- China e Taiwan disputam quem é o verdadeiro representante global da China desde o fim da guerra civil em 1949;
- A China vem conquistando os aliados de Taiwan nos últimos anos. Após o rompimento de laços diplomáticos com Honduras, a ilha conta somente com 13 aliados diplomáticos;
- As tensões entre China e Taiwan reforçam o impacto de uma guerra híbrida na região.
Entre 1927 e 1949, a China passou por uma guerra civil entre o Partido Comunista Chinês (PCC), liderado por Mao Zedong, e o governo nacionalista de extrema direita, liderado pelo general Chiang Kai-shek.
Após diversos acontecimentos como a invasão Japonesa e a Segunda Guerra mundial, em que o governo nacionalista teve um enfraquecimento militar e econômico exponenciais, juntamente ao apoio que o Partido Comunista recebeu dos países que lutavam contra o Japão, a guerra finalmente chegou ao fim com a vitória dos comunistas e a criação da República Popular da China.
Derrotados, os nacionalistas fugiram para a ilha de Taiwan e criaram seu próprio governo, em que passaram a se considerar a real República da China.
Desde a divisão, as relações entre a China e Taiwan continuaram tensas, com ambas as partes se considerando a “verdadeira” China. A China continental, liderada pelo Partido Comunista, defendia a reunificação pacífica com Taiwan, mas a ilha governada pelos nacionalistas não aceitava uma reunificação enquanto os comunistas mantivessem o poder.
Nos anos 70, o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, começou a criar laços políticos com a China, vendo o país como um possível contentor da União Soviética, e cortou os laços diplomáticos que já possuía com Taiwan.
Isso fez com que a China se abrisse para o mercado internacional e ganhasse influência, com a maioria dos países escolhendo seu lado nessa disputa. Taiwan, por sua vez, investiu em pequenos países pelo mundo para manter relações diplomáticas, como Honduras, que recentemente decidiu se aliar à China.
O último país a trocar de aliança diplomática entre Taiwan e a China foi Honduras
Pouco a pouco, a China vem conquistando os aliados de Taiwan, oferecendo investimentos mais altos e com maiores benefícios do que se os países continuassem com relações diplomáticas com a ilha.
Recentemente, o último país a realizar essa troca de aliado diplomático foi Honduras, que encerrou uma parceria de anos com Taiwan com declarações do governo reconhecendo a China continental como a verdadeira representante da China como um todo.
Por parte da China, o país declarou ter assinado um “Comunicado Conjunto sobre o Estabelecimento de Relações Diplomáticas” com Honduras no final de março de 2023, reforçando que ambos os países decidiram se reconhecer e estabelecer relações.
Taiwan confirmou o que as declarações de Honduras deixaram implícito: as relações entre os países foram cortadas.
Tsai Ing Wen, a presidente de Taiwan, declarou que apesar da fala do governo hondurenho, a China continental continua não representando a ilha de Taiwan. Além disso, há pressões para que Honduras feche sua embaixada em Taipei, capital da ilha.
Além disso, Taiwan também acusou a China de “conquistar” Honduras através de incentivos financeiros que representam “uma série de coerção e intimidação chinesa”, declarou o gabinete da presidente da ilha.
O chanceler taiwanês Joseph Wu também afirmou que Honduras pediu a Taiwan uma ajuda financeira de 90 bilhões de dólares para hospitais, o perdão de uma dívida de 2 bilhões de dólares, além de 350 milhões de dólares para a construção de uma represa, antes de firmar acordos diplomáticos com a China.
Na impossibilidade de satisfazer as demandas de Honduras em uma clara chantagem diplomática, Taiwan perdeu os laços políticos com Tegucigalpa.
