Como o Grupo de Contato de Defesa da Ucrânia Liderado pelos Estados Unidos está Armando o País Contra a Rússia

Após a invasão não provocada da Rússia à Ucrânia, foi criado um “Grupo de Contato de Defesa”, composto por mais de 45 países, liderados pelos Estados Unidos, que está fortemente envolvido na defesa da Ucrânia, através do envio de armamento militar.

Graças à coordenação que esse grupo proporciona, os EUA, a Alemanha e o Reino Unido já garantiram o envio de Sistemas de Múltiplos Lançamentos de Foguetes (MLRS) à pedido da Ucrânia, e os demais países participantes do grupo se comprometeram a prover tudo o que o país precisar para se defender. 

Fonte: Pixabay

 

O que é e como funciona o Grupo de Contato de Defesa da Ucrânia liderado pelos Estados Unidos?

O Grupo de Contato de Defesa da Ucrânia consiste em um grupo de países dispostos a colaborar para prover armamento e recursos para Ucrânia que vem sofrendo uma invasão Russa de larga escala desde fevereiro 2022.

Segundo o atual Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, o objetivo da aliança é atender a todas as necessidades militares urgentes da Ucrânia e suas reuniões são realizadas na sede da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em Bruxelas, na Bélgica. 

Os países-membro buscam ajudar a Ucrânia a se defender dos ataques russos e fortalecer sua defesa a longo prazo, e a Vice-Ministra da Defesa da Ucrânia, Ganna Malyar, disse à mídia local que “o Ocidente deve entender que sua ajuda não pode ser uma coisa única, mas algo que continua até a nossa vitória”.

Em uma sala localizada no subsolo de uma base militar estadunidense, na cidade alemã de Stuttgart, funciona o cérebro da organização. Nesse espaço, estão militares de dezenas de países e uma pequena equipe da Ucrânia liderada por um General de três estrelas que, ao início de cada dia, determina quais são as demandas prioritárias de seu país. 

Quase tudo do que acontece na base militar é extremamente confidencial e os ucranianos integrantes da Célula Internacional de Coordenação de Doadores (IDCC) nada podem compartilhar e a rotina local demanda um elevado senso de urgência, de acordo com BBC.  

O objetivo do grupo é localizar nações dispostas a oferecer armamentos, munições e equipamentos militares em geral. Entretanto, é função da equipe gerenciar a logística, bem como as munições compatíveis com suas respectivas armas disponíveis. 

A entrega de suprimentos está sendo feita via rodoviária, ferroviária, marítima e aérea. Segundo o Brigadeiro e Oficial Sênior Britânico, Chris King, a Rússia tentou reforçar seus ataques às linhas de abastecimento, mas não houve dano significativo até a publicação deste artigo. 

Alguns dos armamentos fornecidos pelos Estados Unidos e o grupo para a defesa da Ucrânia

A Ucrânia anunciou recentemente que o fluxo de armas é pequeno e lento em comparação com a ofensiva Russa e seus pedidos de ajuda soam cada dia mais alarmantes e desesperados. Já o Contra-Almirante alemão, Heinz, afirma que a Ucrânia não ficará sem armamento.

Nos 4 primeiros meses do conflito, os aliados ocidentais já ajudaram a entregar quase US $ 8 bilhões em armas e munições às forças armadas da Ucrânia, entretanto, a demanda do país tem mudado significativamente. Inicialmente, as solicitações eram de armas de pequeno porte e calibre, mas, atualmente, a demanda passou a ser de armas mais pesadas.

Observa-se que as solicitações iniciais de mísseis antitanque e antiaéreos mais usados para defesa, tornaram-se pedidos de socorro por armamento mais ofensivo como artilharia pesada,  lançadores de foguetes múltiplos e sistemas de defesa aérea. 

