- Com mais de 65% da população da Índia abaixo dos 35 anos, o país tem um potencial econômico considerável, desde que essa juventude receba a educação e capacitação adequadas;
- A infraestrutura indiana ainda está em fase de crescimento e precisa de grandes investimentos para competir no cenário global, ao contrário da China, que já possui uma infraestrutura sólida;
- A estrutura democrática da Índia pode limitar sua ascensão econômica em comparação com a China, que se beneficiou de um sistema centralizado e mais efetivo.
Nas últimas décadas, a China se consolidou como uma superpotência econômica, transformando a economia global e redefinindo o papel das economias emergentes no cenário internacional.
Atualmente, com o crescimento chinês desacelerando, muitos se perguntam se a Índia, a próxima maior economia emergente, será capaz de seguir um caminho semelhante e se tornar a nova força motriz da economia mundial.
Embora a Índia possua várias vantagens, como uma demografia favorável e uma posição geopolítica estratégica, há muitos desafios e diferenças que tornam essa comparação complexa.
Como a Demografia e Crescimento Populacional é a Vantagem da Índia?
A demografia é frequentemente vista como um dos maiores ativos da Índia. Com uma população que ultrapassou 1.417 bilhão de pessoas, o país está superando a China (1.412 bilhão) como o mais populoso do mundo – a estimativa é de que sua população aumente para 1.7 bilhões de pessoas até 2050.
Enquanto a população da China começa a envelhecer, com uma taxa de crescimento negativa a partir de 2023, a Índia ainda possui uma população jovem, com mais de 65% de seus cidadãos abaixo dos 35 anos. Isso cria uma força de trabalho potencialmente vasta que poderia impulsionar o crescimento econômico nas próximas décadas.
No entanto, para que essa vantagem demográfica se transforme em crescimento econômico real, a Índia precisa garantir que essa população jovem esteja bem-educada e capacitada para trabalhar em setores produtivos.
Atualmente, o sistema educacional da Índia ainda enfrenta desafios, especialmente em termos de qualidade e acesso. Por exemplo, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas, a Índia ocupa a 134ª posição entre 193 países, demonstrando as lacunas em educação e saúde.
Além disso, o mercado de trabalho indiano ainda está caracterizado por uma alta informalidade. Estima-se que cerca de 90% da força de trabalho da Índia esteja no setor informal, onde os salários são baixos e a segurança no emprego é precária.
Para aproveitar ao máximo o benefício de ter uma população jovem, a Índia precisa criar milhões de empregos com boas condições, especialmente em áreas como fábricas e tecnologia.
Até agora, o país tem lutado para criar oportunidades de emprego em massa, e essa é uma das principais razões pelas quais a comparação com a China pode ser precipitada.
Quais são os Avanços e Limitações da Infraestrutura e Tecnologia Indianas?
Uma das áreas em que a China se destacou foi na construção de uma infraestrutura robusta e no desenvolvimento de uma base industrial poderosa.
A China investiu pesadamente em rodovias, ferrovias de alta velocidade, portos e aeroportos, além de criar zonas econômicas especiais que atraíram investimentos estrangeiros e impulsionaram a exportação. Hoje, a China é o maior exportador do mundo, responsável por cerca de 15% das exportações globais.
Em contraste, a infraestrutura da Índia ainda está em desenvolvimento. Embora o país tenha feito grandes progressos nos últimos anos, como o programa “Make in India” lançado em 2014 para estimular a produção de bens dentro do país, os desafios permanecem.
O Banco Mundial estima que a Índia precisará investir US$ 4,5 trilhões em infraestrutura até 2040 para atender às necessidades de sua economia. Além disso, gargalos em transporte e energia continuam a ser obstáculos. Por exemplo, os frequentes apagões ainda afetam a produção em várias partes do país, o que desestimula novos investimentos.
Além disso, a Índia tem uma participação menor no comércio global em comparação com a China. Em 2022, as exportações da Índia representaram cerca de 2% das exportações globais, uma participação modesta em comparação com a da China.
Isso reflete a capacidade limitada da Índia de competir em escala global, especialmente em setores industriais. A Índia tem se destacado muito na área de tecnologia da informação (TI), com suas empresas sendo líderes mundiais em serviços de terceirização. No entanto, o país ainda não conseguiu alcançar o mesmo nível de sucesso na produção e exportação de produtos físicos.
Quais são as Vantagens e Desafios Geopolíticos da índia em Comparação com a China e Vietnã?
A geopolítica global teve um papel crucial na ascensão da China. Nos anos 1970, a reaproximação entre os Estados Unidos e a China, em meio à Guerra Fria, criou condições favoráveis para que a China se integrasse à economia global.
