- Os cabos submarinos são implantados no fundo do mar para transportar sinais de comunicação;
- Os danos físicos e digitais dos backbones podem gerar consequências na comunicação, nas transações financeiras, no comércio internacional e na defesa estatal;
- Os conflitos geopolíticos projetados nos meios digitais, aumentaram a preocupação de países em protegerem os cabos de comunicação que os alimentam.
Os cabos submarinos são fundamentais para a transmissão de dados e de maneira geral, eles são comumente utilizados em redes internacionais de telecomunicações interligando países e continentes, sendo essenciais para a integração das nações no “Sistema Internacional.”
Devido a tal importância, os cabos de comunicação se tornaram um tema de segurança nas Relações Internacionais e uma preocupação para líderes de Estado que buscam protegê-los contra possíveis ataques, especialmente com o aumento da tensão internacional com a guerra na Ucrânia.
A história do uso de cabos submarinos para comunicação
Os cabos de comunicações submarinos, conhecidos como backbones, são um cabos colocados no fundo do mar entre estações terrestres para transportar sinais de telecomunicações através de trechos do oceano.
O primeiro dos mais de 400 cabos submarinos que hoje conectam o mundo foi instalado em 1850, conectando a Inglaterra e a França. Oito anos depois, o segundo cabo foi instalado no Atlântico.
Desta vez ele tinha 4 mil quilômetros de comprimento e tinha 1,5 centímetro de largura. O objetivo era conectar a Europa aos Estados Unidos permitindo a comunicação telegráfica entre os dois continentes.
Os primeiros cabos de comunicações submarinos transportavam tráfego telegráfico, estabelecendo as primeiras ligações instantâneas de telecomunicações entre continentes. Após os primeiros, os cabos mais atuais passaram a transportar tráfego telefônico e por fim, o tráfego de dados, ou seja, a internet.
Os cabos atuais usam a tecnologia de fibra ótica para transportar dados digitais, que inclui telefone, Internet e tráfego de dados privados.
Por que os cabos submarinos de comunicação são essenciais para defesa nacional, comércio, e influência geopolítica?
Os países do mundo inteiro estão cada vez mais dependentes de tecnologia em geral e para interconexão com o resto do mundo, por isso a importância de proteger os sistemas cibernéticos contra ataques se tornou uma das maiores prioridades estatais.
A vulnerabilidade nas estruturas tecnológicas de um país abrem espaço para possíveis interferências estrangeiras indesejadas, comprometendo as diversas cadeias de suprimentos que atendem às necessidades da nação.
A conectividade e a capacidade da internet de alta velocidade para atingir grandes espaços geográficos são essenciais para o comércio e as comunicações em todo o mundo atual.
Dito isso, a interrupção da internet pode comprometer a proteção e a estabilidade das redes financeiras, que estariam em risco, assim como toda a rede de comércio internacional que sofreria inevitáveis consequências e atrasos em cadeia.
Se os cabos submarinos fossem acidentalmente ou intencionalmente cortados, mesmo que somente por algumas horas, até mesmo a capacidade da guerra moderna dos países poderia ser afetada já que o funcionamento dos cabos engloba as comunicações e a conscientização no campo de conflito.
Os atuais conflitos geopolíticos na busca de poder também são cada vez mais projetados nos meios tecnológicos e digitais, incluindo diversos países e empresas de tecnologia que lutam para alcançar a superioridade tecnológica e controlar a ordem digital global.
Ao mesmo tempo, os cabos submarinos acabam sendo negligenciados pelos governos por serem interestatais, intercontinentais e por serem implementados por iniciativas privadas, na maioria das vezes.
Os cabos são administrados por consórcios separados de empresas ou entidades privadas, praticamente sem sistema de governança internacional. Os cabos não têm bandeiras nacionais, logo a propriedade legal é dividida entre os vários coproprietários sob um sistema de jurisdições e nacionalidades, bem como convenções e negociações do direito internacional do mar.