Atendendo aos pedidos por armas pesadas dos ucranianos, seguem alguns exemplos de equipamentos enviados até o final de junho de 2022:

• A República Tcheca, Polônia, Bulgária e Reino Unido enviaram mais de 300 Carros de Combate Blindados;
• A República Tcheca, Polônia e Eslovênia enviaram aproximadamente 136 Veículos de Combate à Infantaria;
• O Reino Unido enviou aproximadamente 40 veículos blindados de combate;
• Os Estados Unidos, Reino Unido, Portugal, Canadá, Polônia e Itália enviaram centenas de Veículos de Infantaria Móvel; 
• O Reino Unido, Estônia, Itália, Portugal, Estados Unidos, Austrália, Canadá, Bulgária e República Tcheca enviaram centenas de Artilharia Rebocada;
• A República Tcheca, Polônia, França, Noruega, Países Baixos, Alemanha, Polônia, Itália, Eslováquia e Reino Unido enviaram aproximadamente 200 itens de artilharia autopropulsada;
• A República Tcheca, Polônia, Bulgária, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos enviaram aproximadamente 100 Lançadores Múltiplos de Foguetes;
• A Alemanha enviou 15 Armas Antiaéreas Autopropulsadas;
• A Eslováquia, República Tcheca, Reino Unido e Alemanha enviaram aproximadamente 10 Sistemas de Mísseis Terra-Ar;
• A Dinamarca, Reino Unido, Países Baixos, Estados Unidos e Suécia enviaram diversos Mísseis Anti-Navio;
• Os Estados Unidos, Eslováquia e República Tcheca enviaram diversos Helicópteros de Ataque;
• A Turquia e Lituânia enviaram diversos Veículos Aéreos de Combate Não-Tripulados “drones”.

Dentre diversos outros equipamentos e munições a serem enviados para que a Ucrânia possa defender seu território nacional.

As futuras tendências no fornecimento de armas para a Ucrânia se defender contra a invasão Russa

O Brigadeiro Chris King e o contra-almirante Heinz afirmam que estão se organizando para continuar as atividades a longo prazo, pois não acreditam que essa guerra terminará em poucos meses, mas talvez se estenda por anos.

Apesar dessa previsão, existe um certo ceticismo entre alguns membros da OTAN, pois há dúvidas acerca da capacidade de sustentação de uma guerra mais longa, por conta de seu estoque limitado de armas e munição.

A maior tendência no momento é a transição das antigas armas e munições ucranianas, padrão de países do antigo Bloco Soviético, para os atuais equipamentos padrão da OTAN. No início da guerra, o IDCC tentou obter estoques do padrão soviético, porém King afirma que essas munições estão acabando lentamente, existindo apenas uma fábrica na Europa produzindo artilharia de 152 mm compatível com o modelo da União Soviética. 

A transição já se iniciou lentamente e, nas últimas semanas, a Ucrânia recebeu mais de 100 obuses M777 dos EUA e 300.000 munições de 155 mm. O obstáculo adicional é a falta de treinamento dos militares ucranianos para usar as novas armas e munições. Portanto, o IDCC está estabelecendo essa capacitação no Reino Unido com nova artilharia e lançadores de foguetes oferecidos pelos britânicos. 

Treinamentos menos complexos podem ser oferecidos virtualmente através de vídeos e manuais de treinamento.  O chefe do Gabinete do Presidente, Andriy Yermak,  acrescentou que um novo pacote abrangente de assistência militar à Ucrânia está programado para ser discutido na cúpula da Aliança em Madri esta semana.

Porém, em geral, mesmo com os obstáculos de fornecimento e treinamento de armamento padrão OTAN para Ucrânia, a tendência é que o “Grupo de Contato de Defesa” continue fornecendo armamento para Ucrânia enquanto o conflito durar, mesmo que os países parceiros tenham que aumentar a produção e procuração de novos equipamentos militares para substituir o que foi doado. 

Quanto a Ucrânia, a ironia é que por conta da invasão Russa, mesmo não se tornando um membro da OTAN, a Ucrânia eventualmente substituirá do padrão Soviético para o padrão OTAN todo o equipamento das suas forças armadas, tornando-se ainda mais próxima da aliança ocidental de defesa e indo na exata direção oposta da qual o presidente Putin gostaria. Mais um exemplo da total falha estratégica da aventura militar de Putin na Ucrânia.