As políticas sociais da China, no ano de 2021, tiveram um grande avanço com uma maior intervenção estatal nas empresas nacionais bilionárias para aumentar os cofres orçamentários do governo e do Partido Comunista da China, mas também para controlar a influência dessas empresas na economia e no país como um topo.
Empresas como a Alibaba e a Tencent de tecnologia deram ao governo mais de 23 bilhões de dólares em prol da política de “Prosperidade Comum”, uma busca de diminuir a acumulação e a desigualdade socioeconômica da China.
O que é a política de “Prosperidade Comum” ou “Prosperidade Conjunta”
Em fevereiro de 2021, Xi Jinping disse em coletiva sobre a erradicação da pobreza no país que a “Prosperidade Comum” era o novo estágio do desenvolvimento econômico da China.
Com o crescimento econômico chinês das últimas décadas, as empresas do país desenvolveram-se exponencialmente ganhando mais valor de mercado. A empresa de e-commerce Alibaba Group, por exemplo, chega a um valor de mercado de US$450 bilhões, e é a maior empresa da China.
Porém a acumulação de capital não condiz com as correntes políticas históricas do governo Chinês, que segue a linha de “Prosperidade Comum” da sociedade nacional. Essa política tem como objetivo a distribuição de renda mais igualitária e o desenvolvimento interno do país, fortalecendo uma classe média e não polarizações entre ricos e pobres.
Com o chamado Capitalismo de Estado (ou Economia de Mercado Socialista) que rege as relações econômicas, houve a margem para o crescimento econômico da China até chegar como uma das novas potências mundiais. Porém ainda há a mediação e intervenção estatal sobre as instituições privadas para que objetivos do Partido, como a erradicação da desigualdade social, ainda sejam implementadas.
Então, a taxação de fortunas como as grandes empresas é uma forma de controle sobre a acumulação e o poder político que os atores econômicos terão sobre o governo.
A “Prosperidade Comum” é uma política antiga do sistema social chinês, que busca um desenvolvimento fundamentado na eliminação da pobreza, na diminuição da desigualdade social e na distribuição de renda.
A partir da propriedade coletiva dos meios de produção (terra, gado, equipamentos etc) e da coletivização do campo, há um objetivo de uma sociedade mais igualitária e com oportunidades iguais a todos ao estilo de vida, mesmo que no passado, muitas dessas políticas tenham sido um imenso fracasso.
Steven Lynch da Câmara Britânica de Comércio na China comentou à BBC sobre o crescimento econômico chinês e seu funcionamento regido pela “Prosperidade Comum”:
“Trinta anos atrás, uma família chinesa poderia ter uma tigela de bolinhos uma vez por mês”, ele me disse no telefone de Pequim. “Há vinte anos, talvez eles poderiam ter uma tigela uma vez por semana. Dez anos atrás – que mudou para todos os dias. Agora eles podem comprar um carro.”
Steven Lynch, para a BBC
As origens da “Prosperidade Comum” ou “Sociedade Moderadamente Próspera”
Essa política social chinesa foi primeiramente utilizada em 1953, na edição do jornal governamental Diário do Povo, na Era Mao. Ligada ao coletivismo e igualitarismo, a Prosperidade Comum foi sendo implementada através de reformas do governo para tornar a economia chinesa interna mais igualitária, principalmente com relação aos camponeses chineses e a grande pobreza.
No centenário do Partido Comunista da China, Xi Jinping disse que as metas dos Dois Centenários já estão se realizando ao concretizar uma “sociedade moderadamente próspera”.
Essa visão de sociedade é uma herança do Confucionismo chinês em junção com a corrente do Socialismo, acreditando que o sucesso do desenvolvimento social se dá a partir de uma classe média funcional. Dessa forma, é possível construir um mercado interno igualitário que consome e impulsiona a produção nacional.
É o objetivo geral que media a política chinesa desde a sua Revolução Popular: de considerar necessário que o crescimento econômico possibilite a prosperidade, mas que considera necessário que esta prosperidade seja distribuída amplamente pela sociedade.
Exemplos da política de “Prosperidade Comum” na era de Xi Jinping
Desde 2020, a China toma ações mais interventivas sobre o Mercado, permitindo seu crescimento mas controlando-o também.
A Política de Reforma e Abertura feita em 1976 por Deng Xiaoping, que abriu a economia chinesa ao mundo capitalista, tinha como base a visão de uma desigualdade inicial onde certas pessoas ficariam ricas primeiramente para que depois essa renda fosse distribuída e pudesse elevar a população à classe média.
Seguindo as mudanças aplicadas na China pela Política de Reforma e Abertura, que estabelece o Capitalismo de Estado para desenvolver o país economicamente, o secretário-geral Xi Jinping vem investindo em infraestruturas para desenvolver as áreas periféricas e mais pobres do país continental.
