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A História da Terrível “Unidade 731” de Desenvolvimento de Armas Químicas e Biológicas do Exército Imperial Japonês Durante a Segunda Guerra Mundial

  • A busca pelo conhecimento e poder, deu fôlego a criação de um programa que usava humanos como cobaias;
  • O brutal programa japonês chegou a ter 150 edifícios e matou mais de 300 mil pessoas na China;
  • De forma controversa, os Estados Unidos optaram por “perdoar” os membros da unidade japonesa em troca de informações;

Ao longo da história, há momentos que desafiam nossa compreensão da sociedade humana. Um desses episódios é a macabra história da Unidade 731 do Exército Imperial Japonês. 

Essa unidade secreta realizou experimentos desumanos em seres humanos, deixando um legado de horror que ecoa até os dias de hoje. Por isso, é importante lembrar o que foi a Unidade 731, seus crimes contra a humanidade e os dilemas éticos enfrentados ao lidar com crimes de guerra.

O que foi a Unidade 731 e quais foram seus crimes contra a humanidade? 

Em uma parte sombria da história, a crueldade ultrapassou todos os limites. Uma unidade militar japonesa, criada em 1936 por ordem direta do Imperador Hirohito, atuando também durante a Segunda Guerra Mundial, realizando experimentos terríveis e desumanos. Esta é a Unidade 731.

A Unidade 731 era um grupo ultrassecreto do exército imperial japonês que tinha o objetivo de desenvolver armas biológicas e químicas para uso militar. Mas o que torna isso ainda mais horrível é como eles alcançaram seus objetivos: através de experimentos brutais em seres humanos.

A Unidade estava localizada perto da cidade de Harbin, província de Heilongjiang, no nordeste da China, uma região então ocupada pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial. As vítimas eram principalmente civis chineses, mas também incluíam prisioneiros de guerra de diferentes nacionalidades, incluindo chineses, russos e outros asiáticos. 

Pelo menos 3.000 pessoas foram usadas para experimentação humana pela Unidade 731 e mais de 300.000 pessoas na China foram mortas pelas armas biológicas do Japão.

O programa era liderado pelo microbiologista Shiro Ishii e eventualmente foi composta de várias localidades e teve a capacidade de conter 600 pessoas de cada vez para serem experimentadas, de acordo com o livro “Factories of Death: Japanese Biological Warfare, 1932-1945, e o American Cover-up“.

Essas vítimas foram escolhidas para os experimentos brutais conduzidos pela Unidade devido à visão desumana e cientificamente distorcida dos militares japoneses, que viam os seres humanos como cobaias para seus estudos sobre guerra biológica e química. Eles buscavam testar os limites do corpo humano, estudar os efeitos de doenças mortais e desenvolver métodos para espalhar essas doenças de forma eficaz em caso de conflito. 

Eles chamavam suas vítimas de “logs”, o que seria “marutas” em japonês, que literalmente significa “lenha”, como se estivessem se referindo a pedaços de madeira a serem usados para experimentação, desconsiderando completamente sua humanidade. 

Em prol desta “pesquisa”, a Unidade cometeu uma série de atrocidades inimagináveis. Homens, mulheres e até bebês foram alvos desses horrores. Os prisioneiros de guerra foram submetidos a uma ampla gama de experimentos brutais e desumanos. 

Desde serem infectados com doenças mortais, como a peste bubônica, até terem seus membros gangrenados ou congelados em água gelada para testar os efeitos do congelamento. As mulheres eram alvos de estupros sistemáticos para estudar os efeitos da sífilis em fetos. Esses inocentes bebês, eram então cruelmente dissecados vivos em nome da ciência distorcida da Unidade, entre outros experimentos hediondos

Esses crimes representam apenas a ponta do iceberg do horror perpetrado por essa unidade militar japonesa durante a Segunda Guerra Mundial.

Esses eventos contribuíram para a crescente pressão internacional por medidas que limitassem o uso e a proliferação de tais armas.

A criação da OPCW – Organização para a Proibição de Armas Químicas – em 1997, foi um marco importante nesse sentido. Sediada em Haia, nos Países Baixos, a organização é responsável por implementar a Convenção sobre Armas Químicas, que proíbe o desenvolvimento, produção, armazenamento e uso de armas químicas e promove a destruição de estoques existentes.

Embora não haja uma ligação direta entre a Unidade 731 e a criação da OPCW, os horrores cometidos pela unidade japonesa contribuíram para a conscientização global sobre os perigos das armas químicas e biológicas.

Qual foi o papel dos Estados Unidos na história da Unidade 731?

Os Estados Unidos tiveram um papel bastante controverso na história da Unidade 731. 

Após o fim da guerra, os EUA descobriram os horrores cometidos pela Unidade 731 e outras instalações japonesas de guerra biológica. Mas ao contrário do que fizeram na Alemanha com os nazistas, onde expuseram publicamente seus crimes, julgaram e condenaram seus líderes, Washington optou por um caminho diferente no Japão.

Em vez de punir os responsáveis pelos crimes de guerra, os EUA decidiram esconder a verdade e até mesmo oferecer imunidade aos perpetradores japoneses. Por quê? Bem, havia uma série de razões. 

Primeiro, havia a preocupação de que a União Soviética pudesse ter interesse nos conhecimentos obtidos pelos japoneses e poderiam usá-los para seus próprios propósitos. Em uma época de Guerra Fria, o governo estadunidense estava disposto a fazer qualquer coisa para impedir que os soviéticos se apropriassem dessas informações.

