- Esse elo energético pode promover não apenas o transporte de hidrogênio renovável, mas também uma cooperação geopolítica mais ampla;
- O projeto desempenhará um papel vital na redução da dependência Europeia de fontes não-renováveis;
- Além do SoutH2, existem projetos paralelos com foco em energias renováveis e que podem provocar um impacto político e econômico na região.
Imagine uma extensa rede energética que se estende por 3.300 km conectando o Norte da África ao coração da Europa. Este é o Corredor SoutH2, um ambicioso projeto de gasoduto de transporte de hidrogênio que promete transformar o Mediterrâneo em um mega hub de energia.
O projeto emerge como um elo entre continentes, conectando não só energeticamente, mas geopoliticamente a África à Europa e abrindo caminhos para um futuro mais sustentável e energeticamente independente.
O que é o Corredor SoutH2 e quais são seus objetivos?
O Corredor SoutH2 é um mega projeto que visa criar uma rota eficiente para o transporte de hidrogênio renovável do Norte da África para a Europa, passando por Itália, Áustria e Alemanha.
Com uma extensão impressionante de 3.300 km, o gasoduto é liderado por Operadores de Sistemas de Transmissão (TSOs) comprometidos em impulsionar o fornecimento de hidrogênio para atender à crescente demanda europeia.
O projeto não apenas visa fornecer hidrogênio renovável, mas também busca fazê-lo de maneira competitiva. O gasoduto capitalizaria a rede de gás existente gerenciada por 4 grandes operadores (Snam da Itália, GCA e TAG austríaca e bayernets alemães) reaproveitando mais de 70% das infraestruturas de gás existentes que conectam os mercados europeus aos campos de gás argelinos.
Com um endosso político sólido da Itália, Áustria e Alemanha, o corredor recebeu apoio tanto nos níveis governamentais quanto empresariais.
Desde sua concepção, o Corredor SoutH2 surge como resposta à necessidade de diversificação nas fontes de abastecimento de energia da Europa, especialmente diante das limitações nas exportações de energia da Rússia.
Com a capacidade de transportar 4 milhões de toneladas de hidrogênio por ano, o projeto desempenhará um papel vital na redução da dependência de fontes não renováveis e na promoção de uma transição energética mais sustentável.
Quais Países da Europa e África estão envolvidos no projeto SoutH2?
Europa:
- Alemanha: A Alemanha é uma das nações impulsionadoras do projeto SoutH2. O país não apenas endossou ativamente o corredor, mas também expressou seu compromisso em diversificar as fontes de abastecimento de energia.
- Itália: A Itália emergiu como um componente vital do Corredor SoutH2, não apenas oferecendo apoio político, mas também buscando transformar-se em um centro de energia que conecta a África ao norte da Europa.
- Áustria: Com sua assinatura na carta de apoio junto com Alemanha e Itália, a Áustria desempenha um papel crucial na conexão do corredor à rede europeia. O país está comprometido em fortalecer a infraestrutura energética e promover a colaboração.
África:
- Argélia: Como uma importante fonte de hidrogênio verde, a Argélia desempenha um papel central no fornecimento de moléculas verdes para o Corredor SoutH2. As fazendas solares gigantes no deserto do Saara argelino estão programadas para produzir a energia renovável necessária para produzir hidrogênio via eletrólise que é destinada à exportação para a Europa. O país busca se posicionar como um pioneiro na produção e comercialização de hidrogênio, alinhando-se com as metas do projeto.
- Tunísia: Estrategicamente localizada, a Tunísia participa do projeto como um ponto de trânsito essencial, conectando o Norte da África à Itália. O papel da Tunísia no corredor destaca sua importância na facilitação do transporte de hidrogênio.
- Marrocos: Embora não mencionado diretamente, Marrocos, com sua proximidade geográfica, pode desempenhar um papel significativo na expansão futura do corredor.
Ao assinarem uma carta de apoio e expressarem seu compromisso com o projeto, a Alemanha e Itália destacaram-se como países-chave impulsionadores do Corredor SoutH2.
O chanceler alemão Olaf Scholz e a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni desempenharam papéis fundamentais ao enfatizar a importância da cooperação transcontinental e da diversificação das fontes de energia.
Como a África pode se tornar uma fonte de energia limpa para a Europa?
A crescente demanda por hidrogênio como fonte de energia limpa na Europa tem enfrentado desafios significativos de oferta. O Corredor SoutH2 emerge como uma solução inovadora para aliviar essa escassez, conectando diretamente o Norte da África à Europa por meio de um ambicioso oleoduto de hidrogênio.
