- Desde o século XIX até os desafios geopolíticos atuais, a presença militar americana nas Filipinas se mostra relevante;
- A disputa territorial no Mar do Sul da China e a rivalidade entre os Estados Unidos e a China moldam a presença militar americana e as alianças regionais;
- O retorno dos militares americanos às Filipinas impacta a segurança regional e contrabalança a influência chinesa.
O retorno da presença militar dos EUA nas Filipinas representa um marco nas relações entre os dois países, com repercussões significativas para a segurança regional e a rivalidade com a China.
As novas bases militares buscam conter a influência chinesa no Mar do Sul da China e estabelecer um equilíbrio de poder na região. No entanto, é essencial abordar as preocupações relacionadas à soberania e garantir uma cooperação transparente e benéfica para ambos.
O histórico da presença militar americana nas Filipinas
A presença militar americana nas Filipinas remonta ao final do século XIX, quando os Estados Unidos assumiram o controle do país após a Guerra Hispano-Americana em 1898. Durante a guerra, os Estados Unidos derrotaram as forças espanholas e o Tratado de Paris, assinado em 1898, transferiu a soberania das Filipinas para os Estados Unidos.
Após a aquisição das Filipinas, os Estados Unidos estabeleceram uma administração colonial no país, que durou até a independência filipina em 1946.
Durante esse período, os Estados Unidos estabeleceram bases militares no arquipélago para proteger seus interesses na região. As bases mais importantes eram a Base Aérea de Clark, localizada perto da cidade de Angeles, e a Base Naval de Subic Bay, localizada perto da cidade de Olongapo.
Essas bases militares desempenharam um papel estratégico durante a Segunda Guerra Mundial, servindo como pontos de apoio para as operações das forças americanas na região do Pacífico. No entanto, após a independência das Filipinas, houve um movimento crescente para encerrar a presença militar americana no país.
Em 1991, o governo filipino decidiu não renovar o acordo que permitia a presença das bases militares americanas, e as bases de Clark e Subic Bay foram fechadas.
Apesar do fechamento das bases, os Estados Unidos e as Filipinas mantiveram relações militares próximas. Em 1999, os dois países assinaram o Acordo de Visitas de Forças, permitindo que tropas americanas realizassem exercícios e treinamentos conjuntos com as Forças Armadas Filipinas.
O acordo também estabeleceu as bases para a cooperação em questões de segurança, como o combate ao terrorismo e a resposta a desastres naturais.
Nos últimos anos, a presença militar americana nas Filipinas tem sido objeto de discussões e negociações entre os dois países. Questões como a liberdade de navegação no Mar da China Meridional e a crescente assertividade da China na região têm levado a um aumento da cooperação militar entre os Estados Unidos e as Filipinas.
As Filipinas dando acesso aos Americanos a 4 bases militares
Após uma história de colonialismo compartilhada com os Estados Unidos, as Filipinas estão convidando-os a aumentar sua presença militar no país, concedendo acesso a quatro novas bases militares em meio a crescentes tensões com a China.
Ao permitir a presença militar dos EUA, as Filipinas buscam fortalecer sua capacidade de defesa e segurança, diante das reivindicações territoriais da China na região. Essa parceria estratégica visa garantir a proteção de seus interesses soberanos, bem como promover a liberdade de navegação no Mar do Sul da China, em meio às tensões geopolíticas e ao potencial de escalada de conflitos na região.
Kenneth Faulve-Montojo, especialista em política filipina, ressalta a necessidade da assistência dos Estados Unidos, afirmando que as Filipinas não podem enfrentar a China sozinhas. O “Acordo de Cooperação de Defesa Aprimorada” permitirá que os EUA tenham acesso a essas bases adicionais, fortalecendo sua presença militar, que já incluía locais estratégicos.
O Departamento de Defesa dos EUA destaca que esse aumento de acesso às bases fortalecerá a aliança e acelerará a modernização das capacidades militares combinadas. Além disso, a presença americana possibilitará um suporte mais ágil em situações de desastres humanitários e relacionados ao clima, bem como impulsiona o crescimento econômico por meio de investimentos estrangeiros e criação de empregos.
