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Como o Novo Aumento Massivo em Investimento Militar Alemão pode Mudar o Equilíbrio Bélico na Europa e no Mundo

  • A Guerra da Rússia na Ucrânia fez com que a Alemanha aumentasse seu orçamento militar.
  • O fortalecimento militar da Alemanha vai gerar consequências geopolíticas na Europa e no mundo.
  • Os Estados Unidos poderão aumentar seu foco geoestratégico e militar na China com essa “nova” Alemanha.

Devido a invasão da Rússia na Ucrânia, diversas alianças foram abaladas e uma nova configuração das Relações Internacionais tem se apresentado.

Relações Internacionais essas em que estamos inseridos, a qual sofre as consequências das relações humanas, que possuem valores básicos como independência, segurança, ordem e justiça. 

Após uma maior intervenção militar e política de Moscou nas ex-Repúblicas Soviéticas, podemos observar o crescente investimento alemão em poder militar para sua própria defesa, que até o momento se via aquém do necessário. 

Portanto, se torna relevante analisar essa decisão de forma crítica, a partir das razões que a norteiam, assim como as principais consequências para a geopolítica e geoeconomia mundial.

Fonte: Pixabay

Por que a Alemanha moderna não investia o suficiente em suas forças armadas

Desde pelo menos três décadas, sabe-se que a Bunderwehr – as forças armadas da República Federal da Alemanha – dispõe de, relativamente, poucos equipamentos militares e segundo especialistas, o país não teria uma força capaz de defender o território alemão prontamente.

Muito dessa atitude alemã pacifista se dá pelo seu passado histórico da 1º Guerra Mundial, tendo como consequência para si o humilhante Tratado de Versalhes que impôs – entre outros termos – a proibição do país de possuir uma marinha e aviação de guerra; artilharia pesada; promover o recrutamento militar; e ter um exército com mais de 100 mil soldados.

Posteriormente a Alemanha Nazista da 2º Guerra Mundial sofreu consequências em restrições impostas em torno dos gastos com defesa e atividades militares – assim como o Japão –, quando teve que aceitar os quatro “Ds” impostos pelas potências aliadas: a “desnazificação”, desmilitarização, democratização e o desarmamento.

Entretanto, ao observar as consequências da invasão russa na Ucrânia, os líderes e os cidadãos alemães passaram a pensar sobre uma estratégia para se preparar para um potencial conflito e prover suas forças armadas de forma aprimorada, o que o chanceler Alemão Olaf Scholz chamou de “Zeitenwende” — um “ponto de inflexão.”

Portanto, em vista de defender o próprio território, Scholz anunciou um incremento de gastos de 130 bilhões de Euros do orçamento do país para 2022. Para fins de comparação: em 2021, todo o orçamento de defesa da Alemanha foi de cerca de 47 bilhões de euros.

A Alemanha enquanto membro da OTAN

Segundo líderes estadunidenses, os gastos alemães insuficientes com as forças armadas prejudicam a OTAN, aliança que tem sido fundamental para a segurança do país por 70 anos. Isso prejudica as relações entre  EUA-Alemanha, já que o país norte-americano financia a maior parte da aliança.

Até mesmo na Europa, alguns representantes diplomáticos de países da região reclamam, especialmente, do fracasso alemão em cumprir seus compromissos e que isso estaria colocando não apenas seu próprio relacionamento com Washington em risco, mas o de todo o bloco.

Portanto, isso deteriora a credibilidade da Alemanha quando diz que segue uma estratégia de segurança e defesa europeia robusta e autônoma, menos dependente de Washington.

Então, durante a guerra na Ucrânia, após muita pressão dos Estados Unidos e sob acusações de ser flexível com Moscou, a Alemanha suspendeu, também, seu projeto de gasoduto Nord Stream 2 com a Rússia e concordou em enviar armas para a Ucrânia. 

E apesar da Alemanha ter acreditado que poderia alcançar a paz com a Rússia – ou esperar que o país se tornasse uma democracia saudável – através de transações comerciais, e evitar guerras por conta da interdependência comercial, isso não ocorreu. 