Quais países ainda mantém alianças diplomáticas com Taiwan
Após o rompimento das alianças diplomáticas que Honduras mantinha com Taiwan, a ilha ainda possui 13 pequenas nações aliadas restantes ao redor do mundo, são elas:
- Tuvalu: país na Oceania;
- Paraguai: país na América do Sul;
- São Cristóvão e Névis: país no Caribe;
- Belize: país na América Central;
- Essuatíni: país na África Austral;
- Haiti: país no Caribe;
- Guatemala: país na América Central
- Ilhas Marshall: país na Oceania
- Nauru: país na Oceania;
- São Vicente e Granadinas: país no Caribe;
- Palau: país na Oceania
- Santa Sé no Vaticano: administração, jurisdição eclesiástica, da Igreja Católica Romana. Ela é considerada uma cidade-estado independente que mantém relações políticas com países ao redor do mundo;
- Santa Lúcia: país no Caribe.
Quais os países que vêm favorecendo mais Taiwan em relação à China
Enquanto Honduras deixa sua aliança com Taiwan para se tornar parceiro da China, alguns países chamam a atenção por estarem fazendo o caminho inverso, dando prioridade à ilha de Taiwan e deixando a China continental de lado, com crescentes tensões diplomáticas.
Os maiores exemplos disso são:
- Lituânia: o país do nordeste da Europa reafirmou no final de 2022 que reforçaria suas relações com Taiwan mesmo que isso provocasse tensões com a China. Assim, um novo escritório comercial do país báltico iniciou suas operações na ilha de Taiwan.
O governo da Lituânia declarou que, juntamente com Taiwan, ambos são parceiros que pensam da mesma forma.
É válido reforçar que, anteriormente, a China chegou a punir a Lituânia por ter apoiado Taiwan abertamente, com o vice-ministro dos transportes visitando Taipei. Essa relação alarma a Europa, que prefere lidar com Pequim com mais cautela.
A Lituânia emerge como um dos aliados mais improváveis, mas declarados, de Taiwan na Europa, seguindo uma política externa de “valores em primeiro lugar”.
- Eslováquia: Na metade de 2022, Taiwan assinou um acordo de cooperação pela primeira vez com um país da União Europeia. Tudo isso aconteceu no Ministério das Relações Exteriores de Taiwan, com representantes de ambos os países presentes.
Para a Eslováquia, o acordo teve o intuito de abrir portas para possíveis relações comerciais e de investimento com Taiwan. O acordo significou, para Taiwan, um aumento em sua posição diplomática internacional.
As consequências da guerra híbrida entre China e Taiwan para a geopolítica
Atualmente, a China é uma das maiores potências mundiais e suas relações diplomáticas e decisões acabam, de alguma forma, impactando a geopolítica mundial.
Além disso, essas tensões entre China e Taiwan, que são capazes de afetar como o mundo todo se organiza e polariza dependendo de seus interesses e do contexto atual, fazem parte de uma guerra híbrida, não havendo ataque bélico, mas apenas diplomático, em que a China faz constantes avanços em conquistar os aliados que anteriormente apoiaram Taiwan.
A China continental vem enfraquecendo Taiwan diplomaticamente de forma gradual, acabando com acordos de décadas que outros países mantinham com a ilha, já que fazer isso militarmente não seria viável para o país uma vez que um ataque armado seria uma grande escalada e provavelmente levaria a uma reação militar dos Estados Unidos e econômica da União Europeia.
Dessa forma, uma guerra híbrida onde a China continental tenta enfraquecer Taiwan de uma forma indireta até a sua submissão é a tática mais provável de ser usada. Porém, pela importância geoestratégica que Taiwan tem na produção de microprocessadores de alta capacidade, a ilha poderá contar com a proteção dos EUA e UE contra Pequim, seja contra ataques híbridos ou bélicos.
No final das contas, é mais importante para Taiwan manter relações econômicas e militares com os EUA e a Europa do que com pequenos países pelo mundo. Desta forma, esse ataque diplomático da China continental contra Taiwan provavelmente não levará ao resultado esperado por Pequim, mesmo que a um grande custo político e econômico.
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