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Governo Afegão Pode Colapsar em 6 Meses Depois da Saída dos Estados Unidos

A comunidade de inteligência dos EUA rebaixou sua avaliação sobre a capacidade do governo afegão de manter o poder após a retirada das tropas dos EUA, dizendo na semana passada que o governo de Cabul poderia entrar em colapso rapidamente, em até seis meses após a retirada, relatou o Wall Street Journal.

As agências de inteligência americanas revisaram suas estimativas anteriormente mais otimistas quando o Taleban varreu o norte do Afeganistão na semana passada, apreendendo dezenas de distritos e grandes cidades vizinhas. As forças de segurança afegãs frequentemente se rendiam sem lutar, deixando seus Humvees e outros equipamentos fornecidos pelos americanos para os insurgentes.

Soldado Americano Afeganistão
Fonte: Pixabay

A nova avaliação da comunidade geral de inteligência dos EUA, que não foi relatada anteriormente, agora está mais alinhada com a análise que foi gerada pelos militares dos EUA.

Os militares já retiraram até o final de Junho de 2021 mais da metade de seus 3.500 soldados e seu equipamento, com o restante previsto para ser retirado até 11 de setembro de 2021.

Na quarta-feira, 23 de Junho de 2021, os combatentes do Taleban estavam lutando contra as tropas do governo dentro da cidade de Kunduz, no norte do país, depois de ocupar a principal posto de fronteira com o Tajiquistão no dia anterior e chegar aos arredores do principal centro do norte do Afeganistão, Mazar-e-Sharif.

O serviço de fronteira do Tajiquistão disse que 134 soldados afegãos no posto de fronteira receberam refúgio, enquanto cerca de 100 outros foram mortos ou capturados pelo Taleban.

Funcionários da Casa Branca, de acordo com o jornal, agora estão encorajando os militares a desacelerar o ritmo de retirada das tropas dos EUA, em meio às notícias dos avanços do Taleban na região.

O Afeganistão será uma Saigon 2.0? Por que o potencial colapso do governo do Afeganistão é importante?

Com dizem, a história não se repete, mas rima.

Em termos históricos, a “queda de Saigon” em 1975 é ainda um evento muito recente. Muitos analistas, pesquisadores, e militares ainda estão vivos, se lembram desse evento, e vêm similaridades com a possível “queda de Cabul.”

A queda de Saigon foi quando as tropas do Vietnã do Norte tomaram a capital do Vietnã do Sul, apenas 2 anos depois da retirada das tropas Americanas, terminando assim oficialmente a Guerra do Vietnã.

Quando as tropas dos Estados Unidos “saíram” do Vietnã em 1973, eles deixaram o ARVN “Army of the Republic of Vietnam” (Exército da República do Vietnã) para lutar sozinho contra as tropas comunistas do Norte. O ARVN foi treinado e equipado pelos Estados Unidos e em 1973, as forças armadas do Vietnã do Sul eram a quarta maior do mundo, com centenas de milhares de soldados.

Fair use (queda de Saigon)

Porém, esse número não foi o suficiente para segurar as bem treinadas e motivadas tropas do Vietnã do Norte junto com os Viet Congs.

A queda de Saigon foi uma humilhação para o país mais poderoso do mundo, que gastou centenas de bilhões de dólares na Guerra do Vietnã, juntamente com 58 mil soldados Americanos mortos.

O avanço rápido do Taliban nos últimos dias, acelerado com a retirada das tropas Americanas do Afeganistão, trouxe novamente o fantasma do Vietnã aos analistas militares do Pentágono e da inteligência dos Estados Unidos.

Trilhões de dólares foram gastos pelos EUA, países da OTAN, as Nações Unidas, NGOs, e outras instituições internacionais na pacificação e desenvolvimento do Afeganistão. Sem contar as milhares de vidas perdidas pelos países do ocidente e pelos próprios Afegãos.

É difícil dizer que não valeu a pena. Em 2001, quando a intervenção militar internacional no Afeganistão começou, o país vivia quase que em estado de anarquia, sem um governo central, sem instituições públicas, e totalmente dividido e disputado entre “senhores da guerra,” e o Taliban/Al Qaeda.

Hoje, mesmo que seja longe de perfeito, o Afeganistão está em situação consideravelmente melhor, com um governo relativamente estável, instituições públicas se desenvolvendo, eleições – nem sempre limpas – e até com um pequeno turismo nascente e investimentos internacionais em recursos naturais.

Porém, se Cabul cair, todos esses avanços serão perdidos. E um país desestabilizado, em guerra civil, no meio da Ásia Central, trará grandes desafios geopolíticos para os seus vizinhos. Isso porque o extremismo e violência podem se espalhar para países fronteiriços como o Paquistão, Tajiquistão, Turcomenistão, Irã, e o mais importante, China.

E o papel da China em estabilizar o Afeganistão, com o qual faz fronteira?

A China tem muito a perder com a desestabilização do Afeganistão. Mesmo tendo investido mais em outros países vizinhos através do programa de infraestrutura “Belt and Road” do que no Afeganistão, a China chegou sim a investir em Cabul e tem interesses comerciais e minerais com o país.

Porém, a China pouquíssimo contribui para estabilização do Afeganistão nos últimos 20 anos, deixando os Estados Unidos para pagar a maioria da conta, mas colhendo muito dos frutos.

Talvez com a iminência de uma desestabilização Afegã, a China volte suas energias e recursos para apoiar o governo central em Cabul, ou até mesmo fazer um acordo com o Taliban para garantir que seus interesses no país não sejam afetados.

Independente da reação Chinesa, é certo dizer que os potenciais maiores perdedores com o colapso do Afeganistão seriam os Estados Unidos –  que perdeu muito sangue e tesouro no país nos últimos 20 anos – e acima de tudo, o povo Afegão, que mais uma vez, ficará sem conhecer o que é viver em paz por mais do que algumas décadas.

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