Com a capacidade mencionada de 4 milhões de toneladas por ano, o projeto poderá suprir a Europa com hidrogênio renovável de forma competitiva. Dessa forma, a Argélia que é rica em recursos de gás natural, desempenhará um papel crucial para impulsionar a transição europeia para fontes de energia mais sustentáveis.
Além disso, ao facilitar a produção competitiva de hidrogênio renovável, o corredor promove também a cooperação política e econômica entre os dois continentes.
3 Outros projetos de energia sustentáveis entre a África e a Europa
O Corredor SoutH2 não está sozinho na busca por parcerias sustentáveis entre África e Europa. Outros projetos de energia renovável também estão moldando o cenário energético entre os dois continentes, cada um com seu próprio impacto potencial na região.
Outros 3 importantes projetos regionais, são:
- Desertec: Iniciado com a visão de aproveitar a energia solar no deserto do Saara, o projeto Desertec busca fornecer eletricidade limpa para a Europa. Embora tenha enfrentado desafios ao longo dos anos, ainda permanece como uma iniciativa significativa para aproveitar os recursos solares africanos.
- Projeto Transaqua: Com foco na bacia do rio Congo, o Transaqua propõe desviar parte das águas para o lago Chade, criando oportunidades para a geração de energia hidrelétrica e o desenvolvimento econômico na região. Este projeto destaca a importância da colaboração em iniciativas do tipo.
- West African Power Pool (WAPP): Atualmente, a WAPP – uma iniciativa que visa integrar e expandir as redes de energia na África Ocidental – não possui uma interconexão direta com a Europa, mas a organização busca facilitar a cooperação e troca de energia elétrica entre os países da África Ocidental. Embora atualmente a iniciativa não exporte energia para a Europa, a ideia de interconexões internacionais para o comércio de energia elétrica está sendo discutida globalmente como uma forma de diversificar fontes de energia, aumentar a resiliência do sistema elétrico e promover o uso de energias renováveis. Portanto, apesar da iniciativa se concentrar principalmente em fortalecer a infraestrutura regional, sua expansão e interconexão podem eventualmente contribuir para o fornecimento de energia sustentável à Europa.
Cada projeto aborda desafios específicos e oferece oportunidades únicas. A comparação dessas iniciativas não apenas destaca a diversidade de abordagens para a energia sustentável, mas destaca também que é importante adotar uma abordagem abrangente para atingir objetivos ambiciosos.
Qual é o potencial econômico e geopolítico do Corredor SoutH2?
O SoutH2, além de poder transformar o cenário energético entre europeu, também carrega consigo implicações econômicas e geopolíticas significativas.
Potencial Econômico:
- Investimentos Maciços: O desenvolvimento do Corredor SoutH2 requer investimentos substanciais em infraestrutura, tecnologias renováveis e capacidade de produção de hidrogênio. Isso não apenas impulsiona setores relacionados, mas também cria empregos e oportunidades de crescimento econômico nas regiões envolvidas.
- Estímulo ao Comércio: Ao conectar o Norte da África à Europa, o oleoduto cria uma nova rota para o comércio de hidrogênio verde. Isso não apenas diversifica as fontes de energia, mas também fortalece os laços comerciais entre os países participantes, impulsionando as economias regionais.
- Competitividade Energética: Tornando-se parte da espinha dorsal europeia de hidrogênio, o SoutH2 posiciona os países envolvidos como importantes fornecedores de energia limpa. Isso não apenas eleva sua posição no mercado global, mas também contribui para a transição energética global.
Potencial Geopolítico:
- Redesenho das Dinâmicas Regionais: O acordo trilateral entre Alemanha, Itália e Áustria para com os países africanos envolvidos, com o objetivo de apoiar o projeto reflete uma mudança nas dinâmicas geopolíticas e econômicas na região do Mediterrâneo. Isso pode influenciar alianças e parcerias em um contexto mais amplo.
- Diversificação de Fontes de Energia: A Europa, buscando reduzir sua dependência de fornecedores tradicionais, como a Rússia, vê na África uma fonte alternativa de energia. O Corredor SoutH2 desempenha um papel crucial na diversificação das fontes de energia e fortalece a segurança energética europeia.
- Afirmação de Influência Africana: Para os países africanos envolvidos, o projeto representa uma oportunidade de afirmar sua influência geopolítica, destacando seu papel como fornecedores confiáveis de hidrogênio e promovendo o desenvolvimento sustentável na região.
Por fim, o Corredor SoutH2 é um projeto importante não somente no âmbito energético, mas tem um grande potencial como um catalisador de mudanças econômicas e geopolíticas que poderão moldar as relações entre África e Europa nas próximas décadas.
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