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Global Gateway: O Projeto Geopolítico Europeu para Rivalizar a China

Em Dezembro de 2021, a União Europeia anunciou seu mais novo projeto de investimento mundial: o Global Gateway, ou “Ponte Global.”

O Global Gateway é uma iniciativa de 300 bilhões de euros, levantados em um período de 6 anos (de 2021 à 2027) entre a iniciativa privada, os Estados-membros da União Europeia (UE), bancos mundiais, e a própria União para expandir seus investimentos de infraestrutura mundial em tecnologia, energia sustentável, transporte, saúde e em educação e pesquisa.

Seria, então, o Global Gateway apenas uma tentativa de drible da União Europeia para ter maior posse da bola geopolítica mundial?

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Fonte: UKParliament

A importância geoestratégica do Global Gateway para a União Europeia

As análises geopolíticas se voltam para o conflito não-dialogado entre as grandes potências econômicas do Ocidente (Estados Unidos e União Europeia) com o grande avanço da China e seu “Belt & Road Initiative.”

Desde 2016, a China vem investindo na busca por mais recursos e novos mercados consumidores em nível internacional através do seu projeto global de investimentos em infraestrutura “Belt and Road Initiative” (BRI). Com um orçamento de cerca de 4 trilhões de dólares, a chamada “Nova Rota da Seda”, está lhe proporcionando uma vantagem geopolítica com as negociações de débito e empréstimos com os países participantes.

Além de ganhar maior participação de mercado com sua difusão econômica, esta troca de favores da potência asiática nos territórios é também uma demonstração de sua hegemonia e poder econômico enquanto jogadora mundial.

Até agora, a China já investiu cerca de US$27.3 bilhões no Paquistão, US$20.3 bilhões na Indonésia e US$12 bilhões no Cazaquistão em projetos de infraestrutura e rotas de mercado, e continua avançando Europa adentro com seus portos e rodovias.

Com essa largada inicial da China, o Global Gateway aparece ser uma ação da UE de resposta ao BRI para reafirmar o seu poder geopolítico, buscando expor ao mundo que também é um ator principal no jogo das relações internacionais e que não se acanhará à outras potências.

É uma reafirmação de seu território, da sua influência e do seu poder econômico.

A resposta mundial ao Global Gateway da UE

Mesmo buscando uma validação do cenário internacional, a resposta geral foi de descrença no projeto europeu. Apesar de não direcionar suas promessas de forma direta à China, o anúncio não conseguiu esconder a jogada de poder que buscava concretizar.

O ponto é: a União Europeia já se faz presente enquanto investidora mundial de infraestrutura, com por exemplo seus TEN-T, mas não investia na sua imagem enquanto propulsora do desenvolvimento, participando somente enquanto um ator oculto.

É com isto que os críticos ao Global Gateway podem afirmar que o projeto é um “PR stunt”, uma grande jogada de marketing, e apenas uma mudança de nomenclaturas à ações já existentes em busca de poder político e reconhecimento.

Inclusive, a The Economist publicou grandes críticas ao Global Gateway, chamando a ação de uma grande besteira, uma ação como um grande movimento de publicidade e de relações internacionais, sem muita base ou projeto político em si.

Mas, indo além, os tópicos que foram apresentados pela Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia, são extremamente gerais e vagos. O que investimentos em nível mundial de tecnologia, energia sustentável, transporte, saúde e educação e pesquisa querem realmente dizer? Como os projetos serão implementados na prática? Quais serão os países que receberão crédito/investimentos? Quais os critérios para este recebimento?

O montante de fundos da União Europeia disponíveis para investimentos são compostos em parte por recursos dos Estados-membros da UE, não deixando claro como chegarão ao montante de investimento externo de 300 bilhões de euros. A tentativa de vender este projeto para o capital privado pode não ser tão bem sucedida, já que a estratégia material para sua execução não está tão clara.

Os projetos de desenvolvimento internacional do Ocidente versus do Oriente

A desigualdade entre os países desenvolvidos e os países mais pobres, os chamados países de “Terceiro Mundo” ou em desenvolvimento, como os países do continente africano e a América Latina, ainda é muito alta. Para reduzir essa desigualdade, crédito e expertise em projetos de desenvolvimento nessas regiões são vitais.

A grande questão se dá no protagonismo que a China ganhou enquanto fornecedora deste apoio nesses países. Ela se colocou como uma alternativa de fonte de empréstimos, enquanto as potências ocidentais foram perdendo sua hegemonia de participação.

O Global Gateway, assim como o projeto de desenvolvimento internacional B3W “Build Back Better World” (Construa de Volta um Mundo Melhor) liderado pelos Estados Unidos, é a tentativa de retomada do poder geopolítico e da influência sobre os produtores de matéria prima e mercados para exportação.

Há uma percepção que esses atores (China, UE, EUA) são benevolentes em suas intenções, mas não podemos deixar de considerar que projetos de desenvolvimento internacionais são uma ferramenta geopolítica de influencia internacional.

O crescimento de novas potências econômicas em busca da hegemonia regional e mundial, ainda mais com diferenças no viés político-ideológico tão grandes quanto a China, faz com que os atores ocidentais se mexam para que não haja mais “gols” orientais.

A disputa pelo protagonismo global está ficando cada vez mais acirrada, mas mais importante, está saindo dos bastidores e tomando os holofotes do debate desenvolvimentista global.

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