- A hegemonia dos Estados Unidos pode estar ameaçada por uma crescente China.
- Seguindo o histórico da “Armadilha de Tucídides,” um conflito armado entre os Estados Unidos e a China é provável.
- A China tem aumentado sua influência em regiões do mundo onde os norte-americanos estão retraindo a sua.
Desde o fim da Guerra Fria e com o colapso da União Soviética, os EUA se tornaram sozinhos o país mais poderoso do mundo militarmente e economicamente. Entretanto, o rápido crescimento econômico e militar chinês se tornou uma ameaça à hegemonia econômica norte-americana.
Além disso, a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi à ilha de Taiwan em Agosto de 2022 provocou um grande desentendimento diplomático que disparou um sinal de alerta no mundo inteiro.
Mas no momento, os Estados Unidos e a China são as duas maiores economias do mundo. Os dois países que têm relações comerciais desde o século XX mas estão apresentando diversas tensões diplomáticas e disputas comerciais.
Esse crescimento chinês é muito significativo, então como os Estados Unidos vão se comportar diante dessa concorrência? Há precedentes históricos para esse tipo de situação?
O que é e como funciona a armadilha de Tucídides?
O termo “Armadilha de Tucídides” é usado na área de Relações Internacionais para descrever a tendência à guerra quando uma potência emergente ameaça substituir uma grande potência já estabelecida.
O termo é baseado em uma citação do antigo historiador e militar ateniense Tucídides mas foi recentemente usado pelo cientista político estadunidense Graham Allison para descrever a atual situação entre EUA e China.
A partir da análise histórica ao longo das últimas décadas, pode-se dizer que uma guerra entre os Estados Unidos e a China é não só provável, mas muito possível. Essa teoria foi comprovada quando um estudo do Harvard Belfer Center for Science and International Affairs, após analisar o registro histórico, concluiu que em 12 dos 16 casos de concorrência entre países nos últimos 500 anos terminou em guerra.
Portanto, quando um país emergente como a China passa a ameaçar um poder dominante como os Estados Unidos, os problemas diplomáticos ou econômicos que seriam resolvidos de outra forma, podem criar uma cascata de reações inesperadas no campo não só econômico, mas militar.
Porém, um fator que pode anular a Armadilha de Tucídides é as relações comerciais entre esses dois atores pode evitar o eventual conflito armado.
Histórico de relações entre China x Estados Unidos
A China e os EUA passam por temporadas de conflitos diplomáticos e econômicos desde várias décadas, portanto alguns dos problemas encarados hoje têm suas raízes no século XX.
Nesse período, Washington apoiou os nacionalistas durante a Revolução Chinesa, além de terem assinado um acordo de proteção mútua com Taiwan, ilha autogovernada reivindicada pela China. No entanto, durante a Guerra Fria, Pequim cortou relações com a antiga República Soviética e se reaproximou dos norte-americanos depois da visita do presidente Nixon.
Durante os anos 1980, a China iniciou uma das suas reformas internas mais importantes em direção a sua gradual abertura econômica. Enquanto isso, os EUA buscavam o estabelecimento de sua hegemonia internacional. Como resultado da abertura econômica, a China cresceu de uma forma muito acelerada no fim do século XX e nos anos 2000 alcançou um nível relevante para a economia internacional, tornando-se a segunda maior economia do mundo.
Apesar dos investimentos chineses nos Estados Unidos e os grandes aportes financeiros estadunidenses na China, o crescimento exponencial de Pequim passa a ser interpretado como uma ameaça à hegemonia econômica americana, o que resultou em uma guerra comercial entre os dois países em 2018, quando Washington anunciou tarifas sobre os produtos importados da China.
As tensões se intensificaram com a alegação dos EUA de que grandes empresas chinesas do setor de telecomunicações como a Huawei, uma das pioneiras da tecnologia 5G estariam espionando as empresas norte-americanas.
Por fim, em 2022, a visita da congressista norte-americana à ilha de Taiwan, foi recebida pela China como uma provocação direta, aumentando o clima de tensão entre os países.
O possível conflito militar entre duas potências
Em 2021, no centenário do Partido Comunista Chinês, os 100 anos de humilhação foram citados. A narrativa foi de que dez potências mundiais “exploraram a China”. Dentre outros, isso inclui países como os Estados Unidos, Rússia, Japão, Inglaterra, Alemanha e França.
Então, após se livrar do domínio estrangeiro e se tornar a segunda maior economia do mundo, acredita-se que o país tenha um projeto global de estabelecimento de sua potência. Não por acaso a China tem ampliado sua influência nos “buracos” deixados pelos Estados Unidos, como por exemplo nos países africanos do atlântico sul.
A China também parece buscar o deslocamento dos EUA da região indo-pacífica, e apesar de ainda não possuir uma Marinha Alto Mar equivalente à norte-americana, a sua influência regional aumentou exponencialmente. Fica evidente que o país tem uma honra e um orgulho nacional a zelar, portanto é provável que os chineses não se deixem sentir humilhados outra vez, nem que isso custe uma guerra.
