvimento devido à falta de infraestrutura e instabilidade econômica.
O resultado de tantos conflitos de interesses é que o comércio dos países membros com países externos – especialmente a China – está aumentando mais rapidamente do que com outros membros da própria união.
Nos últimos anos, os altos valores de investimento chineses e dos Estados Unidos superam, e muito, os investimentos entre os países da União Euroasiática.
Além disso, as alianças entre membros da União e países de fora também carecem de coordenação e harmonização.
Por exemplo, os acordos econômicos da Armênia com os Estados Unidos e a União Europeia divergem dos requisitos da EEU em várias áreas. O Cazaquistão se juntou à Organização Mundial do Comércio concordando em definir taxas alfandegárias mais baixas do que a taxa “unificada” exigida pela EEU, causando discrepâncias.
Em 2012, a Rússia chegou a sugerir a formação de um Parlamento Euro-asiático para complementar a União Econômica, assim os membros seriam como a União Europeia, colaborando econômica e politicamente.
No entanto, os outros membros, que queriam focar apenas em questões econômicas, não aceitaram essa proposta – certamente o medo de perder suas soberanias para o governo Russo falou mais alto. Além disso, Moscou também fez uma proposta de adotar uma moeda comum, mas também foi rejeitada.
Todos esses fatores demonstram como a aliança dificilmente terá um futuro como o da União Europeia e está, na verdade, a caminho de quebrar.
Como a China e a Índia podem ajudar a enfraquecer a União Econômica da Eurásia?
A já cambaleante União Econômica da Eurásia pode estar ainda mais em risco com a presença da China e da Índia no tabuleiro internacional. Dois gigantes econômicos da Ásia que têm potencial para ajudar a minar a UEE de algumas maneiras.
Primeiro, a China já é conhecida na Ásia por sua iniciativa “Belt and Road” (Rota da Seda), um ambicioso plano de investimento em infraestrutura em todo o continente eurasiático. Isso pode competir diretamente com os interesses da UEE, desviando o comércio e os investimentos para rotas e parcerias chinesas, enfraquecendo assim a influência econômica da UEE na região.
Além disso, tanto a China quanto a Índia têm fortes relações comerciais com países que fazem parte da UEE, como Cazaquistão e Armênia. Ao estreitar laços comerciais bilaterais com esses países, podem diminuir a dependência deles em relação à aliança Russa.
Outro ponto crucial é o papel da Índia como outro contrapeso geopolítico à Rússia na região. Enquanto a Rússia busca manter sua influência na Eurásia através da UEE, a Índia pode oferecer alternativas e parcerias aos países da região, enfraquecendo assim a coesão e a eficácia da UEE, oferecendo novas oportunidades de cooperação, especialmente em setores como energia e infraestrutura.
Nesse cenário, a China e a Índia têm os recursos e a influência para desafiar e enfraquecer a União Econômica da Eurásia, seja através de competição direta por investimentos e comércio, seja oferecendo alternativas geopolíticas e econômicas aos países membros. Isso poderia levar a fissuras na coesão da UEE e a uma redistribuição do poder econômico na região.
Quais são as perspectivas futuras da União Econômica da Eurásia em meio à guerra na Ucrânia?
A guerra na Ucrânia lança uma sombra sobre o futuro da União Econômica da Eurásia de várias maneiras. Primeiro, a própria Rússia, como principal impulsionadora da UEE, enfrenta desafios econômicos devido às sanções impostas pelo Ocidente em resposta à sua invasão na Ucrânia.
Essas sanções afetam diretamente a economia russa e, por extensão, podem prejudicar a cooperação e a estabilidade dentro da UEE, especialmente porque a Rússia detém 90% do PIB da união, como mencionado anteriormente.
A guerra na Ucrânia também gera incertezas e desconfiança entre seus membros. O medo de serem absorvidos pela Rússia, dada sua postura imperialista, preocupa muitos países na região.
O exemplo recente da Bielorrússia, pressionada pela Rússia para uma maior integração política, levanta alertas para outros membros da UEE, que temem perder sua soberania nacional ao se aproximarem muito de Moscou.
Além disso, mesmo não sendo membro da UEE, a Ucrânia desempenha um papel crucial na geopolítica regional. A guerra em curso no país pode indiretamente afetar a estabilidade e a coesão da UEE, criando tensões adicionais entre os membros e desviando recursos e atenção dos esforços de integração.
Se a Rússia continuar a pressionar tanto para restaurar e fortalecer sua influência nos países pós-soviéticos, os estados membros da União podem começar a resistir à uma maior integração no bloco.
Essa tensão poderá interromper as recentes tentativas da UEE de conduzir relações com a União Europeia em termos de igualdade. Cazaquistão, Quirguistão e Armênia já estão buscando estabelecer relações econômicas bilaterais com outras partes do mundo sem dependerem exclusivamente da UEE.
Portanto, as perspectivas futuras da UEE são incertas diante da guerra na Ucrânia, mesmo que a união continue a existir, sua capacidade de alcançar seus objetivos de integração e cooperação estão fortemente abaladas pela instabilidade geopolítica e pela desconfiança entre os membros acerca das reais intenções do presidente russo Putin.
Por isso, a resolução da guerra na Ucrânia e o possível fim das preocupações sobre a influência russa na região, bem como a influência chinesa, indiana e a recente aliança com os Estados Unidos serão cruciais para determinar o curso futuro da União Econômica da Eurásia.
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