Site icon Atlas Report

O Falecimento da Rainha Elizabeth II: As Consequências Geopolíticas para o Reino Unido e o Mundo

O falecimento da Rainha Elizabeth II no Reino Unido pode causar mais impactos na influência externa Britânica do que se imagina. Mais do que apenas uma monarca, Elizabeth teve o governo mais longo da história do Reino.

A Rainha iniciou o seu reinado enquanto a Grã-Bretanha portava o status de uma grande potência imperial, tendo sido coroada em 1953, quando Canal de Suez estava sob seu controle e o império detinha protetorados e colônias na África, Oriente Médio e na Ásia.

Agora, com sua morte e sendo sucedida por seu filho Charles III, a população e o mundo se perguntam qual será o próximo passo e o futuro do Reino Unido. 

Fonte: Pixabbay

A possível perda do Soft Power Britânico que era exercido pela Rainha Elizabeth pelo mundo

O soft power de Londres no exterior será uma uma possível vítima devido a morte da Rainha. Ao que parece, nos últimos anos o Reino Unido tem sofrido uma diminuição em sua influência e poder global, o que inclui uma significativa redução militar e uma economia em declínio. Apesar dos problemas enfrentados pela união, é possível que o soft power de Elizabeth tenha amenizado tais efeitos negativos.

Pode-se dizer que algumas das principais vias de soft power da união são instituições como a BBC e o British Council – universidades que atraem milhares de talentos acadêmicos do exterior, além do Commonwealth em si que abordaremos mais abaixo. 

Além disso, deve-se considerar que a língua inglesa também desempenha um papel fundamental nesse processo, por via de músicas e séries que diariamente alcançam pessoas no mundo inteiro.

No entanto, nos últimos 70 anos Rainha atuou como a representante mais importante de Londres e sua diplomacia encantou diversos chefes de estado através de visitas estaduais e diplomáticas durante seu reinado. Ademais, Elizabeth cumpriu o dever de ser apolítica, e esse posicionamento neutro tem sido favorável para as Relações Internacionais do Reino Unido.

Entretanto, ainda no início do reinado de Charles III, muitos membros do público duvida da sua capacidade de sustentar o posicionamento que sua mãe manteve no exterior, tanto politicamente, quanto para defender a imagem da Família Real. 

Porém, uma das primeiras boas impressões que o público têm de Charles é seu engajamento no temas de meio ambiente e mudanças climáticas, o que pode ser favorável a ele.

O Futuro da Economia Britânica com o falecimento da Rainha Elizabeth

A integrante externa do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra, Catherine Mann, declarou em uma entrevista que a economia britânica ainda não retornou à tendência pré-pandemia e agora, após a morte da Rainha, a tendência é de piora.

O feriado nacional decretado pelo Rei Charles III pelo dia do funeral de sua mãe, o dia 19 de setembro de 2022, quando combinado com o impacto econômico do período nacional de luto dos dez dias anteriores, afeta diretamente o sentimento do consumidor e pode ser ainda mais danoso aos negócios no Reino Unido.

A economia já afetada pelos preços da energia, devido a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, estão atingindo as finanças domésticas e o medo da população é crescente sobre a saúde da economia à medida que a inflação aumenta. 

Philip Shaw, economista-chefe do banco Investec, disse que “pode ser que o impacto do feriado bancário em si seja relativamente limitado. O que não sabemos é como a morte da Rainha afetará o humor nacional e se isso resulta em menos confiança e gastos.”

O economista explica que quando há um feriado bancário extra, a tendência é a redução do PIB porque tem menos pessoas trabalhando, e declarou que “é bem possível que haja uma contração ao longo do mês como um todo, o que faz com que a economia fique menor ao longo dos próximos meses”.

Ele afirmou que uma contração nos próximos meses significaria uma recessão começando mais cedo do que os economistas esperavam e acrescentou: “Temos um efeito semelhante com a morte da Princesa Diana.”

Shaw diz que os dados oficiais mostram que as vendas no varejo caíram no mês seguinte à morte de Diana em 1997. Muitas lojas fecharam no dia de seu funeral enquanto os operadores de lazer, incluindo cinemas, sofreram quedas nos negócios. No entanto, houve uma recuperação nas vendas no mês seguinte.

Portanto, as próximas medidas tomadas pelo governo britânico serão fundamentais para a melhora ou um declínio ainda maior da economia britânica que foi profundamente afetada pelas quarentenas da pandemia do COVID-19; a atual guerra na Ucrânia, e consequentemente a crise energética; e a morte da Rainha Elizabeth II.