Essa extensão multijurisdicional dos cabos submarinos para além dos mares territoriais também dificulta a sua proteção e manutenção, comprometendo a segurança e a resiliência das transferências de dados, serviços de Internet e da comunicação mundial.
Os principais riscos para os cabos submarinos no século XXI – como assegurá-los?
Segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, sigla em inglês), os cabos submarinos têm dois tipos de vulnerabilidades: física e digital.
Mas, a ameaça mais comum atualmente são danos físicos causados por acidentes de pesca, por transporte comercial, ou até mesmo danos ocasionados por terremotos subaquáticos.
No entanto, a maior preocupação dos Estados são as ameaças maliciosas. Os dois maiores riscos são a destruição dos cabos ou a possibilidade de serem grampeados, por um ente não-estatal ou até mesmo por um país espião.
Como exemplo, de acordo com a Deutsche Welle (rede pública de notícias da Alemanha), O chanceler alemão Olaf Scholz e o primeiro-ministro norueguês Jonas Haar Store pediram à OTAN que proteja os oleodutos subaquáticos e os cabos de comunicação devido a uma suposta “atenção” da Rússia aos cabos cabos submarinos transatlânticos, particularmente no Mar do Atlântico Norte.
Os objetivos podem ser: cortar comunicações militares ou governamentais nos estágios iniciais de um conflito, eliminar o acesso à Internet para uma população-alvo, sabotar um concorrente econômico ou causar disrupções econômicas para fins geopolíticos.
Os atores também poderiam perseguir vários ou todos esses objetivos simultaneamente. Entretanto, mais difícil e sutil do que destruir os cabos é gravar, copiar e roubar seus dados, para que sejam coletados e analisados para espionagem.
Para assegurar os cabos submarinos, algumas das medidas que podem ser tomadas, segundo especialistas estratégicos são: o aumento do compartilhamento de inteligência entre os países e entes aliados; e a realização de avaliações de risco nacionais de projetos de cabo. Para além disso, os Estados podem fazer uso de suas Marinhas nacionais, de forma conjunta, para patrulhar parte da extensão destes cabos por meio do uso de navios e submarinos – tripulados ou não.
Além disso, é necessário: garantir o compromisso do setor privado com a segurança; desenvolver capacidades nacionais de monitoramento e reparo; e adotar um planejamento conjunto em caso de grandes danos.
A importância de se manter a segurança dos cabos submarinos e os riscos do uso de satélites como alternativa
A rede global de cabos submarinos fornece as conexões necessárias para uma ampla gama de atividades vitais para nossa sociedade moderna, desde transações financeiras até comunicações globais ou cooperação científica internacional.
Os cabos submarinos realizam cerca de 97% de todas as comunicações globais, e estima-se que 10 trilhões de dólares em transferências financeiras todos os dias.
Os satélites, que também são importantes para a comunicação global, são limitados em velocidade e lidam apenas com uma pequena porcentagem de comunicações globais.
Em comparação com os satélites, os cabos submarinos também fornecem conexões mais confiáveis, econômicas e de alta capacidade que são indispensáveis para o dia a dia da humanidade atual. Ademais, os cabos de fibra óptica são mais rápidos, baratos e menos arriscados do que as comunicações via satélite.
Estima-se que entre satélites ativos e lixo espacial, há mais de 26.000 objetos circulando na órbita da Terra atualmente, causando um congestionamento estelar e um excesso de objetos na órbita da Terra que eleva risco de colisão.
Sendo assim, os cabos submarinos de transmissão dados são a principal linha de conexão entre diferentes países para uso comercial, político e até militar. Em um mundo cada vez mais interconectado, eles são as artérias da sociedade moderna.
Portanto, o investimento na segurança dos cabos submarinos está se tornando uma pauta de extrema importância nos setores estratégicos e de defesa nacional e, consequentemente, um tema ainda mais relevante na geopolítica mundial.
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