Desde a declaração de guerra da Rússia contra a Ucrânia, diversas atividades online de divulgação das informações do conflito ocorrem diariamente, sendo o conflito armado mais seguido e assistido quase de forma instantânea na história da humanidade.
O presidente da Ucrânia é um expert em mídia, e diversos meios de comunicação já estão declarando uma vitória ucraniana na “guerra de informação e mídia”, já que a opinião pública maior está aliada aos movimentos da Ucrânia enquanto condena a Rússia veementemente.
Isto faz parte da agenda política da propaganda de guerra, onde as nações divulgam seus objetivos e interesses enquanto diminuem a moral do inimigo. É um movimento histórico que faz parte dos conflitos militares.
História das propagandas militares durante guerras
As propagandas de guerra são utilizadas em quase todos os conflitos armados, tendo seus maiores usos em alta escala na 1ª e 2ª Guerra Mundial, onde os lados opositores defendiam seus objetivos e valores por meio de panfletos distribuídos por aviões.
As propagandas de guerra tomaram ainda maiores proporções na 2ª Guerra Mundial pelos nazistas. O governo de Adolf Hitler possuía grandes investimentos em produção de propaganda nazista anti-comunista, tendo enquanto principal líder de departamento de imagem e propaganda Joseph Goebbles.
Isso porque, as divulgações por meio das composições de imagem possuem um grande poder de formar a opinião pública, e quando um povo está ao lado da nação no embate, a própria guerra ganha força.
O avanço que os nazistas tiveram com relação aos impactos das propagandas se deu no entendimento da sua força enquanto um instrumento de manutenção de unidade, podendo trazer estados neutros no conflito para sua lista de aliados e manter o espírito nacional vivo. Todos estes aspectos ajudam a aumentar a moral dos soldados no campo de embate, trazendo maiores sucessos à nação.
Mas Joseph Goebbels não controlava somente a produção das propagandas, mas da própria produção artística e cultural nazista. Isso porque entendia que não adiantava somente desenhar seus opositores como os grandes inimigos em um panfleto que as pessoas leriam e jogariam fora, como faziam com os judeus, comunistas e estadunidenses. Para a propaganda de guerra ter impactos reais na opinião pública é necessário incluir as ideologias dentro do campo cultural da população.
Foi esta visão sobre o papel da propaganda que mudou toda a importância que elas possuem até hoje. As guerras atuais acontecem em 4 principais dimensões: militar, econômica, política e propaganda.
Buscando diminuir a moral do inimigo para quebrar sua vontade de lutar, a divulgação de um sucesso militar e do poder econômico e armado de quem faz a propaganda tem o objetivo de implementar uma superioridade moral da causa contra a qual o inimigo está lutando, tanto no ambiente material (mostrando que tem armas mais eficientes, por exemplo) como no ambiente da ética.
Dessa forma, o objetivo final da propaganda é distanciar um líder inimigo de seu povo para quebrar a resistência e produzir evidências de que o povo inimigo está sendo enganado.
Em conflitos como o da Rússia e Ucrânia nas últimas semanas, o primeiro em grande escala com o acompanhamento simultâneo do público e da mídia via redes sociais, é possível observar os dois lados divulgando seus objetivos e buscando uma maior aproximação com o público.
Com os avanços das tecnologias, as propagandas de guerra ganharam uma velocidade de disseminação muito alta e as redes sociais se tornaram essencial dentro do jogo de interesses dos conflitos armados.
Como o presidente Ucraniano Volodymyr Zelensky é um mestre em promoção midiática pessoal
Nos ambientes tecnológicos, a formação de opinião se dá de forma muito mais acelerada. O controle sobre os diferentes âmbitos culturais é mais difícil, mas não impossível.
A Ucrânia passou por uma onda anti-estabelecimento estabelecimento, por um povo que estava cansado com a forma que as instituições extremamente corruptas funcionavam. Com o discurso anticorrupção e a defesa de ser “um homem do povo” diferente dos políticos já experientes, Volodymyr Zelensky foi o presidente eleito em 2019, carregando o histórico de ser um ex-comediante e ator com imagem já conhecida pela mídia local e pelo povo.
