- O exponencial crescimento chinês se tornou um assunto de segurança da Ásia;
- As alianças regionais AUKUS e o QUAD buscam compartilhar inteligência e cooperar militarmente na região do Indo-Pacífico;
- A Austrália está usando essas duas alianças para conter a influência chinesa em sua vizinhança.
A região do Indo-Pacífico abriga mais da metade da população mundial e quase dois terços da economia global, ressaltando sua importância também na geopolítica mundial.
Devido a essa importância, as alianças regionais entre os países da AUKUS e QUAD objetivam fazer a manutenção da segurança regional – seja terrestre ou marítima – para garantir os princípios da Ordem Liberal Global, do direito internacional e da livre navegação.
Neste contexto, a Austrália, tem se tornado cada vez mais essencial para que esse objetivo seja concretizado e, como participante das duas alianças, tem se tornado um ator influente e indispensável para a segurança regional.
O que são o AUKUS e o QUAD
A aliança AUKUS (do inglês, Australia, United Kingdom, United States), é um pacto de segurança entre os três países citados com o objetivo de compartilhar inteligência e tecnologia, além de cooperarem militarmente.
Como exemplo da cooperação, a Austrália receberá submarinos nucleares dos Estados Unidos, o que abalou as relações do país com a França, já que o acordo resultou diretamente no cancelamento do contrato pré-existente entre os esses países em que Paris seria fornecedor de submarinos movidos à diesel para Canberra.
Em contrapartida, o QUAD (Quadrilateral Security Dialogue) é um diálogo estratégico de segurança entre a Austrália, Índia, Japão e Estados Unidos, criado devido ao tsunami do Oceano Índico de 2004, com o objetivo de oferecer assistência humanitária e suporte em desastres naturais.
Porém, atualmente, o principal fator que colabora para um maior entrosamento do grupo QUAD é a crescente preocupação dos países aliados com a ascensão chinesa na região indo-pacífica, e a união mais acentuada desses países da aliança já provoca alarme na China.
De maneira geral, a grande diferença entre ambas alianças é que o AUKUS se estabeleceu enquanto aliança militar. Por outro lado, o QUAD se formou e permaneceu como uma aliança considerada mais diplomática.
Ademais, o AUKUS por via de regra se concentra na segurança e na militarização da região indo-pacífica. Já o QUAD pode lidar com tópicos relevantes de todo o mundo, como por exemplo a pandemia da COVID-19, discussões econômicas, segurança e até mesmo sobre as mudanças climáticas.
Por outro lado, uma semelhança entre os grupos é o interesse na segurança da região indo-pacífica da “ameaça chinesa” sobre as nações da região.
Como a Austrália tem um papel fundamental nesses dois grupos no que tange a segurança da região do Indo-Pacifico e uma contenção da China
O AUKUS e o QUAD, apesar de suas diferentes abordagens, compartilham dos mesmos objetivos em relação a estabilização e segurança da região indo-pacífica. Portanto, a localização geográfica da Austrália é estratégica, mas fortemente afetada pelas disputas de poder no entorno.
Dito isso, é possível compreender o engajamento australiano na busca por alianças que possam colaborar com a segurança e defesa regionais.
Um dos exemplos históricos é sua participação no “Five Eyes”, um acordo de compartilhamento de inteligência entre os EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia que começou com a interceptação de comunicações durante a Segunda Guerra Mundial.
A participação de Canberra no AUKUS e no QUAD é igualmente relevante e positiva. Mesmo frente a grandes potências como os EUA e Reino Unido, suas contribuições são essenciais para ambos os grupos, além do governo australiano ter a possibilidade de atuar como sincronizador entre as alianças e seus projetos.