Embora muitos filipinos vejam a presença dos EUA como uma estratégia para combater e dissuadir a influência e incursões chinesas, alguns podem ter preocupações sobre as implicações sociais de conceder tanto poder militar aos EUA em seu território.
Apesar de os locais específicos das novas bases militares não terem sido divulgados publicamente, discussões anteriores indicaram possíveis locais na província de Cagayan, do outro lado do estreito de Taiwan, além de Palawan e Zambales.
Essa expansão reflete a importância de uma cooperação estreita entre os Estados Unidos e as Filipinas para lidar com os desafios regionais e manter a estabilidade no Indo-Pacífico.
A importância das Filipinas na disputa geopolítica entre os EUA e a China
A “Primeira Cadeia de Ilhas” e a “Segunda Cadeia de Ilhas” – respectivamente, First Island Chain e Second Island Chain em inglês – são conceitos geopolíticos que se referem a duas linhas de ilhas e ilhotas no Oceano Pacífico, que são consideradas de importância estratégica em uma potencial disputa entre a China e os EUA.
A Primeira Cadeia de Ilhas é uma série de ilhas que se estende desde a península coreana, passando pelas ilhas japonesas, Taiwan e chegando até as Filipinas. Ela forma uma espécie de barreira natural que delimita o Mar da China Oriental e o Mar da China Meridional, separando a China continental dessas áreas marítimas.
A Segunda Cadeia de Ilhas, por sua vez, fica mais distante da costa chinesa e se estende desde as Ilhas Marianas, passando pelas Carolinas, até as Ilhas Marshall. Ela também faz parte da região do Pacífico Ocidental e tem relevância estratégica.
Essas cadeias de ilhas têm implicações geopolíticas significativas, pois desempenham um papel no controle do acesso marítimo, defesa e influência na região. Elas são consideradas importantes para os Estados Unidos e seus aliados, como uma forma de garantir a liberdade de navegação e conter a expansão da influência chinesa nas águas adjacentes.
Analisando com atenção as crescentes tensões entre Taiwan e China, surge a possibilidade de uma intervenção por parte dos Estados Unidos no caso de um ataque chinês à Taiwan. Nesse cenário, é plausível que os Estados Unidos tomem medidas, possivelmente partindo de suas bases militares localizadas nas Filipinas, o que ressalta sua importância geopolítica.
A disputa territorial entre a China e os países no Mar do Sul da China como justificativa para a presença Americana
A disputa territorial no Mar do Sul da China é um dos principais motivos que justificam a presença americana na região. O Mar é uma área rica em recursos naturais, como petróleo e gás, além de ser uma importante rota marítima para o comércio internacional, com uma grande parte do comércio mundial passando por suas águas.
Vários países, incluindo China, Taiwan, Filipinas, Vietnã, Malásia e Brunei, reivindicam partes do Mar do Sul da China, das ilhas e recifes localizados nele. Pequim, em particular, reivindica uma grande parte da área com base no que é conhecido como a “linha de nove traços” ou “linha de U-shaped”, que engloba a maior parte do mar e várias ilhas e recifes disputados.
A presença americana na região é justificada pelo interesse em manter a estabilidade, a liberdade de navegação e a segurança marítima na área. Os Estados Unidos apoiam os países vizinhos no Mar do Sul da China que têm disputas territoriais com Pequim e se opõem às ações unilaterais chinesas que podem desestabilizar a região.
Os Estados Unidos têm realizado patrulhas marítimas e aéreas, além de exercícios militares conjuntos com aliados regionais, como as Filipinas, o Japão e a Austrália, como forma de demonstrar apoio e dissuadir ações provocativas.
A presença militar americana nas Filipinas e em outros países próximos ao Mar do Sul da China é vista como uma forma de garantir um equilíbrio de poder na região e mostrar uma frente unida contra as reivindicações excessivas de Pequim.
A presença dos Estados Unidos também é impulsionada pela preocupação de que um aumento da influência chinesa na área possa ameaçar os interesses estratégicos dos Estados Unidos no Pacífico Ocidental.
Além disso, os Estados Unidos buscam proteger seus próprios interesses econômicos e comerciais na região, uma vez que a liberdade de navegação no Mar do Sul da China é vital para o comércio global.