Rei Carlos III e o Futuro de um Commonwealth enfraquecido

A morte da rainha Elizabeth II fomentou um novo debate em muitos países do Commonwealth – a maioria deles ex-colônias britânicas – sobre seus futuros laços com a monarquia.

O Commonwealth, ou Comunidade das Nações, é uma associação política formada por 56 países e 14 dos quais, além do Reino Unido, são Reinos do Commonwealth pois têm o Rei Charles III como chefe de estado. 

Nove desses 14 Reinos são das Américas, enquanto os cinco restantes estão na Oceania. Muitos deles são nações insulares, mas também existem alguns grandes territórios continentais, como o Canadá e a Austrália.

Os países que compõem os Reinos do Commonwealth são: Antígua e Barbuda, Austrália, Bahamas, Belize, Canadá, Granada, Ilhas Salomão, Jamaica, Papua Nova Guiné, Nova Zelândia, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Tuvalu. 

Porém, nem todos os países estão satisfeitos e alguns deles cogitam abandonarem a monarquia e virarem republicas. O jornalista escocês e ex-apresentador da BBC Andrew Neil disse no Daily Mail: “ela foi a cola que manteve nossa nação unida pelo tempo que a maioria de nós pode se lembrar (…) e com ela fora, o risco dessa união se soltar e desmoronar em muitas frentes é ainda maior.”

A Escócia quer avançar novamente com uma nova proposta de plebiscito de independência para que a votação aconteça em outubro de 2023, para que a população possa escolher entre ficar ou sair do Reino Unido, como em 2014, quando o resultado foi pela permanência do país.

Todavia, após o Brexit e a eleição de um partido nacionalista, o resultado pode ser diferente.  A insatisfação da população que saiu da União Europeia (UE) pode querer declarar a independência do país e, caso isso aconteça, é possível que a Escócia pleiteie sua volta ao bloco europeu.

Em Barbados, o então Príncipe Charles testemunhou a transição da ilha de monarquia para uma república e disse:  “A criação desta república oferece um novo começo. Dos dias mais sombrios do nosso passado e da atrocidade da escravidão, que para sempre mancha nossa história, as pessoas desta ilha forjaram seu caminho com extraordinária fortaleza.”

Em Antígua e Barbuda as questões sobre o papel da monarquia na região foram levantadas após a visita do Príncipe William e da Princesa Kate em Belize, Jamaica e Bahamas para comemorar os 70 anos da rainha Elizabeth II no trono.

A viagem foi repleta de impasses e eles foram informados pelo primeiro-ministro jamaicano que o país estava seguindo em frente e alcançaria sua verdadeira ambição de ser independente.

A primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, se pronunciou após a morte da Rainha dizendo que o país provavelmente se tornará uma república futuramente, mas não agora. Ela acrescentou que “Este é um debate amplo e significativo. Não acho que seja um debate que vá ou deva acontecer rapidamente.”

Na Austrália, as vozes a favor de uma mudança também estão se tornando significativas e, aparentemente, o que mantinha o sistema funcionando até os dias de hoje era a própria Rainha Elizabeth II.

Futura Tendência da influência Britânica pelo mundo com o novo Rei Carlos III

A morte da Rainha, indiscutivelmente, causará mudanças no sistema que conhecemos hoje. 

Então, é possível que inicialmente o soft power britânico possa aumentar temporariamente, devido às atenções do mundo inteiro voltadas para eles através de toda a mídia gerada pela morte e funeral da Rainha assim como a futura coroação do Rei Charles.

Entretanto, após algum tempo não se sabe da capacidade do Rei de sustentar esse soft power de maneira positiva, devido a sua relativa baixa popularidade quando comparado à sua mãe e ao seu próprio filho e sucessor, Príncipe Willian.

Por isso, é possível que a causa ambiental se torne uma pauta importante durante seu reinado, apesar de não poder registrar publicamente suas próprias opiniões sobre questões de política e ter que aceitar as políticas do governo.

A economia britânica não parece ter uma saída rápida para a crise energética, sequer uma previsão de recuperação econômica pós-pandemia. Portanto há de se esperar uma situação econômica não favorável para os próximos meses e talvez anos. 

Por fim, a Monarquia parece estar em xeque. Com a morte da Rainha Elizabeth, e a independência de Barbados em 2020, a tendência é que outras nações da Commonwealth sigam o mesmo caminho rumo a república.

Por outro lado, a presença Britânica na OTAN e no grupo informal QUAD de cooperação de segurança na região do Indo-pacífico, deve manter a influência do hard power de Londres pelo mundo em um futuro próximo.

Exit mobile version