O conflito entre a China e os Estados Unidos pode acontecer direta ou indiretamente. Entretanto, visto o cenário mundial atual de uma guerra direta já estabelecida na Ucrânia, é mais provável que uma guerra indireta estabeleça, assim como aconteceu no Vietnã – que foi essencialmente uma “guerra por procuração” entre os Estados Unidos e a Rússia.
Com o cenário atual em análise, é possível e muito provável que a ilha de Taiwan seja usada como campo de uma nova guerra por procuração, mas dessa vez entre os Estados Unidos e a China. A tensão diplomática ficou evidente na visita de Pelosi e a China não hesitou em realizar exercícios militares no entorno da ilha ainda durante a visita da congressista, o que poderia ser interpretado também como uma demonstração de força.
Visto o grande crescimento chinês, a aliança informal Quad – “Quadrilateral Security Dialogue” (Diálogo Quadrilateral de Segurança), composta pelos Estados Unidos, Austrália, Índia e Japão – têm se reunido para discutir a grande influência regional da China e tentar contrapo-la.
A aliança nasceu como uma cooperação marítima, mas atualmente os membros buscam atuar em diversas questões como a de segurança, econômica e saúde da região. Portanto, o crescimento da chinês acabou por unir o grupo na busca por conter a potência do país oriental e, provavelmente, a aliança terá cada vez mais relevância no cenário internacional.
Finalmente, durante muitas décadas, os EUA tem mantido uma posição de ambiguidade estratégica em relação a Taiwan, não deixando claro se defenderia ou não a Taipei em caso de uma agressão Chinesa.
Porém, dos últimos meses, o presidente americano Biden mencionou duas vezes que defenderia Taiwan contra a China em caso de guerra, abandonando a norma de ambiguidade estratégica. Mais um fósforo perto do pavio do barril de pólvora que está se tornando o Mar do Sul da China.
A cooperação econômica pode evitar uma guerra?
Durante muito tempo, a Alemanha acreditava que poderia incluir a Rússia no grupo de nações democráticas através do comércio e das relações econômicas, mas com a invasão de Moscou à Ucrânia ficou evidente que quando se trata de segurança nacional, as relações econômicas com a Europa ficam em segundo plano para Putin.
Na Segunda Guerra Mundial, as relações econômicas entre a Alemanha, França e Reino Unido também não impediram o conflito. Tomando tais fatos históricos como referência, é possível que Xi Jinping, presidente chinês, não evite um conflito armado com grandes potências para defender sua geopolítica, sua segurança nacional e militar. Especialmente após relembrar a humilhação secular da China.
O porta-voz da Força Aérea Shen Jinke foi citado pela mídia estatal chinesa declarando que a Força Aérea tem diversos modelos de caças aéreos capazes de circular “a preciosa ilha de nossa pátria”, se referindo a Taiwan. Shen também afirmou que “A Força Aérea tem a firme vontade, total confiança e capacidade suficiente para defender a soberania nacional e a integridade territorial”.
Por fim, Xi Jinping, alertou o presidente estadunidense Joe Biden que Washington deve respeitar o princípio de uma só China e “aqueles que brincam com fogo perecerão por ele”.
Futura tendência do potencial conflito entre a China e os Estados Unidos
Se a China continuar crescendo de maneira acelerada e os Estados Unidos crescerem, mas com um menor percentual, é possível que um conflito entre as duas potências aconteça, direta ou indiretamente.
Apesar de ambos países terem armas nucleares, é pouco provável que sejam usadas pois esse é considerado o último bastião de defesa de um país e que traz consequências muitas vezes irreversíveis.
Uma das chances de eles não entrarem em conflito é se a economia chinesa enfraquecer ao ponto de não poder sustentar suas demandas internas e uma guerra. Ainda em 2022 a China está em uma crise econômica devido às quarentenas de COVID-19 e ao enfraquecimento e ameaça de colapso do setor imobiliário nacional.
Além disso, a China está de olho no que acontece na Ucrânia. Se o ocidente continuar o forte apoio a Kiev e esse vier a derrotar a Rússia, isso provavelmente desincentivará Pekin a se aventurar com Taiwan. Se o apoio ocidental pelo Ucrânia se enfraquecer, a China se sentirá mais confiante de uma potencial vitória contra Taipei.
Outra hipótese seria um colapso do Partido Comunista junto com a ascensão de uma liderança democrática, pois essas são menos propensas a fazer guerra. Uma autocracia entra em guerra com mais facilidade, já que não necessita de aprovação popular, ao contrário das democracias que tornam um conflito mais improvável.
Por fim, é possível que a China trabalhe pelo restabelecimento de sua economia e o bem estar nacional acima de tudo. Entretanto acontecimentos geopolíticos dessa magnitude e com tantas potenciais variáveis são difíceis de prever e em caso de ameaça, é provável que as Forças Armadas chinesas respondam à altura. Nesse caso, a Armadilha de Tucídides mais uma vez se confirmará.
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