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Como a Indústria Mundial está Usando o Vietnã para se Diversificar da China

A busca por diversificação de parceiros comerciais tem crescido em muitos países, impulsionada em grande parte pela atual conjuntura de guerra na Ucrânia e pela escalada de tensões entre a China e Taiwan. É a politica chamada de “China +1” onda há uma diversificação/duplicação das linhas de produção para além da China.

Nesse cenário, o Vietnã tem sido amplamente utilizado pela indústria global como alternativa à China, permitindo a diversificação de suas linhas de produção. Sua localização estratégica também torna Hanoi uma alternativa atraente para muitas empresas.

Fonte: BlankAsia

O Vietnã já é um dos grandes centros de produção industrial mundial

O Vietnã já é um dos grandes centros de produção industrial por vários fatores. Acima de tudo, o país tem uma força de trabalho jovem e relativamente barata, mesmo quando comparada à China, o que tem sido um grande atrativo para as empresas que buscam reduzir seus custos de produção.

Além disso, o governo vietnamita tem implementado políticas que visam atrair investimentos estrangeiros, incluindo a redução de impostos e a simplificação de regulamentações para empresas.

Outro fator importante é a já citada localização geográfica do país. Hanoi está situada em uma posição estratégica no sudeste asiático, entre a China e o restante da Ásia, o que a torna um centro de comércio natural para a região. 

Ademais, o país tem fácil acesso aos mercados globais, por meio de seus importantes portos marítimos como Ho Chi Minh e Hai Phong, bem como uma rede de rodovias e ferrovias que facilitam o transporte de produtos.

O país também tem se beneficiado da sua participação em acordos comerciais internacionais, como o Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP) e o acordo de livre comércio com a União Europeia. Esses acordos têm reduzido as barreiras comerciais para os produtos vietnamitas, aumentando sua competitividade no mercado global.

Por que a empresas e países vêem o Vietnã como uma alternativa à China nas “linhas de valores mundiais”

Uma das principais razões para o Vietnã ser considerado uma alternativa é o risco geopolítico associado à China, incluindo suas tensões com Taiwan e a guerra comercial chinesa em curso com os Estados Unidos e outros países.

Outra razão é a necessidade internacional de diversificar suas cadeias de suprimentos e reduzir a dependência excessiva da China, especialmente após a pandemia de Covid-19 ter exposto as vulnerabilidades e os gargalos na cadeia de suprimentos global. A diversificação também é importante para reduzir o impacto das flutuações de câmbio e das tarifas comerciais.

Além disso, muitas empresas estão procurando alternativas à China para evitar os crescentes custos trabalhistas que são naturais quando um país se torna mais rico como a China.

Já o Vietnã, oferece mão de obra mais barata e uma infraestrutura cada vez mais robusta, com investimentos contínuos em portos, aeroportos, estradas e ferrovias.

As empresas agora estão mudando a forma como produzem e se abastecem de materiais. Antes, elas focavam no “just in time” que é a produção de acordo com a demanda, com pouquíssimo inventário.

Atualmente, as empresas estão mais focadas no “just in case”, criando um estoque de produtos, caso algo inesperado aconteça, para garantir que a produção não pare. 

É como se elas estivessem criando um plano B para garantir que tudo continue funcionando mesmo em situações difíceis. Essa mudança é uma forma de ser mais preparado e resistente a imprevistos, mesmo que isso possa custar um pouco mais.

Por isso a frase “da moda” da logística mundial atualmente é a “China + 1.” Como falamos, não é substituir a China totalmente nas linhas de valor, mas ter um fornecedor alternativo como “plano B” caso algo ocorra com a China, seja por problemas geopolíticos ou por políticas nacionais de Pequim.

Essa tendência é importante para o Vietnã porque, ao buscar opções de fornecimento de backup e estratégias de resiliência, as empresas podem levar mais investimentos, empregos e crescimento econômico para o Vietnã.