Durante sua carreira na mídia, o presidente aumentou cada vez mais os seus laços com o dono da emissora de TV 1+1, o oligarca, bancário e financiador de forças paramilitares Igor Kolomoisky, que foi alvo do governo anterior por conta de acusações de corrupção. Após este cenário político controverso, logo antes de ser eleito, Zelensky fez parte da série Servant of the People (Servidor do Povo) pela emissora. Nela, o comediante se passava por um professor que virava presidente após um vídeo seu criticando a corrupção instaurada no governo e a “velha política” se tornar viral.
Ao concorrer às eleições, o próprio partido pelo qual estava filiado seguia o mesmo nome que a série que estrelou: Servidor do Povo. Ou seja, a realidade imitou a arte.
Tendo na sua primeira experiência política uma guerra armada com a Rússia, Zelensky e sua comitiva investem na produção de imagens e informação para movimentar o público e aumentar seu apoio. Como um homem que já possui experiência com os apelos emocionais da mídia, desde o início da invasão russa, Zelensky e o governo ucraniano divulgam seu heroísmo contra a grande autocracia vizinha, mobilizando o povo e a comunidade internacional para defender a nação.
O que surpreendeu diversos opositores ucranianos foi o poder de mobilização popular de Zelensky. Por mais que já fosse uma figura pública, o presidente tem feito diversos pronunciamentos oficiais com uma imagem “descontraída”, com a barba por fazer e camiseta, como forma de demonstrar a dificuldade da posição que se encontra mas sem perder a sua aproximação enquanto “homem do povo”, provocando uma empatia popular pelo político sem experiência.
Nas redes oficiais do governo ucraniano, as declarações se dão de forma pessoal e com vídeos selfies que misturavam a realidade material dos ataques russos com a imagem direta do presidente na frente do exército para defender sua nação.
O que é possível observar na imagem do presidente ucraniano é uma presença tanto nos meios culturais enquanto um homem que buscava mudar a política, como nas redes sociais fazendo a propaganda de como seu país está sofrendo pelos ataques injustos da Rússia.
O movimento que o governo ucraniano teve na sua propaganda de guerra se deu anteriormente da própria invasão Russa, iniciando-se durante o conflito em Donbas contra as forças separatistas. Ou seja, quando começou o conflito direto com a Rússia, a Ucrânia já possuía vasta experiência com propaganda militar.
Zelensky é capaz de movimentar os civis a pegarem em armas, no esquema de guerrilha, para defender este espírito nacional que está sendo ferido.
Táticas de propaganda, informação, e mensagem militar usadas pela Ucrânia durante a guerra com a Rússia
Em governos democráticos, em situações de guerra, é importante que as informações sejam passadas à população com acompanhamento imparcial e informativo. Isso em si não se enquadra necessariamente enquanto uma propaganda de guerra.
Contudo, o que observamos do movimento midiático ucraniano e dos seus aliados ocidentais, é uma movimentação das informações para ganhar uma guerra de informação, ou como a Politico colocou: a #LikeWar, guerra por curtidas e engajamento, seja via Facebook, Twitter, Reddit, ou qualquer outra forma de mídia online.
Nos primeiros dias após a invasão, o twitter oficial da Ucrânia, que já estava postando diversos memes sobre a pressão russa na fronteira, publicou uma caricatura de Adolf Hitler acariciando o rosto de Vladimir Putin. Esta postagem levou a discussão e debate na rede social sobre como estes memes estavam sendo utilizados enquanto armas de guerra, até que foi necessário pronunciamento oficial do perfil ucraniano dizendo: “Isto não é um ‘meme’, mas nossa e sua realidade agora.”
Este evento levou a milhões de curtidas e repostagens, o que divulgou ainda mais a propaganda de guerra ucraniana. O movimento de mobilização das mídias pela Ucrânia foi um exercício de construção da opinião pública antes mesmo que a invasão russa fosse declarada, as piadas que faziam já faziam parte do esforço de colocar os avanços russos como ações sem base e sem motivo.
