- Durante sua visita ao Vietnã, Putin propôs uma aliança para a Ásia-Pacífico, em resposta às sanções ocidentais.
- A Rússia busca reviver laços históricos com a Ásia, fortalecendo parcerias antigas como com o Vietnã para contrabalançar a pressão ocidental.
- A possível aproximação do Vietnã pode desencadear mais atritos devido a interesses divergentes e resistência ocidental.
A recente visita de Vladimir Putin ao Vietnã, onde propôs a criação de uma “arquitetura de segurança confiável” na Ásia-Pacífico, chamou a atenção do mundo.
Em meio a uma série de acordos e cerimônias oficiais, o líder russo sinalizou claramente sua intenção de fortalecer as alianças da Rússia na região, num momento em que as relações com o Ocidente estão profundamente abaladas.
Mas o que exatamente significa essa nova arquitetura de segurança? E quais são as implicações geopolíticas dessa movimentação estratégica? É importante explorar as motivações de Putin, o contexto histórico dessas relações e os potenciais desdobramentos dessa iniciativa.
O que é a nova “arquitetura de segurança” para a Ásia que Putin está querendo estabelecer e suas consequências geopolíticas?
Durante uma visita de Estado ao Vietnã em junho de 2024, o presidente russo Vladimir Putin declarou sua intenção de construir uma “arquitetura de segurança confiável” na região da Ásia-Pacífico.
Esta declaração, ocorrendo apenas um dia após a assinatura de um pacto de defesa mútua com a Coreia do Norte, destaca a estratégia da Rússia de fortalecer suas alianças na Ásia como um contraponto às sanções ocidentais e à crescente influência da OTAN na região.
Durante a visita, Rússia e Vietnã firmaram vários acordos abrangendo diversas áreas, incluindo o setor energético. Apesar dos 11 acordos assinados não terem alcançado a magnitude do pacto de defesa mútua que a Rússia formalizou com a Coreia do Norte.
O presidente vietnamita, To Lam, afirmou que o Vietnã continuará a considerar a Rússia como um de seus parceiros mais importantes, destacando que, segundo ele, Putin tem sido essencial na promoção da paz e da estabilidade global.
Os acordos que Lam e Putin discutiram e realizaram ainda não foram divulgados publicamente, mas já se sabe que os líderes focaram em áreas como energia, educação, ciência e tecnologia — setores que têm sido alvo de sanções internacionais contra a Rússia devido à sua invasão da Ucrânia.
Além disso, os dois países concordaram em colaborar na elaboração de um plano para a criação de um centro de pesquisa em ciência e tecnologia nuclear no Vietnã.
De acordo com a agência de notícias russa TASS, Putin afirmou estar profundamente comprometido em expandir a parceria estratégica com o Vietnã e que essa continua a ser uma prioridade para a política externa da Rússia.
Por outro lado, os Estados Unidos também têm intensificado seus esforços para fortalecer e estabelecer novas parcerias na região do Indo-Pacífico, incluindo com o Vietnã. Portanto, a proposta de Putin pode gerar importantes consequências geopolíticas dessa nova arquitetura de segurança e os objetivos de sua política externa na Ásia.
Qual é o Histórico e Por Que o Líder Russo Busca Fortalecer Laços na Ásia?
Para entender as motivações de Putin, é crucial examinar o contexto histórico das relações Rússia-Ásia. Durante a Guerra Fria, a União Soviética cultivou laços estreitos com vários países asiáticos, incluindo o Vietnã, que recebeu apoio militar e econômico significativo da Rússia durante o seu conflito com os Estados Unidos nas décadas de 60 e 70. Após o colapso da URSS, a Rússia manteve esses relacionamentos, embora com menos intensidade.
Nos últimos anos, porém, a Rússia tem intensificado seus esforços para fortalecer essas alianças. A deterioração das relações com o Ocidente, exacerbada pela anexação da Crimeia em 2014 e pela guerra na Ucrânia iniciada em 2022, levou a uma série de sanções econômicas e políticas contra Moscou. Em resposta, Putin redirecionou a política externa russa para o Oriente, buscando novos parceiros comerciais e estratégicos na Ásia.
O Vietnã, com sua história compartilhada de cooperação com a União Soviética, representa um aliado de longa data. O acolhimento caloroso de Putin em Hanói, incluindo uma saudação militar de 21 tiros e elogios públicos de líderes vietnamitas, sublinha a profundidade desses laços históricos e a disposição do Vietnã em fortalecer sua parceria com a Rússia, apesar das críticas ocidentais.
Os CRINK podem se expandir? Como o Vietnã e outros países podem se integrar nessa aliança?
