- Há um consenso científico internacional de que os combustíveis fósseis são prejudiciais ao clima, colaborando para o aquecimento global.
- A Conferência para o Clima (COP) é realizada pelas Nações Unidas, para que haja um diálogo entre os países a fim de mitigar os danos causados pelo uso de energias não-renováveis.
- A presença de centenas de lobistas do petróleo e gás prejudica as negociações acerca de uma transição energética e reflete o poder geopolítico de países ricos e influentes.
Os combustíveis fósseis foram a fonte de energia mais importante no século XX e continuam sendo no século XXI. Graças a essas fontes, diversos avanços tecnológicos puderam ser alcançados nesse período.
Apesar disso, o petróleo, o gás natural e o carvão são originados da decomposição lenta de seres vivos e vegetais ao longo de milhares ou milhões de anos nas camadas profundas da crosta terrestre, o que a caracteriza como uma fonte finita de recursos.
Além disso, o uso exaustivo e a queima dos combustíveis fósseis aumentam vertiginosamente o nível de um dos gases mais poluentes para a atmosfera terrestre: dióxido de carbono. Fato que colabora aceleradamente o aquecimento global.
Por esta razão, a presença de lobistas fósseis na COP 27 gera uma grande preocupação entre os defensores do meio ambiente, visto que há um grande aumento da influência da indústria desses combustíveis nas negociações sobre o clima.
O que é a Conferência para o Clima ou COP?
A sigla COP significa “Conferência das Partes”, em inglês, e esse encontro é também conhecido como Conferência para o Clima.
A COP é um encontro realizado anualmente pelas Nações Unidas, com representantes de diversos países que tem o objetivo principal de debater as mudanças climáticas, encontrar soluções para os problemas ambientais que afetam o planeta e negociar acordos para a implementação por diferentes nações dessas mesmas soluções.
A Conferência acontece todos os anos desde 1995, teve sua primeira edição na Alemanha, e em 2022 foi realizada na cidade de Sharm El-Sheikh, no Egito. Participaram da COP 27 todos os países que ratificaram a UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change), que somam hoje 198 Estados.
O relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) destaca os impactos no clima, adaptação e vulnerabilidade para a pauta da edição de 2022.
Segundo o The Nature Conservancy, o aumento da frequência e intensidade das mudanças climáticas ameaçam a saúde e a segurança de milhões de pessoas ao redor do mundo, tanto por impacto direto quanto por consequências na dificuldade de produção de alimentos e no acesso à água potável.
Como os avanços na proteção ao meio ambiente mundial dependem da cooperação internacional?
A preocupação com a regulação do meio ambiente é recente, tendo em vista que os primeiros tratados internacionais de proteção à natureza foram realizados no final do século XX e início do século XXI, como por exemplo o Acordo de Paris.
É possível afirmar que a crise ambiental é uma consequência do comportamento humano e com o seu gerenciamento dos recursos naturais disponíveis no planeta, resultando na “tragédia dos comuns“. Esse termo se refere à situação em que os indivíduos, agindo racionalmente em seu próprio interesse, agem irracionalmente como um grupo coletivo, esgotando irreparavelmente um recurso que é de propriedade comum. Portanto, a atual crise das mudanças climáticas é um exemplo da “tragédia” em escala global.
Da mesma forma, um “problema de ação coletiva“ pode ser gerado, pois para muitos indivíduos, empresas e países, existe um conflito entre o interesse individual e o interesse do grupo. No contexto da mudança climática, cada indivíduo tem a escolha de agir egoisticamente ou cooperar.
Nesse tipo de problema, os indivíduos tendem a agir de forma egoísta, sobrepondo o interesse dos outros indivíduos e independente do que os outros façam. No entanto, se todos os indivíduos colaborassem com as questões climáticas, todos poderiam ter resultados melhores. Em outras palavras, é do interesse do indivíduo agir egoisticamente, mas é do interesse do grupo que todos cooperem para o bem comum.
Além disso, existe a compreensão de que o uso intensivo dos recursos naturais, a poluição e as mudanças climáticas do planeta colocaram a humanidade em uma grave crise ecológica de forma global.
