- A União Europeia anunciou, no início de 2023, que trabalhará para que sua própria constelação de satélites, a IRIS², esteja em operação total até 2027;
- O papel de destaque dos satélites Starlink na guerra da Ucrânia parece ter acelerado os planos europeus;
- Além de levar conexão de internet para áreas mais remotas, os satélites europeus terão outras finalidades públicas e de segurança.
Com a ideia de levar sinal de internet rápido e eficiente para todo o planeta, até em áreas de difícil acesso e remotas – como zonas rurais, o primeiro grupo de 60 satélites Starlink de comunicação foi lançado em 2019 pela SpaceX, a empresa de transportes espaciais fundada por Elon Musk.
Em janeiro de 2023, mais 51 satélites foram lançados para essa constelação, que segundo Chris Hall, diretor do site de tecnologia Pocket Link, pode somar até 10 ou 12 mil satélites já lançados até agora.
Ao contrário de outros satélites, a constelação da SpaceX tem sua órbita muito mais próxima da Terra, ficando a uma altitude de cerca de 550 quilômetros e por isso sua velocidade de comunicação com os dispositivos terrestres é mais curta, chegando a 20 milissegundos.
Independente das controvérsias dos astrônomos, que afirmam que essa quantidade de satélites tão próxima ao planeta pode dificultar a observação de asteroides, a tecnologia e seu sucesso na guerra na Ucrânia ainda parece ter inspirado o governo europeu por outros motivos, que divulgou sua nova proposta de criar a própria rede de satélites da União Europeia.
A proposta para lançamento de uma nova constelação de satélites europeia para comunicação e conexão a internet
A Europa divulgou, no início de 2023, que lançará seus próprios satélites espaciais destinados a ampliar a conectividade e a comunicação digital de seus cidadãos, inspirados na Starlink de Elon Musk. O conjunto de satélites foi nomeado de IRIS² Satellite Constellation.
Anteriormente, a União Europeia já tinha suas constelações de satélites, como o Galileo, que é usado para sistema de navegação como o GPS americano, e o Copernicus, para a observação do planeta Terra.
O Comissário de Mercado Interno, Thierry Breton, foi quem propôs a ideia pela primeira vez e o orçamento público inicial para o financiamento da criação desses satélites será de 2,4 bilhões de euros, além de mais de 642 milhões de euros fornecidos pela Agência Espacial Europeia. Ou seja, mais de 3 bilhões de euros no total.
Segundo o documento de divulgação do projeto, lançado pela própria União Europeia, além da capacidade de trazer internet banda larga a toda a Europa e África, a IRIS² também:
- Conseguirá criar sinergias com as outras constelações de satélites já existentes – Galileo e Copernicus – para que não haja um “congestionamento” do espaço;
- Será focada em serviços governamentais e terá aplicações de defesa para o governo com sua capacidade de rastrear outros satélites e balões espiões, vigiar fronteiras e gerir crises humanitárias;
- Incentivará startups europeias, que construirão cerca de 30% da infraestrutura do projeto;
- Aumentará a coesão entre os territórios dos Estados-membros da União Europeia, já que estes estarão cada vez mais conectados, além de auxiliar no desenvolvimento social e econômico;
- Contará com um sistema de criptografia quântica para segurança, uma inovação em satélites do tipo, a longo prazo garantindo que a comunicação via satélite se torne mais confiável, econômica e segura em uma escala global.
O mesmo documento também reforça as necessidades de buscar a soberania digital em um contexto onde as preocupações com economia e segurança estão crescendo, juntamente com as ameaças cibernéticas e isso faz com que eles dependam cada vez mais de uma conexão rápida e resiliente.
Os serviços iniciais da IRIS² estão previstos para começar em 2024 e a União Europeia espera que em apenas três anos, já em 2027, os satélites estejam em sua capacidade total de operação. Um tempo curto para que o projeto se torne rapidamente um dos pontos estratégicos da segurança, resiliência e proteção do continente.
Como a guerra na Ucrânia acelerou os planos Europeus para aumentar sua soberania em comunicações via satélites com sua própria constelação de satélites
Com um investimento tão alto, é fato que a União Europeia precisou de incentivos para notar o benefício e a eficácia das constelações de satélite.
Após a invasão da Rússia na Ucrânia e a pressão do ministro ucraniano Mykhailo Federov para que Elon Musk fornecesse os serviços da Starlink no território atacado, a SpaceX enviou os equipamentos necessários para que os satélites pudessem entrar em uso por lá.
Os Starlinks se mostraram valiosos, principalmente em um ambiente de conflito, pois quanto mais deles em órbita, mais complexo é para um possível inimigo cortar sua comunicação, já que seria necessário destruir milhares de mini satélites para que isso acontecesse e o orçamento para uma operação desse nível seria muito alto.
Mesmo que existam cabos submarinos conectando o mundo e que eles sejam essenciais para a transmissão de informações, essa é uma tecnologia antiga e suas fragilidades são físicas, por acidentes que possam ocorrer ocasionalmente, como terremotos, acidentes de pesca ou transporte comercial e as fragilidades digitais, com a possibilidade deles serem grampeados.
Dessa forma, os pontos fracos dos cabos submarinos reforçam os pontos fortes dos satélites Starlink.
Ademais, os drones estão cada vez mais fazendo parte das guerras em todos os níveis militares, desde seu uso no nível de esquadrões a até brigadas e divisões. Drones podem ser usados para reconhecimento e até ataque direto. Porém, para seu uso, eles precisam estar conectados a satélites (no caso de grandes drones militares) ou à internet (no caso de drones comerciais que também estão sendo usados em conflitos). Então, como não perder essa conexão em um território em guerra?
Através de satélites que prometem oferecer conexão até mesmo em áreas mais remotas.
Além disso, qualquer país deseja obter soberania em todos os aspectos para não depender de outros países, pois relações geopolíticas podem mudar em um instante. A Europa mostra não querer depender de uma empresa privada norte-americana, muito pelo contrário, os planos da IRIS² reforçam a intenção deles se tornarem independentes neste domínio.
Todo esse contexto pode ter sido um dos principais motivadores para a aceleração do plano da União Europeia em criar sua própria constelação de satélites para a comunicação.
A importância das constelações de satélites públicas e privadas na comunicação e acesso a internet global
Como dito, as constelações de satélites conseguem trazer conexões de internet de qualidade até para as áreas mais remotas, sendo muito importante para conectar os locais de difícil acesso na rede que cada vez mais tem protagonismo nos nossos cotidianos e uma alternativa valiosa para as redes de cabo e torres de celular.
Além do mais, esses satélites também podem fornecer serviços de comunicação em situações de emergência, como em desastres naturais, fornecer informações para serviços de navegação como o GPS e transmitir sinais de TV e rádio ao redor do mundo.
Seja pela iniciativa pública, como a IRIS², que mesmo tendo um pequeno incentivo privado ainda é majoritariamente governamental ou pela iniciativa privada, com o sistema Starlink, é fato que esses sistemas de satélites desempenharão um papel essencial no futuro para a comunicação mundial, seja no nível comercial como no nível militar/governamental.
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