Por que o Vietnã não conseguirá substituir totalmente a China como fábrica do mundo

Embora o Vietnã tenha se tornado um importante centro de produção industrial global, existem alguns fatores que impedem que ele substitua completamente a China. Algumas razões incluem:

  1. Capacidade de produção limitada: o Vietnã tem uma capacidade de produção limitada em comparação com a China. Embora o Vietnã tenha atraído muitos investimentos estrangeiros nos últimos anos, ainda é um país menos desenvolvido do que Pequim e sua capacidade de produção não pode competir com a da China.
  2. Infraestrutura insuficiente: a infraestrutura do Vietnã, incluindo portos, estradas e energia elétrica, ainda precisa ser melhorada para atender às demandas da produção industrial em larga escala. Isso limita a capacidade do Vietnã de competir com a China em termos de produção.
  3. Falta de diversidade de fornecedores: muitos fornecedores importantes ainda são concentrados na China, o que significa que a cadeia de suprimentos global ainda é muito dependente do país. Embora o Vietnã tenha atraído muitos investimentos estrangeiros, ainda precisa desenvolver uma rede diversificada de fornecedores.
  4. Custos trabalhistas crescentes: como o Vietnã se torna cada vez mais industrializado, os custos trabalhistas estão aumentando, o que pode afetar sua competitividade em relação a outros países em desenvolvimento com salários ainda mais baixos.
  5. Concorrência de outros países: outros países como Índia, Indonésia e México, também estão emergindo como alternativas à China. À medida que mais países competem para atrair investimentos estrangeiros, pode haver uma dispersão dos investimentos e uma redução na concentração de produção na China e no Vietnã.

Então, a tendência de deslocar a produção para o Vietnã deve continuar, porém, a infraestrutura do Vietnã ainda tem algumas limitações e o país enfrenta outros desafios como a corrupção e a falta de mão de obra qualificada.

Outros países sendo usados para diversificar produção e cadeias de suprimento além da China

Além do Vietnã, diversos países têm se destacado como opções atraentes para empresas que buscam a doutrina do “China + 1”, incluindo a Índia, a Indonésia, o México, alguns países africanos e a Romênia.

Outro fator importante é o fenômeno do “reshoring” e “nearshoring” que tem ganhado força nos últimos anos, com empresas transferindo a produção de volta para seus países de origem ou para países próximos. Isso é impulsionado por fatores como a necessidade de reduzir custos de transporte, o desejo de maior controle sobre a qualidade e a proteção da propriedade intelectual.

No caso do nearshoring, o México pela proximidade com os EUA e os países nos Balcãs pela proximidade com a Europa ocidental seriam os mais beneficiados.

Por que a transferência de fábricas e cadeias de suprimento da China para o Vietnã é importante

‌Nas Relações Internacionais, a disputa por ser um centro de produção industrial de larga escala, se insere no campo geopolítico. Ao perder espaço para países emergentes como o Vietnã, a China tem sua influência e poder econômico e político diminuídos na Comunidade Internacional. 

Com a saída ou retração de grandes empresas de seu território, a economia chinesa pode sofrer um forte impacto, que pode afetar setores vitais do governo, como o investimento em armamento e diplomacia hostil em relação aos EUA e Europa. 

Ademais, a China pode ter seu acesso a tecnologias reduzido, pois grandes empresas com tecnologia de ponta deixarão de produzir e investir no país, eliminando suas chances de copiar tais tecnologias, o que é uma prática histórica de Pequim. 

A aliança do Vietnã com os Estados Unidos no Mar do Sul da China é outro fator importante. Essa área é disputada territorialmente entre a China e outros países na região, incluindo o Vietnã. A presença dos Estados Unidos na região oferece maior segurança a Hanoi em relação a Pequim.

No entanto, a China está ciente desse movimento dos países mais ricos no tabuleiro internacional e também está diversificando suas linhas de produção para outros países. 

Como prevenção, Pequim possui empresas que produzem também em outros países emergentes, como o próprio Vietnã e a Indonésia. Dessa forma, caso o país sofra com sanções econômicas, as empresas continuarão a produzir no exterior. 

Por fim, embora o Vietnã seja uma das principais alternativas à China como destino para a produção industrial, há uma variedade de países sendo considerados como opções viáveis para diversificar a produção e as cadeias de suprimentos. Cada país tem suas próprias vantagens e desafios, e o Vietnã tem vantagens suficientes para liderar parte desta corrida.

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