- Em fevereiro de 2019, os Estados Unidos anunciaram formalmente sua retirada do Tratado INF, alegando contínuas violações por parte da Rússia.
- O projeto ELSA, que surgiu em resposta aos desafios da guerra na Ucrânia, visa desenvolver mísseis de cruzeiro com alcance de 1.000 a 2.000 quilômetros.
- O projeto ELSA promove uma divisão equitativa de custos e recursos entre França, Alemanha, Polônia e Itália, visando fortalecer a segurança coletiva da Europa.
A recente iniciativa europeia conhecida como ELSA, ou Abordagem de Ataque de Longo Alcance Europeia, representa um marco na cooperação militar entre os países da União Europeia.
Desenvolvido em resposta às crescentes ameaças internacionais, este projeto reúne França, Alemanha, Polônia e Itália em um esforço conjunto para criar um sistema de mísseis de longo alcance.
Através do ELSA, esses países esperam preencher lacunas em suas defesas e fortalecer a segurança coletiva do continente.
O Histórico do “Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário” e Seu Colapso
O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), assinado em 1987 entre os Estados Unidos e a União Soviética, foi um marco na redução das tensões nucleares durante a Guerra Fria.
Este tratado eliminou todos os mísseis balísticos e de cruzeiro lançados de terra com alcances entre 500 e 5.500 quilômetros, reduzindo significativamente a ameaça de ataques nucleares de curto prazo na Europa.
Após o fim da Guerra Fria, havia uma expectativa otimista de que a Rússia e o Ocidente poderiam construir uma relação cooperativa e pacífica. No entanto, ao longo das décadas, essa esperança foi diminuindo devido a uma série de eventos e políticas que minaram a confiança mútua.
Por consequência, em fevereiro de 2019, os Estados Unidos anunciaram formalmente a sua retirada do Tratado INF, citando as contínuas violações por parte da Rússia em território Ucraniano.
Portanto, a criação da ELSA está diretamente relacionada ao colapso do Tratado INF, com o objetivo de suprir a lacuna deixada pela falta de acordos de controle de armas, especialmente em mísseis de longo alcance.
A administração Trump afirmou que não poderia permanecer no tratado enquanto a Rússia continuava a desenvolver e implantar mísseis que violavam os termos do acordo.
A Rússia, por sua vez, negou as acusações e anunciou sua retirada do tratado em resposta, marcando o fim oficial de um dos pilares do controle de armas nucleares da era pós-Guerra Fria, deixando as portas abertas para o eventual rearmamento desses países.
O Que é o Novo Projeto Militar Francês, Alemão, Polonês e Italiano Chamado ELSA?
O projeto ELSA visa desenvolver um míssil de cruzeiro com alcance entre 1.000 e 2.000 quilômetros, capaz de atingir alvos com alta precisão e sobreviver às defesas aéreas adversárias.
Este esforço conjunto não só reforça a capacidade defensiva da Europa, mas também promove a integração industrial e militar entre os países participantes, refletindo um dos princípios fundamentais da União Europeia: a cooperação para alcançar maior eficiência e economia de recursos.
O projeto surgiu como uma resposta direta aos desafios postos pela guerra na Ucrânia. Durante o conflito, a Rússia demonstrou sua capacidade de usar mísseis de alcance longo e intermediário com eficácia devastadora.
Confrontada com essa realidade, a Europa reconheceu sua própria vulnerabilidade e a necessidade urgente de reforçar suas defesas.
Como o ELSA Promove uma Maior Cooperação Militar Entre os Membros da União Europeia?
Nos últimos anos, a Europa tem enfrentado um cenário de segurança cada vez mais complexo, impulsionando a necessidade de colaboração estreita. Iniciativas como a Cooperação Estruturada Permanente (PESCO) e o Fundo Europeu de Defesa já estabeleceram uma base sólida para projetos colaborativos.
A ELSA, no entanto, eleva essa cooperação a um novo patamar, demonstrando que os países europeus estão dispostos a unir forças para enfrentar ameaças comuns de maneira eficaz e coordenada.