Outras bases militares Americanas e alianças para conter a China
Além da presença nas Filipinas, os Estados Unidos mantêm outras bases e parcerias na região, incluindo a Austrália, o Quad e o AUKUS:
- A Austrália tem uma longa história de cooperação militar com os Estados Unidos. Os dois países realizam exercícios militares conjuntos, compartilham inteligência e mantêm uma parceria estratégica para garantir a estabilidade e a segurança na região. A base de Darwin, no norte da Austrália, mantem uma força rotativa de Fuzileiros Navais Americanos, e tem sido usada para fins de treinamento e exercícios conjuntos entre as forças militares dos dois países.
- Japão abriga várias bases militares dos Estados Unidos, com destaque para a ilha de Okinawa. A presença militar nessa região desempenha um papel crucial na defesa da estabilidade e segurança regional, além de servir como ponto estratégico para a projeção de poder dos Estados Unidos na região do Pacífico.
- Coreia, que mantém fortes relações com os EUA, especialmente devido às tensões na península coreana. A aliança entre os dois países visa a defesa mútua e a estabilidade na região, com o objetivo de conter as ameaças da Coreia do Norte e garantir a paz na península.
- Guam, um território americano no Oceano Pacífico, abriga uma importante base militar dos Estados Unidos. A presença nessa ilha estrategicamente localizada permite aos EUA projetar poder e estender sua influência na região do Pacífico.
- O Quad, também conhecido como Quadrilateral Security Dialogue, é composto pelos Estados Unidos, Austrália, Índia e Japão. Consiste em uma iniciativa diplomática e de segurança que busca promover uma ordem livre e aberta no Indo-Pacífico e fortalecer a cooperação em áreas como segurança marítima, conectividade e resposta a desastres.
- A AUKUS (Austrália, Reino Unido e Estados Unidos), anunciada em 2021, tem o objetivo de fortalecer a cooperação em defesa e segurança, com foco no desenvolvimento de tecnologia nuclear submarina para a Marinha Australiana. Essa iniciativa é vista como parte dos esforços para fortalecer a presença e a influência dos Estados Unidos e seus aliados na região.
O conceito do “Force Design 2030” também faz parte da estratégia dos Estados Unidos para enfrentar os desafios apresentados pela China. O Force Design 2030 envolve a reestruturação e modernização dos Fuzileiros Navais Americanos (um dos 6 ramos dos EUA), com um foco maior em capacidades marítimas, incluindo o desenvolvimento de sistemas avançados de armas e tecnologias inovadoras.
Tais iniciativas têm como objetivo fortalecer a postura de dissuasão e a capacidade de resposta dos Estados Unidos em um cenário de competição estratégica com a China.
Qual é a importância em relação à China da volta dos militares americanos às Filipinas
O estabelecimento de uma nova base militar dos EUA nas Filipinas revela um marco nas relações bilaterais entre os dois países, com implicações abrangentes para a segurança regional e a cooperação em defesa.
A presença militar americana nas Filipinas resultará em uma maior contenção da influência de Pequim no Mar do Sul da China e contribuirá para evitar conflitos e agressões chinesas na região.
Além disso, os Estados Unidos irão provocar um contrapeso de poder, evitando o domínio total da China na região. Como uma potência global, Washington oferecerá uma presença militar robusta que contrabalança a influência crescente da China, fornecendo uma alternativa aos países preocupados com suas ambições expansionistas.
Contudo, a presença americana na região demonstra a constante ambição de Washington em manter sua hegemonia no sistema internacional, levantando questões sobre a militarização da região e a possibilidade de aumentar suas tensões com a China.
Além disso, a presença militar não deve ser a única solução, e esforços diplomáticos devem ser priorizados para evitar a escalada de conflitos e promover um ambiente de paz e cooperação mútua, buscando resolver suas diferenças, a fim de promover a estabilidade e o desenvolvimento sustentável na região da Ásia-Pacífico.
Embora a presença de uma nova base militar dos EUA nas Filipinas ofereça vantagens, é crucial abordar as preocupações relativas à soberania e às implicações domésticas. O governo filipino deve garantir que sua soberania permaneça intacta e que os termos do acordo sejam transparentes e mutuamente benéficos.
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