Mais um dos exemplos de manipulação da narrativa por parte da Ucrânia se deu com o “#GhostOfKiev”, um piloto de avião caça que teria abatido seis caças russos. O piloto em questão foi comparado na mídia com o veterano da 2ª Guerra Mundial, Edward O’Hare, que possui o melhor histórico de abate da história da guerra americana. Contudo, não existem comprovações certeiras de que este único piloto ucraniano realmente abateu os seis russos de uma vez, mas o que importa é divulgar que foi isto que ocorreu.
Além disso, um movimento de “mistificação de mártires” foi feito pelas mídias ucranianas, em defensores de uma ilha Ucraniana desafiaram verbalmente com palavrões um navio de guerra russo quando este pediu para que eles baixassem as armas. Mais tarde, a própria marinha Ucraniana informou que há indícios que os tais soldados não foram realmente mortos.
Esses posicionamentos nas mídias levaram com que o movimento russo de defender a invasão em busca de uma “desnazificação” das forças armadas ucranianas não ganhasse tanta força quanto o esperado.
Mesmo os russos sendo considerados excepcionais na produção de desinformação, o que é possível observar é um despreparo anterior da mídia ocidental em checar fatos e verificar as informações e não necessariamente uma produção excepcional em fake news.
A rapidez com que as informações são divulgadas faz com que haja um esforço, tanto dos jornalistas para acompanhar os acontecimentos, quanto dos próprios diplomatas em se posicionar.
As táticas de propagar seus objetivos e ideologias por meio das redes sociais é mais uma forma de se aproximar do povo, utilizando-se das formas que o próprio público utiliza no seu dia a dia para incluir seus propósitos no cotidiano e na formação de opinião.
A propaganda de guerra é a tentativa do uso da informação para prejudicar o inimigo e ganhar pessoas que te apoiem, e com as novas tecnologias e o imediatismo das redes sociais, a propaganda se inova.
Qual a tendência no futuro no uso de propaganda via mídia sociais em conflitos armados?
Agora, principalmente após a influência russa nas eleições americanas de 2016, existe um esforço de diversas instituições, conhecidas por inteligência de código aberto (OSINT, abreviação em inglês), em desmascarar possíveis informações falsas e imagens alteradas. A Bellingcat é uma dessas instituições que civis verificam vídeos e fotografias da Ucrânia, divulgando o que elas realmente significam para o público.
Além disso, movimentos populares como o grupo hacker Anonymous, também se posicionam para diminuir os impactos russos na guerra cibernética de manipulação da informação, com um vídeo curto que mostra programação normal interrompida com imagens de bombas explodindo na Ucrânia e soldados falando sobre os horrores do conflito passado nos canais estatais russos. O vídeo viralizou após divulgação das próprias redes do Anonymous para o público.
A Ucrânia e os meios de mídia ocidentais continuarão a se posicionar pelas redes sociais como forma de vilanizar os seus inimigos na opinião pública. Para a Rússia mudar a maré do combate na guerra de informações será necessária uma mudança na forma que faz suas propagandas de guerra, na forma que divulgam seus interesses e objetivos.
Em geral, em futuros conflitos, é capaz de países ou outros atores envolvidos terceirizarem a produção de propaganda, informação, e desinformação militar para empresas de Relações Públicas e Marketing. Seria um novo nicho dessas empresas trabalharem para países em guerra da mesma forma que já trabalham com países com uma má imagem internacional como a Arábia Saudita.
Essa parceria publico privada de produção de propaganda para melhorar a imagem de um país, em guerra ou não, só tende a aumentar. Uma das principais máximas das guerras vai ficar cada vez mais relevante: “A primeira vítima da Guerra é a Verdade”.
[…] os avanços tecnológicos, a guerra de informação, e espacial consequentemente (já que a data necessita das redes de satélites), fazem parte de uma […]
[…] países-membro buscam ajudar a Ucrânia a se defender dos ataques russos e fortalecer sua defesa a longo prazo, e a Vice-Ministra da Defesa […]
[…] isto, pode se afirmar que Vladimir Putin começou, não apenas uma guerra entre a Rússia e a Ucrânia, mas uma guerra entre a autocracia e a democracia, no momento em que utilizou de uma ideologia […]