A PESCO, lançada em 2017, é um esforço significativo para reforçar a colaboração em defesa entre os estados membros da União Europeia. Ela visa facilitar projetos conjuntos em áreas como logística, inteligência, cibersegurança e mobilidade militar.
Através da PESCO, os países participantes se comprometeram a aumentar seus orçamentos de defesa e a investir em capacidades estratégicas compartilhadas.
Este quadro permite que as nações europeias desenvolvam conjuntamente capacidades militares que seriam inacessíveis individualmente, promovendo a interoperabilidade e a prontidão operacional.
O Fundo Europeu de Defesa (EDF), estabelecido em 2021, complementa esses esforços ao fornecer financiamento para a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de defesa.
O EDF incentiva a inovação e a competitividade na indústria de defesa europeia, promovendo a colaboração entre empresas e institutos de pesquisa de diferentes países. Este fundo desempenha um papel crucial na redução da duplicação de esforços e no fortalecimento da base industrial e tecnológica de defesa da Europa.
A ELSA, em particular, se destaca como uma iniciativa que vai além das colaborações tradicionais. Ao focar no desenvolvimento conjunto de mísseis de longo alcance, a ELSA aborda diretamente uma das lacunas mais críticas nas defesas europeias.
Além disso, a ELSA promove uma divisão equitativa de custos e recursos, aliviando a pressão financeira sobre os países individuais.
O desenvolvimento de sistemas de armas avançadas é extremamente caro e complexo, exigindo muitos recursos em termos de pesquisa, desenvolvimento e produção.
Através desse projeto, os países participantes podem compartilhar esses custos e beneficiar-se das capacidades industriais e tecnológicas uns dos outros.
Quais São os Benefícios Econômicos e Estratégicos do ELSA para a Europa?
O impacto econômico do projeto ELSA não pode ser ignorado. A colaboração em larga escala entre países europeus gera benefícios econômicos, incluindo a criação de empregos, o estímulo à economia local e o desenvolvimento de novas oportunidades de negócios.
A produção de mísseis de longo alcance envolve uma complexa cadeia de suprimentos, que inclui desde a pesquisa e desenvolvimento até a fabricação e manutenção. Isso resulta na criação de milhares de empregos altamente qualificados.
Além disso, a inovação tecnológica impulsionada pelo projeto ELSA pode ter aplicações além do setor de defesa. Tecnologias desenvolvidas para mísseis, como sistemas de navegação avançados, materiais resistentes e técnicas de produção de ponta, podem ser adaptadas para uso em outras indústrias, como aeroespacial, automotiva e de telecomunicações.
O projeto também contribui para a autonomia estratégica e a competitividade da Europa. Em um mundo cada vez mais multipolar, onde as tensões geopolíticas estão em alta, a capacidade de desenvolver e produzir independentemente sistemas de defesa avançados é essencial, para evitar que a defesa europeia dependa excessivamente de aliados externos.
Ademais, além de atender às necessidades de defesa europeias, os sistemas de armas desenvolvidos no âmbito da ELSA também têm o potencial para serem exportados para outros países.
Quais são as Controvérsias e Perspectivas Futuras para Abordagem de Ataque de Longo Alcance Europeia?
O futuro da ELSA e da defesa europeia, em geral, é complexo. O desenvolvimento conjunto de mísseis de longo alcance é apenas uma parte de um plano maior para fortalecer a segurança da Europa.
No entanto, essa iniciativa também traz grandes riscos de aumento da tensão militar e um potencial conflito armado. Com o colapso da ordem pós-Guerra Fria, os países estão rearmando-se rapidamente, sinalizando um retorno a uma era de competição armamentista.
Em um ambiente onde os estados buscam maximizar sua segurança, o resultado pode ser uma corrida armamentista onde cada ação defensiva é vista como provocação pelo adversário. Em outras palavras, cada ação defensiva de um país pode ser vista como uma provocação pelo outro, resultando em um ciclo vicioso de aumento de armas e tensões, fato explicado em “ teoria dos jogos”.
Dessa forma, em vez de garantir a paz, essa dinâmica pode tornar os conflitos mais prováveis. Infelizmente, o caminho atual indica um aumento das tensões e a possibilidade de conflitos armados, em vez de uma solução diplomática.