O papel essencial da Austrália para a segurança no indo-pacífico consiste em benefícios como:
- sua crescente influência diplomática, especialmente na região do pacífico sul;
- sua localização geoestratégica entre o oceano pacífico e o oceano índico que pode ser utilizada como passagem alternativa para comércio caso o Estreito de Malaca seja bloqueado;
- sua localização também colabora para o uso de seu território como praças de treinamento militar (já há fuzileiros Americanos estacionados em Darwin) e para instalações tecnológicas (como a usada pelo Five Eyes no centro do país);
- forças armadas capacitadas, apesar de relativamente pequenas, e com ambição pela modernização;
Em troca pela sua colaboração, Canberra intensifica sua relação com as potências aliadas, recebe acesso a tecnologias avançadas de segurança e defesa, e se torna um país cada vez mais respeitado como ator influente e essencial na segurança da região e no objetivo de conter a influência da China no indo-pacífico.
Por outro lado, a China se sente ameaçada com o que chama de “mentalidade de Guerra Fria” das alianças. Pequim afirma que o AUKUS incentivará uma corrida armamentista na região e que, no seu ponto de vista, os membros da aliança não querem somente competir, mas criar uma rede militar em vias navegáveis vitais como o Mar do Sul da China e minar o desenvolvimento econômico chinês.
As deficiências do AUKUS e o QUAD em conter uma China mais agressiva
Algumas das deficiências do AUKUS e do QUAD em conter a China incluem fatores como a participação dos mesmos países nas duas alianças, o que pode ser redundante e acarretar outras deficiências, como:
- problemas de comunicação entre os grupos;
- a possível duplicação das mesmas políticas para a região;
- a falta de instituições fortes e firmadas entre as duas alianças;
Além disso, a participação da Índia no QUAD é um fator controverso, pois o país é conhecido por atuar como um aliado de oportunidades. Nova Déli certamente está preocupada com o crescimento exponencial da China (com a qual já tem disputas fronteiriças violentas), mas também enfrenta a realidade de que, a partir de 2022, Pequim ultrapassou os Estados Unidos para se tornar seu parceiro comercial mais importante.
É importante ressaltar a ascensão de um novo grupo que busca atuar estrategicamente no Indo-Pacífico. Em fevereiro de 2022, a União Europeia divulgou seu plano de ação na região, que objetiva ” contribuir para a estabilidade, segurança, prosperidade e desenvolvimento sustentável da região, de acordo com os princípios da democracia, estado de direito, direitos humanos e direito internacional”.
Este interesse demonstra a importância econômica, geoestratégica e política da região que a torna cada dia mais relevante globalmente.
A importância da região do Indo-Pacifico para o comércio e segurança mundial
A região ganhou enorme importância geopolítica, estratégica e econômica para a Ásia, especialmente devido ao crescimento da China que atualmente é o maior país exportador do mundo e usa os mares do pacífico e índico como rota de exportação de produtos e importação, principalmente, de petróleo e gás do Oriente Médio.
Economicamente, o Indo-Pacífico é um centro de comércio global e, por isso, se tornou uma área de prosperidade econômica para os países da região. Segundo a Observer Research Foundation, a região detém 65% da população mundial, 63% do PIB mundial e 46% do comércio mundial de mercadorias. Além disso, a região também domina 50% do comércio marítimo mundial.
No entanto, as reivindicações chinesas, especialmente nas regiões marítimas do Sul da China, causam tensões com países como o Vietnã, as Filipinas, ou Brunei, além de tensões com o Japão ao norte, pondo em risco a segurança regional.
A ameaça de invasão a Taiwan, especialmente após a invasão russa na Ucrânia, também se tornou um tópico de alerta para o mundo. Devido a essas razões, a região testemunhou a proliferação de plataformas multilaterais e minilaterais para cooperação e diálogo, como o QUAD e o AUKUS.
Por fim, pode-se constatar que a tendência dessas alianças é buscar a promoção da segurança da região – bem como recuperar sua influência, no caso dos Estados Unidos – mas também realizar uma contenção militar da China que vai desde a Índia até as ilhas militarizadas do pacífico.
E nesse contexto, o papel da Austrália por sua posição geográfica e histórico de cooperação em segurança com os EUA e o Reino Unido é fundamental. Esse novo papel acaba aumentando o status de Camberra como um ator de relevante importância na geopolítica regional e até global.