Como a invasão Russa da Ucrânia mudou o cálculo Alemão em termos de defesa militar

O objetivo alemão da mudança de política é aumentar os gastos do país com defesa para mais de 2% do seu PIB, acima de 1,53% em 2021 e, apesar de ser uma meta requerida pela a OTAN, apenas cerca de um terço dos países membros realmente o alcançaram em 2021.

A renascente atitude alemã de se armar para defender o próprio território, mas ao mesmo tempo sem a intenção de dar início a uma guerra, é uma perfeita demonstração do “dilema de segurança”, muito relevante nas Relações Internacionais. 

Em suma, é um termo de Hobbes, teórico realista das Relações Internacionais que retrata quando os países são equipados para a guerra de modo a prover a paz nacional para seus cidadãos, de forma paradoxal.

Como exemplo dessa teoria, podemos remeter ao período de “Paz Armada”, pré 1º Guerra Mundial que foi um período de “paz”, mas em que muitos países estavam fortemente armados. Então, visto a invasão russa na Ucrânia, essa preocupação, passou a fazer parte da agenda europeia com mais urgência. 

Como uma nova potência militar Alemã pode afetar o equilíbrio estratégico militar na Europa e no mundo 

Considerando que a Alemanha é a maior economia da Europa, o aumento anual nos gastos com defesa faria do país o terceiro que mais gasta com força armada no mundo, atrás apenas dos EUA e da China. 

Entretanto, o líder do Think Tank RAND Europe no programa de defesa e segurança, James Black, salienta que apesar do aumento do orçamento ser grande, isso não significa que um exército será fortalecido. 

Apenas o capital não é responsável pela criação de um exército altamente capacitado, e o aumento do investimento não se traduzirá em um aumento imediato da capacidade militar alemã. Segundo ele, “leva tempo para gastar dinheiro e adquirir novos sistemas de armas, e leva tempo para treinar e desenvolver forças capazes de usar esses novos sistemas”.

Outra mudança importante na defesa europeia seria o fato de que a Alemanha enquanto o terceiro maior investidor em defesa no mundo, se tornaria um das forças militares mais fortes da Europa ao lado da França, que atualmente é a maior força militar em tamanho da União Europeia. Porém, a Alemanha, mesmo com esse investimento, não teria armas nucleares como a França.

Essa mudança de paradigma também possibilitaria os Estados Unidos a continuar a transição de seu foco geoestratégico para Ásia, especialmente para conter a China como grande influência no mundo, e deixar a responsabilidade pela segurança europeia para os europeus.  

A futura tendência da nova militarização da Alemanha

Uma das tendências é que enquanto a ameaça de uma Rússia imperialista e expansionista existir, a Alemanha provavelmente continuará investindo em suas forças armadas. 

Como consequência do grande investimento militar, o fantasma da Alemanha Nazista sempre existirá, apesar de ser improvável que o país adquira ou desenvolva armas nucleares, pois certamente os EUA interviriam. 

Quando a Rússia dos moldes atuais deixar de existir por alguma razão – seja por um colapso, por uma brusca mudança política ou intervenção externa – é esperado que a Alemanha tire proveito do “dividendo de paz” e diminua seu investimento militar. 

No entanto, apesar do aumento do investimento em defesa não significar efetivamente que a Alemanha terá uma Bundeswehr mais capaz, isso não quer dizer, necessariamente, que haja uma falta de vontade de Berlim de assim fazer e se tornar uma força expedicionária como o Reino Unido ou a França (capaz de enviar tropas de pronto-emprego para intervenções militares no exterior).

A reação russa e chinesa ao anúncio da Alemanha depende, majoritariamente, da posição que pretendem tomar no Sistema Internacional, bem como do resultado da guerra na Ucrânia.

Por fim, o fortalecimento militar alemão pode acabar por aumentar a soberania de defesa e militar europeia e colaborar para uma ideologia crescente de uma União Europeia de Defesa, tornando o bloco cada vez mais autônomo e distante da atual dependência da OTAN. 

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