Site icon Atlas Report

REPowerEU: O Plano da União Europeia para Acabar a sua Dependência Energética com a Rússia

No dia 18 de Maio de 2022, a Comissão da União Europeia divulgou um novo projeto de soberania energética bilionário para diminuir a sua dependência com o gás natural e petróleo russo e transicionar para o maior uso de fontes renováveis de energia.

O REPowerEU contará com a mobilização dos Estados-membros e do fundo de recuperação da Covid-19 (NextGenerationEU) para financiá-lo, e seu objetivo final é fortalecer a economia europeia de forma mais independente até 2030.

O quão dependentes energeticamente da Rússia são os países da União Europeia

A União Europeia importa cerca de 400 bilhões de euros em combustíveis da Rússia, sendo 40% do fornecimento de gás e 27% do petróleo da UE são vindos de Moscou.

É uma das grandes motivações da União Europeia conseguir alcançar uma maior autonomia estratégica, já que a Rússia fornece a energia para diversos Estados-membros.

Por exemplo, de acordo com a DW (rede pública de notícias Alemã), em 2020, a Rússia exportou 56,3 bilhões de metros cúbicos de gás natural para a Alemanha, 19,7bn m3 para a Itália, 11,2 bn m3 para a Holanda e 2,6 bn m3 de gás natural e 5,0 bn m3 de LNG (gás natural líquido) para a França. Além de outros países que são aliados da União Europeia que também dependem muito do fornecimento russo.

A Alemanha pagou 17.84 bilhões de dólares em combustíveis minerais, óleos, produtos de destilação da Rússia em 2021. A Itália pagou $15.75 bilhões nestes mesmos produtos em 2021. Assim como a Holanda, que no mesmo ano pagou $18.87 bilhões também.

Portanto, com a situação de guerra na Ucrânia e o relacionamento da UE com a Rússia extremamente tensionado mas com alta dependência energética, permite uma vantagem a Moscou já que este possui quase um monopólio do fornecimento de gás europeu.

Uma vantagem que é constantemente reafirmada por Putin, onde ameaça cortar as importações de gás para a UE caso a OTAN continue avançando na região. Ou seja, a Rússia está mantendo a União Europeia como refém, usando o fornecimento de gás e petróleo para o bloco como uma arma energética.

Como o REPowerEU pretende eliminar a dependência energética Europeia da Rússia

No comunicado do dia 18 de Maio, a União Europeia anunciou o projeto “REPowerEU” para buscar alcançar a sua autonomia energética. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse:

“Hoje estamos levando nossa ambição a outro nível para garantir que seremos independentes dos combustíveis fósseis russos o mais rápido possível, REPowerEU nos ajudará a economizar mais energia, para acelerar a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e, mais importante ainda, para impulsionar o investimento em nova escala. Esta será a velocidade de carregamento do nosso European Green Deal [Acordo Verde Europeu].”

Politico

O projeto conta com três frentes principais: importação de mais gás natural de outros fornecedores que não sejam a Rússia, uma implantação mais rápida de energia renovável com projetos de energia eólica e solar e um esforço maior para economizar energia.

A partir disso, buscarão 45% da energia da UE em fontes renováveis até 2030, aumentando a promessa anterior de 40%. Isso significará dobrar a capacidade energética renovável da UE em 1.236 GW até 2030.

Os 27 Estados-membros planejam investir 210 bilhões de euros para a REPowerEU até 2027, chegando em 300 bilhões de euros em 2030. Além disso, usarão o “Recovery and Resilience Facility”, fundo de recuperação da Covid-19, de 200 bilhões de euros para financiar o projeto.

Com essa iniciativa, buscam diminuir 30% da dependência com a Rússia até 2030 e já buscam cortar 100% a importação de carvão russo até Agosto de 2022 e diminuir ⅔ das importações de gás até o fim do ano. Com isso, buscam alcançar a autonomia completa do gás e petróleo russo até 2027.

A União Europeia já está negociando também com outros países como o Egito, Israel, Nigéria, Canadá e Argélia na construção de 12 bilhões de euros em gasodutos e terminais de LNG para aumentar a importação de gás desses países, substituindo assim o que hoje é importado da Rússia.

Por que REPowerEU pode não ser tão benéfico ao clima no curto e médio prazo

Mesmo defendendo o uso completo de energia renovável, a União Europeia está com 10 bilhões de euros em 12 projetos de gás e de LNG e 2 bilhões em estruturas de petróleo nos países da Europa Central e Leste Europeu que dependem mais da Rússia.

Isso foi alvo de críticas, já que preocupou as visões sobre as promessas da UE com as diminuições de emissão de CO2 e o compromisso com outros projetos de energia renovável que já possuem em curso, agravando as alterações climáticas e elevando os preços da energia a curto prazo para pagar por esses novos investimentos.

A Comissão Europeia reafirmou que estes projetos não tirarão o objetivo principal de transicionar para as fontes renováveis, mas é necessário fortalecer em primeiro lugar a estrutura energética da UE para conseguir sua independência energética da Rússia. Então, colocarão em curso projetos que envolvem os combustíveis fósseis, mas somente como parte de uma transição.

Qual a tendência futura da busca por soberania energética pela União Europeia

Os conflitos entre a Rússia e a Ucrânia aceleraram a busca pela autonomia europeia no campo de energia. 

Quanto mais independente energeticamente um país é, mais autonomia e soberania ele terá. Portanto, a dependência que a União Europeia possui com a Rússia não é um incômodo novo, mas as ações mais diretas com relação a soberania energética foram impulsionadas pelo conflito Russo na Ucrânia e a necessidade de impor sanções econômicas por parte do bloco.

Mesmo que haja efeitos negativos a curto e médio prazo com a construção de mais projetos de gás natural, petróleo e LNG, a UE transitará para a energia limpa não dependente de outros países.

Existem ainda laços com outros países fornecedores de energia, mesmo assim, a União Europeia está com o foco em se fortalecer enquanto unidade de produção energética para aumentar a sua própria soberania econômica e geopolítica.

Exit mobile version