O apoio do Ocidente foi vital para que a China se tornasse “a fábrica do mundo”. As multinacionais transferiram suas operações para a China para aproveitar a mão de obra barata e as políticas favoráveis, o que impulsionou o crescimento econômico do país.
Hoje, a Índia se encontra em uma posição geopolítica interessante, pois a rivalidade entre os EUA e a China está criando novas oportunidades para o país.
A crescente preocupação do Ocidente com a dependência excessiva da China levou a uma estratégia conhecida como “China Plus One“, onde empresas buscam diversificar suas cadeias de suprimentos, incluindo novos países como a Índia. Como resultado, empresas como Apple e Foxconn estão investindo na expansão de suas operações na Índia.
No entanto, a Índia enfrenta uma forte concorrência de outros países asiáticos que também estão se posicionando como alternativas à China.
Países como Vietnã, Tailândia e Malásia têm atraído uma grande parte dos investimentos estrangeiros que estão saindo da China.
Em 2023, o Vietnã, por exemplo, recebeu mais de US$ 36.6 bilhões em investimentos diretos estrangeiros (IDE), em comparação com os US$ 28 bilhões recebidos pela Índia, mesmo tendo uma economia muito menor.
Isso mostra que, apesar de a Índia estar em uma boa posição, ela ainda enfrenta desafios para se tornar o próximo grande centro de fabricação da Ásia.
Além disso, o ambiente global hoje é muito menos favorável ao comércio e à globalização do que era nas décadas de 1980 e 1990, quando a China iniciou sua ascensão.
As tensões comerciais entre os EUA e a China, as disputas sobre propriedade intelectual e a crescente desconfiança em relação às cadeias de suprimentos globais criaram um ambiente mais protecionista. Isso pode dificultar a integração da Índia na economia global da mesma forma que a China conseguiu.
Como a Governança Democrática Impacta no Crescimento Econômico?
A China tem sido governada por um único partido desde a Revolução Comunista de 1949. Esse sistema permitiu que o governo chinês implementasse reformas econômicas rápidas e coordenadas, muitas vezes sem a necessidade de consulta ou aprovação de diferentes partes da sociedade.
Essa centralização do poder foi um dos fatores que permitiu à China realizar mudanças econômicas em grande escala, como a criação de zonas econômicas especiais e a construção massiva de infraestrutura, em um curto período de tempo.
A Índia, por outro lado, é a maior democracia do mundo, com uma estrutura política complexa e descentralizada. Embora isso seja uma força em termos de inclusão política e direitos civis, também dificulta a implementação de reformas econômicas.
O sistema político indiano, com múltiplos partidos e muita burocracia, muitas vezes resulta em processos de tomada de decisão lentos e complexos.
Por exemplo, a implementação do Imposto sobre Bens e Serviços (GST), uma das reformas fiscais mais importantes na história recente da Índia, levou anos para ser finalizada e ainda enfrenta desafios de execução.
Da mesma forma, reformas em leis trabalhistas e políticas de terra, que são essenciais para o desenvolvimento industrial, frequentemente encontram resistência política e social.
Além disso, a corrupção continua sendo um problema sério na Índia. Em 2023, o país ocupava a 93ª posição no Índice de Percepção da Corrupção da Transparency International, atrás de muitos de seus concorrentes na Ásia.
Sendo assim, a corrupção não só mina a confiança dos investidores estrangeiros, como também dificulta o desenvolvimento de negócios domésticos.
Quais são as Perspectivas Futuras da Índia em Relação à China?
A Índia está, sem dúvida, em uma posição estratégica para desempenhar um papel mais proeminente na economia global nas próximas décadas.
Sua já mencionada população jovem, sua crescente classe média e sua posição geopolítica favorável são vantagens que não podem ser ignoradas. No entanto, a comparação com a China pode ser enganosa.
Embora a Índia possa seguir um caminho de crescimento promissor, as condições que permitiram à China se tornar uma superpotência econômica são diferentes das que a Índia enfrenta hoje.
A globalização, que foi um dos principais motores do crescimento chinês, está em declínio, substituída por políticas protecionistas e tensões geopolíticas.
Além disso, a infraestrutura subdesenvolvida, a governança complexa e os desafios sociais e econômicos internos da Índia são obstáculos para sua ascensão ao status de superpotência.
Se ao longo dos próximos anos o país conseguir realizar as reformas necessárias, melhorar sua infraestrutura, criar empregos de qualidade e manter sua posição como um parceiro estratégico confiável no cenário global, ele poderá, sim, desempenhar um papel com maior relevância na economia mundial.
No entanto, é improvável que a Índia replique exatamente o caminho da China. Em vez disso, ela precisará encontrar seu próprio modelo de desenvolvimento, adaptado à sua realidade e ao contexto global atual.