Além disso, aprofunda as relações internacionais com outras nações para que consiga estimular as indústrias chinesas e aumentar o poder geopolítico do país. Se concretizando, então, enquanto uma grande potência e melhorando o estilo de vida da sua população.
O recolhimento de renda das empresas bilionárias foi mais uma das políticas da sua agenda em busca da sociedade mais igualitária.
Xi Jinping escreveu um artigo, em outubro de 2021, na revista teórica do Partido Comunista da China sobre a Prosperidade Comum e a descreveu, junto com as metas para concretizá–la:
“A prosperidade comum é o requisito essencial do socialismo e uma característica importante da modernização ao estilo chinês. A prosperidade comum de que estamos falando é a prosperidade comum de todas as pessoas, a vida material e espiritual das pessoas são ricas, não é a prosperidade de poucas pessoas, nem é igualitarismo uniforme.”
Xi Jinping, Revista teórica Qiushi
Da Guerra Fria de Ideologias entre os EUA e a URSS do Século XX à nova Guerra Fria de Ideologias do Século XXI entre os EUA e a China!
Desde antes da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos já eram a maior economia do mundo. Porém, nas últimas décadas, vêm perdendo seu posto enquanto principal produtor de manufatura do mundo, importando mais de outros países. Mas ainda assim é um grande centro de produção e exportação de ideias, valores, e cultura.
A produção intelectual significa um grande potencial imaterial para o país, já que com a difusão dessas ideias há uma difusão dos interesses desses países.
O embate da Guerra Fria era muito baseado em um conflito de ideologias, as ideologias capitalistas (dos EUA) contra as ideologias socialistas anti-capitalistas (União Soviética). Elas eram manifestadas a partir das conquistas materiais e tecnológicas de desenvolvimento, tentando provar que uma nação era mais forte que a outra, o que enfatizava o sucesso de uma ideologia em detrimento da outra.
A relação entre os EUA e a China neste século XXI não se dá de forma tão polarizada, por conta das diferenças nas políticas econômicas da China atual e da antiga URSS, mas também se dá no campo das ideias.
Os EUA passam por momentos de alta desigualdade e poucas políticas públicas para reverter esse processo. A “política externa para a classe média” (Foreign Policy for the Middle Class) do governo Joe Biden é uma forma de re-incluir o “cidadão comum” na política, já que ao seguir os ideais mais neoliberais de um Estado pequeno na economia desde a década de 80, a desigualdade econômica começou a aumentar.
No mesmo país de super bilionários como Jeff Bezos e Elon Musk, a renda da população de classe média estagnou. Essa política externa para a classe média é uma tentativa de combater a disparidade de renda resultante da globalização a partir das políticas internacionais, tentando seguir o método político chinês de proteção do mercado e economia interna.
Essa nova política externa é mais um ideal de como deveria ser a política internacional dos Estados Unidos, do que um plano concreto com objetivos de ação específicos.
A economia chinesa passou por um grande investimento nas suas bases produtivas e no seu crescimento no mercado internacional. Nos últimos anos, a potência asiática vêm explorando a disseminação deste capital acumulado, como forma de propagar suas ideologias socioeconômicas.
A sua Belt & Road Initiative (a nova “Rota da Seda”) é uma forma de mostrar ao cenário internacional menos desenvolvido, em comparação aos núcleos europeus e americano, que a Prosperidade Comum é um objetivo a ser alcançado coletivamente.
Então, a partir do investimento em outros países, a China alcança aliados não só economicamente mas ideologicamente também.
O que se observa é a tentativa e empenho chinês em se tornar a exportadora mundial de produtos e também de ideias e valores, aumentando o seu poder geopolítico.
Porém, esse investimento foi dado somente a partir do momento em que a acumulação de capital se tornou tão desigual internamente, que as empresas bilionárias e seus CEOs começaram a intervir e questionar o poder político do governo chinês, o que levou a uma reação do mesmo.
Sendo assim, a política econômica chinesa de “Capitalismo de Estado” prega que o crescimento econômico deve ser seguido e alcançado, para depois haver uma maior distribuição para grande parte da população desta riqueza que foi gerada pelo capitalismo, e não somente sua acumulação pela elite econômica.
Se esse modelo de política econômico chinesa for bem sucedido a longo prazo gerando maior prosperidade para a sociedade em geral, ele será copiado e implementado por outros países que eventualmente abandonarão o sistema capitalista americano mais neoliberal de Estado mínimo na economia.
Isso seria a maior revolução no pensamento econômico dos últimos 2 séculos e levaria a China a ser o país hegemônico do século XXI.
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