A possível adição do Vietnã, um país com relações tanto com a Rússia quanto com o Ocidente, pode representar uma tentativa de Putin de criar uma rede de alianças mais diversificada e resiliente na Ásia.
Os CRINK, uma aliança informal de países com interesses geopolíticos e econômicos comuns que se opõem fortemente aos interesses Ocidentais (os chamados “Novo Eixo do Mal”), poderiam se beneficiar da inclusão de novos membros que compartilhem uma visão de multipolaridade global.
O Vietnã, com sua posição geoestratégica no Sudeste Asiático e seu rápido crescimento econômico, seria um bom candidato para fortalecer essa coalizão.
Além disso, a assinatura de um pacto de defesa mútua com a Coreia do Norte demonstra a estratégia russa de consolidar uma rede de alianças de segurança que possa contrabalançar a influência da OTAN e dos Estados Unidos no Oriente.
Dessa forma, a inclusão do Vietnã nesta rede poderia fornecer à Rússia um importante ponto de apoio no Sudeste Asiático, complementando sua já sólida parceria com a China.
Como Putin está utilizando o multilateralismo e os BRICS para contrabalançar o Ocidente?
A tentativa de Putin de criar uma coalizão de segurança multilateral na Ásia também se alinha com os esforços de fortalecer os BRICS, um grupo de grandes economias emergentes que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Os BRICS têm procurado promover uma ordem mundial mais equilibrada, desafiando a hegemonia ocidental e defendendo um mundo multipolar.
A guerra na Ucrânia e as sanções têm isolado a Rússia do Ocidente, mas também tem ajudado a sua reaproximação com os BRICS.
Os membros dos BRICS, muitos dos quais mantêm relações ambíguas com os Estados Unidos e a Europa, oferecem à Rússia mercados alternativos e parcerias estratégicas que podem mitigar os efeitos das sanções ocidentais.
Ao integrar suas iniciativas na Ásia com os objetivos mais amplos dos BRICS, Putin está buscando construir uma rede de apoio internacional que possa resistir à pressão ocidental.
O envolvimento de países como Índia e China, ambos membros dos BRICS, em iniciativas de segurança na Ásia, também pode fortalecer a posição russa e proporcionar bases para a cooperação econômica e militar, apesar de suas relações complexas.
Quais São os Impactos e Desafios da Nova Arquitetura de Segurança na Ásia?
A criação de uma coalizão eficaz exigirá uma navegação cuidadosa das complexas dinâmicas regionais. O Vietnã, por exemplo, mantém relações próximas com os Estados Unidos, que recentemente elevaram suas relações diplomáticas com Hanói.
Washington tem um interesse estratégico em manter o Vietnã como um aliado na sua política de contenção da China, e uma aproximação excessiva de Hanói com Moscou poderia dificultar essa relação.
Ao mesmo tempo, o Vietnã tem um histórico de conflitos com a China e uma disputa com Pequim no Mar do Sul da China.
Além disso, a inclusão de novos membros em alianças como os CRINK ou a ampliação da influência dos BRICS requer a reconciliação de diferentes interesses nacionais e políticas externas.
A Índia, por exemplo, tem uma relação complicada com a China, o que pode limitar sua disposição em participar de uma aliança de segurança que inclua ambos os países.
A resposta ocidental a essas iniciativas também será um fator importante. As críticas dos Estados Unidos e da União Europeia à visita de Putin ao Vietnã demonstram a preocupação do Ocidente em relação às movimentações estratégicas russas na Ásia.
Sendo assim, a continuidade das sanções e a pressão diplomática podem dificultar os esforços russos de consolidar uma coalizão multilateral de segurança.
Estamos A Caminho de uma Nova Ordem Mundial?
A proposta de Putin para uma nova arquitetura de segurança na Ásia representa uma tentativa ousada de reforçar a posição da Rússia como um ator global independente e como líder regional.
Ao fortalecer alianças históricas e buscar novas parcerias, Putin está não apenas respondendo às sanções ocidentais, mas também promovendo uma visão de multipolaridade que desafia a tradicional hegemonia ocidental.
No entanto, a realização dessa visão enfrenta muitos desafios, incluindo a necessidade de equilibrar interesses divergentes entre potenciais parceiros e a inevitável resistência do Ocidente.
Com uma Rússia enroscada em um atoleiro na Ucrânia depois da sua invasão ilegal de um outro país soberano, e as constantes ameaças internas (rebelião Wagner e terrorismo Islâmico) e externas ao governo de Putin, poucos países Asiáticos estariam dispostos a se envolver em uma aliança de defesa formal, aberta, e profunda com uma Rússia fragilizada.
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