Além disso, havia uma mentalidade de “guerra é guerra” que influenciava muitas das decisões tomadas na época. Os líderes americanos estavam mais preocupados com a segurança nacional do que com a justiça ou a moralidade, levando-os a tomar uma decisão pragmática. 

Eles viram os conhecimentos obtidos pelos japoneses como valiosos para os avanços científicos e militares dos EUA, e estavam dispostos a varrer os crimes de guerra japoneses para debaixo do tapete para garantir isso.

Dessa forma, impedindo-os de serem julgados posteriormente em instituições como a Corte Internacional de Justiça, no caso do então Império Japonês, assim como a Alemanha foi julgada nos Julgamentos de Nuremberg após o fim da Segunda Guerra Mundial.

O terceiro motivo é o fato de a população japonesa via o imperador como um Deus, por isso, o julgamento dele levaria a uma rebelião sem fim. Um chocante fato é que o Japão até hoje não pediu desculpas formalmente pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial.

Isso fez com que muitos se perguntassem se o país estava sacrificando a justiça em nome do avanço científico e da segurança nacional… e a resposta é um “sim” bastante desconfortável, sendo mais uma mancha em sua reputação moral. Em vez de fazer justiça às vítimas dos horrores japoneses, os Estados Unidos optaram por encobrir os crimes em nome de seus próprios interesses.

Como a Unidade 731 pode ter colaborado para o programa de armas químicas e biológicas nos Estados Unidos?

Em um acordo secreto firmado entre setembro de 1945 e novembro de 1948, Fort Detrick do Exército dos EUA gastou 250.000 ienes, o equivalente a vários milhares de dólares americanos na época, para conseguir dados e documentos médicos sobre os experimentos humanos, testes bacterianos, guerra de germes e experimentos de gás tóxico conduzidos pela Unidade 731, conforme relatado por Jin Chengmin, curador do Museu de Evidências de Crimes de Guerra pela Unidade 731 do Exército Japonês.

Esses dados se tornaram a chave para que o país avançasse em sua própria pesquisa de armas químicas e biológicas. De acordo com o jornal chinês Global Times, o epicentro desse desenvolvimento estava no Fort Detrick, um complexo militar em Maryland, onde a CIA e a Unidade 731 trabalhavam juntos em operações secretas.

A partir de 1949, a CIA estabeleceu uma unidade dentro do Fort Detrick, conhecida como Divisão de Operações Especiais, focada exclusivamente no desenvolvimento de armas biológicas. Eles lançaram o programa MKNAOMI, que deu origem a uma variedade de armas biológicas, incluindo a terrível “bomba de penas”, inspirada nas práticas da Unidade 731.

Segundo o jornal chinês, Ishii – o responsável pela Unidade – foi convidado para uma palestra após a guerra, revelando uma ligação direta entre essas entidades.

Portanto, essa colaboração pode ter sido crucial para impulsionar o programa de armas químicas e biológicas dos Estados Unidos. Embora não haja documentos explícitos, os indícios apontam para uma influência significativa da Unidade 731 nas operações de Fort Detrick. 

Durante a pandemia de COVID-19, curiosamente, um grupo de pesquisadores chineses demonstrou interesse em utilizar os dados provenientes dos experimentos da Unidade 731. Eles acreditam que o acesso a esses dados pode ser fundamental para desenvolver medidas mais eficazes de controle e gestão de pandemias, contribuindo assim para a saúde pública global.

Mas, essa ideia causou polêmica devido à terrível origem dos dados, o que levantou questões sobre ética e respeito pelas vítimas desses experimentos.

Quais são os dilemas enfrentados na busca pelo equilíbrio entre punir e perdoar crimes de guerra?

O dilema entre punir ou perdoar crimes de guerra é como uma corda bamba esticada entre a justiça e a paz. 

Se decidimos punir os culpados, corremos o risco de gerar ressentimento e alimentar conflitos em vez de resolvê-los. Essa raiva acumulada pode apenas alimentar um ciclo de violência, prolongando o conflito e causando mais sofrimento. 

Por outro lado, se escolhemos o perdão, podemos abrir espaço para a paz, mas a que custo? Permitimos que os responsáveis escapem impunes, deixando um gosto amargo de injustiça na boca de muitos e minar a confiança da sociedade na lei e na justiça.

A verdade é que não é uma escolha fácil. Um exemplo disso é o caso brasileiro após a ditadura militar. Após anos de repressão e violações dos direitos humanos, o país enfrentou a difícil decisão de como lidar com os responsáveis por esses crimes. 

A opção pela anistia, em nome da “pacificação nacional”, foi controversa. Enquanto alguns acreditavam que era a melhor maneira de seguir em frente, outros viam como uma forma de varrer os crimes para debaixo do tapete.

No entanto, mesmo com a anistia, a sociedade civil brasileira não esqueceu os horrores do regime militar. Houve um movimento contínuo pela verdade e pela justiça, com várias iniciativas para investigar e documentar os crimes cometidos. Isso incluiu a criação da Comissão Nacional da Verdade em 2011, que investigou violações dos direitos humanos durante o período da ditadura.

Portanto, ao olhar para a história da Unidade 731 do Exército Imperial Japonês, somos confrontados não apenas com os horrores do passado, mas também com os dilemas éticos e morais que existem até hoje. 

À medida que tentamos resolver os problemas éticos e morais relacionados à paz e à justiça, é importante que continuemos vigilantes na defesa dos direitos humanos e na prevenção de atrocidades semelhantes no futuro.

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