Portanto, a origem da cooperação internacional para a preservação do meio ambiente se dá pela consciência de que há uma necessidade de gestão conjunta da crise ambiental.
Por isso, para que a transição energética aconteça, é necessário um alinhamento entre as questões de meio ambiente e os tópicos de Relações Internacionais e Governança Global entre os países, já que os problemas ambientais ultrapassam todas as fronteiras nacionais.
Sem que isso aconteça, os Estados – incluindo os mais poluidores do planeta – dificilmente não se comprometerão de forma voluntária para a causa, nem sofrerão nenhuma pressão por parte de outros países, para que as emissões de carbono sejam diminuídas, prejudicando irreversivelmente as condições climáticas e a qualidade de vida na Terra.
Como os lobistas de combustíveis fósseis ameaçam a transição energética?
A transição energética é uma mudança necessária que envolve não só a geração de energia, mas também o consumo e o reaproveitamento dela.
De maneira prática, é a troca dos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão) por fontes energéticas renováveis como hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassas.
Ademais, a transição energética se estende para o meio ambiente, gestão de resíduos, eficiência energética, digitalização e outros meios necessários para que atinjamos o objetivo comum de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e as suas consequentes influências nas mudanças climáticas.
Logo, a presença de lobistas nas negociações climáticas se torna um empecilho no diálogo entre os países visto que, por definição, a função de um lobista é manipular as negociações nos poderes da esfera pública para benefício próprio, de seus aliados, ou para prejudicar os adversários.
Na COP27, em novembro de 2022, foram descobertos mais de 600 representantes das indústrias de petróleo e gás, resultando em um aumento de 25% desde a COP26, apesar de não autorizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) de participar da Conferência, pois segundo a ONU, isso seria contra os objetivos do Acordo de Paris e da convenção.
Portanto, o fracasso dos avanços de medidas necessárias contra o aquecimento global na Conferência do Clima, pode ser medida pelo número de lobistas que se infiltraram no evento por meio das delegações de diversos países.
Porquê a presença de lobistas nas COP’s é prejudicial à proteção ao clima e como eles movimentam o tabuleiro geopolítico?
A presença de centenas de pessoas sendo pagas para defender os interesses tóxicos de grandes empresas poluidoras que fazem uso de combustíveis fósseis só desviará o real foco da Conferência e aumentará a ineficiência dos acordos a favor da diminuição dos impactos climáticos.
A presença de 636 lobistas na COP27 superou a soma das delegações dos 10 países mais afetados pelo clima. As delegações de países africanos e comunidades indígenas são praticamente anuladas frente aos numerosos representantes de interesses corporativos, o que gera revolta na sociedade civil.
O encontro em Sharm El-Sheik seria crucial para a resposta dos outros países africanos às mudanças climáticas, pois as nações mais pobres e menos influentes no cenário internacional são as que mais sofrem com as consequências do aquecimento global, apesar de pouco contribuírem na emissão de gases poluidores, se comparados às grandes potências mundiais.
Além do mais, esses países necessitam de uma maior assistência para atenuar os riscos e os danos já sofridos, com o objetivo de atingir as ousadas metas de emissões zero carbono, já que estes detêm um menor capital e poder político frente às grandes potências e economias.
Por isso, a COP27 concordou na criação de um fundo de perdas e danos para países vulneráveis, o que é um ganho histórico na Conferência. No entanto, a presença de lobistas acabou demonstrando o poder geopolítico dos países detentores das maiores e mais ricas empresas petrolíferas do mundo, ao colocarem seus interesses à mesa de negociação, de forma velada e ilegal. Isso explica porque a COP 27 não avançou em nada no que diz respeito à eliminação de combustíveis fósseis.
Sendo assim, a COP27 decepciona ao não trazer propostas e acordos para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC até 2100, mostrando mais uma vez o poder das grandes empresas de petróleo e gás em influenciar a tomada de decisões a nível global. O que certamente continuará prejudicando o clima e, consequentemente, os países e seus cidadãos mais vulneráveis.
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